Método Do Caso E Estudo De Caso: Uma Abordagem Epistemológica



Resumo

O presente trabalho procura distinguir os conceitos acerca do Método de Estudo de Casos e o Método do Caso, dentro das Ciências Sociais e suas aplicabilidades. Para tanto, realiza uma descrição sobre o momento do surgimento do Método do Caso, em Harvard, destacando a conjuntura social, econômica e cultural que possibilitaram a criação desse instrumento pedagógico e, concomitantemente, apresenta o Estudo de Caso, que como proposto por Yin, cuja obra referenciou o trabalho em questão, se configura em um dos mais utilizados métodos nos estudos científicos. Já o Método de Casos, criado por Christopher Columbus Langdell, não busca a pesquisa empírica como resposta a um determinado problema, antes, é uma ferramenta pedagógica utilizada na formação de advogados, juristas e administradores de empresas. PALAVRAS-CHAVE: Estudo de Caso; Método do Caso; Pesquisa Científica; Formação Acadêmica.

Abstract

The present work is aimed at distinguishing the concepts concerning the Case Sudy Method and the Case Method, considering the Social Sciences and its applicabilities. For that, it describes the moment of Case Method's sprouting, in Harvard, detaching the social, economic and cultural conjuncture that made the creation of this pedagogical instrument possible and, concomitantly, it presents the Case Study, which was considered by Yin whose workmanship referenced this work. The Study Case configures in one of the most used methods in the scientific studies. Yet, the Case Method, created by Christopher Columbus Langdell, does not make use of the empirical research as a reply to one determined problem, before, it is a pedagogical tool used in the formation of lawyers, jurists and administrators of companies. Key words: Case Study Method; Case Method; Scientific research; Academic formation.

Introdução

A proximidade dos termos Método do Caso e Estudo de Caso, podem, casualmente levar a uma confusão conceitual por parte de estudantes iniciando seu processo de formação acadêmico. Partindo dessa premissa, procura-se no artigo que ora se apresenta, realizar uma abordagem elucidativa sobre o Método do Estudo de Caso muito utilizado em pesquisa social, seguindo-se de uma contextualização histórica sobre a origem do Método do Caso, um breve comentário sobre a aplicabilidade do mesmo no Brasil e, por último, uma conclusão. Para tal trabalho, utilizou-se o referencial teórico baseado em Conant(1968), Yin(2001), Martins(2006) e Boaventura(2007).

Nesse sentido, busca-se tornar claro que o Método do Caso não se trata de uma metodologia de pesquisa, como vem a ser o Estudo de Caso, mas uma ferramenta pedagógica, além de esclarecer que, ao contrário do que se pode pensar erroneamente, a escolha em pesquisas acerca do uso do Estudo de Caso nãoocorre por ser o mais simples, mais fácil, sendo que a exigência de um planejamento e rigor científico são condições imprescindíveis. Seu uso é mais evidenciado em "pesquisas científicas orientadas por avaliações qualitativas; pesquisas qualitativas, como são geralmente denominadas". (MARTINS, introd., 2006).

Ainda segundo Martins, a necessidade do rigor científico e do cuidado com a apresentação dos resultados da pesquisa que utiliza o Estudo de Caso evitam que os mesmos se tornem "relatórios enfadonhos, com excesso de detalhes totalmente dispensáveis, cujos resultados em nada surpreendem, pelo contrário, são plenamente conhecidos antes de serem apresentados pelos estudos". (MARTINS, 2006, p. 8).

Dando seqüência, será apresentado o Método do Caso e a história de seu surgimento, em Harvard, revolucionando a forma de conduzir o ensino de advogados, juristas e administradores de empresa.

Langdell foi o inventor de um precioso instrumento pedagógico, o método do caso, com grande impacto no meio universitário e profissional do pós-guerra civil. Introduziu no ensino do Direito, utilizando uma seleção de casos sobre a lei dos contratos. O método do caso representava, assim, no ensino jurídico, considerável efeito prático, empírico e indutivo de pensar e praticar o ensino jurídico.(BOAVENTURA, 2007, p. 119).

Conceituando Estudo de Caso

"O Estudo de Caso é apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências sociais".(YIN, 2001, p. 19)

Um dos métodos mais utilizados em pesquisas é o Estudo de Casos, apesar de existirem quanto a ele algumas críticas, essencialmente referentes à impossibilidade de lhe conferir um rigor científico diante da possibilidade de distorção dos resultados por parte do pesquisador. Yin cita que "o Estudo de Casos, como outras estratégias de pesquisa, representa uma maneira de se investigar um tópico empírico seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-especificados". (YIN, 2001, p. 35). Ele descreve os principais preconceitos em relação a esse método, tais como a falta de rigor científico, a confusão conceitual entre o ensino do estudo de casos com a pesquisa do estudo de casos, a ausência de possibilidade de realizar generalização científica pela insuficiência de base, além de ser considerado um procedimento demorado, fator que condiz mais com o passado, segundo o autor. Ele conclui que, na realidade, "bons estudos de caso são muito difíceis de serem realizados". (YIN, 2001, p. 30)

Para Yin,

O Estudo de Caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se pode manipular comportamentos relevantes. O Estudo de Caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são incluídas no repertório de um historiador: observação direta e série sistêmica de entrevistas. (YIN, 2001, p. 27)

O autor cita que o Estudo de Caso, comparativamente ao método histórico, possui a vantagem de poder lidar com uma variedade maior de evidências, além de permitir, no caso da observação participante, a manipulação informal das variáveis utilizadas.

Quando um pesquisador opta pelo Estudo de Caso, ele pode realizar um estudo de caso único ou múltiplo. Yin cita que para ser possível criar generalizações científicas, o ideal é o estudo de casos múltiplos.

Para o autor, "casos únicos representam um projeto comum para se realizar estudos de caso, e foram descritos em duas etapas: as que utilizam projetos holísticos e as que utilizam unidades incorporadas de análise". (YIN, 2001, p. 67). A realização de estudo de caso único, segundo Yin, é justificável "se o caso se constituir em um evento raro ou exclusivo ou se servir a um propósito revelador".

O estudo de casos múltiplos encerra vários casos únicos, fator que atualmente, tem se mostrado mais presente, ainda segundo o autor. Ele exemplifica com a realidade educacional, onde as inovações ocorrem em áreas independentes, às vezes, concomitantemente.

Yin cita que

A capacidade de se conduzir seis ou dez estudos de caso, efetivamente organizados dentro de um projeto de casos múltiplos, é análoga à capacidade de se conduzir seis ou dez experimentos sobre tópicos relacionados; poucos casos (dois ou três) seriam replicações literais, ao passo que outros poucos casos (de quatro a seis) podem ser projetados parabuscar padrões diferentes de replicações teóricas.(YIN, 2001, p.69)

A realização de uma pesquisa científica requer, antes de qualquer passo, a identificação do problema, o domínio de alguns conceitos-chave, para que se chegue ao tipo de método mais adequado para a consecução dos objetivos. Realizar estudo de casos exige, segundo o autor, algumas habilidades prévias, quais sejam, "treinamento e preparação para o estudo de caso específico, desenvolvimento de um protocolo de estudo de caso e condução de um estudo de caso piloto". (YIN, 2001, p. 79). O autor cita que esse método, ao contrário do que genericamente se acredita, não é um método fácil, ao contrário, é árduo e necessita de planejamento e disposição para aplicar as etapas que ele pressupõe.

Conforme o explicitado acima, evidencia-se o método do Estudo de Caso como uma estratégia para se conduzir uma pesquisa empírica, exigindo uma preparação prévia por parte do pesquisador e a organização de um planejamento da pesquisa. O Método do Caso, ferramenta pedagógica inventada em fins do século XIX, se constitui em uma maneira de conduzir a educação de advogados, juristas e administradores de empresa, nada tendo, portanto, de similar com o Método de Estudo de Caso.

Martins(2006) identifica os predicados que o Estudo de Caso deve possuir. Para ele, é necessário que o que o pesquisador busca pesquisar utilizando-se dessa metodologia, seja importante. Isso se dá quando é "original e revelador, eficaz, suficiente e relatado de maneira atraente".(MARTINS,2006, p.2 a 5).

Todos as autores trabalhados no presente artigo convergem no que concerne à importância do planejamento e do cuidado em se utilizar desse método, evitando-se trabalhos superficiais ou que nada tragam de novo.

Uma abordagem histórica sobre as origens dos dois modos de pensar: o dedutivo e o empírico

James Bryant Conant, autor do livro Dois Modos de Pensar(CONANT, 1968), foi um químico, ex-presidente de Harvard, alto funcionário americano na Alemanha e estudioso da educação pública. Segundo ele próprio, foi durante sua temporada como presidente na Universidade que percebeu as inquietações que circulavam nas escolas de direito e administração de negócios. Após ler uma palestra do Lord MacMillan sobre os dois modos de pensar, comparando o direito na Europa e na Inglaterra e EUA, onde este concluía que os primeiros pensavam dedutivamente e os ingleses e americanos, empiricamente e, posteriormente, já na Alemanha, ele chega ao que parecia ser a resposta para as inquietações percebidas, ou seja, é a ciência social comparável com a ciência natural?

Além de buscar diferenciar como os distintos espaços pensavam os problemas humanos, se empiricamente ou dedutivamente, surgiu a necessidade, a inquietação em compreender a razão das Ciências Sociais terem se desenvolvido de forma especial nos Estados Unidos. Comparando a educação nos dois continentes, as diferenças foram marcantes. Enquanto que os Estados Unidos possuíam uma tendência ao modo de pensar empírico/indutivo, a Europa era teórico/dedutiva. Conant descreve o pensamento indutivo como aquele que vai do particular para o geral e o dedutivo, como aquele pensamento que vai do geral para o particular.

Ao escrever o livro Dois Modos de Pensar (CONANT, 1968 ) ele aborda a trajetória das Ciências e, em especial, descreve como esta se desenvolveu no século XIX, nos EUA e na Europa.

Segundo o autor, os Estados Unidos, após a Revolução Industrial, se deparou com a necessidade de prover alguns instrumentais que dessem subsídios à massa populacional que migrava para as cidades. Após a Guerra de Secessão, quando o Norte industrial e o Sul escravista entraram em conflito, o país começou a vivenciar o impacto das invenções. Dessa forma, tanto as universidades, quanto o governo e a própria população só davam atenção ao desenvolvimento das artes práticas. Foi rarefeito o caminhar da teoria nesse período. Essa realidade se modifica radicalmente no século XX, quando ocorre uma tendência para a busca da teoria de maneira mais sistemática.

Conant(1968) descreve os inventos de utilidade mundial que se deram no século dezenove, dentre eles o código Morse, o telefone, a máquina de descaroçar algodão, a lâmpada incandescente. O inventor, segundo o autor, era o herói americano. É evidente que esses inventos se beneficiaram do desenvolvimento das teorias eletromagnéticasno campo da eletricidade, do uso dos dois métodos, o empírico/indutivo e o teórico/dedutivo. Para corroborar com a afirmativa, basta a descrição das tentativas e erros de Bell ao desenvolver a lâmpada elétrica. Segundo o autor, foram utilizados seis mil filamentos vegetais diferentes, além de aproximadamente três mil tipos de elementos que possuíam carbono, desde petróleo cru ao queijo. Sem uma teoria para o guiar, o inventor seguia com as experimentações até chegar às possíveis generalizações. Seu objetivo era encontrar um material que fosse possível seu uso em larga escala, assim sendo, o custo era de fundamental importância. O material que se adequou foi a fibra de bambu.

A finalidade em apresentar essa tendência inventiva, esse ambiente propício dos Estados Unidos se deve ao fato do autor objetivar justificar uma das mais significativas invenções ocorridas naquele país e que não foi de um objeto, mas de um método pedagógico, utilizado no ensino dos advogados, juristas e administradores de empresa. Foi o Método do Caso (case method) criado por Langdell.

Análise do Método do Caso de Langdell

Christopher Collumbus Langdell foi um estudioso do direito em Harvard. Tendo conhecido Charles William Elliot nos tempos de estudante, quando esse se tornou presidente de Harvard, vinte anos mais tarde, chamou Langdell para Deão[1] da escola de Direito e logo depois lhe deu carta branca para aplicar o Método do Caso naquela instituição. Foi uma revolução na forma do ensino, uma vez que esse método objetivava o estudo prático da lei. Era o estudo da lei viva, a partir da análise dos arrazoados dos juízes, os alunos iam chegando às próprias conclusões sobre a legislação. Não se debruçavam apenas nos compêndios como era o caso do estudo na Alemanha.

Conant cita que como qualquer método novo, é necessário que o tempo esteja maduro para ele, há sempre resistência. E não foi diferente com o método de casos.

Conant expressa o pensamento de Langdell da seguinte forma,

O esforço de cada estudante de direito, afirma ele, deve ser o de adquirir o comando dos princípios e doutrinas do direito. Cada uma dessas doutrinas, prossegue Langdell, "chegou a sua presente situação passo por passo, ou, por outras palavras, constituiu um crescimento que, em muitos casos, se estendeu através dos séculos.(CONANT, 1968, p.76).

Continua o autor a citar o próprio Langdell,

Esse crescimento deve ser reconstituído na sua maior parte através de uma série de casos; e o mais curto e melhor, senão o único modo de domínio efetivo da doutrina está no estudo dos casos em que esteja ela incorporada. (...) Sob esse sistema o estudante deve olhar para o direito como uma ciência constituída por um corpo de princípios a ser encontrados nos casos julgados, os casos sendo para ele, o que o espécime é para o geólogo.(CONANT,1968, p.77).

Conant cita que pelo menos uma escola de Direito foi aberta apenas para contestar esse método.

O autor cita o professor Redlich acerca de sua visão sobre o Método do Caso:

O método de casos é uma criação inteiramente original dos americanos nos domínios do Direito(...) é, na realidade, particularmente digno de nota que essa nova criação no ensino do direito comum tenha partido do pensamneto de um único homem. Crhistopher Collumbus Langdell, o qual, como o fundador do método, tornou-se o reformador da escola de direito de Harvard e daí das escolas de direito das universidades americanas em geral. (...)método de casos é, assim, de certo modo, nada mais do que os princípios de educação legal exigidos pela própria natureza do direito comum. (...) a análise crítica do caso legal foi estabelecida como a aplicação do método indutivo, único completamente adaptado à natureza do direito anglo-americano.(CONANT, 1968, p.79).

Ainda buscando comprovar como o Método do Caso revolucionou o ensino do direito e também, posteriormente da administração de empresas, Conant cita Benjamin N. Cardozo, juiz da Suprema Corte nos Estados Unidos,

O direito comum não opera por conclusões derivadas dedutivamente de verdades pré-estabelecidas de validade universal e inflexível. Seu método é indutivo, retirando dos particulares as suas generalizações. (...) Em seu esforço de dar ao senso social de justiça expressão articulada por meio de normas e princípios, o método dos especialistas do direito foi sempre experimental. As regras e princípios do direito comum (case law) nunca foram tratadas como verdades finais mas como hipóteses de trabalho continuamente testadase retestadas nos grandes laboratórios do direito, que são as Cortes de justiça.(CONANT, 1968, p.84).

 

Conant, ao demonstrar o modo empírico/indutivo de pensar americano, o põe em contraste com o método teórico/dedutivo dos alemães. Para esse autor, sua tese é de que "são os dois sistemas de ensino que fixam a preferência pelos dois métodos de pensamento".(CONANT, 1968, p.86).

O autor cita que o direito era visto por Langdell como uma ciência, não a ciência como a concebiam os teóricos/dedutivos, mas como a concebiam os inventores do século dezenove, como Bell ou Edison, uma ciência empírico/indutiva. Para os europeus, o direito como ciência era comparado à matemática, exposto em aulas-conferência.

O autor salienta que em grande medida, aqueles que buscavam altos cargos se dedicavam ao estudo do direito. Nem sempre advogavam, mas ocupavam posições de importância nos dois países, talvez sendo essa uma das razões pelas quais existiam as diferenças entre alemães e americanos no que tange à formação. Aqueles que receberam uma formação no estudo de caso do direito, "adquirem uma atitude de exame, uma desconfiança de amplas generalizações e um preconceito antitotalitário".(CONANT, 1968, p.89).

O Método do Caso foi utilizado na formação dos administradores de empresa. O autor salienta a diferença entre os cursos subgraduados e os pós-graduados, onde era aplicado o Método do Caso por haver uma maturidade por parte dos estudantes que possibilitava a aplicação do método. Assim se dava o processo, segundo texto do relatório da faculdade – Behavioral Sciences at Harvard :

A maior parte dos projetos de pesquisa na Harvard Business Scholl envolve investigação de campo e observação para comprovar o que os homensde negócios de fato consideram e fazem ao lidar com um problema particular. Na verdade, esse tipo de pesquisa empírica representa uma abordagem indutiva, através da qual a comparação, análise, interpretação e avaliação da experiência assim colhida dos negócios revelará, se houver, as úteis generalizações.(CONANT, 1968, p.90).

O autor cita que a formação dos futuros homens de negócios, pelo menos em Harvard, está comprometida com o método de pensar empírico/indutivo. Os europeus se opõem à essa postura. Da mesma forma que se dá a formação no curso do direito, através de aulas-conferência, os estudantes da administração ouvem aulas –conferência sobre princípios de administração do comércio e sobre tópicos relacionados com estudos econômicos, além de participarem de seminários sobre comércio e problemas econômicos. Não há um programa fixo de estudo. Quando o estudante sente-se preparado, realiza os exames que já são para o diploma. Para o autor, as formações dos juristas, advogados e administradores de empresa nos Estados Unidos e na Alemanha, através dos exemplos dados, refletem as mesmas predileções opostas do modo de pensar.

O Método do Caso no Brasil

Atualmente no Brasil, tanto nas graduações de Direito e de Administração de Empresas, como em Marketing, e áreas de saúde, o estudo do Método do Caso chamados cases, têm sido utilizados em larga escala. Partindo da experiência, de realidades vivenciadas, os estudantes confrontam a teoria com a prática. Vistos como algo inovador, que de fato não deixam de ser, esse formato como fora mostrado acima na descrição do Método do Caso de Langdell, possui uma longa trajetória, tendo nascido, efetivamente, nos fins do século XIX. É necessário ficar claro que o Método do Caso não se constitui de fatos fictícios. A análise ocorre a partir de casos reais.

Martins(2006) distingue o que vem a ser Método do Caso, ferramenta pedagógica, diferenciando-o de situações que pedem um Estudo de Caso. Para ele, um "Case, ou um Estudo de caso – técnica de ensino em que o professor(instrutor) explica – ensina – determinado conteúdo após os alunos estudarem um caso, geralmente relatando uma situação real já ocorrida." (MARTINS, 2006, p.7)

O Brasil possui uma tradição, de modo geral, dedutiva no modo de pensar e ensinar. Ainda assim, o uso do Método do Caso pode se configurar como uma nova mentalidade no pedagógico dentro das academias.

O caso desenvolvido para uso didático deve envolver situações de realidade, junto com fatos, opiniões e preconceitos existentes sobre o caso, que estejam sendo veiculados por diferentes fontes ou publicados na mídia. Em outras palavras,um caso complexo pode ser construído de modo a apresentar situações reais que possibilitem que os alunos desenvolvam análise, discussões e que tomem decisões finais quanto ao tipo de ações que deveriam ser desenvolvidas se estivessem atuando sobre a situação; mas, por outro lado, podem romper o rigor metodológico do Método do Estudo de Caso, vez que a inclusão de opiniões não faz parte de um método científico (a não ser que as mesmas sejam o próprio objeto de estudo...). No método do caso isto é permitido porque aproxima o aluno da realidade, obrigando-o a separar os dados do problema das informações irrelevantes freqüentemente presentes no ambiente profissional. (CESAR, Ana Maria R. V. Coelho)

Para Coelho(200?), o Método do Caso não se esgota em si, ou seja, assim como um mesmo problema pode exigir a combinação de métodos de investigaçãodiferentes para ser possível compreender a realidade, "a arte de ensinar não pode (ou talvez não deva) estar alicerçada sobre uma única alternativa de ensino". Atentar para o ciclo de aquisição do conhecimento dentro de cada curso ou disciplina é essencial para uma escolha adequada de métodos ou técnicas de ensino condizentes com cada etapa em que se encontra o estudante.

Conclusão

O trabalho objetivou diferenciar dois elementos, quais sejam, o Método de Estudo de Casos, utilizado para a realização de pesquisas, segundo Yin, quando levam a questionamentos do tipo "como" e "por que" e a ferramenta pedagógica, denominada Método do Caso, desenvolvida por Langdell e direcionada para o ensino de advogados, juristas e administradores de empresa, cujo foco estava emutilizar-se de princípios, de arrazoados, da jurisprudência, da lei viva para compreender os processos, ao invés de se debruçar na teoria pura, sem contanto abrir mão dela. Método este que diferencia, essencialmente, segundo Conant(1968), dois modos de pensar os problemas humanos, quais sejam, o empírico e o dedutivo, o primeiro característico do mundo Anglo-americano e o segundo, do mundo europeu.

Importante também frisar o uso, no Brasil, dessa metodologia, ainda não sendo preponderante nos cursos que a utilizam. Apesar de evidenciar um começo sobre essa visão interdisciplinar de pensar o ensino acadêmico e a preparação de futuros profissionais dentro de uma perspectiva mais realista do que venha a ser a problemática cotidiana, o que não exclui o uso da teoria, o método do caso, quem sabe pelo fato da experiência brasileira ser mais dedutiva do que indutiva, ainda caminha a passos lentos nas academias brasileiras.

Referências:

BOAVENTURA, Edivaldo. Metodologia da Pesquisa: Monografia, Dissertação e Tese. São Paulo:Atlas, 2007.

COELHO, Ana Maria Roux Valentini. Método do Estudo de Caso (Case Studies) ou Método do Caso (Teaching Cases)? Uma análise dos dois métodos no ensino e Pesquisa em Administração. Disponível em http://www.pdf4free.com . Acesso em 21 de maio de 2007.

CONANT, James Bryant. A Educação de Juristas, Advogados e Administradores de Empresa. In: Dois Modos de Pensar. Trad. Anísio Teixeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, Editora da Universidade de São Paulo, 1968.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de Caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo: ATLAS, 2006.

YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.


Autor: Maria Arlinda de Assis Menezes


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