Territórios da Prostituição: um caminho intrínseco



O território geralmente está vinculado à figura do Estado, sendo compreendido como uma porção do espaço geográfico sob a jurisdição de determinado povo, o que significa a distinção dessa população a partir do seu comportamento geopolítico e psicológico. (SAQUET, 2010). Entretanto, um território pode ser pensado como um bairro, uma rua ou até mesmo uma casa.

Para Saquet (2010 p. 23) o território é "resultado das ações dos homens em sociedade, demarcando e organizando o espaço tanto jurídica como cultural e economicamente". E complementa ao afirmar que o conceito de território tem elementos materiais e psicológicos, interligado à vida social de grupos separados e interdependentes que organizam o espaço e estão em movimento.

De acordo com Santos e Silveira (1994), os territórios são formas geográficas, todavia o uso do território é permeado por objetos e ações que podem ser traduzidas enquanto espaço humano ou espaço habitado. Assim, a apropriação simbólica, identitária e efetiva do espaço também significam território. (SANTOS, 2002)

O território tem inúmeros conceitos que são alterados de acordo com a relação do poder em determinado espaço. Para Saquet (2010), o poder está envolvido em vários processos da vida cotidiana, com a família, a universidade, a igreja, o lugar de trabalho, por meio de relações sociais conflituosas e heterogêneas, variáveis e intencionais. O poder visa ao controle e à dominação sobre os homens e as coisas. "O território (...) é a cena do poder e o lugar de todas as relações sociais". (SAQUET, 2010, p.34)

O poder corresponde à habilidade humana de não apenas agir, mas de agir em uníssono, em comum acordo. O poder jamais é proprietário de um indivíduo, pertence ele a um grupo e existe apenas enquanto o grupo se mantiver unido. Quando dizemos que alguém está no poder, estamos nos referindo ao de encontra-se essa pessoa investida de poder, por um certo número de pessoas, para atuar em seu nome. No momento que o grupo de onde se origina o poder desaparecer o seu poder também desaparecerá. (SANTOS 2002 apud ARENT, 1985, p. 2)

No caso da prostituição, quando um espaço é ocupado para a comercialização do sexo, começa a surgir um território que pode ser usado por prostitutas adultas, crianças, adolescentes e travestis tanto do sexo feminino quanto masculino. O território pode ser internalizado também como local de formação de renda, edificado como um produto-mercadoria. (SAQUET, 2010)

A durabilidade de um território cria uma identidade social e espacial baseado nos códigos da fala, expressões, gestos e força, e esse conjunto de fatores configura uma relação de poder. Vale ressaltar que a prostituição de rua pode segmentar certo espaço com inúmeras identificações como, por exemplo: território dos travestis; território da prostituição infanto-juvenil; território das prostitutas adultas; território dos "garotos de programa".

O território, portanto, é objetivado por relações sociais, de poder e domínio, implicando assim na concretização de uma territorialidade. O território da prostituição apesar de estar constituído por uma identidade que o torna duradouro, contraditoriamente apresenta mobilidade do espaço físico. Isso pode ocorrer quando as prostitutas são perseguidas pela polícia ou por parte da sociedade.

Os "pontos", como são chamados o espaço físico em uma área pública onde se executa o mercado do sexo, são locais que acontecem as relações sociais e as relações de poder. Quando um possível cliente se aproxima da prostituta para negociar um "programa" e o acordo é fechado, o comprador do produto se sente proprietário da prostituta e acredita que pode fazer o que quiser com o corpo dessa pessoa (poder e domínio). Em virtude dessa crença acontece à violência contra as profissionais do sexo.

Cada grupo de prostituição segrega seu próprio território, defendendo-o, algumas vezes, da ameaça de invasão de outros tipos de "mercadores do sexo" e de outros atores sociais. Nessas áreas, a dimensão espacial e o controle territorial são peças chaves para obter-se o poder. A prática da prostituição é, na realidade, uma relação de poder, por que as pessoas que ganham a vida prostituindo-se estabelecem um território onde se desenvolve esta atividade. (RIBEIRO; MATTOS, 1996, p. 62).

Na prostituição, o território é internalizado quando os clientes sabem o local dos "pontos", quando sabem o valor do programa nos diferentes territórios e que existe uma diferença na fisionomia das mulheres que se prostituem. É relevante salientar que os territórios da prostituição não são sempre "visíveis" apesar de praticados em locais públicos e serem vistos por grande parte dos membros da sociedade.

REFERÊNCIAS RIBEIRO, Miguel Angelo Campos; MATTOS, Rogério Botelho de. Territórios da Prostituição nos espaços públicos da área central do Rio de Janeiro. Revista Território, Rio de Janeiro, 1996. Disponível em: SANTOS, Mário Jorge Silva. Territórios da Prostituição no Centro de Aracaju. Monografia (Bacharelado em Geografia). São Cristóvão: UFS, 2002. SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A. de e SILVEIRA, Maria Laura (Org.). Território: Globalização e Fragmentação. ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1994. SAQUET, Marcos Aurélio. Abordagens e Concepções de território. 2 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010
Autor: Priscila Pereira Santos


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