Considerações sobre o filme "O nome da rosa" e o conteúdo da disciplina Filosofia da Educação I



Considerações sobre o filme "O nome da Rosa" e o conteúdo da disciplina Filosofia da Educação I.

O filme "O nome da rosa" apresenta-nos um panorama de como era a vida na Idade Média, especificamente a vida dos religiosos nos mosteiros. A estória se passa no ano de 1327 em um mosteiro ao norte da Itália e é o relato das memórias de um religioso franciscano chamado Adso von Melk (Christian Slater) que tem como mestre outro franciscano chamado William de Baskerville (Sean Conery). Alguns estudiosos acreditam que a personagem de Sean Conery seja na verdade uma personificação Guilherme de Ockham, um padre franciscano que viveu no século XIV e que foi importantíssimo no campo da filosofia, sobretudo na Crise da Escolástica.
Iniciemos nossas considerações observando que de forma geral o filme nos apresenta o lado obscuro da Igreja, tem por finalidade revelar os desmandos cometidos pelos religiosos daquela época, que incluíam bárbaros assassinatos contra aqueles que se opunham á eles. Podemos citar a cena em que aparecem pessoas simples entregando patos, galinhas ou outros alimentos em troca da sua salvação. Ou seja, a venda das Indulgências. Chega parecer cômico como a cena se desenrola: o religioso com um molho de alguma planta recebe o "pagamento" e abençoa o indivíduo e diz que ele estará salvo no céu. Nesse momento percebemos qual o viés do narrador e da narrativa do filme como um todo. Antes mesmo, quando no início do filme, os padres conversam em segredo, ao se depararem com a chegada do noviço e o do seu mestre ao mosteiro. Eles negociam como dois sócios e não como religiosos. Enfim, ao percebermos estes detalhes entendemos que o filme terá um tom de denúncia e estas nos fizeram lembrar que Guilherme de Ockham também denunciou em vida os desmandos da Igreja em relação ao acúmulo riqueza do clero. E no filme exatamente a personagem William de Barkeville se dirige ao mosteiro para participar de uma reunião que tratará deste assunto. Podemos então traçar aqui um paralelo entre a personagem e a realidade. Seguindo nesta direção, admitindo que Barkeville seja Guilherme de Ockham, podemos observar também a sua postura crítica e como faz uso da lógica para tentar entender a morte do primeiro religioso dentro do mosteiro. Nas cenas que se seguem observamos que há um contraponto no raciocínio empregado por Barkville/ Ockham e os demais religiosos. Estes são levados a acreditar que há no local a presença de algo sobrenatural que causou aquela morte e o franciscano vai por meio dos fatos observados tentando encontrar explicações lógicas para o ocorrido. È a cena em que ele passeia com o noviço pelo mosteiro e chega até o local da morte do padre. Ele vai analisando as possibilidades de como teria ocorrido a morte do padre ou se alguém o matou. Vai levantando hipóteses se valendo da lógica. Esta postura lembra e muito o posicionamento de Ockham no século XIV quando se mostrou adepto as questões referentes á lógica e metafísica. Esse posicionamento também fica evidente quando acontece a segunda morte no mosteiro, agora de um grande tradutor de grego; novamente os religiosos do mosteiro são levados por explicações sobrenaturais e se desesperam, mas Bakerville mostra-se novamente adepto do uso da razão para explicar os fatos. Nesse momento podemos observar que a morte de um religioso tradutor de grego é como se fosse a eliminação de uma ameaça. Este representava o tradutor dos filósofos ( principalmente de Aristóteles) e por extensão das suas ideias. Ora para a Igreja era uma ameaça ter entre eles alguém que pudesse revelar outras ideias e, além disso, pudesse futuramente traduzir a Bíblia para outros idiomas e torna-la mais acessível, por exemplo. Era o que mais tarde iria acabar acontecendo. Também observamos o trabalho realizado pelos copistas dentro dos mosteiros na cena em que aparece uma enorme sala com os livros dispostos nos cavaletes. Isso ajuda a compreender a força e o monopólio que a Igreja detinha com relação aos estudos e ensino religioso. A ambientação do filme é sombria, soturna; as cenas se passam em ambientes escuros como se quisesse nos remeter a ideia de que os mosteiros escondem muitas verdades em meio a escuridão, é o lado sombrio da religião que estaria "protegido" pelos enormes muros e escondido atrás daquelas imensas e pesadas portas.
Uma última observação que faremos está relacionada a questão da fé e razão presente no filme e que nos remete diretamente a Crise da Escolástica que é conteúdo da disciplina Filosofia da Educação I. Bakerville/ Ockham vai até o mosteiro para participar de uma reunião que irá tratar do "enriquecimento" desmedido da Igreja. No filme ele assume o posicionamento de que a Igreja não deveria estar tão envolvida com questões políticas e por extensão financeira; devia envolver-se com questões espirituais e não tão materiais. Nesse momento podemos dizer que é semelhante à postura de Ockham quando propõe a separação entre teologia e filosofia na chamada Crise da Escolástica. Afirma que a teologia deve servir á fé e a filosofia á razão. E ainda denuncia o envolvimento "excessivo" (enriquecimento também) do clero em questões relativas á posse de terras.



Autor: Elisabete Dias De Figueredo


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