UM BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO NO VALE DO PINDARÉ



UM BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO
NO VALE DO PINDARÉ

Adilson Motta

(Extraído do livro: Radiografia de uma cidade brasileira, do mesmo autor)


Falar sobre o desenvolvimento na região do Vale do Pindaré é imprescindível tocar também na questão dos engenhos. Ou, sendo mais específico, o Engenho Central, acerca do que representou aquela fábrica localizada no Vale do Pindaré, a qual foi a alavanca para o desenvolvimento e colonização na referida região. Subsistindo hoje, como patrimônio tombado pelo estado.

A instalação do primeiro engenho em terras maranhenses foi feita em meados do século XVII, mais precisamente em 1662, às margens do rio Itapecuru, pelo então provedor da fazenda real, Antonio Munis Barreiros.
Em 1860, no Maranhão havia 420 engenhos, sendo que no Vale do Pindaré havia 98 engenhos. A produção, por essa época, era em torno de 100 mil sacos de açúcar, mas mesmo assim o Maranhão queria produzir em escala bem maior.
Enfatiza-se no papel dos engenhos as ações políticas promovidas pelo governo provincial que fomentava o desenvolvimento industrial através da concessão dos subsídios para empreendimentos fundados em concepções modernos (era da máquina, da indústria).
Procurava-se através do engenho promover a economia maranhense investindo no setor industrial, especialmente no fabrico moderno do açúcar de demais produtos da exploração canavieira, tendo com base a instalação dos engenhos centrais.
A instalação dos engenhos centrais do Brasil corresponde aos anos de transição, pelos quais passariam a economia e a sociedade brasileira na segunda metade do século XIX, representados, fundamentalmente pela crise do trabalho escravo. O Maranhão entrou em decadência com a abolição dos escravos, cujos braços sustentavam toda atividade produzida do estado.
A relevância política e social do engenho central São Pedro, na região de Pindaré-Mirim, pode ser compreendida em relação à posição que as camadas de proprietários de engenhos, como segmentos da classe produtora escravista, ocupou na estrutura de poder da sociedade brasileira, durante o século XIX, membros de setor acreditavam, ser a mecanização altamente sofisticada, do setor de beneficiamento de cana-de-açúcar a tábula de salvação para os problemas que afetavam a economia açucareira na segunda metade do referido século.
Produzir muito e barato, era a fórmula salvadora realizada por meio dos engenhos centrais.
Os engenhos, sendo uma grande fábrica altamente equipada, totalmente importada, das estruturas de ferro a máquinas e parafusos, inteiramente montados por técnicos franceses e ingleses, seria a solução para os problemas, que tanto afetaram os senhores de engenhos, representados fundamentalmente, pelas baixas sucessivas no preço do açúcar no mercado internacional. Bem como, pela crise do trabalho escravo que ameaçava a produção exatamente no momento em que se buscava superar as baixas através de um incremento da produção açucareira.
O imperador do Brasil, D. Pedro II, era um entusiasta das novas tecnologias e em 1857 foi elaboradoum programa de modernização da produção de açúcar. Assim surgiram os Engenhos Centrais,que deveriam somente moer a cana-de-açúcar, ficando o cultivo (da cana) por conta dos fornecedores.

A criação dos engenhos foi produto de meses de discussão no parlamento e estado; sensibilizados pelos senhores de engenhos, e, em 29 de setembro de 1875, foi promulgado o decreto legislativo nº 2.658, o qual foi autorizado pelo governo a conceder isenção de direitos de importação para todos os materiais destinados a construção e exploração de engenhos, por fábricas centrais que tivesse sido ou fosse contratada pelos governos da província, ou pelo geral, fixadas previamente a quantidade e qualidade dos materiais favorecidos com a isenção.
A instalação do engenho central promovido pelo grupo Martins Hoyer, portanto, deveria introduzir mudanças no cultivo de cana na zona do Pindaré, onde existiam muitos produtores dessa matéria prima e senhores de engenhos. Por localizar-se às margens do rio Pindaré com a abundancia de peixes e caças isso garantia o sustento da maioria dos trabalhadores ligados, formal ou informalmente, ao engenho central: no eito, na unida fabril, no ramal ferroviário, nas atividades portuárias nas casas administrativas ou mesmo nas casas de residências de gerentes e demais funcionários graduados. A energia elétrica chegou à colônia (São Pedro) em 1883. Tal fato deu a região à classificação pioneira do Brasil, pois somente em 1892 é que a cidade fluminense de campos teve sua iluminação elétrica efetivamente inaugurada.
Apesar do município de Santa Inês emancipar-se apenas em dezembro de 1966, já existia como povoado desde 1879; fundada por senhoresde escravos. O primeiro nome do município era Ponta da Linha, passou a ser chamado de Conceição e por fim Santa Inês em razão de um voto de uma senhora que lhe deu o nome como padroeira da cidade. Mani Viana e Severino Costa foram os primeiros moradores domunicípio de Santa Inês.
A estrada de ferro foi inaugurada em 13 de setembro de1883. Ainauguração do engenho efetuou-se em 6 de agosto de 1884. Do engenho até a Ponta da Linha, se fixava a estrada de ferro com12 quilômetrosque ia até os canaviais das quadras. Sobre elas, trilhos rodavam 105 vagões carregando 315 toneladas de cana-de-açúcar, um panorama inédito no Maranhão.
A partir de 1884, o engenho central encontrava-se em declínio, através de déficit de largas proporções, a empresa continuava a lutar para sobreviver aos elevados juros que aumentavam assustadoramente o seu débito. A irregularidade nas estações, com invernos rigorosos trouxe um agravamento maior à crise; além disso, a linha férrea foi danificada. E anos que seguiram, a seca, para piorar a situação.
O engenho central ficou, nessas condições sem fornecedores de matéria prima, e, portanto, impedido de funcionar. Sendo vendido para terceiros e revendido para a Companhia Progresso Agrícola, que também foi à falência e arrematado em leilões por bancos no valor de 90 contos, e, num processo de revendas que se seguiam, chegando a 750 contos.
Através da lei estadual nº 800, de 22 de março de1918 aantiga colônia onde estava situado o referido engenho (hoje em ruínas), foi elevado à categoria de vila e posteriormente pela lei nº 1052, de 10 de abril de 1923, essa vila foi elevada à categoria de cidade conhecida como: São Pedro. Mais tarde, pelo decreto estadual nº 75, de 22 de abril de 1931, o município foi extinto. Em seguida restabelecido pelo decreto nº 121, de 12 de junho do mesmo ano. A partir daí, a cidade não parava de crescer. Na década de 60, o município de São Pedro teve que ceder mais de 50% de suas terras para criação dos municípios de Santa Inês e Santa Luzia.
Emerso num contexto maior, Maranhão, é importante frisar que, a partir da década de 20 o quadro econômico passou por uma pequena alteração proveniente do fluxo migratório nordestino, decorrente de secas e crises econômicas, resolvendo-se parcialmente o problema da falta de mão-de-obra.
Conclui-se, pois, que na primeira metade do século XX o Maranhão continuava com seus aspectos primários de produção sujeita a flutuações do mercado mundial.
No processo de alteração do quadro econômico, produtos anteriormente considerados de ponta vão dar lugar ao babaçu e ao arroz. O primeiro como atividade extrativa, e o segundo, sendo cultivados pelos pequenos lavradores.
É então que surge o babaçu em nossa história econômica, quando da primeira guerra mundial, e permite um primeiro re-equilíbrio nas finanças estaduais que vinham se alimentando precariamente de empréstimos, e oferecer, a nosso comércio, com as exportações dessas amêndoas oleaginosa, em desafio desafogo que cria um clima de recuperação cujo processo de desenvolvimento, ressente-se da carência de capitais.
A agricultura foi a atividade que congregou homens e mulheres, constituindo-se na principal fonte da vida e de trabalho nos anos que se seguiam na região.
O arroz será o responsável em grande parte pela ocupação das extensas terras livres, pois à medida que vai ocorrendo o desmatamento para plantio, surgem pequenos aglomerados rurais que vão se desenvolvendo, e são envolvidos em moldes capitalista de estratificação, e formando-se desse modo pequenos e grandes núcleos de povoamentos, que resultou no surgimento de novas cidades em nível de estado e na região do Vale do Pindaré.
O pequeno produtor vai deixando de ser autônomo e vai ser o último colocado em uma pirâmide que envolve plantio e ocorre para o "auxílio" da colheita, ficando empenhado na mão de comerciantes. Em troca das compras (querosene, açúcar, ferramentas, remédios e possíveis empréstimos em dinheiro). A conseqüência dessa relação é a dependência do pequeno produtor que é expropriado, chegando a perder a sua propriedade para os grandes latifundiários.
Com o declínio da produção açucareira no Vale do Pindaré e conseqüentemente dos engenhos, formou-se no transcorrer dos anos que se seguiram, novas formas de desenvolvimento na referida região, cotado pela agricultura, pecuária e comercial. Somados a projetos do governo estadual e federal e não de forma isolada. A título de exemplo, cabe citar projetos como: a abertura de várias rodovias tais como, a estrada BR ?316, a? 222, e a Belém-Brasília e projetos como SUDENE (superintendência do desenvolvimento do norte), projetos estaduais como o CEPLAMA. Revendo a construção da BR 222, vale citar o que diz Asselin (apud Valverde, p.94):

A construção da BR 222, entre Santa Inês e Açailândiaabriu caminho a posseiros, que subiram rapidamente os vales do Pindaré e do Zituia. Em contrapartida, vagas sucessivas de grileiros, poderosos fazendeiros de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Goiás, apoiados em Imperatriz, desceram com seus pistoleiros em sentido contrário, expropriando os camponeses sem títulos legítimos e compelindo os outros, pelas mais diversas formas, a abandonarsuas terras. Asselin, o referido autor, cita que os camponeses da região têm sido usados para desbravar as terras e trabalhar para os latifundiários, sem direito a nada. Isto com a conivência das autoridades do governo na época, em todos os níveis.

Execução de projetos estaduais do Maranhão, PLANAGRO (Plano de Colonização e Desenvolvimento Agropecuário) e o projeto Carajás que atravessa a região, os quais deram o maior impulso no desenvolvimento da região e estado.
Apesar da cana de açúcar, cujo nome científico é Saccharumofficicinarum, ter entrado em declínio seu cultivoem função do declínio da fase açucareira e falência dos engenhos, deixou no entanto, na região a certeza e a informação de que as terras ali existentes são ricas para seu cultivo. E isto gera perspectiva no fato da existência de um novo produto que surge e irá demandar no mercado nacional e internacional, o BIOCOMBUSTÍVEL (ou álcool) gerado a partir da cana-de-açúcar. O qual, além de ser uma alternativa para evitar o uso de combustível poluente derivados do petróleo,irá gerar emprego e ser um benefício ambiental.




Autor: Adilson Motta


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