Leitura infantil e letramento



ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO ESCOLA ESTADUALVINÍCIUS DE MORAES ESTUDO DIRIGIDO EM LITERATURA E LETRAMENTO Artigo desenvolvido na Escola Estadual Vinícius de Moraes de acordo com o Projeto Político Pedagógico, da instituição. Autoras: Irmãs Simas Assumpção Affonso(Alfabetização) e Tarciza Maria Ferreira Lima(Coordenadora Pedagógica) 1.Resumo Tomando por base nossa experiência na escola supra citada onde atuamos a fim de compreender a dinâmica da leitura de livros de literatura infantil, sua aceitação pelas crianças,o contato delas com os materiais ,o nível de relação aluno/livro e aluno/livro/ aluno,enfim a liberdade de expressão através do convívio com a leitura diária. A partir desse momento foram se delineando os principais conceitos estudados e analisados nesse artigo,pois faz-se necessário recorrer a autores como Magda Soares,João W. Geraldi, Ângela Kleiman e outros para definição de tais conceitos e com isso relacionar as teorias às nossas práticas pedagógicas. Este é apenas o início de um diálogo aberto com nossos colegas, através do qual esperamos contribuir na tomada de consciência em relação aos educandos, além do mais ,aguardamos retorno para melhorar o desempenho do trabalho iniciado. Que nossa contribuição seja válida para educadores que como nós buscam unir teoria e prática educativa numa perspectiva de construção reflexiva para a formação de novos leitores. 2. Introdução O presente artigo surge a partir de nossa experiência como professoras de Escola de Educação Infantil ao procurarmos estimular o contato das crianças com livros como forma de iniciação à leitura. Pudemos, neste período, presenciarmos o temor de algumas professoras em permitir o manuseio de livros por crianças principalmente por receio que houvesse danificação dos exemplares. Segundo Magda Soares apud Maricato (2005, p. 18), esta postura do professor de restringir o acesso ao livro acaba fazendo com que os alunos vejam o livro como algo chato, uma vez que não pode ser tocado. O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil ? RCNEI (1998, vol 3) ressalta a importância do manuseio de materiais, de textos (livros, jornais, cartazes, revistas etc), pelas crianças, uma vez que ao observar produções escritas a criança, vai conhecendo de forma gradativa as características formais da linguagem. Isso é visível quando uma criança folheia um livro imite sons e faz gestos como se estivessem lendo. Entretanto no cotidiano escolar, isso pode não ocorrer devido ao medo de que os livros se estraguem. Porém os alunos só aprenderão a ter cuidado com os materiais, se tiveram em contato com os mesmos. . A criança só construirá conhecimento a cerca da leitura se estiver inserida em um ambiente favorável ao letramento que a possibilite presenciar e participar de situações de iniciação a leitura. Segundo Rosana Becker apud Maricato (2005 p. 22) para trabalhar literatura com as crianças é preciso possibilitar a elas o contato com os dois materiais: aquele que é para ser lido (livros, revistas, jornais, entre outros) e, aquele que é para ser rabiscado (folha sulfite, caderno de desenho, lousa, chão). De acordo com Nelly Coelho (2000), o espaço da escola pode ser dividido em dois ambientes um seria estudo programado (sala de aula, bibliotecas para pesquisa etc) e outro espaço que seria de atividades livres (sala de leitura, recanto de invenções, oficina de palavra, laboratório de criatividade etc). Nesta dualidade de ambientes o aluno assimila as informações e conhecimentos, e é estimulado pra liberar suas potencialidades específicas em cada um dos ambientes. Segundo Edmir Perrotti apud Maricato (2005 p.25), quanto mais cedo as crianças tiverem contato com histórias orais e escritas, maiores serão as chances de gostarem de ler. Ao folhear um livro, tocá-lo e observar suas figuras, mesmo que ainda não decodifique a língua escrita, a criança está ao seu modo praticando a leitura e, esta prática de leitura é denominada de"Letramento" por Magda Soares apud Maricato (2005 p. 18). O Letramento consiste em fazer uso social da leitura e da escrita e, isso ocorre quando a criança desde cedo explora e vivencia práticas de leitura e escrita. Diante disso, cabe ao professor possibilitar este contato do aluno com a literatura orientando ? sobre como fazer uso deste material escrito. E segundo RCN, organizando o espaço físico de forma atraente e aconchegante, com almofadas, iluminação adequada, livros de diversos gêneros, de diferentes autores, revistas, histórias em quadrinhos, jornais, trabalhos de outras crianças etc, sendo que as crianças devem ter livre acesso a este espaço. Em relação à organização do ambiente para leitura Perrotti apud Maricato (2005, p. 26), defende que ao contrário de uma biblioteca para adultos (silêncio e imobilidade), na biblioteca infantil as crianças podem circular, falar e interagir com o adulto que o ajudará a encontrar o caminho para a leitura. Um espaço no qual a criança tem que ficar quieta sentada na cadeira e sem se relacionar com os livros acaba de acordo com professor da USP associando a leitura à obrigação e não a um ato prazeroso. Ainda de acordo com o autor o respeito pelo interesse do pequeno leitor permite a associação da leitura à escolha e ao prazer. 3.Desenvolvimento Leitura infantil e Letramento O tema que discutimos advém das nossas reflexões, leituras, estudos, que tiveram como ponto de partida a experiência ao desenvolver um trabalho de iniciação a leitura com crianças no processo de alfabetização. Nestes momentos, nós proporcionávamos inicialmente à manipulação de livros por parte dos alunos: as crianças pegavam o livro e não sabiam virar as páginas convencionalmente e logo pegavam outro, não se concentravam por muito tempo em um mesmo livro. Diante deste fato chamávamos atenção deles para os detalhes visuais do livro. Como previsto, ao decorrer do ano letivo, alguns livros foram rasgados pelas crianças, mas como nos diz Soares apud Maricato (2005 p. 20): "vai estragar sim, porque ela ainda não tem os hábitos e a habilidade motora para lidar com o livro". Contudo, pudemos perceber que esses momentos de manipulação dos livros pelas crianças, consistiam em oportunidades de ensiná-las a manipular adequadamente estes livros, respeitando-os e familiarizando-se com eles. A partir do segundo semestre do ano, notamos uma importante evolução dos alunos que com menos freqüência rasgavam os livros, na verdade, os rasgavam somente quando disputavam com o colega um mesmo livro, afinal histórias como "Mula sem-cabeça", "Boitatá", "Bruxa Onilda", "Chico, o cachorro esquisito" eram os mais requisitados . Vale esclarecer que esta concorrência pelos mesmos livros não fica apenas na conversa ,ou na dicussão, chegam a ser rasgados. Na tentativa de estabelecer um ambiente favorável a leitura, além do contato direto com o material, consideramos importante também observar o que os alunos valorizavam: as histórias que as crianças mais gostavam, elas pediam para contar todos os dias, mas procurávamos intercalar, alguns dias líamos a que eles pediam e outros líamos outras histórias, para que escutassem histórias diferentes daquelas, pois se deixássemos eles escolherem, leríamos as mesmas histórias todos os dias. Os alunos também queriam contar histórias, e como todos queriam contar ao mesmo tempo, entramos em um acordo no qual o ajudante do dia geralmente em roda escolhia uma versão para contar. O aluno quando contava a história sempre pulava algumas partes, e os demais alunos ajudavam o amigo a lembrar as partes que esquecia. Isso tudo refletia na casa, situação que se confirmava porque alguns alunos contavam trechos da história em casa, e então os pais perguntavam a nós professoras sobre o assunto lido. Outro aspecto que podemos ressaltar é que nos momentos de livre manuseio dos livros, os alunos começavam a contar a história para os colegas, alguns até nos imitavam e, às vezes organizavam entre eles começavam a contar a história para os colegas, alguns até nos imitavam e, às vezes organizavam entre eles uma roda, uma vez que nós sempre contávamos histórias na roda.para o desenvolvimento do exercício de ouvir a leitura, ou seja, adentrar no processo de letramento ,essa é a palavra inicial na literatura infantil. Assim sendo, a escola se revela um ambiente favorável à formação de leitores e como tal proporcionamos o contato direto com o mundo da literatura infantil. AFINAL O QUE É LETRAMENTO? Segundo Soares (2000b: 15), a palavra "letramento" surge no discurso dos especialistas nas áreas de Educação e de Ciências da Linguagem na segunda metade dos anos 80. Uma das primeiras ocorrências está no livro de Mary Kato, de 1986, em que a autora afirma que "... a chamada norma-padrão, ou língua falada culta é conseqüência do letramento, motivo por que indiretamente, é função da escola desenvolver no aluno o domínio da linguagem falada institucionalmente aceita". É interessante observar que, mesmo Kato não tendo definido o que é letramento, ser letrado não se trata apenas de saber ler e escrever. A missão do professor é a de orientar o aluno na aquisição da flexibilidade lingüística necessária ao desempenho adequado que lhe será exigido em sociedade. Analisar diferentes textos, compará-los, pesquisar os porquês das diferenças, construir regras sobre o uso da língua e, a partir das descobertas, reescrever textos são práticas que produzem excelentes resultados na capacitação do aluno no uso da língua. Nesse sentido, letrar é mais que alfabetizar. A palavra "letramento" torna-se cada vez mais freqüente no discurso escrito e falado de especialistas, de tal forma que, em 1995, já figura em título de livro organizado por Ângela Kleiman (1995) e em outro livro de Leda Verdiani Tfouni (1995). Afinal, de onde vem a palavra letramento? Sabe-se que a palavra "letramento" é versão para o português da palavra da língua inglesa "literacy" que pode ser traduzida como a condição ou estado que assume aquele que aprende a ler e escrever. Segundo Soares (2000b: 17), está implícita no conceito de "literacy" a idéia de que a escrita traz conseqüências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, lingüísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la. Um indivíduo letrado é capaz de envolver-se nas práticas sociais de leitura e de escrita. Diante disso, qual a diferença entre letrado e alfabetizado? LETRAR É MAIS QUE ALFABETIZAR? Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever. Já letrado é aquele que sabe ler e produzir textos, dos mais variados gêneros e temas. Um escritor competente deve saber selecionar o gênero apropriado a seus objetivos e à circunstância em que realizará seu discurso. Letrar é mais que alfabetizar. A alfabetização deve se desenvolver em um contexto de letramento como início da aprendizagem da escrita, como desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais. Alfabetizar letrando é, portanto, ensinar a ler e escrever o mundo, ou seja, no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, tendo em vista que a linguagem é um fenômeno social. O processo de ensino-aprendizagem de leitura e escrita na escola não pode ser configurado como um mundo à parte e não ter a finalidade de preparar o sujeito para a realidade na qual se insere. É importante destacar que letramento não é um método. A discussão do letramento surge sempre envolvida no conceito de alfabetização, o que tem levado a uma inadequada e imprópria síntese dos dois conceitos, com prevalência do conceito de letramento sobre o de alfabetização. Não podemos separar os dois processos, pois a princípio, o estudo do aluno no universo da escrita se dá ao mesmo tempo por meio desses dois processos: a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades da leitura e da escrita, o letramento. O letramento inicia-se muito antes da alfabetização, ou seja, quando uma pessoa começa a interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social. Como afirma Freire (1989: 11-12), (...) A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Nesse sentido, se a leitura de mundo precede a leitura da palavra, um indivíduo pode ser letrado, mas não alfabetizado. Por exemplo, um adulto mesmo não sabendo ler e escrever pode pedir a alguém que escreva por ele, dita uma carta, pede a alguém que leia para ele a carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um ônibus etc. Essa pessoa não sabe escrever e não sabe ler, mas já conhece as funções da escrita e da leitura, lançando mão do alfabetizado. Segundo Soares (2000b: 47), essa pessoa é analfabeta, mas é, de certa forma, letrada, ou tem um certo nível de letramento. O mesmo acontece com crianças ainda não alfabetizadas. Para a autora (ibidem), Uma criança que vive num contexto de letramento, que convive com livros, que ouve histórias lidas por adultos, que vê adultos lendo e escrevendo, cultiva e exerce práticas de leitura e de escrita: toma um livro e finge que está lendo (...), toma papel e lápis e "escreve" uma carta, uma história. Ainda não aprendeu a ler e escrever, mas é, de certa forma, letrada, tem já um certo nível de letramento. Da mesma forma que é possível ter um certo nível de letramento e não ser alfabetizado, um indivíduo pode ser alfabetizado mas não ter um bom nível de letramento. É capaz de ler e escrever, porém, não possui habilidades para práticas que envolvem a leitura e a escrita: não lê revistas, jornais, receitas de médico, bulas de remédio etc., ou seja, apresenta grande dificuldade para interpretar textos lidos, como também, pode não ser capaz de escrever uma carta ou bilhete. Ser alfabetizado não é condição essencial para ser letrado. É preciso que o processo de alfabetização seja significativo. Soares (2000b: 47) afirma então, que nesse caso, é possível uma pessoa ser alfabetizada, mas não letrada. Neste ponto, divergimos da autora porque acreditamos que uma pessoa não pode possuir grau zero de letramento, tendo em vista que vive em uma sociedade grafocêntrica. Diante disso, qual o papel do professor na formação não só de alfabetizados, como também de letrados? Como alfabetizar letrando? Se a educação é um processo contínuo, que só termina com a morte do indivíduo, como então fazer com que esse indivíduo sempre se interesse pelas práticas de leitura e de escrita? Como ajudá-lo a viver numa sociedade grafocêntrica? O PAPEL DO EDUCADOR NA FORMAÇÃO DE INDIVÍDUOS ALFABETIZADOS E LETRADOS Numa sociedade letrada, o objetivo do ensino deve ser o de aprimorar a competência e melhorar o desempenho lingüístico do estudante, tendo em vista a integração e a mobilidade sociais dos indivíduos, além de colocar o ensino numa perspectiva produtiva. O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como prática de um sujeito agindo sobre o mundo para transformá-lo e, para, através da sua ação, afirmar a sua liberdade e fugir à alienação. É através da prática que desenvolvemos nossa capacidade lingüística. Conhecer diferentes tipos de textos não é, pois, decorar regras gramaticais e listas de palavras. No rap Estudo Errado, Gabriel, o Pensador, diz com propriedade: "Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. Decoreba: este é o método de ensino. Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino". É lamentável que, no Brasil, a escola, lugar fundamental para a pessoa desenvolver sua capacidade de linguagem, continue limitando-se, na maioria das vezes, a um ensino mecânico. Na perspectiva do letramento, a leitura e a escrita são vistas como práticas sociais. Vargas (2000: 7-8) apresenta uma distinção entre ledores e leitores muito importante quando se fala de alfabetização e de letramento. Segundo a autora, [...] A estrutura educacional brasileira tem formado mais ledores que leitores. Qual é a diferença entre uns e outros se os dois são decodificadores de discursos? A diferença está na qualidade da decodificação, no modo de sentir e de perceber o que está escrito. O leitor, diferentemente do ledor, compreende o texto na sua relação dialética com o contexto, na sua relação de interação com a forma. O leitor adquire através da observação mais detida, da compreensão mais eficaz, uma percepção mais crítica do que é lido, isto é, chega à política do texto. A compreensão social da leitura dá-se na medida dessa percepção. Pois bem, na medida em que ajudo meu leitor, meu aluno, a perceber que a leitura é fonte de conhecimento e de domínio do real, ajudo-o a perceber o prazer que existe na decodificação aprofundada do texto. O objetivo de se ensinar a ler e escrever deve estar centrado em propiciar ao estudante a aquisição da língua portuguesa, de maneira que ele possa exprimir-se corretamente, aconselhado pelo professor por meio de estímulos à leitura de variados textos, nos quais serão verificadas as diferentes variações lingüísticas, tornando um poliglota em sua língua, para que, ao dominar o maior número de variantes, ele possa ser capaz de interferir socialmente nas diversas situações a que for submetido. A educação, sendo uma prática social, não pode restringir-se a ser puramente livresca, teórica, sem compromisso com a realidade local e com o mundo em que vivemos. Educar é também, um ato político. É preciso resgatar o verdadeiro sentido da educação. De acordo com Freire ( 1989: 58-9), (...) o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem mas sabem que sabem. Assim, quando os alunos são o sujeito da própria aprendizagem, "seres fazedores, transformadores", no dizer de Paulo Freire, tomam consciência de que sabem e podem transformar o já feito, construído. Deixam a passividade e a alienação para se constituírem como seres políticos. Como afirma Freire (1996: 42), o diálogo é fundamental em qualquer prática social. O diálogo consiste no respeito aos educandos, não somente enquanto indivíduos, mas também enquanto expressões de uma prática social. (...) A grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tomado como paciente de seu pensar a inteligibilidade das coisas, dos fatos, dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico. O aluno não pode ser um simples objeto nas mãos do professor. É o que Freire (ibidem) chama de "educação bancária", isto é, o educando, ao receber passivamente os conhecimentos, torna-se um depósito do educador. "Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção". (Freire, ibidem: 52). Cabe ao professor mostrar aos alunos uma pluralidade de discurso. Trabalhar com diferentes textos possibilita ao professor fazer uma abordagem mais consciente das variadas formas de uso da língua. Assim, o professor pode transformar a sua sala de aula num espaço de descobertas e construção de conhecimentos. A tarefa de selecionar materiais de leitura para os alunos é uma das tarefas mais difíceis. Nessa escolha, são postas em jogo as diferentes concepções que tem cada professor sobre a aprendizagem, os processos de leitura, a compreensão, as funções dos textos e o universo do discurso. Além disso, coloca-se em jogo a representação que tem cada docente não só do desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo dos sujeitos a quem vão dirigidos os materiais, mas também dos interesses de leitura de tais destinatários. Assim, também intervém como variável significativa o valor que o docente atribui aos materiais enquanto recursos didáticos. Trabalhar com gêneros textuais variados nos permite entender que a escolha de um gênero leva em conta os objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes. Daí decorre a detecção do que é adequado ou inadequado em cada uma das práticas sociais. Diante disso, na medida em que o educador tomar consciência de sua posição política, articulando conteúdos significativos a uma prática também significativa, desvinculando-se da função tradicional de mero transmissor de conteúdos e, conseqüentemente, de mero repetidor de exercícios do livro didático estará transformando o ensino da leitura e da escrita. Um educador como mediador, partindo da observação da realidade para, em seguida, propor respostas diante dela estará contribuindo para a formação de pessoas críticas e participativas na sociedade. Assim, uma prática significativa depende do interesse do professor em planejar as suas aulas com coerência, visando a construção de conhecimentos com os alunos. É importante destacar que letrar não é apenas função de professor de Língua Portuguesa. Em todas as áreas de conhecimento, em todas as disciplinas, os alunos aprendem através de práticas de leitura e de escrita: em História, em Geografia, em Ciências, mesmo em Matemática, enfim, em todas as disciplinas, os alunos aprendem lendo, interpretando e escrevendo. Letrar é função de todos os professores, mesmo porque, em cada área de conhecimento, a escrita e a leitura têm peculiaridades, que só os professores que nela atuam é que conhecem e dominam. O educador reeducando-se e transformando-se, deixará de vez "suas tarefas e as funções da educação sob a ótica das elites econômicas, culturais e políticas das classes dominantes", em direção a uma prática libertadora. Assim, o ensino deixará de ser um martírio, para se tornar num processo de construção permanente de conhecimentos. O educador deve estimular no aluno o pensamento crítico, de modo que ele possa atuar na sociedade como um indivíduo pensante, questionador. Enfim, nos dias atuais, o conhecimento é uma das "ferramentas" para se conquistar oportunidades de trabalho e renda. Assim, aos professores, cabe a responsabilidade de fazer com que seus alunos se interessem pela leitura e pela escrita . 4. Considerações Finais Ao estudar a iniciação a leitura pela criança na Educação Infantil, percebemos o quanto é importante o papel mediador do professor, pois será de sua responsabilidade proporcionar aos alunos espaços adequados de leitura, transformando estes espaços em situações prazerosas de aprendizagem. "O professor que atua precisa tornar-se leitor porque as crianças aprendem a ler com os gestos de leitura do outro". Esse pensamento de Becker apud Maricato (2005, p. 26), foi vivenciado por nós em nossa prática pedagógica anteriormente relatada neste artigo, quando os alunos imitavam a nossa maneira de contar histórias. Para aproximar o aluno da leitura, faz-se necessário que o educador atribua a literatura uma finalidade prazerosa e não apenas cumprir obrigações na escola ou no trabalho, pois só assim será possível formar leitores para a vida toda. "É ao livro, à palavra escrita, que atribuímos a maior responsabilidade na formação da consciência de mundo das crianças e dos jovens" (COELHO, 2000). De acordo com o pensamento da autora, constatamos que desde a infância vamos assimilando a idéia de mundo, suas evoluções, ou seja, o caminho para o desenvolvimento é a palavra, iniciando na literatura infantil. È muito importante esta fase inicial, pois ela tem papel fundamental de transformação que é: a de iniciar um processo de formação de um novo leitor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados, 1989. ??????. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. São Paulo: Ática, 1986. (Série Fundamentos) KLEIMAN, Ângela B. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995. GERALDI, João Wanderley (Org.) O texto na sala de aula. 3ª ed. São Paulo: Ática, 2001. PEIXOTO, Cyntia Santuchi et alli. Letramento: você pratica? In: Anais do VIII Congresso Nacional de Lingüística e Filologia. Rio de Janeiro: UERJ, 2004. Disponível em: Acesso em: julho de 2005. SOARES, Magda. Letrar é mais que alfabetizar. In: Nossa língua ? nossa pátria. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 26/11/2000a. Entrevista. Disponível em Acesso em: julho de 2005. ??????. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. 2ª impr. 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Brasília: MEC/SEF, 1998; Revista Criança do professor da Educação Infantil "O prazer da leitura se ensina" Ministério da Educação ?
Autor: Tarciza Ferreira Lima


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