FÉRIAS DE JULHO



FÉRIAS DE JULHO

Julho, mês das férias escolares e dos políticos extenuados de tanto trabalhar! Coitados, foram muito criticados pelo aumento que se concederam nos salários e isso lhes causou um desgaste emocional enorme, daí merecerem um justo e reconfortante descanso. Mas o assunto não é esse, apenas me lembrei dessa corja. . Voltando às férias escolares, uma delas permanece em minha lembrança como algo tragicômico! O ano era mil novecentos e bolinha e as férias de julho começaram quentes para mim e meu irmão mais novo! Uma daquelas brincadeiras idiotas de moleques, tipo empurra-empurra, terminou com um baita vaso de antúrios destroçado, o chão do terraço imundo e as flores que minha mãe tanto adorava, pisoteadas! . Descendente de árabes, sangue quente, ela era uma fera! Vivia com o cinto nas mãos e distribuía bordoadas a três por quatro. Isso quando conseguia nos alcançar; quando não, ficava ao longe estalando o cinto dobrado e ameaçando "contar para seu pai quando ele chegar". Nesse dia, porém, a vingança foi "malígrina"! Ela sentenciou que não gozaríamos férias e tratou de conseguir emprego para ambos. . Casa Azevedo era o nome da loja de tecidos do padrinho de meu irmão, senhor Vicente Dorgan, e foi para lá que ela o encaminhou, combinando com o mesmo que o trabalho não teria remuneração, pois o objetivo era livrar-se dos bagunceiros. A mim foi designada a loja de um parente, meu tio em segundo grau ? Jacob, marido da tia Baíja. Já notaram os nomes da "japonesada", né?! Deu um branco e não consigo lembrar o nome da loja! Dali tenho dois acontecimentos hilários. . O primeiro foi quando uma cliente, dona Olga Barison, esqueceu sobre o balcão seus óculos de grau. Eu os recolhi e entreguei à minha tia que guardou na gaveta do caixa. Passados vários dias a cliente retornou à loja e eu corri a avisá-la do acontecido, e que minha tia havia guardado seu pertence. Nesse momento senti um calafrio na espinha ao perceber o olhar mortífero da tia que abria a gaveta e devolvia o objeto para a cliente, que satisfeita agradeceu muito, pois já o havia dado como perdido. Tão logo a cliente deixou a loja, dirigindo-se a mim a tia falou ?"Escuta aqui, vê se aprende uma coisa... A alma do negócio é o segredo!" Pode até que esta seja uma máxima do comércio, porém, eu tinha aprendido com meus pais a não me apoderar de objetos alheios! O segundo e decisivo para minha "demissão" foi no dia que um alfaiate apareceu para comprar setenta centímetros de entretela (s.f. - tecido mais espesso usado entre o forro e a fazenda de uma peça de roupa). Como o tio costumava fazer a sesta depois do almoço, eu estava sozinho na loja, então decidi atender ao cliente para não acordá-lo. Estendi a peça sobre o balcão e enquanto o cliente conversava com outra pessoa medi os setenta centímetros, cortei e embrulhei o pedido. Não deu quinze minutos e o cliente estava de volta! Nessa altura o tio já tinha acordado e recebeu a reclamação. O retalho que deveria ser um retângulo parecia na verdade um trapézio, pois num dos lados ele media realmente os setenta centímetros, porém, terminava com quase sessenta na outra ponta! Como eu não teria ordenado que pudesse arcar com o prejuízo, o fato gerou minha demissão sumária! Meu irmão ainda recebeu alguma coisa do padrinho, mas eu saí com "uma mão na frente e outra atrás", como diz o ditado! Quando me perguntavam quanto havia recebido de salário, respondia-"Trinta dias!".
Soriévilo 16/07/2011





Autor: Oliveiros Coelho Neto


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