Dando o Próprio Sangue



Já dizia Platão que, dentre todos os animais selvagens, é o homem jovem o mais difícil de domar. Existe no jovem uma força interior, um desejo imediato de experimentar a vida que explode num período relativamente curto. Mais tarde essa vontade esmorece, tornando o homem mais sóbrio e experiente - dizem alguns - ou simplesmente envelhecido e sem ímpeto - dizem outros.

Claro que as variações individuais são infinitas, o que torna a fase jovem de cada um, bem como as experiências e sensações decorrentes, particulares a cada caso. No que diz respeito ao jovem Raul, a quem agora lançamos nosso olhar, o começo da vida adulta é marcado por intensas experiências envolvendo brigas, as mais diversas confusões, sexo, drogas e muito rock?n?roll.

Acostumado a frequentar as mais distintas baladas nos fins de semana, certa vez encontramos o jovem Raul num bar, bebendo com amigos. Tratava-se de uma festa, o estabelecimento estava lotado, muita gente jovem e perdida. O desafio do momento era ver quem era mais macho em beber o máximo de cerveja. Para tal, cada rapaz empunhava sua própria garrafa, logo surgindo a brincadeira de brindar fortemente, batendo garrafa com garrafa, antes de engolir o líquido de forma rápida, de preferência em um único gole, não se deixando intimidar pelo adversário.

Algumas garrafas depois, e completamente bêbados, Raul e seus amigos continuavam com a brincadeira de brindar. Só que a marca de cerveja que eles gostavam, e vinham bebendo até então, tinha acabado no estoque do bar. Decidiram beber de outra marca mesmo. E continuaram a brindar...

O problema é que as garrafas da outra marca não eram tão resistentes. Em vários brindes elas simplesmente estouravam, espalhando cacos de vidro e cerveja pelo chão. De um lado, Raul e seus amigos esbravejavam, como que enganados, mas sem muita eloquência, de tão entorpecidos que estavam. De outro lado, a bagunça e destruição de garrafas incomodava as outras pessoas e, principalmente, os garçons, responsáveis pela ordem e limpeza do estabelecimento. Sendo assim, prevaleceu a vontade desses e Raul e seus colegas foram devidamente convidados a se retirarem.

Como a noite já ia muito adentro, e eles encontravam-se cansados e sem noção das atitudes, resolveram ir embora mesmo, ao invés de procurar outro lugar. Já tinham bebido mais que o suficiente para uma noite, por mais que estivessem acostumados com o álcool.

Assim, Raul voltou de carona com um de seus amigos, que logo à saída do estacionamento prontificou-se em oferecer carona a duas garotas que também deixavam a festa. Não foi preciso muito para convencê-las, tendo Raul ajudado seu colega na conversa. Elas estavam voltando sozinhas mesmo, carona de dois rapazes amistosos seriam melhor que gastar com táxi. Além disso, já tinham visto eles no bar, não parecia haver problema algum. E eram mulheres disponíveis...

Carona aceita, Raul saiu do carro e ofereceu seu lugar, ao lado do banco do motorista, para uma delas. Entrou com a outra no banco de trás e rapidamente procurou bater um papo, para conhecer mais a moça (nome, o que fazia, se tinha gostado da festa, blá-blá-blá). Conversa vai, conversa vem, corpos se aproximando, olhares fixos, voz sedutora... Não demora muito e começam a se beijar. Também seu colega, no banco da frente, estava tendo sucesso com a outra garota. Dirigiam-se, assim, em direção ao bairro onde residiam as moças (creio que, estudantes, moravam juntas ou uma dormiria na casa da outra), aos beijos e abraços, invariavelmente lançando uma ou outra conversa (direta ou indireta) para testar as chances de uma prorrogação da noite.

Não se sabe ao certo se a troca de beijos, abraços e carícias íntimas acabou por despertar os sentidos entorpecidos de Raul. Parece que foi realmente esse o caso, pois, de repente, no meio do caminho, ele se deu conta que sua mão estava totalmente ensanguentada. O que diabos seria aquilo? Imediatamente inspecionava a garota... A roupa dela estava cheia de manchas de sangue, principalmente sua calça (branca!)... O raciocínio imediato de Raul foi óbvio: ela estava menstruada e ele ficou com a mão suja de sangue por causa das carícias íntimas! Não se absteve, no entanto, do grande susto. Começou a gritar em protesto:

- Eca, credo! Tá menstruada! Pára o carro, pára! Menina suja! Que nojo! Vai embora, sai daqui!!!

Sem entender o que acontecia, o amigo brecou imediatamente o veículo. As garotas saíram bravas, xingando os dois veementemente e dizendo que eles eram malucos.

Só depois Raul pôde perceber o que havia de fato ocorrido. A garota não era o poço de sangue que ele pensara, não estava menstruada! O que aconteceu foi que o próprio Raul havia cortado profundamente a mão, quando brindava com as garrafas de cerveja. De tão bêbado que estava, não havia sentido dor, nem percebido o sangue que lhe jorrava da ferida há um bom tempo...

Autor: José Marcelo Rigoni


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