Papel psicossocial na aquisição da leitura.



Estado de Mato Grosso
Secretaria de Estado de Educação
Escola Estadual Monteiro Lobato

O papel psicossocial na aquisição da leitura

Artigo desenvolvido na Escola Estadual Monteiro Lobato


Autoras: Ermita de Jesus Santos ,(Alfabetização)
e Marilene Ramos,(3º Ano do Ens. Fundamental)


-Resumo
Nossa intenção ao desenvolver esse artigo teve base na observação do comportamento das nossas crianças em situações de aprendizagem e acima de tudo no processo de socialização.
Apesar de trabalharmos em espaços distintos, temos discutido exaustivamente sobre esse assunto tentando compreender o conceito de aquisição do conhecimento dentro do âmbito escolar, relacionando o saber trazido ao saber adquirido de maneira sistemática.Essa interação acontece pela inquietação que aflige aos profissionais da educação que estão sempre preocupados com a aprendizagem de seus alunos.
Entende-se a aprendizagem como um processo de aquisição de habilidades e destrezas adquiridas e acumuladas durante todo o cotidiano tanto escolar como familiar.
Durante o desenvolvimento desse trabalho observamos o comportamento dos alunos em vários espaços de aprendizagem nas leituras orais , nos contextos sociais, nos diversos momentos de sociabilidade dentro e fora da sala de aula.
No entanto o assunto discutido e analisado pelo nosso ponto de vista não se esgota nessa atividade de reflexão, ao contrário, suscita uma atenção especial ao processo de desenvolvimento da criança como um todo, um ser integral, independente de cor, credo ou condição social.

Palavras- chave: Aquisição da Linguagem: Conhecimento Cognitivo: Hierarquias de Aprendizagem



Introdução

Nesse artigo tentamos realizar em esboço do processo de aprendizagem como um dos diversos espaços de socialização professor / aluno e vice-versa no âmbito escolar.
As habilidades adquiridas e acumuladas pela vida e pela apresentação gradual de novos conceitos e imagens, vão criando no subconsciente um estoque de informação que por sua vez vão tomando forma, ordenando-se e incorporadas a informações novas tomam corpo numa dimensão estrutural que proporciona ao leitor a experimentação da leitura seja na oralidade ou na escrita.
Com isso explica-se a formação literária a partir de textos orais conhecidos pelos alunos na construção dos saberes.
Desenvolvemos esse trabalho, observando o comportamento dos alunos em contato com os diversos tipos de leitura dos mais variados textos e do contato com outros na troca de experiência e na aquisição do conhecimento.
Dessa forma organizamos as principais questões em torno da Aquisição da Leitura Oral ou Escrita como um processo sistematizado de Habilidades do Conhecimento Cognitivo através do qual o indivíduo constrói saberes socialmente definidos e articulados pelos conceitos de Hierarquias da Aprendizagem.
As abordagens teóricas estão fundamentadas em dois grandes pensadores, Piajet e Vygotsky, bem como na análise conceitual de César Coll e seus colaboradores os quais subsidiaram essa reflexão.
Esperamos colaborar com outros profissionais alfabetizadores ou que atuam na Educação Infantil para maior compreensão do seu papel de Educador e assim melhorar o desempenho de sua função social.

Desenvolvimento

O papel psicossocial na aquisição da leitura.


Nesse artigo buscamos apresentar a correlação entre leitura / oralidade e escrita como percussores do conhecimento lingüístico na construção cognitiva e social dos indivíduos.
Observa-se nas crianças desde a mais tenra idade que sua estrutura cognitiva dedutiva acontece a partir do seu contato com o mundo ? família ? igreja- escola ? visto o homem um ser social e como tal envolvido em situações de aprendizagem ,das leis da associações, da memória e das influências, da experiência sobre o ato de conhecer e identificar o mundo que o cerca.
Com base nessa idéia também podemos observar várias formas de aprendizagem que configuram o psiquismo humano: a inteligência, as emoções e a vontade. Segundo COLL "a mente está separada da realidade e alcança o seu poder criativo de síntese ou a sua capacidade de integração poder reunir dados do mundo externo recebido pelos sentidos, em um mapa mental que corresponda a realidade exterior" (1979, p.308).
Essa informação corresponde a formação psíquica do individuo na construção cognitiva dos saberes, que de certa forma explica uma teoria educativa, a qual, dentre suas idéias essenciais possui as seguintes:

a) Primeiro as estruturas essenciais identificáveis, que constituem o conhecimento verdadeiro, podem ser descrita, como uma linguagem simbólica.
b) Em segundo lugar , os alunos diferem significativamente entre si , o que explica sua diferença de rendimento na aprendizagem.
c) Em terceiro lugar, o currículo está formado de "representações simbólicas da realidade, organizadas e ordenadas de maneira a facilitar que as crianças apreendam essas representações.
d) Finalmente o objetivo principal do ensino deve ser a de exercitar as faculdades dos alunos a selecionar e priorizar conteúdos que supostamente possam contribuir para desenvolver a atenção, a concentração, o raciocínio e a memória.
São basicamente estes conceitos o que nos dão maior suporte para a prática pedagógica, na qual estamos envolvidos cotidianamente.
O ser humano tem o poder de "entrar na mente" de outro ser humano, despertando curiosidade, aguçando imaginação , manipulando idéias, mudando atitudes, gerando conflitos, tudo apenas com o poder do uso da palavra. O que faz nossa comunicação ainda mais impressionante é a nossa habilidade de ler e escrever, tornando possível a ligação entre tempos, espaços e relacionamentos. A escrita, no entanto para o autor, é um acessório. A fala que adquirimos quando criança é o motor da comunicação verbal.
O cérebro é programado para analisar a experiência e construir saberes a partir dela. Apesar de finito, o cérebro humano pode gerar uma infinidade de sentenças através de regras. Em contato com o ambiente lingüístico de sua comunidade, a criança adquire a língua sem esforço, mesmo sem ser ensinada.

Habilidades intelectuais e o conhecimento cognitivo

Com isso buscamos compreender a forma de aquisição do conhecimento cognitivo construtivo com base na teoria da aprendizagem, ao reconhecer as destrezas e habilidades intelectuais humanas.
Fazem parte delas as habilidades conhecidas como HABILIDADES MOTORAS; destreza de execução que simplifica em um tipo de ação manifesta; a INFORMAÇÃO VERBAL incluído a aprendizagem apresentada mediante a linguagem, tanto oral como escrita; as ATITUDES como indicações ou tendências a atuar de determinadas maneiras; e as ESTRATÉGIAS COGNITIVAS, que são as habilidades intelectuais de ordem superior, orientadas a resolver problemas novos, a qual permite dirigir o próprio comportamento no processo de aprendizagem.
Frente a idéia de um indivíduo que reage às propostas do professor vai-se materializando a idéia de um aluno que processa, que assimila,que constrói o conhecimento. Isso reflete a importância crescente que se atribui às contribuições dos alunos ao processo de ensino e de aprendizagem. Os seus conhecimentos, as suas estratégias prévias a percepção e as expectativas que têm sobre a escola e os professor; os seus interesses, o grau de motivação, sem dúvida a atividade construtiva do aluno surge como um elemento mediador entre as propostas e o resultado de aprendizagem obtidos.
A aquisição de linguagem é uma subárea dos estudos lingüísticos, mais especificamente da psicolingüística; esta, por sua vez, é o campo da linguística que se preocupa com as questões relacionadas ao processamento e a aprendizagem de línguas. A aquisição de linguagem também se divide em três subáreas: aquisição de língua materna , aquisição de segunda portuguesa para falantes brasileiros, não nos vai interessar o segundo item. Iniciaremos, então, nossa discussão pelos fatos ligados à aquisição da língua materna e, então passaremos à aquisição escrita.
Como vimos anteriormente, muitas têm sido as discussões sobre a capacidade do ser humano de se comunicar através da linguagem. É claro que, se trata da linguagem em seu sentido amplo, veremos que os animais e até as máquinas podem se comunicar através da linguagem. Daí surgem linguagem das abelhas, a linguagem dos golfinhos, as linguagens de computadores. Trataremos aqui, no entanto, apenas da linguagem verbal, capacidade única que distingue o ser humano de qualquer outro animal.
Existem muitas teorias que tentam explicar como uma criança considerada normal, isto é, sem problemas fisiológicos que possam afetar a fala e sem condições normais de exposição à língua, com idade de três a quatro anos, domina quase perfeitamente, a língua falada ao seu redor. De todas essas teorias, vamos mencionar quatro correntes e os teóricos a ela ligados: o behaviorismo, o inatismo, o cognitivismo construtivismo e o sociointeracionismo.

As hierarquias da aprendizagem

Efetivamente as realizações sistemáticas desenvolvidas e estruturadas em torno das "hierarquias da aprendizagem inscrevem-se plenamente na tradição de análises de inspiração condutista de ensino programado". (Coll, p.226.)
Conforme o autor os pressuposto básicos da tradição condutista foram se originando a teoria geral de aprendizagem que se baseia na programação de conceitos e conteúdos que se aproximou do conhecimento concreto, ou seja, o mais próximo da realidade que a criança pode ter.
A criança tem contato direto com várias informações e entre elas seleciona o que lhe interessa. Cabe ao professor veicular o conhecimento prévio ativado que já está selecionado e incorporando outros itens que enriqueçam o vocabulário incitando assim na criança o desejo de conhecer mais de buscar maior entendimento de incorporar novas informações, esta curiosidade deve ser encorajada.
Afirma-se tais idéias de acordo com Coll,1990 p.227
... a necessidade de partir de objetos claramente formulados; de estabelecer uma ordem; uma seqüência ordenada de ensino, destinada a potenciar o alcance desses objetivos".
Podemos ressaltar a importância dos objetivos para realização das tarefas mais comuns, desde as mais simples até as mais complexas.
Este é o ponto fundamental, que a aprendizagem de um nível superior de destreza ou habilidade tem como requisito; a aprendizagem e o domínio, de maneira a que aquela não pode cumprir ?se sem que esta, tenha sido produzida previamente.
É o acumulo de experiência que implica no resultado concreto pretendido.
Cognitivismo construtivista é a abordagem desenvolvida a partir do epistemólogo suíço Jean Piaget, conhecido por seu trabalho de organização do desenvolvimento cognitivo da criança em estágios.
As principais características da teoria piagetina são:
1) aquisição da linguagem depende do cognitivo, dá-se o desenvolvimento da inteligência da criança;
2) no estagio de desenvolvimento cognitivo, da-se o desenvolvimento da revolução simbólica, por meio da qual a experiência pode ser armazenada e recuperada;
3) a aquisição é vista como resultado da interação entre o ambiente e o organismo, através de assimilações e acomodações, responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência em geral.
Sociointeracionismo, algumas críticas ao modelo piagetino, por desconsiderar o papel das relações sócias no desenvolvimento da criança, levaram estudiosos a buscar nas idéias de Lev Semionovitch Vygotsky, psicólogo bielorrusso, um novo modelo para desenvolvimento infantil. Vygotsky morreu em 1934, mas seu livro PENSAMENTO E LINGUAGEM só foi lançado no Ocidente, suas principais eram:
a) fala e pensamento prático devem ser estudados sob o mesmo prisma e a atividade simbólica, viabilizada pela fala, tem uma função organizadora do pensamento: com a ajuda da fala, a criança começa a controlar o ambiente e o próprio comportamento;
b) os significados das palavras adquiridas tornam-se embriões para a formação de conceitos;
c) o desenvolvimento histórico-social e cultural determinam o pensamento;
d) a aquisição da linguagem é vista como um processo pelo qual a criança se firma como sujeito da linguagem (e não como aprendiz passivo) e pelo qual constrói, ao mesmo tempo, seu conhecimento do mundo, passando pelo outro, o seu interlocutor.
Comparando os pensamentos de Piaget e Vygotsky, encontramos em comum a idéia de que a aquisição faz parte do mesmo desenvolvimento das operações mentais. Assim como Piaget, Vygotsky não via a capacidade de fala como algo superior às outras potencialidades da inteligência humana, como pregam os inatistas. As críticas dos interacionistas seguidores de Vygotsky ao cognitivismo piagetino estão no fato de este último não considerar a importância das relações entre a criança e o adulto na aquisição da linguagem. Vygotsky "chama a atenção para a função social da fala, e daí a importância do outro, do interlocutor, no desenvolvimento da linguagem". O aprendizado, através da interação, desperta uma variedade de processos que, uma vez internalizados, serão realizados pela criança de forma independente.



Considerações Finais

A questão central é saber como se pode passar de idéias implícitas, que os alunos geram no primeiro contato com diferentes tarefas escolares, as idéias mais próximas ao pensamento científico, meta de qualquer aprendizagem escolar. Fazer essa passagem comporta um verdadeiro trabalho de reestruturação conceitual e implica abordar idéias muito arraigadas na mentalidade dos alunos, bastante implícitas e resistentes a mudança. O estudo,ainda incipiente, de quais são os requisitos principais que existem na base de uma mudança conceitual.
O mérito desses trabalhos sobre a mudança conceitual sob a perspectiva da psicologia cognitiva está em identificar uma série de processos psicológicos individuais, que são uma condição indispensável para que o aluno aprenda ? a comparação de idéias diferentes , o conflito conscientização. Esses estudos fornecem uma quantidade de dados muito relevantes sobre o ponto de partida dos alunos ao abordarem diferentes conteúdos de aprendizagem. Nesse sentido, vamos deixar de lado uma visão generalista de mudança cognitiva ?como propõe Piaget e também de certa maneira, Vigotsky ? apoiada sobre princípios gerais validos para qualquer conteúdo, e aproximar-mos de uma visão que destaca as condições mais particulares de aprendizagem segundo as quais o aluno trata um tema de física, de matemática ou de ciência sócias.
Embora essas formulações sejam essenciais, os estudos sobre a mudança conceitual têm duas limitações importantes. Por um lado, são estudos que não adotam uma perspectiva evolutiva. A maioria se centra na aprendizagem de adultos, e os poucos que estudaram a população infantil falham por falta de um modelo de mudança evolutiva. Portanto, são estudos incapazes de diferenciar as mudanças mais profundas e estruturais relacionadas com a faixa etária .

Referencias bibliográficas

1) COLL, C (1985) Ação, Interação e Construção do Conhecimento em Situações Educativas. Anuário de Psicologia . Ed Artmed Porto alegre. 1990.

2) Kato,M.. No mundo da escrita. 7 edição. São Paulo: Ática, 2004.

3) _______O aprendizado da leitura. 5 edição. São Paulo, Martins Fontes, 1999.


4) Piaget, J. Epistemologia Genética. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

5) Psicologia do ensino [et al] t rad. Cristina Maria de Oliveira ? Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.








Autor: Marilene Ramos


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