História e Poder.



FALCON, Francisco. História e Poder. In: CARDOSO, Ciro Flamarion Santana, VAINFAS, Ronaldo (orgs). Domínios da Historia: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.

O autor começa seu texto falando da polissemia dos conceitos de História e poder, onde o termo poder será entendido como equivalente a política ou político, contudo o poder deve ser analisado como relação social que deve ser identificada pluralmente, em que se devem ao estudar o termo compreendermos a varias faces do poder, enxergando assim não o poder, mas os poderes dentro das relações sociais vigentes cotidianamente.
No presente texto Falcon faz uma analise historiográfica do percurso da História Política, onde constrói tal balanço com argumentos que vão desde o chamado nascimento da história com Heródoto, passando pela história do período medieval, chegando aos séculos XVI e XVII, e finalmente nos séculos XVIII com a Historia iluminista, e século XIX com a história tradicional ou metódica (chamada de positiva) atingido a hegemonia dessa tendência historiográfica de caráter político até as primeiras críticas por partes da História marxista ainda no XIX, dos Annales da primeira e segunda geração (declínio da história política) até o seu retorno tendo como grandes percussores no momento Foucault e Remond.
Entendemos que o mais importante é começarmos a enfocar a História política a partir do século XIX, onde Falcon fala de como era o caráter dessa história:

[...] no século XIX, o poder é sempre do Estado- instituições, aparelhos, dirigentes: os acontecimentos são sempre eventos políticos, pois estes são temas nobres e dignos da atenção dos historiadores. (p.65)

Dessa maneira que se entendia a História com caráter de cientificista, em que a História política produzida durante esse período era narrativa, factual e linear, onde os fatos eram comprovados como verdadeiros ou falsos. Terá como seu grande percurso Langlois-Seignobos, onde a grande contribuição desse tipo de história foram os conceitos fundamentais de documento, fato histórico e tempo.
O marxismo ira ser um grande critico desse tipo de História de caráter narrativa, factual e linear, onde afirma Falcon:
[...] as bases teóricas de tal oposição são bem conhecidas, bastando mencionar aqui que a visão marxista foi decisiva, ainda no século XIX, ao denunciar os três ídolos principais daquela história política: uma noção de político/ política desvinculada da totalidade do processo histórico e presa fácil, da ideologia; o caráter voluntarista de uma historia baseada em idéias e ações de alguns poucos agentes históricos individuais; discurso histórico narrativo, cronológico e linear construído em função de uma epistemologia empirista. (p.71)


Entendido dessa maneira o marxismo rejeitou a história de tipo tradicional e recolocou em primeiro plano a história do poder e do político interpretando a política como efeito derivado das estruturas que compõe a sociedade.
Em 1929 com o advento dos Annales da primeira geração com Bloch e Febvre as criticas em relação a historia tradicional continuam chegando estes a chamarem este tipo de história de evenementielli, ou seja, uma historia de eventos sucessivos, factuais, cronológicos, lineares, narrativos e sem problemas.
Na segunda geração de Braduel as criticas permanecem, e este com suas estruturas localiza a História política na curta duração de tempo, em que é o mais instável e menos decisivo em suas durações de tempo. Contudo durante esse período Braduel afirma haver uma confusão dizendo que história política não é eventual e nem esta condicionada a ser, pois este é o caráter da história tradicional que difere da história política.
Com a nouvelle histoire a partir da década de 1970 a historia política ganha novo caráter, onde Foucault segundo Falcon:

[...] Foucault [...] revolucionou a compreensão desses novos objetos, colocou em destaque a relação entre as diferentes práticas sociais e a pluralidade e onipresença não do poder, mas dos poderes. A historiografia política passou a enfocar, nos anos 70, a Microfisica do Poder, na realidade as infinitas astúcias dos poderes em lugares históricos pouco conhecidos- família, escola, asilos, prisões, hospitais, hospícios, oficinas, fábricas etc; em suma, no cotidiano de cada individuo ou grupo social. (p. 75)

Falcon segue a meu ver essa tendência de história política enxergando as varias faces do poder dentro das relações sociais cotidianas. Aonde este chega afirmar:
Reconhece-se que é fundamental que o historiador político passe do estudo institucional do Estado para o estudo do poder; e também que devem ser eliminadas as pseudoquestões tradicionais- como a do conceito de soberania. O essencial é o conceito de acontecimento político a ser revisto, ponto de partida para uma história política compreensiva, embasada em conceitos de sistema partidário, períodos críticos, além de maior abertura aos elementos culturais tidos até aqui como extrapoliticos. A concepção plural do publico (receptor, audiência) e as perspectivas do conceito de cultura política exemplificam talvez o quanto se tenta suprimir e inovar em história política. (PP 79-80)

Em suma, Falcon segue Remond ao afirma que o político existe distinguindo-se dos outros tipos de realidade, onde sua pretensão com o tema tratado no texto era com o realce dos debates acerca de história e poder na perspectiva da história da história.
Autor: Daniel Rodrigues De Lima


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