LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-CONSUMO DO SETOR DE LATAS DE ALUMÍNIO NO BRASIL



1. Introdução: A logística Reversa é a área da logística que trata-se, do fluxo físico de produtos, embalagens ou outros materiais, desde o ponto de consumo até ao local de origem. Apesar de ser um tema recente, esse processo já era utilizado nas indústrias de bebidas, com a reutilização de seus vasilhames, isto é, o produto chegava ao consumidor e retornava ao seu centro produtivo para que sua embalagem fosse reutilizada e voltasse ao consumidor final. Esse processo era contínuo e aparentemente cessou a partir do momento em que as embalagens passaram a ser descartáveis. Porém, empresas incentivadas pelas Normas ISO 14000 e preocupadas com a gestão ambiental, também conhecida como "logística verde", começaram a reciclar materiais e embalagens descartáveis, como latas de alumínio, garrafas plásticas e caixas de papelão, entre outras, que passaram a se destacar como matéria-prima e deixaram de ser tratadas como lixo. Dessa forma, podemos observar a logística reversa no processo de reciclagem, uma vez que esses materiais retornam a diferentes centros produtivos em forma de matéria prima. Devido ao maior rigor da legislação ambiental, a necessidade de reduzir custos e a necessidade de oferecer mais serviços por meio de políticas de devolução, as empresas estão não só utilizando uma maior quantidade de materiais reciclados como também se preocupando com o descarte ecologicamente correto de seus produtos ao final do seu ciclo de vida. Sendo assim, as indústrias têm o papel para desempenhar através da logística reversa, como um fator fundamental para o processo de revalorização dos bens manufaturados. Atualmente é uma preocupação constante para todas as empresas e organizações públicas e privadas, tendo quatro grandes pilares de sustentação: a conscientização dos problemas ambientais, a sobre-lotação dos aterros, a escassez de matérias-primas, as políticas e a legislação ambiental. No Brasil o processo de logística reversa está em difusão e ainda não é encarado pelas empresas como um processo "necessário", visto que a maioria das empresas não possui um departamento específico para gerir essa questão; assim, algumas Resoluções são utilizadas, como, por exemplo, a Conama nº258, de 26/08/99, que estabelece que as empresas fabricantes e as importadoras que ficam obrigadas a coletar e a dar destinação final, ambientalmente adequada, proporcionalmente às quantidades fabricadas e importadas definidas nesta Resolução, o que praticamente obriga as empresas desse segmento a sustentarem políticas de logística reversa. Este conceito está em constante crescimento no Brasil e no mundo e ficando claro que as empresas, cada vez mais, têm se preocupado em considerar os custos adicionais e as reduções de custos que este processo pode ocasionar. Uma operação de logística reversa é consideravelmente diferente das operações normais. Devem-se estabelecer pontos de recolocação para receber os bens usados do usuário final, ou remover ativos da cadeia de suprimento para que se possa atingir um uso mais eficiente do material. Os processos de logística reversa têm trazido consideráveis retornos para as empresas. O reaproveitamento de materiais e a economia com embalagens retornáveis têm trazido ganhos que estimulam cada vez mais novas iniciativas e esforços em desenvolvimento e melhoria nos processos de logística reversa. Também não podemos ignorar os custos que o processo de logística reversa pode acarretar para as empresas, quando não é feito de forma intencional, percebemos que a logística reversa é utilizada em prol da empresa, transformando materiais, que seriam inutilizados, em matéria-prima, reduzindo assim, os custos para a empresa. Acontece que o contrário também pode acontecer, isto é, materiais que voltam aos seus centros produtivos devido às falhas na produção, pedidos emitidos em desacordo com aquilo que o cliente deseja e substituição de embalagens. Este tipo de processo reverso da logística acarreta custos adicionais, muitas vezes altos para as empresas, uma vez que processos como armazenagem, separação, conferência e distribuição serão feitos em duplicidade, e assim como os processos, os custos também são duplicados. 2. Desenvolvimento: 2.1. O Caso do Alumínio no Brasil: Segundo a ABAL (Associação Brasileira de Alumínio), o alumínio é um metal não ferroso, de grande utilização no mercado e que, gradativamente, vai substituindo o aço em sua aplicação nos vários segmentos da indústria. É metal de baixa densidade permitindo a confecção de estruturas mais leves e tem uma resistência à corrosão muito maior do que o aço, embora sua desvantagem de baixa resistência mecânica quando a ele comparado, possa, através de elementos de liga, atingir valores bastante razoáveis, tornando-o apto à aplicação como matéria-prima para uma grande variedade de aplicações civis. De acordo com o CEMPRE (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), o alumínio pode ser reciclado infinitas vezes, sem perder suas características no processo de reaproveitamento, ao contrário de outros materiais. Ainda de acordo com a ABAL a lata de alumínio, como matéria-prima, é um produto de pós-consumo que possui uma sazonalidade considerável, e um dos fatores é a condição climática. De acordo com dados da ABRALATAS (Associação Brasileira dos Fabricantes de lata de Alta Reciclabilidade), o índice de reciclagem de latas de alumínio no Brasil é o mais alto do mundo, alcançando, em 2009, 98,2% de todas as latas de alumínio comercializadas no país. 2.2. Logística Reversa e Questões Ambientais Preocupadas com questões ambientais, as empresas estão cada vez mais escoltando o ciclo de vida de seus produtos, tornando cada vez mais claro quando observamos um crescimento considerável no número de empresas que trabalham com reciclagem de materiais. Um exemplo dessa preocupação é o projeto Replaneta, que consiste em coleta de latas de alumínio e garrafas PET, para posterior reciclagem, e que tem como bases de sustentação para o sucesso do negócio a automação e uma eficiente operação de logística reversa. As novas regulamentações ambientais, em especial as referentes aos resíduos, vêm obrigando a logística a operar nos seus cálculos com os custos e os benefícios externos. E, em função disto, entende-se que a logística verde pode ser vista como um novo paradigma no setor. A logística verde ou ecológica age em conjunto com a logística reversa, no sentido de minimizar o impacto ambiental, não só dos resíduos na esfera da produção e do pós-consumo, mas de todos os impactos ao longo do ciclo de vida dos produtos. 2.3. Logística Reversa: Motivos e Causas: De acordo com o grupo RevLog (um grupo de trabalho internacional para o estudo da Logística Reversa, envolvendo pesquisadores de várias Universidades em todo o mundo e sob a coordenação da Erasmus University Rotterdam, na Holanda), as principais razões que levam as firmas a atuarem mais fortemente na Logística Reversa são: -Legislação Ambiental, que força as empresas a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário. -Benefícios econômicos do uso de produtos que retornam ao processo de produção, ao invés dos altos custos do correto descarte do lixo. - A crescente conscientização ambiental dos consumidores. Além destas razões, Rogers e Tibben-Lembke (1999) ainda apontam motivos estratégicos, tais como: ?Razões competitivas ? Diferenciação por serviço; Limpeza do canal de distribuição. ?Proteção de Margem de Lucro; Recaptura de valor e recuperação de ativos. 2.4. Importância da Reciclagem na Logística: Produção de novos vasilhames, até a redução na produção de garrafas plásticas não retornáveis, aproveitando o maior controle sobre os vasilhames retornáveis e que já haviam sido pagos. No caso do Brasil a reciclagem do alumínio vem gerando excelentes resultados do ponto de vista ecológico e financeiro, já que está diminuindo consideravelmente os volumes importados de matérias primas, colocando a indústria deste setor entre os maiores recicladores de alumínio do mundo. O Brasil evolui no índice de reciclagem de aço para bebidas (78% para 88%). 1 latinha pesa 14,5 gramas. 67 latinhas corresponde a 1 Kg. Cada 1.000 Kg corresponde a 5.000 Kg de minerio bruto ( bauxita )poupadas. Fonte: http://www.iconeong.org.br/aluminio.htm O Brasil possui uma das 3 maiores reservas de bauxita do mundo, para reciclar o alumínio são gastos apenas 5% da energia utilizada na extração, ou seja, uma economia suficiente para manter iluminadas 48 residências. No Brasil são consumidas 51 latas/habitantes/ano. No EUA 375 latas/habitantes/ano, uma lata de alumínio demora mais de 100 anos para se decompor na natureza. 2.5. Implantação da logística reversa: 1- Adequação do Mix de Produtos. 2- Projeto para Logística Reversa embalagens. 3- Processos industriais, estratégia organizacional. 4- Competitividade e Responsabilidade Empresarial. 5- Funções Específicas, Análise do Ciclo de Vida. 6- Projeto da Rede Reversa. 7- Níveis de Integração. 8- Coletas, Consolidação, Mercados e Informações. 9- Parcerias e Terceirizações. 10- Projeto dos Aspectos Fiscais. 10-Classificações das Propriedades. 2.6. Categorias de Bens Produzidos: Leite (2003) classifica os produtos em três classes diferentes, uma vez que produtos diferentes possuem diferentes épocas de descartes, onde alguns produtos podem durar horas enquanto outros podem durar décadas, sendo elas: 1. Bens descartáveis: São aqueles que apresentam vida útil de semanas raramente seis meses (Ex: sorvete); 2. Bens duráveis: São bens que apresentam vida útil variando de alguns anos a algumas décadas. Constituem bens para satisfação da necessidade social e incluem os bens de capital em geral. Fazem parte dessa categoria os automóveis, os eletrodomésticos; 3. Bens semiduráveis: são bens que apresentam vida útil de alguns meses, raramente superior a alguns anos. São de uma categoria intermediária que assumem características de duráveis ou descartáveis à medida que entram nos canais reversos (Ex: baterias de celulares, computadores e etc.). Podemos também classificar o produto reverso em categorias segundo o tipo de retorno ao qual ele está sujeito, conforme se segue: 1. Categorias por retornos comerciais: podem ser contratuais ou não contratuais. As não contratuais são aquelas devoluções cumpridas pela empresa por imposição da lei, ou por livre e espontânea vontade, objetivando vantagem competitiva. As contratuais são formadas por acordos prévios entre as partes, visando uma responsabilidade obrigatória quando o estoque exceder os limites. Ex: material proveniente de consignação; 2. Categoria de retorno por garantia/ qualidade: nesse caso, os produtos são devolvidos devido a algum defeito (tornando a devolução obrigatória em alguns casos como, por exemplo, defeito intrínseco) ou por terem seus prazos de validade expirados. Quando o produto apresenta algum defeito ele é devolvido para posterior conserto e revalorização ou trocado por um novo. Quando a validade do produto expira, o fabricante é muitas vezes (através de contratos) responsável legalmente pela coleta do produto. Um bom exemplo são os produtos farmacêuticos; 3. Categoria de substituição de componentes: nessa categoria encaixam-se componentes retirados de diversos bens duráveis, e lançados nos canais reversos para posterior reaproveitamento, seja no mercado primário, bem como secundário, e em último caso, sua disposição final. 2.7. O Ciclo de Vida da lata de alumínio: Por trás do conceito de Logística Reversa está um conceito mais amplo, que é o do "ciclo de vida" do produto. A vida de um produto, do ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente. Produtos se tornam desusados, danificados, ou não funcionam e devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados. Figura -1 logística reversa da lata de alumínio. 2.8. Logística de Pós Consumo do Alumínio: Logística reversa de pós-consumo é todo caminho percorrido por um produto desde o ponto de consumo até o ponto de origem ou fabricante. Um exemplo típico é o visto na reutilização do alumínio, que por se tratar de um metal extremamente importante do ponto de vista econômico, sendo inclusive uma importante fonte de renda para muitas famílias. Quando compramos um produto, ele possui uma função inicial que foi o motivo de sua compra. Com o decorrer do tempo (que pode demorar dias ou anos) o produto perde sua função inicial e é jogado nos canais reversos para ser revalorizado de alguma forma ou levado a uma disposição final segura. Estes produtos de pós-consumo poderá se originar de bens duráveis ou descartáveis e fluírem por canais reversos de reuso, desmanche e reciclagem até a destinação final. A logística reversa de pós-consumo deverá planejar, operar e controlar o fluxo de retorno dos produtos de pós-consumo ou de seus materiais constituintes, classificados em função de seu estado de vida e origem. Em condições de uso, Fim de vida útil, e Resíduos industriais. No caso de bens de pós-consumo descartáveis, havendo condições logísticas, tecnológicas e econômicas, os produtos são retornados por meio do canal reverso de "Reciclagem Industrial", onde os materiais constituintes são reaproveitados e se constituirão em matérias-primas secundárias, que retornam ao ciclo produtivo pelo mercado correspondente, 3. Conclusão: Ao desenvolver esse trabalho, foi possível entender que a logística reversa tem um papel importante, gerando resultados ecológicos e financeiros. A proposta apresentada neste trabalho tem como objetivo expor o sistema de logística reversa da lata de alumínio. A lata de alumínio pode ser reciclada infinitas vezes e sempre volta como lata. O benefício da reciclagem reduz o consumo de energia para a produção do alumínio, preserva o meio ambiente e movimenta a economia, gerando empregos e fonte de renda na coleta e promovendo a educação dos cidadãos para o desenvolvimento sustentável. Conclui-se que gerenciar uma cadeia de suprimentos nos dias de hoje, vai além de apenas entregar um produto/serviço, ou ainda, um valor ao cliente final, mas devido, principalmente, a legislação ambiental, que nestes últimos anos vem estimulando a pressão de mercado por produtos ecologicamente corretos, por empresas responsáveis com os recursos e o ambiente onde atua, entre outros, provocou um movimento de repensar, onde não se apenas o sentido de mercado ao cliente, atendendo a demanda, mas estudar o que estes consumidores fazem com os produtos e como os descartam. As empresas perceberam que podem ser responsabilizadas criminalmente pelo uso ou o descarte incorreto, o que vem a gerar um ônus financeiro muito grande, de certa forma investir na cadeia reversa acaba saindo muito mais barato. Enfim, podemos concluir que para se consiga um desenvolvimento sustentável é necessário que às indústrias adquiram esse sistema de logística. 4. Bibliografia: SEBRAE. Princípios e Práticas para a Rotulagem Ecológica. Certificação Ambiental. Sebrae, SC, 2002. Disponível em: . Acesso: maio 2011. Geografia Geral do Brasil, editora Saraiva, Anselmo Lazaro Branco, Claudio Mendonça, 3º Ed. SP 2005. LEITE, Paulo Roberto. Estudo dos fatores que influenciam o índice de reciclagem efetivo de materiais em um grupo selecionado de "Canais de Distribuição Reverso". Dissertação de Mestrado: Universidade Mackenzie, 1999. LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: Meio Ambiente e Competitividade. São Paulo: Pearson Education, 2003. Associação Brasileira de Alumínio ? ABAL, disponível em: www.abal.org.br acesso em maio, 2011. Associação Brasileira dos Fabricantes de latas de alta reciclabilidade ? ABRALATAS, disponível em: www.abralatas.org.br acesso em maio, 2011. ICONE, Instituto para Conservação de Energia, Disponível em: www.iconeong.org.br/aluminio.htm acesso em maio, 2011. www.fbk.eur.nl/OZ/REVLOG acesso em maio, 2011.
Autor: Eric Moreli


Artigos Relacionados


Logística Reversa E O Desenvolvimento Sustentável

Logistica Reversa

A Sustentável Logística Reversa

Monitoramento De Implantação De Logística Integrada, Resultados Aparentes?

AnÁlise Da LogÍstica Reversa Na DevoluÇÃo De Embalagens De AgrotÓxicos No Estado De Mato Grosso Do Sul

Uma Abordagem Sob O Ponto De Vista Legal: Logística Reversa X Tempos Modernos

Nada Se Perde, Tudo Se Transforma: Embalagem Longa Vida!