Crendices na Área da Saúde



INTRODUÇÃO

A cultura é um fator decisivo no modelo onde cada indivíduo vivencia o cuidado com os doentes e os processos patológicos. Sendo assim é preciso levar em consideração o contexto histórico da sociedade em questão, e de como foi construída suas crenças e valores ao longo do tempo (GIOVANINI, et al 2005).
No modelo de sistemas de cuidado de saúde as atividades relacionadas ao cuidado com a saúde são respostas sociais, ou seja, o tratamento é individual, estabelecida por cada povo, cada cultura com suas perspectivas de cuidados que são variantes a depender de fatores socioeconômicos e culturais. Ora, o homem é um ser vivo e, como demais seres vivos, deve manter uma relação adaptativa com o meio circulante para sobreviver (OAKLEY, 1954).

MATERIAL E MÉTODO

Reconhecendo a importância que a cultura exerce sobre a saúde, foi escolhido como tema "crendices na área da saúde", objetivou-se conhecer quais valores culturais, como crendices e superstições, ainda interferem no processo saúde/doença entre os moradores da comunidade Buritis.
Nas comunidades carentes, a preservação de velhos hábitos é algo latente (BOEHS et al, 2007), por isso o conjunto Buritis retrata bem a tendência conservadora bastante comum no meio rural, por esse motivo Buritis foi escolhido para representar o nosso campo de trabalho, que se fez de modo exploratório, baseado no método indutivo, pois tínhamos o intuito de conhecer quais tradições persistem.
Considerando a relevância dos aspectos socioeconômicos na busca de métodos alternativos por parte das comunidades rurais como é o caso do Buritis, foi levantada a hipótese de que a falta de conhecimento e a cultura transmitida de uma geração a outra podem contribuir para que sejam dotadas apenas cuidados empíricos.
Elaboramos um formulário com dez questões objetivas que seria nosso instrumento de trabalho e o encaminhamos à comunidade juntamente com o Termo de Consentimento e Esclarecido que os participantes deveriam assinar atestando que sua participação era voluntária e autorizando a divulgação dos dados.
O nosso interesse não era saber quantos, mas sim quais superstições populares ainda permanecem, optamos então por uma visão mais específica daquilo que procuramos.
Coletamos os dados, gravamos as entrevistas, fotografamos pessoas e alguns hábitos locais que já identificavam bem aquilo que procurávamos como "garrafadas" e o cultivo de ervas e plantas que diziam ser terapêuticas.

DESENVOLVIMENTO

Para se adaptar aos novos tratamentos ou meios para cuidar da saúde é preciso que haja uma abertura no modo de pensar de cada indivíduo, e esse processo de mudança é algo difícil e conflituoso, visto pode haver uma emancipação de velhos hábitos e, é certo que substituir o que é familiar e transmitido por gerações por coisas novas não é uma tarefa fácil e isso pode causar muitas dúvidas e até medo, onde os valores entram em crise, como comenta Luijpen apud Teles, 1998:

"Existem momentos em que, para se libertar de um passado superado e afirmar-se, criativamente, para um futuro possível, é necessário passar por um instante instável, mas profundamente positivo: a crise. A crise será, pois um momento histórico em que não muda algo no mundo, mas o mundo inteiro muda"

Mudar é necessário, mas não é uma obrigação, a mudança é bem vinda quando se pretende substituir o antigo por algo novo que traga melhorias significativas. E quando se trata de saúde, deve-se avaliar os riscos e benefícios que uma mudança nos hábitos irá trazer. Porém, se os velhos hábitos tem trazido resultados comprovadamente positivos o ideal é preservá-los.
Os métodos de tratamento alternativos como a terapia através de elementos naturais e agentes fitoterápicos tem sido um tema bastante em pauta nos dias atuais, há diversas opiniões contra e favor à sua utilização, e com isso percebe-se que é preciso que haja bom senso por parte daqueles que optam por usar e também para se reconhecer o poder curativo e preventivo que os agentes naturais oferecem (SCHNEIDER, 2004).

RESULTADOS

Chegando ao Buritis encontramos pessoas bastante receptivas e interessadas em colaborar com a pesquisa, e imediatamente já podemos comprovar que se tratava de uma comunidade carente com pessoas muito humildes.
Após a análise dos dados chegamos aos seguintes resultados:
§ O indivíduo com menor grau de escolaridade tem mais filhos e são os que mais usam e acreditam na eficácia das "garrafadas" e simpatias.
§ Grandes partes dos analfabetos ainda procuram curandeiros, rezadeiras ou alguém mais velho quando ficam doentes.
§ Indivíduos com maior grau de escolaridade tendem a procuram o hospital quando estão doentes.
§ Observou duas unanimidades; a de que os procedimentos técnicos realizados por médicos e enfermeiros ajudam muito no tratamento das doenças, e de que o atendimento médico aos moradores da comunidade é insuficiente.

No Buritis notamos também uma forte tendência a auto-medicação, um grande numero de entrevistados revelou que procura farmácias na sede do município de Barreiras quando ficam doentes.
Nessa comunidade não existe a cultura de procurar o posto de saúde, só o fazem quando há uma consulta marcada previamente pelo Agente Comunitário de Saúde.

CONCLUSÃO

A distância entre a comunidade do Buritis e a sede do município de Barreiras, leva os moradores dessa comunidade a buscar outros meios/métodos alternativos para o tratamento da doença. No entanto, o baixo nível de escolaridade é o fator que mais influencia na procura por crendices e superstições.
A cultura de intervenção é algo marcante na vida dos cidadãos do Buritis, não existe procura por prevenção, a preocupação só aparece quando a doença já se instalou.
Sendo assim, a hipótese foi provada, foi que a falta de conhecimento e a cultura transmitida de uma geração a outra realmente contribuem para que sejam adotados cuidados empíricos.












REFERÊNCIAS

BOEHS, A. E; MONTICELLI, M.; WOSNY, A. M.; HEIDEMANN, I. B. S.; GRISOTTI, M.: A interface necessária entre enfermagem, educação em saúde e o conceito de cultura. Texto Contexto Enferm. 2007 Abril-Jun; 16 ( 2 ): 4-7. [Links]

FREIRE, Paulo. Educação Como Prática de Liberdade. 10 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

GALVÃO, Eduardo. Estudo de Aculturação dos Grupos Indígenas Brasileiros na I Reunião Brasileira de Antropologia. São Paulo: Ática, 1993.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura, um Conceito Antropológico, 18 ed. Rio de Janeiro: Novo Mundo, 1996.

LEVI, Strauss, C. A Eficácia Simbólica, In: Levi Strauss Organizador. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

OOKLEY, Kenneth. Idéia Sobre a Origem da Cultura. São Paulo: Brás, 1994.

SCHNEIDER, Ernst: A Cura e a Saúde Pela Natureza. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004.

TELES, Maria Luiza Siveira: Filosofia para jovens, 4 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
Autor: Vânia De Souza Da Cunha


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