Considerações sobre o filme "Preciosa" e o conteúdo da disciplina Alfabetização III



Considerações sobre o filme "Preciosa" e o conteúdo da disciplina Alfabetização III

O presente trabalho tem por objetivo articular considerações sobre Alfabetização e o filme Preciosa (original Precious: Basead on the Novel Push by Sapphire, 2009), exibido em sala de aula. Entendemos que a tarefa é grande tendo em vista a gama de articulações que podem ser feitas sobre o assunto. Pretendemos considerar as questões que para nós tornaram-se mais emblemáticas. Iniciemos nossas considerações apresentando uma reflexão sobre o termo alfabetização, que o Dicionário Aurélio apresenta como sendo a "ação de alfabetizar, de propagar o ensino da leitura." (Aurélio, 1986, p.82). Partindo desta definição podemos pressupor que alfabetização está relacionada a movimento, a ação, a propagação. Remete-nos á ideia de movimento de um em direção ao outro. Remete-nos, em última análise, a ideia de parceria. Como? Vamos explicar.
Ensinar uma criança a ler está ligado á ação do professor que orienta e o aluno que internaliza o conhecimento. Esse movimento se dá através da parceria estabelecida entre ambos: o primeiro comprometido em ensinar e o segundo comprometido em aprender. A alfabetização, em nossa opinião, acontece mais rapidamente quando essa parceria está sustentada pela motivação das partes envolvidas. Ou seja, quando professor e aluno sentem-se envolvidos no processo de ensino/aprendizagem. Para que isso aconteça é preciso entender a alfabetização como um processo de aprendizagem que precisa ser livre, criativo, interessante, envolvente. Esquecer os métodos engessados e retrógrados da cópia e o uso de cartilhas defasadas. Conforme a professora Marlene Carvalho (2005) nos apresenta em seu texto "Alfabetizando sem receita" e "Receita de Alfabetização". Entendemos que de maneira lúdica a professora estabeleceu um paralelo entre o ideal e o desprezível no processo de alfabetização de uma criança. Um texto que também ilustra o posicionamento do professor em relação ao seu aluno: ao adotar um método de alfabetização "engessado" o professor incentiva o aluno a ser um mero "reprodutor" da realidade onde está inserido. Ao passo que ao adotar um método de alfabetização mais "livre", mais dinâmico, mais interessante, contribuirá para o aluno tornar-se um indivíduo capaz de modificar a realidade em que está inserido. Saindo da posição de expectador para a posição de agente modificador. Alguém capaz de realizar e não apenas de reproduzir o já existente.
Desta forma entendemos o processo de alfabetização como sendo um dos momentos mais importantes na formação do indivíduo. Sendo ideal que ele aconteça ainda na infância, porém atualmente encontramos ainda um número expressivo de pessoas adultas analfabetas em nosso País. Esta realidade está sendo enfrentada com a criação dos programas de alfabetização de jovens e adultos (PRO- EJA), espalhados por todo País com o objetivo de alfabetizar jovens e adultos e tira-los desta condição. E neste momento abrimos a discussão para traçar um paralelo com o filme Preciosa (2009), onde a protagonista é uma adolescente de 16 anos que não sabe ler nem escrever. Embora frequentasse a escola, ela tornou-se invisível aos olhos daqueles professores. Pois como justificar a permanência dela na mesma série de alunos alfabetizados? Somente ao engravidar pela segunda vez que então a diretora resolve tomar alguma atitude em relação à menina: a expulsa do colégio. Transfere a aluna para uma escola alternativa. Ou seja, uma escola que alfabetiza jovens. Neste momento ela passa a ser vista como um indivíduo completo e não apenas como uma matrícula, um número. Neste ambiente favorável ela então começa a aprender a ler e escrever. A aluna passa a ser respeitada, ouvida, compreendida em sua totalidade como indivíduo. Isso acontece porque a organização da escola é outra, é alternativa. Em parceria com a Assistente Social, a professora vai descobrindo os problemas de ordem pessoal que afetavam a vida desta aluna (e não eram poucos). Só com o apoio desta escola que a aluna consegue enfim alfabetizar-se. Houve um trabalho de parceria entre professor, assistente social e as outras alunas para que o processo de alfabetização tivesse êxito. A ideia de parceria que citamos no início do trabalho, aqui foi ampliada, e observamos um esforço conjunto de toda a escola na promoção desta aluna. Um exemplo a ser seguido, adotado por todas as escolas, em nossa opinião. Outra questão apresentada no filme que merece nossa consideração está relacionada a postura da professora em sala de aula. O método que ela utiliza para motivar suas alunas a realmente aprenderem e não só tirarem o diploma. Ela transforma o aprendizado em algo interessante, não engessado. Ela sugere que as alunas aprendam a escrever um diário, algo que diga a respeito delas. Desta forma a professora rompe com o "beabá" e transforma a alfabetização em algo palpável, próximo e útil para elas. Ratificando as nossas considerações inicias sobre alfabetização sem receita. A professora também se mostrou incansável com relação à aprendizagem das alunas, pois ela conversou separadamente com a protagonista do filme para entender mais de perto as suas dificuldades, suas limitações. E funcionou. A partir deste momento a personagem principal torna-se mais confiante e passa a acreditar nela mesma. Motiva-se pela motivação inicial da professora que foi de encontro a ela. Uma parceria "alí" foi estabelecida facilitando todo o processo de aprendizagem. Ou seja, um professor motivado que vai de encontro aos seus alunos: os contagia. Mais um exemplo citado por nós no início deste trabalho, quando tratamos da questão da parceria no processo de ensino/aprendizagem. O filme traz para a nossa discussão muitos outros exemplos que poderiam ilustrar nossas considerações sobre alfabetização, mas devido ao limite e proporção do presente trabalho encerramos aqui nossa reflexão. Entendemos que o tema possibilita várias leituras, mas nos detemos as que consideramos mais pertinentes. Finalizamos nossa análise com uma citação que entendemos ser fundamental para ilustrar nossa opinião a respeito do tema:

"A APRENDIZAGEM DEPENDE DO ENCONTRO COM O OUTRO, PORTANTO, A MANUTENÇÃO DA CULTURA DO SILÊNCIO IMPEDE UMA EFETIVA INCORPORAÇÃO DE TODOS NAS PRÁTICAS ESCOLARES COTIDIANAS."
(Maria Teresa Esteban, 2007)

Este trabalho deixa para nós a convicção de que a utilização de práticas inclusivas no ambiente escolar só tem a favorecer o ensino/aprendizagem. Ou seja, quando estamos todos envolvidos no mesmo processo, com os mesmos objetivos estamos promovendo a cultura do saber. Quando saímos de nós mesmos e vamos ao "encontro com o outro" existe uma grande possibilidade de TODOS saírem ganhando. A parceria tende a refletir o sucesso de toda uma instituição. Acreditamos que perceber o outro em sua totalidade permite o sucesso de qualquer natureza. È preciso incentivar os novos professores a adotarem estas práticas em seu cotidiano e reavivar na mente dos professores mais antigos essas convicções, pois no caso da protagonista do filme a escola se apresentou como uma luz, uma salvação redentora na vida dela. Foi a escola alternativa que trouxe ela de volta a vida, a resgatou daquilo que ela considerava como acabado, sentenciado. Este filme convida a todos nós professores, para refletirmos que tipo de profissional queremos ser e a que tipo de sociedade queremos ajudar a construir. Um convite para mergulharmos em nossas convicções e refletirmos mais de perto sobre nossa profissão e o futuro dela.
Cuidemos da alfabetização, que é o início de tudo. Que seja respeitada essa fase da vida do aluno. E que uma vez desperdiçada, seja ela recuperada com louvor. Afinal ela é muito importante na vida de todos nós: ela é PRECIOSA.


Autor: Elisabete Dias De Figueredo


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