A EVOLUÇÃO TEMPORAL DA PRESERVAÇÃO DOCUMENTAL A PARTIR DO FILME "FOGO LENTO"
Maria Lúcia Valada de Brito
Preservação Documental: EVOLUÇÃO TEMPORAL
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO .........................................................................................................
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CONCEITOS .............................................................................................................
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SOBRE O FILME: "FOGO LENTO" ......................................................................
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MARCOS HISTÓRICOS ..........................................................................................
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SOBRE A HISTÓRIA DO PAPEL ...........................................................................
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A MICROFILMAGEM COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO ............................
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6.1
Vantagens do microfilme de preservação ..................................................................
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6.2
Digitalização .............................................................................................................
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6.3
Desvantagens da imagem digital ...............................................................................
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SOBRE O PLANEJAMENTO ..................................................................................
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A IMPORTÂNCIA DE UMA MUDANÇA PROFUNDA DE MENTALIDADE
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AGENTES QUE DEGRADAM O DOCUMENTO .................................................
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AÇÕES DE PRESERVAÇÃO ? IMPORTÂNCIA ..................................................
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CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................
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A EVOLUÇÃO TEMPORAL DA PRESERVAÇÃO DOCUMENTAL A PARTIR DO FILME "FOGO LENTO"
Maria Lucia Valada de Brito
RESUMO
Este texto trata a respeito da evolução do tratamento de preservação documental a partir do filme fogo lento. Discutem-se as técnicas de preservação ao longo da história e a importância de se preservar e conservar os documentos para que a informação não se perca. O artigo fala da história do papel, microfilmagem de preservação, digitalização (vantagens e desvantagens), agentes que degradam o papel, e a importancia de ações de preservação.
Palavras-chave
Preservação dos documentos. Filme fogo lento. Papel, Microfilmagem
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo um artigo sobre Preservação Documental: evolução temporal a partir do filme "fogo lento", desenvolver o tema preservação documental contemporânea, perfazendo todas as etapas que deveriam ser implantadas do trabalho de preservação do documento papel (convencional) num acervo arquivístico. Finalizando com medidas que poderiam ser implementadas num bom planejamento.
Todo profissional da área de documentação tem o sonho de encontrar acervos em que haja o ambiente adequado para que o papel perdure séculos, mas nem sempre isso se torna realidade, pois faltam recursos para manter e dar continuidade ao trabalho, que é caro, de restauração e conservação. Porém, acredito que muitas vezes, quando sensibilizamos as autoridades certas e da forma correta, muito pode ser alcançado. Além do custo de manutenção da preservação do papel, há a falta de mão-de-obra especializada e sensibilizada para o trato com os documentos de acervos. Soma-se a esse fator a falta de um plano e de conhecimento, também dos dirigentes, de como melhorar as condições de conservação.
Um bom planejamento de um acervo pode vir a trazer uma conservação adequada principalmente quando não se pode, de imediato, microfilmar e digitalizar documentos de grande valor histórico.
Ao longo do tempo perdeu-se a memória de ilustres personalidades que foram muito importantes no passado, e que nos legaram muitos conhecimentos, sabedoria, experiência de vida, mas o tempo ou as intempéries fizeram com que a história total e mais rica de suas vidas fossem apenas um pequeno reflexo hoje do muito mais que fizeram. Muita documentação
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desses personagens viraram poeira ao longo do tempo. Pois, o tempo é implacável e não perdoa àqueles que não dão importância a preservação do documento.
A tentativa do presente trabalho é mostrar que pequenas ações, se implanatadas no cotidiano de uma gestão documental, podem, a longo prazo, salvaguardar a memória que ainda existe numa instituição.
Por tudo isso, o presente estudo tem como objeto o ensino de Preservação Documental. De forma a refletir sobre a realidade de um acervo e os caminhos que podem ser tomados na Preservação de Documentos.
2 CONCEITOS
O s conceitos se subdividem em presewrvaçao documental, conservação preventiva e restauro.
?Preservação Documental - sentido geral, toda a ação que se direciona à salvaguarda dos registros documentais.
?Conservação / Restauração - intervenção na estrutura dos materiais visando melhorar o seu estado físico.
impacto sobre o objeto.
?Conservação preventiva ? ações para adequar o meio ambiente, os meios de acondicionamento e de acesso, visando prevenir e retardar a degradação.
impacto sobre o conjunto.
Preservação Documental :
Segundo o Conceito baseado nos documentos "Política de Preservação", dos Arquivos Nacionais do Canadá (2001) e da Austrália (2005).
A preservação envolve todas as ações adotadas para assegurar a acessibilidade presente e de longo prazo da forma física, do conteúdo informacional e dos métodos relevantes dos registros documentais, inclui as ações adotadas a partir da criação dos registros, permeia e se integra a todas as atividades, da aquisição ao acesso, fazendo com que todos cumpram uma parcela desta responsabilidade.
3 SOBRE O FILME: "FOGO LENTO"
O tempo é um devir absolutamente inexpugnável. A sua vivência é uma íntima construção do homem. O verdadeiro filme está na elegantíssima exploração do implícito sobre os desgastes do tempo no documento, nos livros. A desintegração do papel e livros retrata um futuro sem memória. Mostra um livro que morreu e não há meios de recompor toda sua estrutura. Considera a microfilmagem, que para a época, era a única solução para salvaguardar a memória.
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Hoje, com a rápida escalada tecnológica e a opção de cada vez mais produzir documentos digitais, também novas formas de restaurar vêm surgindo, o que faz com que um documento que hoje está impossibilitado de ser recuperado, no futuro possa haver uma nova técnica de restauro. A microfilmagem não é mais a única forma de salvaguardar. Há a digitalização e técnicas modernas de recuperar um documento. Soma-se a isso a possibilidade de migração do microfilme para o meio digital e o contrário também pode ser convertido.
Estudiosos de preservação recomendam a mínima intervenção para restaurar um documento. O ideal é a conservação preventiva, ou seja, utilizar ambiente e técnicas adequadas para preservar a documentação por mais tempo.
4 MARCOS HISTÓRICOS
O conceito de preservação e acesso no campo da documentação apareceu pela primeira vez, descrito por Paul Otlet, em seu Traité de Documentatión (1934).
"O objetivo da preservação é o acesso permanente." (MEMÓRIA DO MUNDO, 2002, p.21)
É condição prévia e indispensável uma "boa administração". Por isso, o referido documento faz essa condição para haver uma eficiente preservação. "Dependendo do material do qual se trate, o mecanismo apropriado pode ser um catálogo, um inventário ou alguma outra maneira de registrar a forma e o conteúdo de uma coleção, desde suas características gerais até o plano dos diferentes suportes." (Ibid., p. 19)
A conservação preventiva é um velho conceito no mundo dos museus, mas só nos últimos 10 anos que ela começou a se tornar reconhecida e organizada. Ela requer uma mudança profunda de mentalidade. Onde ontem se viam objetos, hoje devem ser vistas coleções. Onde se viam depósitos devem ser vistos edifícios. Onde se pensava em dias, agora se deve pensar em anos. Onde se via uma pessoa, devem ser vistas equipes. Onde se via uma despesa de curto prazo, deve-se ver um investimento de longo prazo. Onde se mostram ações cotidianas, devem ser vistos programas e prioridades. Conservação preventiva significa assegurar a sobrevida das coleções. (GUICHEN, 1995, p.2)
Os investimentos passaram a ser redirecionados para programas de conservação preventiva, abrangendo coleções em diferentes suportes. Joan van Albada, em 1987, participando da Reunião Anual do Conselho Internacional de Arquivos, observou:
A preservação requer administração, e não restauração. A boa administração de arquivos aponta para a organização dos acervos, e esta para a conservação preventiva, que inclui segurança e planejamento de desastres, armazenamento e manuseio adequados, e acesso, por meio da reprodução. Cabe ainda, estabelecer prioridades, sobre uma avaliação de custo-benefício. (ALBADA, 1987, p.7, tradução nossa)
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Mecanização
?1799 - invenção do formador contínuo, por Louis Nicolas Robert, na França.
?1806 - invenção da colagem ácida, à base de breu e sulfato de alumínio.
?1844 obtenção do papel a partir de cavacos de madeira, na Alemanha.
Papéis quebradiços
?1980: a preocupação com a falência de milhares de documentos e livros resultou em um movimento para salvar a informação relevante, que poderia perder-se em curto espaço de tempo.
?Muitos países adotaram a microfilmagem de preservação em programas cooperativos de abrangência nacional.
5 SOBRE A HISTÓRIA DO PAPEL
O papel é o suporte tradicional de livros e documentos. Ele é fabricado a partir de um material orgânico, a celulose. Originário da China, sua manufatura foi mantida em segredo até o início do século VIII, quando os chineses tornaram-se prisioneiros dos árabes. Com a expansão do domínio árabe, o papel foi levado para a Europa e sua manufatura teve início na Espanha durante o século XI. A matéria prima era obtida da reciclagem de tecidos já desgastados, e por isto foi chamado de papel de trapo. Além da qualidade excelente das fibras, devido ao alto teor de celulose do algodão e do linho, este papel contém materiais de acabamento que contribuem parta a sua preservação.
A partir da segunda metade do século XIX, com o aumento da demanda, surgiram a mecanização e o emprego de fibras de madeira e agentes de acabamento à base de breu e sulfato de alumínio, causadores de acidez intrínseca do papel. A degradação irremediável foi chamada de fogo lento.
Como resultado, milhões de livros tornaram-se quebradiços, colocando em risco toda a produção intelectual mundial dos últimos 150 anos. Esta situação alarmante ecoou na década de 1980, envolvendo a comunidade acadêmica mundial, advogando pela produção de papéis de melhor qualidade e pelo resgate de grande volume de informação em risco.
6 A MICROFILMAGEM COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO
Em 1988, em paralelo a uma campanha de conscientização para a produção e uso de papel alcalino, o Congresso Norte-Americano aprovou recursos pelo Fundo Nacional para Ciências Humanas - NEH, para "[...] coordenar um projeto de 20 anos para a microfilmagem de preservação de documentos, livros e jornais quebradiços." (GUNDESHEIMER, 1995, p. 1, tradução nossa)
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O programa de microfilmagem preservação foi antecedido de um amplo acordo cooperativo, requisitando a colaboração das instituições norte-americanas para identificar as prioridades nacionais, evitando a duplicação de esforços. O seu desenvolvimento exigiu um conjunto de condições rigorosas, com vistas a produzir microfilmes de preservação, que pudessem permanecer legíveis por cerca de 500 anos.
1) A microfilmagem teria que satisfazer a padrões técnicos estritos;
2) Todo microfilme teria um negativo matriz, uma matriz de impressão, e uma cópia de serviço/reprodução para cada instituição;
3) O microfilme faria parte do banco de dados bibliográficos nacional;
4) O compromisso de prover empréstimo inter-bibliotecas ou cópias ao valor de custo para qualquer requerente; e
5) Os microfilmes produzidos seriam armazenados em caráter permanente, reunidos em condições ambientais adequadas à preservação de longo prazo. (Ibid., 1995, p. 1)
Segundo Waters, "o processo de microfilmagem foi considerado o mais eficiente para a preservação de documentos em deterioração nas bibliotecas", porque é um suporte durável, "desde que armazenado num ambiente controlado e que bibliotecas e arquivos sigam procedimentos e especificações normalizadas [...]. Além disto, a tecnologia para se ter acesso
ao microfilme é estável e dificilmente sofrerá qualquer alteração no futuro." (WATERS, 2001, p 10). Processo de reprodução fotográfica de alto contraste, em preto e branco, em filme de 35 mm, em um determinado grau de redução, de acordo com o tamanho do original. Os microfilmes hoje produzidos dentro das especificações de preservação, em sais de prata e com base em filme de poliéster, assumem qualidade de preservação. A qualidade ótima de resolução de um microfilme está entre 120 e 200 linhas por milímetro. Se produzido de forma adequada e guardado em ambiente de preservação, o microfilme poderá durar até 500 anos.
6.1 vantagens do microfilme de preservação
O conteúdo fica a salvo e mantido em uma forma compacta a durável, por meio de uma tecnologia relativamente simples e bem estabelecida, pois a leitura do microfilme requer apenas o uso de equipamentos com luz e lentes. Aliado a esse fator, um microfilme de preservação permite a substituição permanente de materiais escritos ou impressos sobre papel
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de baixa qualidade, que se encontram em processo de deterioração. E, também, permite-se a preservação de originais, resguardando-os do manuseio e propiciando o acesso à informação.
6. 2 digitalização
É uma tecnologia que codifica digitalmente em forma de imagem ou de texto, para armazenagem, transmissão e recuperação em meio eletrônico. Ela otimiza o acesso, em comparação ao microfilme, pois utiliza os computadores e sistemas de rede já disponíveis.
A fidelidade da digitalização é total na multiplicação das cópias e oferece recursos adicionais de cor e de cópias fiéis em papel. Outra vantagem é que a distribuição em rede permite, de forma simultânea, múltiplo acesso. E, também, podem ainda ser indexadas pelos números de páginas, capítulos, etc., associados aos índices, ou ainda incorporar os recursos de "folhear".
6.3 Desvantagens da imagem digital
As constantes evoluções tecnológicas aceleradas: enorme diversidade de hardware e software, e mudanças constantes; e por isso há um período de transição que exige investimentos nos sistemas tradicionais e nos novos sistemas; aliado a isso há os problemas com direitos autorais; também, há normas e padrões ainda em desenvolvimento; e ter de haver atenção especial e constante às necessidades de armazenagem e migração.
7 SOBRE O PLANEJAMENTO
"Ao encarar um problema, temos diante de nós três caminhos. Um é, sem dúvida, o mais longo de todos, embora aquele que o percorra verifique ao fim de algum tempo ter acabado por descrever um círculo regressando ao mesmo sítio. O outro é menos comprido. Contudo, não tem saída. Há, felizmente, um terceiro que é o mais curto de todos. Ele conduz-nos aos outros dois caminhos". (Fernando Guimarães)
A preservação privilegia, contemporaneamente, as ações preventivas, que abrangem os acervos documentais em seu conjunto, em lugar dos tratamentos interventivos e pontuais. Através da conservação preventiva podem ser implementadas políticas e técnicas de preservação que beneficiam os acervos a um custo acessível. Entretanto, para o seu desenvolvimento em um plano institucional é preciso partir de um planejamento que envolva toda a instituição. A definição de políticas institucionais, com base em prioridades, depende de dados, que são obtidos por meio de pesquisas.
As organizações passaram a beneficiar-se da informação como um verdadeiro recurso estratégico utilizando os novos recursos tecnológicos. Os arquivos, na qualidade de gestores de informação, são também grandes beneficiários destes recursos. Entretanto, o impacto das
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transformações no tratamento e uso da informação impõe profundas mudanças conceituais e metodológicas à ciência arquivística.
Para atuar em múltiplas ações, em diferentes planos de prioridade, numa base interdisciplinar, a instituição precisa contar com programa institucional de preservação, com políticas muito bem definidas. Para a construção deste programa, o planejamento será uma etapa essencial.
Segundo BECK, o planejamento de preservação se constitui de três etapas principais. Na primeira são nomeados os grupos de estudo, envolvendo as diferentes gerências, técnicas e administrativas. Estes grupos participam da seleção dos conjuntos documentais prioritários; na segunda etapa realizam-se os levantamentos sobre as condições de conservação de segurança e climato-ambientais; na terceira etapa, sobre a análise dos dados levantados, são definidas as políticas institucionais, passando-se então à redação do programa institucional de preservação.
No caso de levantar as condições climato-ambientais, a instituição pode optar por priorizar os ambientes que abrigam as coleções consideradas prioritárias, e, neste caso, o levantamento de condições deve apenas abranger as áreas de armazenamento destes acervos.
Ao final de cada etapa do planejamento é produzido um relatório, que servirá como fonte essencial de informações para a continuação dos trabalhos na etapa seguinte. O conjunto das informações será a base para a redação do programa institucional.
Os levantamentos de elementos de risco, relacionados às condições do edifício e de suas instalações, abrangem um universo muito diversificado de elementos, mas com quantidades não muito elevadas, como, por exemplo, esquadrias, calhas, tubulações, junções de coberturas, redes elétricas, etc. Recomenda-se que estes levantamentos contemplem a totalidade dos elementos de interesse, para resultarem em relatórios consistentes.
Já nos levantamentos das coleções, diante do grande número de itens, a pesquisa costuma ser realizada por amostragem. Neste caso são avaliadas amostras representativas de cada uma das diferentes tipologias dos conjuntos documentais que são de prioridade para a instituição, como de filmes, fotografias, plantas arquitetônicas, documentos encadernados, etc.
Para um projeto de microfilmagem e digitalização, podem ser importantes os dados quantitativos sobre a ocorrência de documentos amassados, rasgados, fragmentados e com perdas de informação. Mas também será importante, neste caso, conhecer as variantes de medidas dos documentos e a ocorrência de informações que estão registradas em cores.
O manual publicado pelo Projeto CPBA de número 37, "Programa de planejamento de preservação: um manual para auto-instrução de bibliotecas" (MERRILL-OLDHAM;
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Scott, 2001), detalha este processo de planejamento e elaboração de um plano institucional de preservação. Nele mostra-se com clareza a importância do envolvimento institucional em todo o processo de planejamento. O capítulo 11, à página 132, dedica-se à etapa final, das conclusões e da redação do plano ou programa institucional.
A grande vantagem do planejamento respaldado em dados quantitativos, associados às informações partilhadas entre as equipes institucionais, é a sua validade e credibilidade. Os investimentos que forem necessários, além de plenamente justificados, serão desenvolvidos de forma muito mais realista, contemplando o tempo de execução e os recursos humanos e materiais necessários. Por outro lado, os dados levantados poderão ainda prover subsídios para a elaboração de projetos de captação de recursos externos.
8 A IMPORTÂNCIA DE UMA MUDANÇA PROFUNDA DE MENTALIDADE
Hoje, a conservação preventiva vem incentivando uma mudança profunda de mentalidade. Onde ontem se viam objetos, hoje devem ser vistas coleções. Onde se viam depósitos, devem ser vistos edifícios. Onde se pensava em dias, agora se deve pensar em anos. Onde se via uma pessoa, devem ser vistas equipes. Onde se via uma despesa de curto prazo, deve-se ver um investimento de longo prazo. Onde se mostram ações cotidianas, devem ser vistos programas e prioridades. Gaël de Guichen(1995)
9 AGENTES QUE DEGRADAM O DOCUMENTO
Fatores de degradação dos suportes
Além dos fatores intrínsecos ou internos (papel e tinta) de degradação, os documentos podem sofrer o ataque de fatores extrínsecos, ou externos: Poeira, umidade e calor, insetos e microorganismos, poluentes químicos, contato com materiais instáveis, e o mau acondicionamento.
Os ambientes úmidos, quentes, escuros e de pouca ventilação são os mais propícios para a vida de microorganismos, insetos e até pequenos roedores. Nos arquivos e bibliotecas de regiões tropicais, onde a UR e a T alcançam níveis elevados, o habitat é ideal para sua moradia e reprodução. Os documentos e os livros lhes servem de alimentação.
Poeira: A poeira contém minerais de ação cortante e abrasiva, poluentes químicos e esporos de microorganismos, que interagem, promovendo a degradação dos materiais, além da aderência superficial, a poeira também se prende às fibras, por meio de ligações químicas. Um outro aspecto da poeira é a capacidade higroscópica. Em condições de elevada
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umidade relativa ocorre a absorção de água e de poluentes, sob a forma de ácidos, que irão favorecer a degradação da celulose.
Insetos, baratas, cupins, traças, brocas, piolhos de livros, roedores: Uma enorme variedade de seres microscópicos existentes no ar, nas águas, nos animais e vegetais são encontrados, os quais são transmitidos pelas correntes de ar e pelo contato. Denominados microorganismos, classificam-se em fungos, bactérias, algas e protozoários e se desenvolvem nos ambientes que oferecem alimento, umidade e temperatura adequados. Em vista disso, os documentos podem ser danificados por vários tipos de insetos, podendo perder parcelas vitais do suporte e de seus registros.
No papel, as colônias de fungos costumam ser identificadas por manchas de cor amarela, mais escuras no centro e mais claras nos contornos. Dependendo da espécie de fungo, as manchas se ampliam e tomam diversas cores. Em condições muito favoráveis formam bolores e seus esporos, em grande quantidade, dão a impressão de um pó. Os esporos do Aspergillus niger, quando encontrados entre as folhas, podem ser confundidos com fuligem.
As bactérias compõem-se de uma só célula ou podem se associar a células similares formando colônias. As células das bactérias não se diferenciam como as dos fungos e se classificam de acordo com o tipo de conformação das colônias: os cocos em diplococos, estreptococos ou estafilococos; e os bacilos, em diplobacilos e estreptobacilos
Contato com materiais instáveis: Alguns materiais são incompatíveis em contato com documentos e livros: tintas corrosivas, caixas, capas e envelopes de papel ou cartão ácido, com lignina, adesivos instáveis, clipes e grampos metálicos, inseticidas, e manuseio com suor, gorduras e saliva.
Mau acondicionamento: Os documentos também sofrem danos mecânicos, decorrentes de:
ausência de proteção física, embalagens impróprias, menores que os documentos, materiais impróprios, como barbantes, manuseio inadequado, ou caixas superlotadas.
Esquecimento: A rápida obsolescência pode causar desastres incalculáveis
10 AÇÕES DE PRESERVAÇÃO
As facilidades tecnológicas contemporâneas colaboram para que se faça um bom planejamento, que se materializa com a identificação de prioridades, preferir ações preventivas, capacitação de uma equipe, instalações e equipamentos, inclusive de segurança de trabalho, qualidade, os procedimentos padronizados, e o cuidado com os livros deve ser incentivado junto aos usuários e funcionários da instituição, são algumas medidas recomendadas pelos autores de preservação. A limpeza de livros e documentos deve ser um
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procedimento de rotina. O trabalho de limpeza exige um manuseio cuidadoso de documentos e livros. Além de remover a poeira, retiram-se objetos danosos aos documentos, tais como prendedores metálicos, grampos e clipes. Quanto à proteção de usuários e funcionários, é recomendável o manuseio com luvas e máscaras. A recomendação atende também à saúde dos leitores e funcionários, considerando que no passado foi freqüente o uso de inseticidas. Os esporos de microorganismos também podem ser fatores de contaminação. Deve-se preferir estantes e armários metálicos; a pintura esmaltada, com secagem em estufa; evitar madeiras, vernizes e tintas que liberam contaminantes químicos. As estantes deslizantes devem ser também metálicas; o piso precisa estar bem nivelado; a umidade do ambiente deve ser reduzida e a ventilação permanente; periodicamente os módulos das estantes fechadas, devem ser abertos, para uma completa renovação do ar
Em relação à localização, as áreas de menor insolação e áreas livres de umidade.
Os depósitos merecem atenção especial quanto às condições ambientais especiais, de acordo com a natureza do suporte físico dos documentos armazenados; resistência estrutural de acordo com a carga; compartimentação e pé direito dentro das normas; independência entre si e do restante do prédio, por paredes, pisos e portas com elementos retardadores de calor; iluminação natural e artificial controladas; ausência de tubulações de água ou de outros líquidos; a segurança e proteção contra sinistros, atos de roubo e vandalismo. Para a circulação do ar, deve haver um Lay-out que promova o movimento do ar com: disposição adequada das saídas e retornos de ar, espaçamento mínimo de 70 cm entre as estantes, afastamento mínimo de 30 cm da parede, pé direito mínimo de 2,40m para a circulação do ar sobre as estantes, e mínimo de 10 cm entre a última prateleira e o piso.
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hazen afirma que a preservação deve ser uma atividade desenvolvida de forma abrangente, com planejamento e políticas elaboradas em consenso, identificando o que deve ser preservado. Para ele, a preservação envolve três atividades principais:
1) a adequação dos ambientes à preservação;
2) os tratamentos individualizados de restauração e conservação; e
3) a transferência do conteúdo intelectual de um formato para outro, no caso microfilmagem, a digitalização e migração continuada de mídias digitais.
Para o autor, "como os tratamentos individualizados envolvem custos altíssimos, a salvaguarda dos acervos por meio do "controle das condições ambientais" deve ser a primeira opção de preservação". (HAZEN, 1997, p. 3 e 4)
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Atkinson dividiu os acervos de bibliotecas em três classes, de elevado valor de uso, elevado valor econômico e pouco uso no momento, mas de valor para a pesquisa futura [...], definindo o que deve "sobreviver" e o que não deve, dentro do que ele chama de "sistema de deterioração planejada. (ALBITE SILVA, 1998, p.7)
Para Albite Silva, "essa diferenciação caracteriza a dimensão política da tecnologia de preservação. O tratamento em massa, hoje consolidado pela conservação preventiva, provê gasto racional dos recursos, ataque ordenado e sistemático às ameaças ao acervo e amplo alcance no trato das coleções."
[...] todos os arquivistas sabem que perto de nove décimos dos documentos são destruídos para um décimo conservado. Que historiador um dia não foi tomado de desespero diante da tarefa que o espera e dos milhões de documentos a serem lidos, para, no dia seguinte, ser tomado de vertigem diante de tudo o que jamais poderá saber, de tudo o que nunca será nem ?memória, ?nem história? (CERTEAU, 1996, p. 15)
Muitas pessoas acreditam que documentos antigos, empoeirados e amarelados são as ferramentas de trabalho que um arquivista utiliza no seu dia-a-dia. No entanto, trata-se de apenas mais uma das muitas confusões que ocorrem quando se fala nessa profissão, assim como a ligação (errônea) que se costuma criar entre o arquivista e o bibliotecário.
O homem deseja que sua história seja registrada, lembrada e preservada, porém, como se sabe pouco, fica para no futuro ser lembrado. Caso não se faça nada para preservar, as gerações futuras irão nos culpar por não termos feito um esforço sincero para legar a memória documental de nossos antepassados. E, por isso, o arquivista é o profissional capaz de indicar para restauração, e recuperar, no menor tempo possível, uma informação armazenada em qualquer que seja o meio, seja ele físico, digital ou virtual. A gestão arquivística de documentos e informação implica produção, circulação, uso, arquivamento, recuperação, preservação e classificação de documentos que vão desde certidões de nascimento até documentos sigilosos de guerra, passando por relatórios fundamentais a uma rápida e eficaz tomada de decisão gerencial. A consulta ao documento certo pelo pesquisador, sem perda de tempo, pode garantir rápidas decisões e até um posicionamento estratégico mais eficiente. Assim, o arquivista pode contribuir muito para o trabalho do historiador, quando seleciona e tenta manter medidas de conservação preventivas para que a durabilidade da informação não se perca. É tarefa de todos nós, portanto, preservar o documento em qualquer suporte, para que no futuro as novas gerações contem com mais informações facilmente acessáveis e possamos contribuir com a história de um povo que tem memória.
A ironia de tanta evolução tecnológica é que, às vezes, o progresso anda pra traz, quando, apesar de tantas inovações e descobertas não conseguimos preservar os documentos
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antigos. Pelo filme "fogo lento" pode-se observar os casos alarmantes de degradação do papel e da informação. Os registros intelectuais perdem-se com o passar dos tempos pelas intempéries físico-ambientais e humanas. Assim, o papel passa do estado ácido para o alcalino com grande facilidade e torna-se quebradiço, desfragmentando-se e perde-se a informação por completo. É um pedaço da história que apodrece e desaparece. Por isso, são importantes medidas urgentes em todo o mundo para preservar a nossa memória, seja da forma como se possa no momento preservar.
No filme "fogo lento" a única tecnologia de preservação de que eles dispunham era a microfilmagem de preservação, hoje, contamos com técnicas de digitalização e outra que recuperam o documento, apesar de se saber que noventa por cento dos livros e papéis são fabricados em matéria ácida e vão se deteriorar em pouco tempo se não forem tomadas as medidas certas de preservação. O fogo lento pode ser detido se a vontade de fazê-lo for proporcional à grandeza desta tarefa (FILM SLOW FIRES)
REFERÊNCIAS
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Autor: Maria Lucia Valada De Brito
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