FENG SHUI: CONTROLANDO AS MISTERIOSAS ENERGIAS QUE NOS CERCAM



Norton F. Corrêa
[email protected]

O presente trabalho enfoca o fenômeno chamado feng shui e alguns aspectos de seu crescimento junto a segmentos mais escolarizados da população. O feng shui
é considerado como um ramo do esoterismo que teria sua origem na China. Num primeiro momento me estendo um pouco pelo entorno que lhe serve de moldura, no Ocidente, passando depois à manifestação em si.

A metodologia incluiu observações diretas em livrarias, bancas de jornais e lojas que trabalham com tais tipos de materiais, em São Luís2, e consultas a livreiros de São Paulo e Porto Alegre. Em São Luís, ainda, entre várias pessoas, entrevistei diversas vezes uma das mais conhecidas especialistas da cidade (referida como Y., adiante). Fiz igualmente observações em seu consultório e na casa de um casal de amigos em comum, a quem ela sugeriu mudanças no ambiente. Além disto baseiome na obra de Campadello (s/d), um manual prático para a compreensão e aplicação do feng shui em residências).

Pressupostos

Um primeiro pressuposto a considerar é que o cristianismo, tal como entende o filósofo inglês Bertrand Russel (1967), mais do que uma simples modalidade religiosa, constitui-se numa cultura, a "cultura cristã-ocidental", graças à onipresença milenar, abrangência, influência e imbricamento que representa em relação ao Ocidente. De fato, cosmogonia, cosmologia, cronologia, cosmovisão, códigos legislativos, morais, de ética e conduta e filosofia ocidentais, são de matriz cristã.

Em outro local (Corrêa, 1992), proponho que o Cosmos cristão é cindido maniqueisticamente em duas metades, o Bem e o Mal. A concepção-pessoa (ou seja, o que se entende que uma pessoa é) católica-cristã, vê o indivíduo como dotado, além do corpo, também de uma alma imortal. Esta tem conotação positiva, pois é espírito, e como tal semelhante a Deus. Já a idéia de corpo é negativa, tanto por ser
matéria (que se opõe a espírito), como fonte de perigo, pois é responsável pela perda da alma. Ambos estão sob um efeito-gangorra: se privilegiarmos os desejos do corpo (leia-se o prazer), a alma será condenada a tormentos eternos. E para a salvação desta, o corpo deve ser colocado em segundo plano. Levado aos extremos, tal desprezo ruma para a dor, não sendo por menos que o modelo a ser seguido, Jesus, é representado como tendo sofrido a dor máxima, a morte sob tortura. Em suma, a dor salva e o prazer condena. O prazer máximo do corpo se realiza no sexo - mais particularmente no orgasmo. Não é por outro motivo que as restrições ao sexo estão entre as preocupações centrais do catolicismo. Em função disto é que afirmei que o modelo idealizado de pessoa, no Ocidente, é a que teria o sexo crucificado.

Um segundo pressuposto é que o catolicismo detém muito mais poder, no Ocidente, do que o protestantismo. Em primeiro lugar, porque a igreja católica foi a matriz fundadora e depois produtora praticante única deste contexto durante mais de 1500 anos, só no século XVI, com Lutero, perdendo o monopólio do campo religioso. Em segundo, embora o protestantismo congregue milhões de adeptos no mundo ocidental e tenha assumido considerável influência também política e cultural (veja-se Inglaterra e EUA), um grau muito grande de independência intergrupal (para não se falar em pulverização) marca as milhares de submodalidades religiosas surgidas. Estas, desprovidas de uma espinha dorsal representada por uma hierarquização geral interna do poder, têm muito menos condições de ditar políticas de âmbito mais amplo, geopoliticamente falando. O mesmo, porém, não ocorre com o catolicismo. É justamente a hierarquia e estratificação internas, inerentes a seu modelo religioso desde a fundação, que permitiu que atuasse como um bloco único. Fundamental é o fato de haver no topo dessa hierarquia uma figura representativa e emblemática, o Papa, cuja voz, muito mais do que a de qualquer líder protestante, ecoa com grandes reflexos no mundo.

Tal estrutura proporcionou ao catolicismo um imenso, abrangente e longo poder, não apenas no campo da religião, simbólico, mas no temporal - político, social, econômico e cultural.

Um terceiro pressuposto é que conjunto de conhecimentos entendidos como
Ciência, no Ocidente, também nasceu sob a égide da cultura cristã-ocidental, já que seu surgimento tem não mais do que 300 anos. A filha saiu à mãe. Por exemplo, as tentativas de Santo Agostinho, Tomás de Aquino e outros de, weberianamente falando, racionalizar a doutrina cristã tiveram como contrapartida os esforços de Descartes e do positivismo de Comte (que ele considerava "a religião da Humanidade") para racionalização do campo científico. Assim, de certa maneira o positivismo/cartesianismo estão para a ciência como o cristianismo para o campo religioso. Com efeito, no cerne de ambos se fazem presentes concepções como a existência de um Cosmos perfeito (já que criado por uma divindade perfeita) e polarizado em todas as suas instâncias. Se para o pensamento cristão tal cisão se reflete, como disse, na idéia de um fracionamento do mundo em metades opostas e inconciliáveis, Bem/Mal (e Céu/Inferno, Deus/Diabo, Luz/Trevas, espírito (alma)/matéria (corpo) etc.), no cosmos positivista/cartesiano corresponde à crença na também existência de uma exatidão tão absoluta quanto a outra, representada pela matemática/geometria. Em outras palavras, o cartesianismo e o positivismo transferiram à ciência as idéias de dogma ou absolutos, do cristianismo. A ciência e a cultura cristã-ocidental também acreditam na existência da verdade, como categoria absoluta e eterna, ao mesmo tempo que desenvolvem procedimentos muito similares para sua busca. Tais similitudes devem-se principalmente ao fato de a ciência e o cristianismo ocidentais terem a base na filosofia grega.

Download do artigo
Autor: Norton F. Corrêa


Artigos Relacionados


O Ensino Musical Formador De Organistas Na Congregação Cristã No Brasil

A Forma Social Da Igreja Cristã Ou A Cultura Da Fé

Ciência E Religião Na América Latina

Educação Cristã E O Ensino Superior De Teologia No Brasil

Psicologia E Suas Contribuições Para A Educação

Cosmologia (dinâmica Do Universo)

Atributos Da Divindade - Prova Da Existência De Deus