História, Filosofia E Teologia No Medievo



O período histórico classicamente denominado de Idade Média foi marcado por profundas transformações estruturais e diversas interposições culturais entre a sociedade construída sob a hegemonia do império romano e as formas de pensamento e de vivência dos povos considerados bárbaros, notadamente os germanos.

A partir dessa nova configuração histórica é que o Cristianismo começou a fincar raízes em solo europeu, agora propício a novas formulações filosóficas e teológicas. A igreja católica que, por volta do século XII, possuía uma rede institucional bastante sólida e demarca as linhas mestras deste pensamento que praticamente se funde em uma só área do conhecimento, já que os teólogos da Igreja eram também os filósofos mais respeitados na Europa da época. Dois exemplos bem conhecidos são: Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino.

A filosofia que na Antiguidade era hegemonia dos gregos, pelo menos em território europeu, recebeu uma paulatina concorrência de um efervescente debate filosófico produzido no mundo árabe. Avicena e Averrois começam a ser lidos pelo principal interlocutor da escolástica: São Tomás de Aquino. Leitura realizada no idioma dos povos árabes e com sérias adulterações do pensamento clássico produzido por Platão e Aristóteles, pois esse pensamento ao ser interpretado por Aquino passa a ser lido pelas lentes do Cristianismo.

Podemos citar como um simples exemplo dessas adulterações a tradução Do vocábulo grego, que indicava a existência de um demiurgo localizado na "origem" do povo grego, mas que na leitura cristã passa a denominar-se "Deus" com todos os atributos que este vocábulo possuía na tradição hebraica, em especial no Thorá (Pentateuco para os cristãos). O ato de potência da filosofia grega passa, a partir de então, a ser considerado como o Deus do Cristianismo.

A reconstituição de tal pensamento no Ocidente passou a colocar a Igreja Católica no centro das reflexões sobre a História, não mais vista como "repetições" de fenômenos cíclicos, mas como uma consecução linear de fatos marcados pela intervenção divina nos eventos humanos. Assim, o nascimento de Cristo torna-se o grande divisor de águas do tempo europeu. A morte de Cristo e sua "Ressurreição" transformaram-se em rituais celebrados como evocação de um novo mito constituído na trama histórica medieval e a "Segunda Volta de Jesus a Terra" torna-se o evento culminante de todo o devir histórico.

Evocando o pensamento de Tomás de Aquino, podemos perceber sua marcante influência nesta filosofia da história, pois postulava uma formulação teórica sobre o tempo em três dimensões (passado, presente e futuro) em uma só instância denominada de presente. Para este pensador o passado no presente é nada mais do que a memória, o futuro no presente é esperança e o presente no presente é representação. Assim, vemos claramente os três momentos da vida de Jesus ritualizados a partir deste pensamento inovador, para a época, e com forte inspiração em seu antecessor Agostinho de Hipona.

A Igreja ordenou, a partir de sua inserção institucional na sociedade européia, o tempo diário dos camponeses através de momentos de oração e celebração: o chamado tempo litúrgico. Este tempo elaborado pela Igreja concorria com um outro tempo: o tempo das plantações e das colheitas, das secas e das chuvas, do frio e do calor. Enfim, o tempo do ciclo biológico bastante conhecido e respeitado pelos servos e senhores daquele mundo feudal marcado de forma bastante particular pela agricultura e pecuária.

Bibliografia Consultada

D´HAUCOURT, Geneviéve. A vida na idade média. SP: Martins Fontes, 1994.

FEBVRE, Lucien. A Europa: gênese de uma civilização. Bauru – SP: Edusc, 2004.

HEERS, Jacques. La invención de la edad media. Barcelona: Crítica, 2000.

LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Lisboa: Estampa, 1980.

OLIVEIRA, Terezinha (Org.). Luzes sobre a idade média. Maringá: Eduem, 2002.

VERGER, Jacques. Cultura, ensino e sociedade no ocidente nos séculos XII e XIII. Bauru – SP: Edusc, 2001.


Autor: Ismael Fuckner


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