Do Tejo ao Prata - 5 - Um Passeio Pela História



A TOMADA DE CONSTANTINOPLA
Desde a invasão da Europa pelos árabes no terceiro século da nossa era que os europeus se preocupavam com os vestígios pagãos, inconvenientes no império cristão. Assim, Constantino, o Grande, imperador de Roma, decidiu construir uma capital no baixo Danúbio, região européia da Turquia, cujo nome original era Bizâncio, deu o nome de Constantinopla, que significava "cidade de Constantino", em 11 de maio de 330, e tornou-se o centro político econômico do império e o principal porto nas rotas que iam e vinham entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo.
Em 1204, durante a Quarta Cruzada, denominada Cruzada Comercial, por ter sido desviada de seu intuito original pelo duque Enrico Dandolo, de Veneza, Constantinopla foi capturada, saqueada e incendiada por três dias, e nem os tesouros das supostas relíquias cristãs, riquezas acumuladas por quase 1000 anos, foram poupados. Em 1261, foi recapturada pelos bizantinos, porém a cidade não conseguiu resgatar o antigo esplendor e iniciou a decadência que quase dois séculos depois levaria ao fim definitivo do império, mas mesmo assim, nos séculos que se seguiram, Constantinopla foi assediada por muitas lutas e tentativas de invasão.
Naquela época, não existia eletricidade e muito menos geladeiras, e por isto os alimentos tinham um gosto horrível de comida velha. Para aliviar o cheiro e sabor das comidas armazenadas, os europeus precisavam comprar as especiarias (cravo, canela, noz-moscada, pimenta do reino, anis estrelado, gengibre e coentro), vindos das ilhas do Oceano Pacífico e da Índia, e a pimenta malagueta, vinda da África, para conservar esses alimentos.
Quem fazia o comércio das especiarias eram os árabes, que as traziam de navios pelo Golfo Pérsico até o Iraque, e em caravanas de mulas, camelos ou elefantes, passando por Bagdá, até Constantinopla, entre o Mar de Mármara e o Mar Negro. Antes da queda, Constantinopla era uma das cidades mais importantes do mundo. Era o principal porto nas rotas que iam e vinham entre o Mar Negro e o Mar Mediterâneo, onde eram negociados por tecidos e perfumes europeus.
Até 1500, o reino de Portugal, na Península Ibérica, vivia da pesca do bacalhau, o de Castela da agricultura e criação de ovelhas e o de Aragão dedicava-se aos negócios com a Itália e a África, comercializando ouro, peles, cavalos, lãs, tecidos e especiarias. Os centros comerciais eram as cidades onde se vendiam produtos orientais e europeus como gengibre, cravo, canela, noz-moscada, jóias, perfumes, tapetes, tecidos etc., transportados por mulas, cavalos ou camelos, por terra, e em navios por mar.
Os preços cobrados na revenda dos produtos para Portugal e o restante da Europa eram altíssimos, já que sua posição geográfica permitia monopolizar todo o Mar Mediterrâneo.
Até o final do século XV, as terras exploradas pelos europeus eram as que compreendiam o chamado Velho Mundo, abrangendo a Europa, parte da Ásia e o norte da África. A maior parte da África, o continente americano e a Oceania, bem como os povos que habitavam essas áreas eram desconhecidos dos europeus. Os italianos compravam os produtos por preços baixos das Índias e os vendiam aos países europeus por preços muito altos. O grande consumo provocou a procura de outros fornecedores e a abertura de novos caminhos para ampliar o comércio e o desenvolvimento de conhecimentos ligados à navegação. Foram inventados a imprensa, instrumentos como a bússola e o astrolábio e as caravelas, barcos preparados para longas travessias.
Muito antes da Quarta Cruzada, os muçulmanos já vinham tentando conquistar Constantinopla. Por volta do ano 1300, um clã sob o comando de Osman I, ou Othman, que migrava do norte da Pérsia para oeste se defrontou com uma batalha entre turcos e mongóis, em Anatólia. Entraram na batalha ao lado dos turcos, venceram e o sultão deu-lhes um pequeno território montanhoso no noroeste do império bizantino. Em virtude do nome do comandante, este clã ficou conhecido como otomanos.
Além destes problemas, Constantinopla enfrentava também as divergências entre a Igreja Católica e a Ortodoxa. No século que se seguiu, os otomanos conquistaram as cidades próximas e em 29 de maio de 1453, tomaram Constantinopla. A partir daí, começaram a cobrar altíssimos impostos pelo comércio das especiarias e outros produtos.
Em outubro de 1469, o rei Fernando, de Aragão, e Isabel, de Castela, casaram-se e formaram o poderoso reinado da Espanha.
Com essa união, o reino de Portugal ficou preso num cantinho do Oceano Atlântico, perto do Mar Mediterrâneo, e começou a sentir dificuldades econômicas. Graças, porém a um dos filhos do rei Afonso V, o infante-cardeal dom Henrique que reunia no seu castelo à beira-mar, na cidade de Sagres, geógrafos, astrônomos e capitães de navios, todos bem experimentados no mar por causa da pesca do bacalhau, procurando descobrir um caminho marítimo pelo Oceano Atlântico. À atividade náutica chamaram de "Escola de Sagres" e a dom Henrique de "O Navegador".
Portugal e Espanha eram dois reinos obscuros, mas, localizados no Oceano Atlântico, disputavam o poder mundial, e ficaram na vanguarda da procura de outros caminhos para a Índia. A partir de 1474, o futuro rei João II, irmão de D. Henrique, com apenas 20 anos de idade, começou a perseguir os navios da Espanha e o resultado foi uma guerra, na qual o próprio papa interferiu e em 4 de setembro de 1479, D. Afonso V de Portugal e os Reis Católicos assinaram o Tratado de Alcáçovas, ratificado em 6 de março de 1480, na cidade de Toledo. Pelo tanto, ficou conhecido como Tratado das Alcáçovas-Toledo, em cujas cláusulas Portugal obtinha o domínio sobre a ilha da Madeira, o Arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a Costa da Guiné. Castela ficaria com as ilhas Canárias até o Cabo Bojador, no paralelo 27, Trópico de Capricórnio, para norte, a partir de onde não poderia navegar para o sul das terras africanas.


Autor: Raul Santos


Artigos Relacionados


Do Tejo Ao Prata - 6 - Um Passeio Pela História

PerÍodo BizÂncio

Do Tejo Ao Prata - 4 - Um Passeio Pela História

Geografia Da Ocupação Portuguesa Na África

Do Tejo Ao Prata - 8 - Um Passeio Pela História

África

Do Tejo Ao Prata - 3 - Um Passeio Pela História