Parnamirim Em Cordel



PARNAMIRIM EM CORDEL

Djalmira de Sá Almeida
1
1) Companheiros, leitores
2) Agora posso contar
3) Parte de minha história
4) Que vivo sempre a lembrar
5) Nasci em Terra Nova
6) De Pernambuco um lugar
7) Mudei pra Parnamirim
8) Para poder estudar
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1) Crianças do interior
2) Era costume de lá
3) Até chegar sete anos
4) Deve no sítio ficar
5) A esperar vaga na escola
6) Para o mais velho estudar
7) Quem podia instalava
8) A própria escola no lar
3
1) Éramos quatorze irmãos
2) Mais moradores de lá.
3) Veio então uma professora
4) Para nos alfabetizar
5) Eu acompanhava as lições
6) Gostava de decorar
7) Os folhetos de cordel
8) Que meu pai ia comprar.
4
1) Até meus sete anos
2) Estudei no Surubim
3) Com os moradores do sítio
4) Até que não era ruim
5) Gostava da professora
6) Era baixinha e valente
7) Vinha do Guarani de boléia
8) A Dona Nice Parente.
5
1) Como morava no sítio
2) Que era longe da cidade
3) Aprendi com as minhas irmãs,
4) Ler e escrever, de verdade;
5) Reuma ensinava a cartilha
6) Reusa tomava a tabuada
7) E assim varávamos as férias
8) Numa catequese danada.



6
1) As férias sempre emendavam
2) Na Fazenda Surubim.
3) Havia festas juninas
4) Muito peixe e amendoim.
5) Manga, goiaba e caju,
6) Xote, forró e baião.
7) E vinham sempre parentes
8) Para a festa de São João.
7
1) Em Belém do São Francisco
2) Minhas irmãs se formaram
3) Uma casa em Parnamirim
4) Logo elas alugaram.
5) Foram trazendo os irmãos
6) Para estudar, de verdade,
7) Meus pais ficavam no sítio
8) E os filhos na cidade.
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1) Foi em Parnamirim
2) Que começou essa história
3) Aconteceram boas coisas
4) Que voltam sempre à memória.
5) Que vivi na minha infância
6) E para minha satisfação
7) Hoje faz parte da Esperança
8) De exaltar o sertão.
9
1) Para maior entendimento
2) Conto agora minha infância
3) Dos tempos de encantamento
4) Das brincadeiras de criança:
5) A paisagem do lugar,
6) Era uma cidade pacata,
7) Entre a caatinga e a mata,
8) Mas que eu gostava de lá.
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1) Havia uma bonita igreja
2) Que por pequena que seja
3) Para mim era a maior.
4) Era todo o meu orgulho
5) E nos festejos de julho
6) Eu logo ia mostrar
7) Aos visitantes e romeiros
8) Santana em seu altar.
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1) Das lembranças mais fortes
2) Que trazem recordações
3) A procissão de Santana
4) O parque de diversões
5) Os tocadores de pífanos
6) As vaquejadas e rojões
7) Tantas pessoas alegres
8) As novenas e canções.
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1) Depois vinha a quermesse
2) As feiras e os leiloes
3) Vendiam tudo a granel
4) Buchada, sarapatel
5) Carneiro, pato e leilão.
6) Cocada, pé-de-moleque
7) Candeeiro e lampião
8) Pavio, arreio e gibão.
13

1) Vinham os matutos pra feira
2) Trazendo coisas da roça
3) Vinham até de caronas
4) Ou lombo de bichos brutos
5) Em barracas e palhoças
6) Até debaixo de lonas
7) Exibiam seus produtos
8) E muitas coisas cafonas.
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1) Para uma criança
2) Tudo era muito bom
3) Cada um no seu lugar
4) Cada toada tinha seu tom.
5) Mas, às vezes, acontecia
6) Quando alguém demais bebia
7) A festa mudava o som
8) Do riso à pancadaria.

15

1) No sertão também existe
2) Gente que gosta de brigar
3) Por nada faz uma intriga
4) Usa por qualquer besteira
5) Revolver, faca peixeira.
6) Para mostrar valentia
7) Assim, vi muitos tiroteios,
8) E mortes sem serventia.
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1) Ao chegar à cidade
2) Eu muito me admirei,
3) As crianças tinham hora,
4) Mas logo me acostumei:
5) Era hora de acordar
6) Hora de fazer dever
7) Hora de ajudar em casa
8) Hora de dormi e comer

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1) Morei primeiro na Bomba
2) Onde tinha dois hotéis,
3) Um açude e duas estradas
4) Pessoas quem admiravam:
5) Chico Agra, Ivalda e Batida.
6) Música, escola e muita lida,
7) E que marcaram minha vida
8) O que os três representavam.

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1) Mudei para outra casa
2) Era na Rua Padre Lima
3) Onde curtia de graça
4) O busto que tinha na praça
5) E via tudo de cima:
6) A prefeitura, a farmácia.
7) A casa de Dona Aurora
8) E a pensão de Idalina.

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1) Morando em casa alugada
2) Cada ano nunca é igual
3) Mudei outra vez de rua
4) Agora em nova morada
5) A casa de Cícero Nicolau
6) Perto de Raimundo Angelim
7) Fui morar perto da escola
8) Em casa de seu Dezim.

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1) Nas minhas muitas lembranças
2) Estão as do Grupo Escolar
3) Foi no Euclides da Cunha
4) Que comecei a estudar.
5) Fiz o primário e o ginásio
6) Fiz também admissão
7) Marcando minha história
8) As aulas de Redação.






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1) Das minhas professoras
2) Que mais me incentivavam
3) A fazer versos e contos
4) A escrever me estimularam,
5) Foi Ivalda e Givaneide,
6) Que estão na minha lembrança.
7) Também Orlane e Edenir
8) Marcaram a minha infância.

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1) Na rua onde morava
2) Ouvia xote e baião.
3) A gente brincava de roda,
4) De bandido e de ladrão.
5) E um forró muito feliz
6) Tinha até arrasta-pé
7) Com o cavaquinho de Zé Lira
8) E a sanfona de Assis.

23

1) Porém, lá no sertão
2) Não é só alegria.
3) Quando morre um cidadão
4) Tem pequena romaria,
5) Tem reza e cantoria,
6) Tem grito e reclamações.
7) E cada um vai pensando
8) Quando chegar o seu dia.

24

1) Quando eu tinha 6 anos
2) Era um pedaço de gente
3) Mas lembro de uma enchente
4) Que inundou o sertão.
5) Foi a enchente de 60,
6) Que atingiu todos nós.
7) Quebrou-se no Ceará
8) O Açude de Óros.

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1) Mas em 65
2) Faltou água no sertão
3) Para fazer a comida
4) Banhar e beber então.
5) Ia buscar algum irmão
6) Água bem longe daqui
7) Na cacimba ou no poço
8) Munido de um galão.

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1) Lelê e Bete Modesto
2) Que saudade que me faz.
3) O Grêmio e a Palhoça
4) Já sei, não revejo mais!
5) Mesmo que o tempo apague
6) Não há um preço que se pague
7) Pela lembrança tão amada
8) Da Praça e do Clube Alvorada

27

1) Dos amigos que deixei
2) A mente não esqueceu
1) Jairo Modesto e Galego
2) Edvaldo Lopes e Lelêu.
3) A doce lembrança de Lécio,
4) E a paixão que não venceu,
5) Das cartas a Ouricuri,
6) Muita coisa se perdeu.
7) Mas a certeza da saudade.
8) Traz de volta o que foi meu.

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1) Lembro com muita saudade
2) Da última casa que morei
3) Era de Joãozinho Lopes
4) E dois anos lá fiquei.
5) Do ano 72
6) Quando de lá me afastei
7) Estão do mesmo jeito.
8) Muitas coisas que deixei.
29

1) Do ano 62
2) Até o dia da despedida
3) Foram dez anos de memória
4) Capazes de fazer história.
5) E com saudade desmedida
6) Mesmo trinta e cinco fora
7) Pesam muito mais agora
8) Do que os 55 de vida.




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1) Da casa de Terra Nova
2) Ao sítio do Surubim
3) São sete anos de vida, agora.
4) Dezessete de Pernambuco
5) Vivi mais tempo lá fora,
6) Corbélia e sua guarida,
7) Londrina e minha vitória,
8) Meus trinta anos de gloria!

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1) Saindo do Paraná
2) Agora estou no Pará,
3) Mais cinco anos de história.
4) Parnamirim, não te esqueço.
5) Mesmo com o tempo o apreço
6) Que tenho por ti não desfaz
7) Mesmo distante recordo,
8) Coisas que não voltam mais!

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1) Dos nove irmãos tinha
2) A morte já levou dois.
3) O marido também partiu
4) E o pai também se foi.
5) Pelos sete irmãos que ainda tenho.
6) Eu rezo todos os dias,
7) Pelos irmãos e pela mãe,
8) Pelos filhos e sobrinhos,
9) Quero voltar a rever,
10) Parnamirim, com carinho!
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1) As irmãs: Reusa e Reuma
2) Foram no norte morar.
3) Toinho e Severinim,
4) Que estão também no Pará.
5) Puam, Coca e eu
6) Viemos também pra cá.
7) Iran está no Sul
8) Huyriam já morreu.
9) Huyrajá está no norte
10) E Huynalmar faleceu.





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1) Reuva e Huynalvarone
2) Todos vieram daí.
3) E Huynalvak o mais novo
4) Que nasceu em Ouricuri,
5) Cresceu no Paraná
6) E agora esta aqui a navegar em Itaituba
7) Com o sotaque do Sul e
8) O chiado do Pará.

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1) “Parnamirim, meu berço amado”,
2) “Terra dos meus papais,”
3) “Cada dia eu sinto mais amar-te,”
4) “Cada dia querer-te mais!”.
5) Esse refrão eu não esqueço
6) Nem de pedir em oração
7) Que Deus te guie e te proteja
8) Pois te tenho n’ alma e no coração.
Autor: Djalmira Sá Almeida


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