O Sussurro Dos Inocentes
Três ou quatro nomes ditos nos noticiários, e em breve tornam-se números. O que era indivíduo, dotado de plenas poderes a que se confere aos cidadãos de uma pseudo república democrática, tornara-se estatística.
Em meio ao clamor geral, ânimos de desfavorecidas classes à flor da pele, prefeitos e governadores a silenciar-se, taciturnos. Conto-lhes não tão-somente de um caso repetidas vezes ditas neste e doutros blogs, mas inclusive, do mais recente hediondo relato: O pequenino João Roberto (não o João Hélio, outro), a perecer, ingênuo, perante truculenta operação da chamada "segurança pública" (desconfie) do Rio. Somente a mãe sobrevivera, ainda que a figura paterna não estivesse presente... Os dois policiais supeitos, de fato, alvejaram o veículo familiar com o até agora expressivo número de dezessete perfurações.
E o breve sussuro, ocasional, fez-se ouvir: Na televisão, pequenos-burgueses a exigirem explicações de ditas autoridades. Em entrevista à polêmica Ana Maria Braga, os pais do mais novo João vitimizado disseram que não haviam de aceitar desculpas de secretário de segurança José Mariano ou quem quer que fosse. Aparentando-se condoído, o secretário começara o discurso com um sonoro "Nenhum argumento vai justificar o injustificável...". Ao menos, uma fagulha de ocasional sensatez. Que por sinal, em questão de minutos a ir por terra em duas lunáticas declarações: "O Rio não está sem controle..." e "A cidade vive uma queda expressiva nos índices de criminalidade...".
E em silêncio, o inconformado telespectador revolta-se, num pranto inaudível. Qual dos poderes no Brasil dispõe-se a pacientemente escutar, hoje, um surdo sussurar dos inocentados? Os soldados (agora, os mais recentes e fidedignos aliados do tráfico) que vitimizaram três jovens do Morro da Providência, saberão que farão tais vítimas no pós-mortem, se não deixar-se embalar ao sono dos eternamente injustiçados? E dos sobreviventes familiares, que hão de fazer, dos amputados em corpo e alma e voz?
A emblemática figura de Protetor, de tempos há muito passados, outrora normalmente relegada ao policial, confunde-se comumente com o carrasco dos tempos modernos. Mocinhos e bandidos, num ensandecido paradoxo, mesclam-se e fundem-se. Neste meio termo de fictícia-realidade non sense, concretiza-se a inversão de valores político-sociais: Os presos, punidos à soltura; Cidadãos de bem, por sua vez, condecorados (por gregos...?) com o símbolo urbanístico do medo que paralisa: A prisão domiciliar.
Silier Borges
Autor: Silier Borges
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