Problemas de Aprendizagem



Com a evolução histórica da sociedade, a escola se apresenta como instituição responsável pela socialização, acesso às informações e transmissão do conhecimento socialmente construído. A educação deve garantir a igualdade de oportunidade para todas as pessoas no combate à exclusão social e insucesso escolar.
Podemos dizer que o fracasso escolar e os problemas de aprendizagem são formados por diversos fatores interligados, que transitam do âmbito pessoal ao social. Não podemos nos arriscar em apontar culpados, mas devemos buscar soluções amplas que atendam de forma satisfatória as causas destas questões. Logo, é papel dos profissionais da educação apontar alternativas, tanto no que tange políticas, quanto do ponto de vista das práticas de ensino.
Nessa perspectiva serão discutidas algumas propostas de intervenções pedagógicas e ações que possam diluir os possíveis problemas de aprendizagem dos alunos.
Primeiramente cabe ressaltar que a postura e a atitude do educador são essenciais na relação de ensino e aprendizagem, de modo que o estudante deva sentir que o professor acredita e confia nas suas capacidades e potencialidades, especialmente se este aluno já viveu uma história de insucesso escolar ou possui uma trajetória de problemas sócio-familiar. Trata-se de um novo olhar do professor para o aluno, em um trabalho que também toca na auto-estima da criança, fazendo-a perceber que ela é capaz de aprender e o papel do professor enquanto mediador do conhecimento é ajudá-la e não julgá-la como incapaz. Nesse contexto, todo elogio torna-se um estímulo para o educando e o instiga a superar novos desafios e alcançar bons resultados.
Do mesmo modo, podemos destacar o conceito abordado por Vygotsky sobre zona de desenvolvimento real (que é definido como algo já adquirido pelo sujeito e determina o que ele consegue fazer de modo independente e sem a ajuda das pessoas), zona de desenvolvimento potencial (que é a capacidade do individuo em realizar tarefas com o auxílio e instruções de outras pessoas) e zona de desenvolvimento proximal (que é a distância entre o desenvolvimento real e o potencial: o que a criança é capaz de fazer hoje com a ajuda de alguém, conseguirá fazer sozinha amanhã).
Tal conceito nos auxilia a compreender que aquilo que um aluno ainda não sabe poderá aprender, penso que isto orienta a nossa prática para não fazermos pré ? julgamentos e não construirmos estereótipos de que alguns alunos não sabem, são fracassados e não aprenderão. Ao contrário, é função do professor provocar avanços nos alunos que não ocorreriam espontaneamente, adiantando o seu desenvolvimento potencial.
Vygotsky construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, assim enfatiza que a aquisição do conhecimento ocorre por meio da interação do sujeito com outros sujeitos da sua cultura. Também é atribuído um papel importante à linguagem que cumpre a função de intercâmbio social, através dela as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas.
Baseando-se nestas concepções, é importante permitir que os alunos tenham um espaço de participação e troca de ideias na sala de aula, é respeitável que as crianças interajam entre si já que o intercâmbio social cumpre um fator essencial no desenvolvimento do sujeito.
A aquisição do conhecimento ainda pode ser favorecida quando o professor estabelece vínculos entre o programa escolar e a realidade do aluno, aproveitando a espontaneidade da sua fala, os seus interesses e suas curiosidades para trabalhar os conteúdos propostos.
Além do autor mencionado, a concepção pedagógica de Paulo Freire orienta bastante as nossas ações enquanto educadores. Para este grande teórico da educação é difícil distanciar o processo de ensinar do processo de aprender, pois ele considera que "ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção [...] quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado [...] quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender" (FREIRE, 1996, p.25).
O autor propõe um modelo de educação como prática da liberdade e por isso respeitadora do homem como pessoa. Nesta concepção, o conhecimento não pode advir de um ato de doação que o educador faz ao educando (é o que o autor intitula de educação bancária, pois é como se fosse um depósito), mas sim de uma ação dialógica do educador com o educando. Pensar e agir dessa maneira supõe um falar com o outro, e não um falar por ou para o outro, parte-se do pressuposto de que todos os alunos podem ser diferentes e isso não é impedimento para que eles aprendam.
No livro Pedagogia da Autonomia, Freire (1996) afirma que ensinar requer do professor alguns saberes, dentre eles: respeito aos saberes dos educandos, criticidade, rejeição a qualquer forma de discriminação, reflexão crítica sobre a prática, respeito à autonomia do ser do educando, apreensão da realidade, alegria e esperança, convicção de que a mudança é possível, compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Além disso, acredito que a troca de informações entre os professores e os cursos de formação continuada sobre a temática são fundamentais para ajudar a prática docente e as intervenções junto aos alunos. O horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC), tão cansativo e sem significado para os professores, pode ser um bom momento para que isto aconteça, trata-se de uma oportunidade para trocar as experiências, esclarecer as dúvidas e conhecer recursos e didáticas que deram resultados positivos, até mesmo construir coletivamente materiais que servirão de apoio para a realização de projetos e aulas.
Bem sabemos que não existe um manual ou um livro de receitas e, a atual realidade vivida pelos professores com a crise enfrentada pela educação torna a tarefa árdua e difícil, mas jamais devemos perder o entusiasmo e a esperança.


Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. SP: Paz e Terra, 1996.
OLIVEIRA, Marta kohl de. Vygostky: aprendizado e desenvolvimento ? um processo sócio-histórico. Editora Scipione.


Autor: Fernanda Simony Previero Ciarlo


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