O PAPEL DA ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DO SABER



A escola, além da transmissão dos saberes objetivados, também influencia nos processos de socialização da criança sendo uma parte fundamental da construção social do individuo e com abordagens multidisciplinares com atividades de aventura com temáticas sobre meio ambiente, cultura, sociais, atividades curriculares, e sociais a escola pode contribuir muito mais para o desenvolvimento do individuo e cumprindo muito mais com a sociedade e a construção do saber. Apesar de predominante, esse modo de socialização não é o primeiro que ocorre com a criança, pois, ao ingressar no universo escolar, ela conta com uma história de experiências anteriores que vivenciou no interior da família, no grupo de amigos ou em outras instituições as quais lhe possibilitaram a construção da sua identidade, ou seja, a criança é portadora de um habitus constituído na socialização familiar.
Nesse sentido, Lahire (1997, p. 17) observa que os esquemas comportamentais, cognitivos e de avaliação da criança se constituem nas relações sociais, mais precisamente, na socialização primária, aquela que, segundo Bernstein (Apud DOMINGOS et al, 1985), ocorre com a criança na esfera familiar e que, posteriormente, será sucedida pela escola e pelo trabalho.
Nesse processo de socialização, distinto da forma escolar, no qual a escrita se torna indispensável, prevalece a oralidade e os exemplos práticos como forma de transmissão e reprodução cultural.
Esse processo de socialização, que se inicia geralmente na família, é contínuo e abrange toda a vida, podendo em algumas instâncias ser mais ou menos harmônico ou contraditório. O contato com outros agentes e/ou agências socializadoras faz com que as crianças incorporem outros elementos culturais que ampliarão sua experiência e lhe possibilitarão novas formas de percepção do mundo social. Na abordagem de Bernstein (Apud DOMINGOS et al, 1985), essa incorporação de outros elementos culturais, que ocorre por intermédio da vivência de experiências educativas formais, implica um processo de descontextualização e recontextualização da socialização da criança na família, e atribuindo com outras vertentes e temas transversais.
Por conseguinte, ao ingressar na escola, a criança poderá vivenciar um "duplo conflito cultural", Lahire (1997, p. 171), pois, da mesma forma que o conjunto de disposições construídas na socialização familiar pode criar uma resistência com relação à educação formal, os novos elementos culturais apreendidos no contexto escolar, transportados para o universo familiar, também poderão distanciá-la da sua origem. Nesse sentido, o sentimento (positivo/negativo) que a família possui relativamente à escola e a maneira (importância) conforme trata as experiências vivenciadas pela criança, nesse contexto, agravarão ou amenizarão esses conflitos.
Bernstein (Apud DOMINGOS et al, 1985) descreve a socialização primária, os diferentes modo e uso da língua e suas implicações na aprendizagem. Para esse autor, a comunicação realizada no interior da família e do grupo de amigos, orientada pela classe social, cria procedimentos e realizações fundamentais que determinam as predisposições e a resistência à escola/educação formal. Assim, as dificuldades que algumas crianças enfrentam ao ingressar na escola podem ser vistas como a confrontação entre as ordens de significação, relação social e valores diferentes.
Segundo Bernstein (Apud DOMINGOS et al, 1985), ao analisarmos as características da socialização familiar, podemos distinguir duas formas diferentes de uso da língua, a linguagem pública (ou código restrito) e a linguagem formal (ou código elaborado). A essas duas formas de uso da língua se associam distintos modos, tanto de percepção como de relação com as pessoas e com os objetos. A linguagem pública dispõe de um conjunto de elementos sintáticos próprios. A linguagem formal, ou código elaborado, por sua vez, dispõe de um conjunto maior de elementos sintáticos, resultando numa construção gramatical elaborada. Para comunicar-se, o indivíduo que utiliza a linguagem formal possui um vocabulário mais amplo, possibilitando-lhe uma organização mais complexa para expressar seus pensamentos e, portanto, tende a ser mais longa, menos objetiva. Além disso, o código elaborado acentua o eu sobre o nós e encoraja a elaboração verbal da intenção subjetiva. Nenhum desses códigos é, necessariamente, melhor do que o outro. Cada um possui características específicas que unem o falante ao seu contexto. Contudo, a sociedade pode atribuir-lhe valores diferentes.
Ainda conforme Bernstein (Apud DOMINGOS et al, 1985, p. 55), "o código que a criança traz para a escola simboliza sua identidade social", e a diferenciação na comunicação (prática de um código diferenciado) entre a família e a escola pode gerar um distanciamento entre a socialização primária e a escolar, haja vista que cada extrato da sociedade cria suas próprias formas de comunicação e estas são responsáveis pela transmissão das características culturais daquele grupo. Assim, se uma criança vive em um ambiente restrito que lhe oferece poucos estímulos intelectuais, se estão limitadas apenas às pessoas que fazem parte daquele contexto, as suas ações afetivas, intelectuais e sociais são orientadas por uma forma de comunicação particular criada neste ambiente particular.
Dessa forma, ao ingressar na escola, se o código de comunicação construído e praticado na família não for compatível com o código da escola, ou seja, se essa criança não estiver familiarizada ou sensibilizada com o sistema de comunicação escolar, então a experiência vivenciada será de mudança e não de identidade social. A escola tem, portanto, a diversidade como desafio, pois cada criança provém de um universo familiar distinto, com características, valores, normas de comportamento e códigos de comunicação diferenciados. Dessa forma, os usuários da escola nem sempre são aqueles cujo perfil cultural, de autoridade e disciplina é aguardado pela instituição, não correspondendo com a forma de socialização praticada na escola.


Autor: Jonas Alfredo Silva Santos


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