Leitura de Imagem no Contexto Escolar




UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇAO E CIÊNCIAS HUMANAS
LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
Vanderléia Moreira Barrozo






LEITURA DE IMAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR














ANDRADINA
2011

UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
FACULDADE DE EDUCAÇAO E CIÊNCIAS HUMANAS
LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
Vanderléia Moreira Barrozo





LEITURA DE IMAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Educação e Ciências Humanas ? UNIMES, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciado em Artes Visuais, sob a orientação da Profª Maria Emilia Sardelich.





ANDRADINA
2011
RESUMO



Este trabalho tem por objetivo apresentar estratégias de Leitura de Imagem no ensino fundamental. A metodologia utilizada na realização deste trabalho de Curso foi à pesquisa bibliográfica. Este tema tem sido amplamente discutido por diversos teóricos que apresentam estratégias metodológicas para esse fim. Nossos alunos já desfrutam de experiência visual antes mesmo de entrar na escola e mesmo por desfrutarem destas experiências visuais, isso não é garantia de estarem compreendendo o que estão lendo ou que já tenham uma habilidade crítico-reflexivo bem desenvolvida. A escolha deste tema deve-se ao fato de que nos dias atuais, o significado da palavra "texto" vai mais além do que uso da linguagem escrita. Por isso, nós arte-educadores devemos oportunizar ao aluno os caminhos para leitura de imagens seja daquelas produzidas pela publicidade ou pela arte, levando-os ao domínio dos códigos visuais através da sensibilização, da familiarização e do contato freqüente com as imagens. Induzindo-os a perceber que ler é uma atividade que traz conhecimento e que esse conhecimento pode ser de uma forma prazerosa e divertida.




PALAVRAS-CHAVE: Ensino de arte, leitura de imagem, estratégias de leitura de imagem.









SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................5

CAPÍTULO I

1. LEITURAS E LEITURAS .........................................................................................8
1.1 O conceito de leitura.............................................................................................14
1.2 Níveis de leitura....................................................................................................16
1.3 A cultural visual....................................................................................................18

CAPITULO II

2 LEITURA DE IMAGENS..........................................................................................22
2.1 A leitura de imagens na educação.......................................................................23
2.2 A leitura de obra de arte.......................................................................................25

3. PROJETO DE CURSO

3.1. Apresentação......................................................................................................28
3.2. Projeto de Curso..................................................................................................30

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................................43



INTRODUÇÃO

O mundo vive a civilização da imagem como um dos fenômenos culturais mais importantes e apaixonantes do homem civilizado. Atualmente estamos vivendo intensamente a era visual, na qual cada vez mais percebemos o mundo por meio de imagens. No entanto, essa realidade não é nova, porque desde os primórdios da pré-história o homem procura formas de se comunicar e a escrita não foi a única e nem a primeira forma que eles desenvolveram para esse fim. Prova deste fato são as pinturas rupestres encontradas nas cavernas da Serra da Capivara, no Brasil. Mesmo naquela época já lançavam mão do uso das imagens para registrar suas idéias e os acontecimentos marcantes da comunidade.
Experimente contar quantas imagens vemos diariamente. Impossível! Se fossemos parar e pensar em quantas imagens vemos diariamente, não daríamos conta. Afinal, somos "bombardeados" com infinitas imagens, que muitas vezes passam despercebidas e que aparentemente parecem não ter sentido: imagens fixas ou em movimento; imagens virtuais do computador, do cinema, do vídeo, da televisão; imagens da arte: fotografias, pinturas, desenhos, esculturas, espetáculos cênicos; imagens didáticas; tabelas, gráficos, mapas, ilustrações; imagens publicitárias; a paisagem natural e construída pelo homem.
Na sociedade atual o texto não é o único a transmitir mensagens, as imagens refletem inúmeras idéias e conceitos. Quando as palavras não são suficientes aderimos a imagens, aliás, os significados das imagens podem variar de acordo com o repertório de quem faz a leitura.
Pensar nas imagens como meras ilustrações seria um engano grotesco, pois tais elementos visuais estão carregados de informações sobre nossa cultura e o mundo em que vivemos. As imagens estão carregadas de intenções e também podem se propor a ensinar.
Quando falamos em leitura muitos ainda associam a livros, revistas, jornais, etc., enfim, textos e palavras. Quando pensamos em texto, não pensamos em um amontoado de palavras, nem uma grande frase. Pensamos num texto estruturado, com significado. Assim como o texto, a imagem também tem sua estrutura, os elementos que a compõe como a linha, a cor, a luz e os princípios que a fundamentam destacando o movimento, o equilíbrio, a unidade, o ritmo, a harmonia. Dessa maneira assim como o texto a imagem também pode ser lida.
Consideramos que a leitura de imagens pode ser iniciada já no Ensino Fundamental, levar o aluno a perceber esta forma de representação. Despertando o gosto no educador e no educando em trabalhar com a leitura de imagem, sendo não mais um recurso para se alcançar à aprendizagem, mas direcionar o olhar para que aprendamos um pouco mais que informações que as imagens nos trazem, nos apresentam, o que elas querem nos dizer. Facilitaria a nossa compreensão dos valores das artes visuais e dos seus modos de fazer; promoverá a avaliação crítica e a apreciação estética e desenvolvendo a imaginação.
A escolha do tema deve-se ao fato de nos dias atuais, o significado da palavra "texto" vai mais além do que uso da linguagem escrita. Sendo assim, acreditamos que as praticas pedagógicas não devem ser pensadas apenas em função do código lingüístico.
Desta forma nós arte/educadores poderemos nortear os trabalhos pedagógicos com os alunos de forma coerente e satisfatória garantindo assim um, trabalho produtivo e prazeroso.
Após observar as metodologias de Anamélia Bueno Buoro, Robert Willian Ott e a proposta de projeto de Fernando Hernández, referente a questão de leitura de imagem, onde relatam que a imagem é passível de leitura, de interpretação e compreensão, acredito que todas são validas, porém a que prendeu meu olhar foi a de Robert Ott, Observando Imagens (Image Watching).
A metodologia Observando Imagens mostra-se adequada, apresentando etapas bem definidas e articuladas. E apesar de ter seqüências pré-estabelecidas pode ser adaptada e fazer relação com a realidade do aluno. Porque dentro de um grupo de estudo, alem dos textos expostos para leitura e discussão cada participante traz sua experiência vivida para sala de aula.
A metodologia de Robert Ott expõe de uma forma bem simples como podemos dialogar com a obra de arte.
Robert Ott propõe um caminho, mas cabe ao educador incrementar suas aulas com seus conhecimentos e prática vivenciada na arte e as necessidades de sua sala de aula.
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivos conceituar leitura e leitura de imagens, apresentar estratégias de leitura de imagens sistematizadas por diferentes autores, diferenciar as características das estratégias de leitura de imagens apresentadas, identificar a estratégia de leitura de imagem adequada para o nível de ensino fundamental e desenvolver um projeto de curso aplicando a estratégia de leitura de imagem identificada como sendo a mais adequada para o nível de ensino fundamental.
A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica. A estrutura do trabalho monográfico ficou dividida em três partes: Capitulo I, onde apresenta leituras e leituras; o conceito de leitura; os níveis de leitura e a cultural visual; Capitulo II que destaca a leitura de imagens, a leitura de imagens na educação e a leitura de obra de arte e a terceira parte que é Projeto de Curso. E, finalmente as considerações finais do trabalho.

























CAPÍTULO I
1. LEITURAS E LEITURAS

Quando falamos em leitura, a primeira coisa que nos vem em mente é o ato de decodificação da linguagem escrita. Onde associamos a esta questão alguém lendo um jornal, uma revista, um livro, uma carta. Restringindo esse conceito de leitura apenas a decifração da escrita. Ou seja, costumamos usar a palavra leitura significando leitura de texto.
Nas figuras abaixo se observa à diversidade de fontes ou gêneros de leitura, como a faixa etária. Atualmente o conceito de leitura vai muito além desta visão.





Família reunida em casa do interior, s/d

José Ferraz de Almeida Júnior (Brasil 1850-1899)
Óleo sobre tela





Histórias na hora de dormir, 1883

Anton Ebert (Alemanha 1845-1896)
Óleo sobre tela.









Lendo as notícias, s/d

Eugênio Zampighi ( Itália 1859-1944)
Óleo sobre tela




Ensinando a ler, s/d

Eduardo Feitosa ( Brasil, 1957)
Óleo sobre tela

A escolha das imagens para observação levou-se em conta o núcleo familiar associado à leitura, pois a mesma é o primeiro espaço de socialização. Nela acontecem às primeiras experiências que irão marcar o sujeito por toda vida. E o habito da leitura é uma delas.
Freire (2001) na Carta aos Professores afirma que a leitura de mundo precede a leitura da palavra haja vista que toda leitura é influenciada pela experiência de vida do leitor. Desta forma quanto maior for o "conhecimento de mundo" maior a apreensão de novos conhecimentos.
Muitos pais crêem ser necessário que se façam mais leituras para a melhor compreensão do mundo e da sociedade em que seus filhos estão inseridos, mas muitos não incentivam os filhos a lerem mais ao invés de passarem muitas horas em frente à TV.
A televisão pode ser considerada como uma fábrica que determina "padrões de comportamento", onde as imagens são as mais variadas. Mostram-nos tendências, modismos, costumes, modelos, conversas e interesses. Tornado-se desta forma um dos meios audiovisuais com mais propósitos de manipulação, de propaganda e de alienação.
Enquanto as experiências de telespectador muitas vezes nos restringem, as experiências como leitores nos permitem um conhecimento mais profundo e variado da cultura humana, registrada através dos séculos nas obras escritas.
A leitura tem o poder de oferecer possibilidades de vínculos das próprias idéias, julgamentos, recordações e ainda um entendimento autônomo do texto, uma vez que a televisão oferece algo já pronto, definido, estabelecido, treinando as crianças para se identificarem com o que assistem.
Ler nos permite abri-se para novos horizontes, experienciar alternativas de existência, nos permitindo uma maior possibilidade de participação social e de melhoria de sua condição de ser humano e uma visão de mundo maior.
Como visto o saber ler é imprescindível na vida do cidadão e da sociedade como um todo. Mas não existe um único objeto de leitura, podemos também usar a palavra leitura em um sentido menos comum, significando leitura visual. Essa é uma outra maneira de ler o mundo, não decifrando letras, mas decifrando imagens. Imagens que preenchem nossos olhos do momento em que acordamos até à hora de dormir.
A ampliação desta noção de leitura pressupõe transformar esta visão a qual estamos presos, que o conceito de leitura está ligado apenas à produção de leitura, a trabalhos letrados, (...) aprender a ler significa também aprender a ler o mundo, dar sentido a ele e a nós próprios, o que, mal ou bem, fazemos mesmo sem ser ensinados (MARTINS, 1982, p. 34).
A partir dessas palavras é possível começarmos a ampliar a visão tradicionalista para uma mais ampla sobre a noção de leitura.
Isso quer dizer que não lemos somente as palavras. Observe as seguintes imagens:



Fonte: Arte Expressa Disponível em: http://www.vni.com.br/arteexpressa/placas.htm

Observando os ícones anteriores, conseguimos entender o que querem nos comunicar. Existem placas com apelo visual e outras de apelo verbal. As que apresentam linguagem verbal podem ser consideradas mais eficientes por serem mais diretas. Pois dizem exatamente o que querem informar, porém é preciso saber ler e entender o idioma em que foi escrito. Já as placas que apresentam linguagem não verbal permitem que seja feito uma interpretação, independente de saber ler ou de entender o idioma. Mesmo com a ausência de palavras a compreendemos.
Como percebemos a linguagem visual é econômica, pois a sua grande função é criar ícones, cuja percepção se dá de forma imediata e global. Onde a informação geralmente acontece no primeiro olhar, estabelecendo assim um nível ideal de comunicação.
Mesmo que um indivíduo não tenha o conhecimento do código escrito, ele será capaz de ler uma imagem, uma figura. Temos como exemplo real deste fato os antigos moradores de sítios, que mesmo desprovidos de equipamentos avançados aprendera a fazer a previsão do tempo, os índios se comunicam muitas vezes pela dança, pela pintura em seus corpos.
Freire propõe uma concepção de leitura que se distancia dos tradicionais entendimentos do termo como sonorização do texto escrito, defendendo que a leitura começa na compreensão do contexto em que se vive: a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele." (FREIRE apud MARTINS, l982, p. 10)

1.1 O conceito de leitura

Segundo Martins (1982), existem inúmeras concepções vigentes de leitura e estas podem restringir-se a duas caracterizações:

1) Como uma decodificação mecânica de signos lingüísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva behavorista-skinneriana);
2) Como um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos (perspectiva cognitivo-sociológica)" (MARTINS, 1982, p. 31).

Na primeira caracterização a concepção de leitura é vista como uma atividade mecânica, sendo o leitor condicionado a aprender o código escrito e a reproduzir mecanicamente palavras e frases. Visando fazer do leitor um individuo passivo. Se tornando um mero ato de depositar, onde os educandos os depositários e o educador o depositante, ou seja, a chamada educação bancária que tanto Freire (1996) condena.
Na segunda concepção de leitura, o leitor assume uma postura ativa, dialogando e reconstruindo sua própria leitura, deixando de ser um individuo passivo, ampliando desta forma seu olhar sobre o mundo. Como Freire (1996) afirma:
O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História (FREIRE, 1996, p. 60)

Assim sendo o homem desde a pré-história o homem tem a necessidade de descrever o seu mundo, isto é, expressar e registrar suas idéias. Registrar sua passagem pelo mundo. Mas mesmo quando não existia a linguagem escrita o homem já realizava atos que podiam ser considerados como leitura e que surgiram justamente da necessidade de comunicação.
Já naquela época lançavam mão do uso das imagens para registrar suas idéias, os acontecimentos, rituais, costumes, elementos do seu mundo, expressando de uma forma intensa as suas vivências. Comunicavam-se, usando gestos e sons, começaram a registrar seus pensamentos por intermédio de símbolos, imagens pintadas em cavernas e pequenas esculturas em pedras.
Assim sendo, a escrita não foi à única e nem a primeira forma que eles desenvolveram para esse fim. Provas deste fato foram às pinturas rupestres encontradas no Piauí, ocorrem muitos exemplares desta modalidade de expressão dos homens antigos, registradas em rochas de dois grandes parques nacionais: o Parque Nacional de Sete Cidades (situado entre as cidades de Piripiri e Piracuruca, no norte do Estado) e o Parque Nacional da Serra da Capivara (situado entre as cidades de São Raimundo Nonato, São João do Piauí e Coronel José Dias, na região sudeste do Estado).
As pinturas do Parque Nacional da Serra da Capivara são impressionantes. Percebe-se, numa análise superficial das pinturas, que os homens que habitaram aquela região num passado distante, apresentavam uma atividade comunitária bastante movimentada, registrada com óxido de ferro nos imensos paredões calcários da região. Entre os quase 400 sítios arqueológicos da região, a grande maioria retrata exatamente como viviam (hábitos, costumes, situações cotidianas, crenças, ritos, etc.) e a natureza ao seu redor (elementos da flora e, principalmente da fauna da época).
As representações rupestres dispostas nos sítios do Parque Nacional da Serra da Capivara demonstram mensagens deixadas pelo homem pré-histórico, como uma forma de registro da época que hoje são lidas e analisadas.

Fonte: Fundação Museu do Homem Americano
Disponível em: http://www.fumdham.org.br/pinturas.asp

Como ressaltado anteriormente, quando falamos em leitura, o que primeiro costuma vir à mente é a compreensão das palavras e o processo de alfabetização. No entanto, citando Freire (2003) "leitura é bem mais que decodificar palavras: é ler o mundo". É um processo complexo que envolve não apenas a palavra, mas a imagem e os aspectos mais diversos do mundo. E, neste mundo moderno, repleto de mensagens imagéticas, a leitura também envolve ler imagens. Afinal, esses elementos visuais estão carregados de informações sobre nossa cultura e o mundo em que vivemos. Portanto, têm muito a ensinar.

1.2 Níveis de leitura

Martins (1982) afirma que existem três níveis básicos de leitura: sensorial, emocional e racional. Onde estes níveis, estão ligados, inter-relacionados, mesmo que um ou outro privilegiado se destaque de acordo com as experiências do leitor.
Leitura sensorial: pode ser considerada uma leitura inicial, quando o interesse do leitor se despertará com cores, letras, ilustrações trazidas no livro, ou também na entonação de voz (sons), quando contada uma história e até mesmo quando cantada uma música por alguém. "(...) Essa leitura sensorial começa, pois, muito cedo e nos acompanha por toda a vida." (Martins, 1982, p. 40). Essa forma de leitura lúdica cria a fantasia, as ilusões juntamente com o mágico, o fantástico que fazem parte da imaginação das crianças. É através desta sensibilidade que o leitor começará a descobrir, de maneira inconsciente, sua preferência de leitura. Desse modo, a leitura sensorial leva à manifestação do que agrada ou desagradam ao leitor, seus gostos, ainda que sejam inconscientes e sem muita necessidade de racionalizações, justificativas.
Leitura emocional: o leitor neste nível, quando em contato com o objeto lido, é dominado pelos seus sentimentos. Ele poderá ser transportado para outros tempos, lugares, conforme seu desejo, com isso, a imaginação tomará conta desse indivíduo até o final da leitura. Isso pode ter um lado positivo e outro negativo. Quando a emoção ressalta a necessidade do ser humano de fugir da realidade em que vive e buscar experiências novas, fantasias, fazendo-o participar da leitura, o leitor vivenciará este momento de modo prazeroso. Ele certamente se sentirá melhor, mas, se a leitura for pesada, demasiadamente angustiante, dependendo do seu estado de espírito, pode até levá-lo à depressão. Neste nível a emoção é mais forte que a razão.
Segundo Martins "(...) na leitura emocional não importa perguntarmos sobre o seu aspecto, sobre o que certo texto trata em que ele consiste, mas sim o que ele faz, o que provoca em nós". (Martins, 1982, p. 52)
Leitura racional: o leitor estabelece um diálogo entre o texto, sua história, o leitor e o contexto em que a leitura se realiza. Quando se chega neste nível, o que fala mais alto é o intelecto. Não devem ser confundidos com a leitura proposta por alguns intelectuais que acham que só se devem apreciar os grandes clássicos da literatura, preservando assim as culturas eruditas, que para muitos são desconhecidas.
Esta leitura, juntamente com a sensorial e a emocional, fará com que o leitor tenha uma visão ampla de conhecimentos, a fim de conseguir captar a essência trazida no texto, bem como o que está nas entrelinhas, tornando-o capaz de questionar e argumentar sobre o que foi lido. Assim, em conformidade com esta autora, que diz: "(...) E ela (a leitura) não é importante por ser racional, mas por aquilo que o seu processo permite, alargando os horizontes de expectativa do leitor e ampliando as possibilidades de leitura do texto e da própria realidade social". (Martins, 1982, p. 66)
Relacionando essa teorização à escola, o que se nota em relação a esta instituição é que sua verdadeira função hoje seria a de possibilitar aos alunos a continuidade da leitura de mundo que eles já possuem. A criança entra na escola, trazendo consigo um universo individual, o qual deveria ser motivado, estimulado, enfim, aproveitado pelo professor para, a partir daí, introduzir a leitura da palavra escrita. Assim, o professor conseguiria despertar o interesse do aluno pela leitura. Ao contrário disso, a instituição parece privilegiar um tipo de leitura mecânica, onde se desconsidera a historia do individuo enquanto um sujeito leitor.
Assim como Martins (1982), acredito ser de suma importância desenvolver a cultura de leitura, para formarmos educandos formadores de opiniões no ambiente em que vivemos. E juntamente com a leitura escrita, vislumbramos a cultura visual, a aprendizagem do educar o olhar, pois podemos ganhar com estas também novas formas de interpretar o que nos acontece no dia a dia e não percebemos nos possibilitando maturidade e possibilidades de novas reflexões.
Desta forma nós arte/educadores poderemos nortear os trabalhos pedagógicos com os alunos de forma coerente e satisfatória garantindo assim um, trabalho produtivo e prazeroso.

1.3 A cultural visual

Nossos olhos estão a todo o momento recebendo informações por meio de imagens. Podemos afirmar que nossa cultura visual é vasta e rica, mas muitas vezes estamos submetidos a um mundo de imagens que muitas vezes não entendemos.
Segundo afirma Dondis (1997), praticamente desde nossa primeira experiência no mundo, passamos a organizar nossas necessidades e nossos prazeres, nossas preferências e nossos temores, com base naquilo que vemos.
A grande quantidade de imagens que vemos no dia-a-dia, expostas de forma caótica e muitas vezes fora de contexto, está voltada quase sempre para gerar consumo. São apelativas e desencadeiam tantos estímulos que muitas vezes nos tornamos alienados diante delas.

Por isso, podemos dizer que vemos e não vemos, olhamos e não olhamos. O tema ver-olhar ? antigo como a filosofia e a arte ? torna-se cada vez mais fundamental no mundo das artes e estas o território por excelência de seu exercício. Mas se as artes nos ensinam a ver ? olhar, é porque nos possibilitam camuflagens e ocultamentos. Só podemos ver quando aprendemos que algo não está à mostra e podemos sabê-lo. Portanto, para ver olhar, é preciso pensar (TIBURI, s/d).

Em virtude do crescente interesse pelo visual muitos historiadoras/es, antropólogas/os, sociólogas/os, educadoras/es resolveram discutir sobre as imagens e sobre a necessidade de uma alfabetização visual, que se expressa em diferentes designações, como leitura de imagens e cultura visual (SARDELICH, 2006).
A importância da inserção da Leitura de Imagem na escola tem sido amplamente discutida por diversos teóricos que apresentam estratégias metodológicas para esse fim.
O tema leitura de imagens tem chamado à atenção dos professores de arte, desde que as novas abordagens trouxeram a imagem da arte para a sala de aula, depois de muitas décadas da hegemonia da livre-expressão. Mas nem sempre esse assunto tem sido discutido de maneira a considerar o sujeito da leitura: o aluno. E é justamente esta proposta que se deseja, levar em consideração, as condições de construção de conhecimento do aluno no domínio da leitura estética. Afinal não há leitura de imagem que não seja influenciada pela experiência de vida do leitor (FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO, s.d).
Exercer a cidadania em nossos tempos é desenvolver um olhar mais apurado que perceba os sentidos implícitos nos textos. Para que a palavra e a imagem possam comunicar significativamente, é preciso que se realize um trabalho sobre elas. O trabalho de leitura e de mediação que a palavra e a imagem requerem, no mundo atual, torna-se imperativo em uma perspectiva de conhecimento, de humanização e de inserção social dos indivíduos.
Buoro (2002) ressalta a importância do conhecimento sobre a história da arte e o exercício constante da leitura da imagem para quem trabalha com o ensino da arte. Como encaminhamento para a apropriação do conhecimento, a pesquisadora propõe um percurso em seis momentos, ou seja, no primeiro sugere olhar atentamente a imagem e descrever tudo o que nela está presente. No segundo, perceber a imagem como um texto visual e destacar toda sua estrutura compositiva (elementos formais). No terceiro, observar imagens de produção anterior e posterior produzidas pelo mesmo artista para estabelecer relações. No quarto, realizar pesquisas para entender em que contexto sociocultural foi produzida a imagem. No quinto, colocar a imagem em diálogo com a produção artística do período em que ela foi produzida e período anterior, bem como posterior, a fim de estabelecer relações. E, no sexto momento, construir um texto verbal com o objetivo de registrar a leitura realizada do texto visual.
Buoro (2002) propõe que o ensino da história da arte a partir da leitura da imagem, ou seja, que a imagem deve ser apresentada aos alunos e explorada antes mesmo de se falar sobre o movimento artístico ao qual ela pertence e a biografia do artista, porque a imagem como signo está carregada de significação, por isso não deve servir apenas como ilustradora de um contexto.
Devido ao crescente número de informações visuais que recebemos cotidianamente, destacamos a importância do aprendizado dessa educação visual, onde o aluno aprenderá deste cedo à importância da sensibilização do olhar, ou seja, aprenderá que ler imagens e interpretá-las. Compreendendo quais as informações que elas nos trazem e o querem nos dizer.
A criança, antes mesmo de ser alfabetizada já faz Leitura de Imagem, reconhece diversos produtos através da linguagem visual. Isso mostra o quanto é importante trabalhar com a leitura de imagens, desde a Educação Infantil à Universidade, principalmente porque vivemos num mundo cercado por imagens.

Menina lendo, s/d

Helen Allingham (Inglaterra, 1848 ? 1926)

Uma atividade de leitura de imagem em um processo educacional não deve se ater a aplicação dos modelos prontos. Ao contrário, devemos analisá-los para entender o princípio articulatório da proposta metodológica e buscarmos a fundamentação de cada uma. Penso que devemos escolher e criar os caminhos (metodológicos) levando em consideração a pertinência em relação a cada obra ou conjunto de obras, a partir das dimensões intervalares que elas nos propiciam, visando ampliar neste diálogo (íntimo/intersticial entre autor/obra/professor-mediador/aluno-fruidor) a construção viva e significativa de conhecimento em arte e pela arte (RIZZI, s.d.).

Por isso, enquanto arte-educadores devemos defender a educação do olhar, a importância da arte na construção e reconstrução do conhecimento. As imagens não cumprem apenas a função de informar ou ilustrar, mas também de educar e produzir conhecimento.
Mencionando ainda Hernádez, (2000), as atividades que estiverem vinculadas ao conhecimento artístico estimulam muito além das habilidades manuais, mas também os sentidos, a mente, a identidade em relação às capacidades de discernir, valorizar, interpretar, compreender, representar e imaginar.





















CAPITULO II
2 LEITURA DE IMAGENS

Ler nas aulas de Artes Visuais consiste na observação e crítica de obras de arte, de objetos culturais ou de trabalhos realizados em classe, na leitura de imagens de diferentes gêneros como pinturas, fotografias, desenhos, charges, etc., na apreciação de atividades coletivas, como improvisações teatrais, coreografias, interpretação de canções e outras. Mas isso não representa que somente teremos que ler imagens ler em Artes é também ler textos verbais como biografias, resenhas, catálogos de exposição, críticas de produções cinematográficas e teatrais, textos sobre a história da arte, reportagens e outras fontes de informação.
Ao olhar uma obra de arte, assistir a um filme, observar uma pintura ou escultura, uma série de pensamentos podem ser criados pela mente, que a cada vez em que a atividade é repetida, podem ser diferentes. O ato de produzir pensamentos novos, a cada vez que ocorre uma observação, pode ser chamado de leitura de imagens.
[...] as imagens são mediadoras de valores culturais e contém metáforas nascidas da necessidade social de construir significados. Reconhecer essas metáforas e seu valor em diferentes culturas, assim como estabelecer as possibilidades de produzir outras, é uma das finalidades da educação para a compreensão da cultura visual (HERNÁNDEZ, 2000, p.133).

Para Hernández (2000) a proposta para organizar o ensino da compreensão da cultura visual centrado em obras de arte, temas e projetos. Tais propostas instigam o aluno a pesquisar, a refletir e a debater sobre arte registrando todo o processo no portfólio, o qual é constantemente retomado para a avaliação, assim traçarão uma trajetória ao longo das aulas, anexando a ele os temas que foram e serão tratados em sala de aula, não de forma descritiva, mas sim reflexiva.
Sua proposta centrada em obras vai da descrição (o que se vê) à interpretação (idéias e significados), partindo basicamente de três perguntas referentes a(s) obra(s) escolhida(s) para estudo que são: O que foi pintado pelo pintor? De que falam essas obras? O que podemos estudar e aprender a partir de uma pintura?
O meio urbano é o tema para as propostas, inserindo os elementos do meio "incorpora os elementos estéticos presentes, com a finalidade de ensinar a olhar esteticamente, aprender a utilizar procedimentos de representação interpretação do meio e valorizar do meio e valorizar as intervenções ambientais" (HERNANDEZ, 2000, p.196).
Para trabalhar os conceitos que ajudarão a interpretar o meio podem-se utilizar a fotografia, filmagem, slides, visita local e outros. Mas independente dos recursos utilizados o projeto tem como base o estudo das imagens.
Em relação à proposta centrada em projeto, os próprios alunos definem o conteúdo do mesmo. Apresentando atividades que incluem a turma toda, em grupo e também individuais. Os encontros são gravados e transcritos para que sempre possam retomar o que foi discutido para que possam dar os encaminhamentos futuros.
Já a avaliação acontece através de leitura de imagens selecionadas de modo que sustentem o assunto abordado.
As três propostas apresentadas por Hernández fazem conexões com outras disciplinas do currículo escolar e tem como apresentação final o portfólio individual do aluno e do professor. Neste são organizados todas as informações coletadas e as produções pessoais.

2.1 A leitura de imagens na educação

Atualmente em nossa sociedade contemporânea discute-se a necessidade de uma alfabetização artística. Pois a Arte é um processo educativo e cultural que contribui para o desenvolvimento integral dos alunos. Onde valoriza os aspectos intelectuais, morais e estéticos no ser humano.
Para que a Arte fizesse parte da educação e desenvolvimento de todos, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional efetivou sua presença na educação básica, através do Art. 26, §2º, que enfatiza que "o ensino da Arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos" (BRASIL, 1996).
Segundo Hernández (2000), defensor da presença do ensino de Arte na escola e da idéia de educar para a compreensão da cultura visual, para ele talvez falar da compreensão da cultura visual tornar-se-ia ridículo, no atual momento em que contam são as guerras políticas e econômicas do mundo das comunicações, (...) onde dominam as leis do mercado, poderia ser visto até como uma ousadia, porém:
A cultura visual não se torna um tema banal se prestarmos atenção as mudanças operadas na gestão dos museus, que atuam cada vez mais como espaços de consumo e, portanto, de produção de valores e produtos culturais (e de mercadotecnia) diversificados em função dos diferentes tipos de públicos potenciais. Além de serem espaços para produzir benefícios econômicos e reconhecimento social. Não estamos diante de uma disciplina marginal se olhar-mos as páginas econômicas dos jornais, onde se oferecem conselhos para investir no mercado da arte ou se estuda os resultados econômicos da indústria do desenho, da publicidade e do lazer audiovisual (HERNÁDEZ, 2000, p.27).

Quando somos inseridos no mundo escolar nos tornamos alfabetizados somente com números e palavras e, no entanto falta-nos algo mais para entendermos o mundo que está à nossa volta. Mundo esse que não é mais feito somente por estes dois códigos.
O homem sempre manipulou formas, cores, sons, movimentos, texturas, entre outros, e buscou algo mais do que simplesmente suprir as suas necessidades de sobrevivência. Ele sempre teve a intenção de se comunicar com os outros, utilizando diferentes linguagens. Esta maneira de pensar não é neutra, está dentro de uma cultura, de uma ideologia e supera o comum, transcende o real. É o criar que autentica o ser, altera o seu cotidiano.
As imagens possuem um forte apelo, impõem sua presença, é algo que contagia que nos chama a atenção. Assim, utilizamos constantemente a linguagem não verbal.
Estamos cercados por todos os lados por imagens, utilizadas em programas, propagandas, que nos seduzem e nos faz acreditar que são melhores para nós. Ditam a moda, as marcas, o modismo, comportamentos, o que devemos comer, beber ou consumir.
Na escola, o aluno está em constante contato com as imagens visuais, principalmente no livro didático, que constitui, na maioria das vezes, a única fonte de leitura do aluno.
Diante deste mundo, repleto por imagens pictóricas, a leitura também envolve ler imagens. Freire (1982) salienta que leitura é bem mais que decodificar palavras: é ler o mundo. Portanto, precisamente aprender a ler imagens. Pois assim como se aprende a ler, deve-se aprender a ver, sendo necessário entender, interpretar e operar com os códigos visuais.

2.2 A leitura de obra de arte

Muitos perguntam: é possível ler uma obra de arte? Sim! Como? Do mesmo jeito que aprendemos a ler, decodificar a linguagem verbal, ou seja, as letras, as palavras, frases, etc., precisamos aprender a ler uma obra de arte.


A leitura, 1950

Aldo Bonadei (Brasil, 1906-1974)
Óleo sobre tela

Se ler é atribuir significados a algum texto, no caso de obras artísticas, estamos falando de textos visuais, que são lidos a partir do momento que começamos a estabelecer relações entre as situações que nos são impostas pela nossa realidade e de nossa atuação frente a estas questões, na tentativa de compreendê-las e resolve-las. A leitura se torna real quando estabelecemos essas relações.
Robert Willian Ott, professor da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, desenvolveu a metodologia Olhando imagens (Image Watching) para estruturar a relação do apreciador com a obra de arte. Sua metodologia foi configurando-se em função dos desafios que enfrentava como professor responsável pela prática de ensino e estágio supervisionado no departamento de arte e educação de sua universidade com uma audiência heterogênea em relação ao conhecimento, vivências artísticas e museísticas (SARDELICH, 2006).
A proposta de leitura de Robert Ott constitui-se num sistema dinâmico, integrado e articulado de seis momentos ou categorias. O sistema é um ensino de arte desenvolvido para museus, porém não é rígido, podendo ser adaptados para a sala de aula.
Para Robert Ott quando os alunos têm contato com as obras originais são desafiados à observação; adquirem mais conhecimento que serão úteis na hora da produção e os que estão acostumados a observar arte em museus e galerias estão mais propensos à pesquisa artística que exerce um papel essencial em arte-educação.
A metodologia Olhando imagens (Image Watching) vem fornecer conceitos para a crítica voltada à produção artística relacionando o modo crítico e o criativo de aprender em arte-ducação. Apresenta o seguinte roteiro para treinar o olhar sobre obras de arte, podendo ser adaptado a atividades ligadas à cultura visual. O diferencial é fazer sempre a relação com a realidade do aluno. Segundo Robert Ott de inicio deve-se fazer um aquecimento ou sensibilização do olhar, apreciar a obra de arte. Aproveitando o que a imagem pode oferecer. Os olhos precisam percorrer o objeto de estudo com atenção. Dando um tempo para a obra se "hospedar" no cérebro. Após estabelece cinco categorias seqüências:
? Descrevendo é o momento em que a percepção é priorizada e a enumeração do que está sendo visto é efetuada. Descrevendo o que vêem.
? Analisando enfoca e desenvolve os aspectos conceituais da leitura da obra de arte. É hora de perceber os detalhes. Objetivando estimular o aluno a prestar atenção na linguagem visual, com seus elementos, texturas, dimensões, materiais, suportes e técnicas.
? Interpretando é o momento das respostas pessoais à obra de arte, objeto da apreciação, onde os alunos expressam suas próprias interpretações, sensações, emoções e idéias a partir do contato com a materialidade da obra, seu vocabulário, gramática e sintaxe.
? Fundamentando é o momento de trazer o conhecimento adicional disponível no campo da História da Arte. A intenção é de ampliação do conhecimento para conhecer mais sobre a vida do artista, sua carreira artística, seu processo de produção ou analisar recortes com reportagem sobre o artista ou a obra analisada, catálogos de exposição, enfim materiais que possa ampliar o conhecimento, textos de diversas áreas do conhecimento para pesquisa, bibliografia, sites para consulta, selecionando os textos de acordo com os interesses e o nível de conhecimento da classe.
? Revelando é o momento de culminância do processo de ensino da arte através da crítica de arte. Neste momento, o aluno tem a oportunidade de revelar, através do Fazer Artístico, o processo de construção de conhecimento por ele vivenciado. Com tantas novidades e aprendizados, a turma certamente estará estimulada a produzir. É hora criar, desenhar, escrever, fazer esculturas, colagens, etc.
Essa proposta de Robert Ott é seqüencial, mas responde as propostas contemporâneas do ensino de arte, e o ensino da arte contemporânea, com sua diversidade, coloca os professores de Arte diante de questões que os leva a refletir e rever seus conceitos sobre a arte.














3. PROJETO DE CURSO
3.1. Apresentação
Acredito na concepção do ser humano existencialista. Logo o ser humano é capaz de desenvolver suas habilidades.
Sou a favor da abordagem existencialista, na qual o professor é o mediador do saber e os alunos participam e dialogam a todo o momento na aula. Ou seja, existe uma troca.
O professor existencialista trabalha de forma doadora dos saberes e valoriza a qualidade de suas aulas deixando de lado a quantidade, consegue alcançar melhores resultados em suas avaliações e cumprindo melhor suas metas e alcançar seus objetivos. Ou seja, deve sempre esgotar as possibilidades para levar conhecimento para seus alunos. Se de uma forma não deu certo, tentemos de outra forma: "Como professor não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha" (FREIRE, 2002, p. 107).
Onde a tarefa do educador é fazer com que os alunos aprendam a pensar criativamente, onde serão capazes de formular e resolver problemas desconhecidos, interagindo com outras pessoas, sabendo fazer uso das novas e modernas formas de tecnologia para investigação de novos conhecimentos e para comunicação.
Sendo assim, desejo construir uma sociedade crítica, solidária, democrática e justa, respeitando os direitos uns dos outros e valorizando costumes e cultura.
O educador contemporâneo deve ser capaz de dialogar, com novas equipes de trabalho, e principalmente reinventar o espaço da aprendizagem, com novos recursos e metodologias. Não adianta insistir na didática do transmissor-receptor, isso é inútil.
Devemos como educadores tirar o aluno da posição passiva de espectador, e induzindo-los a pensar, transformando a informação recebida em conhecimento, possibilitando o educando a crescer social, psicologicamente e intelectualmente e não apenas ser apenas meros "respondedores de perguntas".
Acredito que a tarefa do professor é fazer com que os alunos aprendam a pensar criativamente, onde serão capazes de formular e resolver problemas desconhecidos, interagindo com outras pessoas, sabendo fazer uso das novas e modernas formas de tecnologia para investigação de novos conhecimentos e para comunicação. Onde possam desenvolver habilidades, procedimentos, recursos e estratégias para poder ensinar com autonomia. Por isso, a educação e o ensino não podem mais apenas, se fundamentar na repetição de respostas, mas sim ensinar na formulação de perguntas. Precisa-se de educandos que saibam perguntar, que estejam capacitados a pensar, que saibam expressar suas próprias respostas, a partir da sua reflexão, da observação e da ação. Pois infelizmente no passado a educação imobilizava e ocultava verdades.
Hoje a intenção é outra e o professor tem o dever educar seu aluno para que seja um individuo autônomo, construtor de sua história, que tome posição frente ao mundo, que nele se insira e procure através de suas ações transformarem o mundo. E citando Freire, buscando uma educação para a autonomia, educando para a transformação. Que veja o mundo como um tempo de possibilidades e não de determinismo. Que aceite tudo passivamente, como algo que não pode ser mudado. Não desejo depositar na educação toda carga de responsabilidade e dizer que ela será redentora de todos os problemas do mundo, todas as injustiças. Seria ingenuidade de minha parte e uma visão romantizada. Mas enquanto educadora posso procurar trabalhar a minha prática da melhor forma possível, fazendo com que o educando que ajudou a formar-se seja um cidadão critico, atuante, conhecedor de seus direitos e de seus deveres.











3.2. Projeto de Curso

TITULO: Leitura de Imagem
NÍVEL DE ENSINO: Ensino Fundamental II
CARGA HORÁRIA: 8 horas/aulas
EMENTA:

Aprender a ler imagens a partir da estratégia Olhando Imagens de Robert Ott.

OBJETIVOS
? Desenvolver no aluno do ensino fundamental a habilidade de descrever, analisar, interpretar e relacionar imagens a partir da estratégia Olhando Imagens de Robert Ott;
? Proporcionar aos alunos analise e leituras críticas a partir de imagens, possibilitando um fazer (expressão plástica) reflexivo;
? Desenvolver a capacidade de observar e registrar informações;
? Registrar dados coletados.

JUSTIFICATIVA

Somos diariamente rodeadas por imagens naturais ou produzidas: idéias, conceitos, histórias, comportamentos, slogans políticos, imagens vendidas pela mídia, notícias, produtos, publicidade, paisagens naturais e urbanas. Este discurso visual consciente ou inconscientemente faz parte do cotidiano e deveria ter maior atenção por parte da educação. A gramática visual: ler, interpretar e produzir imagens devem ser exercitados junto ao aprendizado da escrita e leitura de texto verbal.
Sendo assim, o aluno precisa ser instrumentalizado para o momento em que vivemos. A imagem constitui campo de aprendizagem e construção de significados pelo observador. A reflexão sobre ela e a percepção do seu sentido, bem como a apreciação crítica da arte desenvolvem a capacidade de ver reflexivamente imagens como as da televisão ou publicidade.
Daí a importância da leitura contextualizada das imagens para uma educação comprometida com o social. Desta forma os alunos serão levados a analisar os significados da imagem, os motivos que levaram à sua realização, como ela se insere na cultura da época, como é consumida pela sociedade e as técnicas utilizadas pelo autor. Passando a ser um leitor, intérprete e crítico de todas as imagens presentes em seu cotidiano.
Desta forma o Projeto de Curso utilizou o roteiro proposto de Robert Ott Olhando Imagens (Image Watching), vindo fornecer conceitos para a crítica voltada à produção artística relacionando o modo crítico e o criativo de aprender em arte-educação através das cinco categorias: descrever, analisar, interpretar, fundamentar e revelar. Onde todo conhecimento gerado a partir do desenvolvimento dessas categorias proporciona um sistema de critica de arte tanto conceitual, perceptivo quanto interpretativo.
METODOLOGIA
Exposição dialogada.

CONTEÚDOS


CONTEÚDOS



FACTUAIS


Dados biográficos dos artistas José Ferraz de Almeida Júnior, Anita Malfatti, Lasar Segall, Vincent Van Gogh, Pablo Picasso e de Pierre-Auguste Renoir.
CONCEITUAIS


Informações presentes nas obras como o ponto,
a linha,
a forma,
a direção,
o tom,
a cor,
a textura,
a dimensão,
a escala e
o movimento.
PROCEDIMENTAIS


Descrever imagens
Analisar imagens Interpretar imagens Fundamentar
Revelar
ATITUDINAIS


Compreensão, respeito às diferenças e desenvolver habilidade critica.



RECURSOS

Os recursos utilizados: multimídia (sala de informática e data show), imagens de obras de arte extraídas de livros, sites e outras publicações, folhas de papel em branco, lápis de cor, pincéis, tintas, revistas usadas, tesoura, cola, etc. E para a leitura e análise visual, imagens das Obras Moça com livro (1879) de José Ferraz de Almeida Júnior, Menina lendo (1930) de Anita Malfatti, Mário na rede (1930) de Lasar Segall, Homem lendo (1881) de Vincent Van Gogh,, La Lectur (A Leitura),1932 de Pablo Picasso e Les Deux Soeurs (As duas irmãs) 1889 de Pierre-Auguste Renoir.
As escolhas das obras para ser objeto de conhecimento deve-se ao fato de querer desenvolver um olhar comparativo ao aluno distinguindo as propriedades visuais dos textos e, ao mesmo tempo, relacionar distintas manifestações culturais, de diversas épocas, autores e contextos.

Moça com livro, 1879
José Ferraz de Almeida Júnior ( Brasil, 1850-1899)
Óleo sobre tela
Museu de Arte de São Paulo


Homem lendo, 1881

Vincent Van Gogh (Holanda 1853-1890)
Técnica mista: aquarela e carvão
Museu Kröller-Müller, Otterlo, Holanda




Les Deux Soeurs (As duas irmãs) 1889

Pierre-Auguste Renoir (1841-1919







Retrato de Mário de Andrade (1927)

Lasar Segall
Óleo sobre tela



Menina lendo, 1930

Anita Malfatti (Brasil 1889-1964)
Óleo sobre cartão 33 x 22 cm
Coleção Particular







La Lectur (A Leitura),1932

Pablo Picasso





ARTICULAÇÃO COM OUTRAS DISCIPLINAS OU ATIVIDADES
Considero que a mediação didática deve ocorrer com o objetivo de ampliar o repertório de leitura dos estudantes, promovendo leituras de textos de diferentes linguagens expressivas (escritos, visuais, corporais e sonoros, das variadas esferas artística, científica, jornalística), estimulando também comparações entre dois ou três textos, apreciando pinturas que retratem o mesmo tema, mas que sejam de diferentes artistas e épocas, relacionando uma fotografia a um texto escrito. Esses são exemplos de atividades que estimulam os alunos a identificar os elementos que se entrelaçam, que se opõem e que se confrontam, convidando-os a construir sentidos com base em relações intertextuais que fomentem um olhar plural. Ou seja, se compreendermos a leitura de imagens como conteúdos de todas as áreas do conhecimento, a mesma também será tarefa de todos os professores. Todas as áreas lidam com imagens, e os professores que realizam um trabalho com elas necessitam desenvolver competências para poder ensinar, levando em conta o caráter fortemente visual da experiência de aprendizagem da criança, do jovem ou do adulto nos dias de hoje.

AVALIAÇÃO

A avaliação deve ser vista "como acompanhante como informação para reformulação pedagógica, para continuidade do trabalho", para mudanças em direções mais adequadas, avaliação continuada, bem feita, com o olhar atento para novas informações que podem ser descobertas a cerca do aluno; e a partir daí, maximizar o que o aluno é capaz de fazer - obter toda a informação possível para ajudar o aluno". Os registros de avaliação refletem o desempenho do aluno num certo momento de seu aprendizado em face do momento anterior e nos revelam os avanços conseguidos e a direção a ser tomada para as novas conquistas. Devem-se considerar todos os registros de avaliação, sejam individuais ou da classe.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CADERNO PEDAGÓGICO. Disponível em: Acesso em: 04 mar. 2011.
Referencial de Expectativas para o Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora no Ciclo II do Ensino Fundamental: Artes. Disponível em: Acesso em: 04 mar. 2011.

RIZZI, Christina. Contemporaneidade (mas não onipotência) do Sistema de Leitura de Obra de Arte Image Watching. Boletim Arte na Escola. S.d. Disponível em: Acesso em 15 jan. 2011.











CRONOGRAMA
AULA CONTEÚDO COMPETÊNCIAS E HABILIDADES PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
1 ª aula O que é leitura de imagem. Compreender que imagem também se lê. Levantamento das concepções sobre o que os alunos entendem por leitura de imagem.

2 ª aula Apresentação da proposta e roteiro de Robert Ott: descrever, analisar, interpretar, fundamentar e revelar. Aprender a analisar, interpretar uma obra de arte de acordo com roteiro de Robert Ott. Ampliação do seu repertório imagético e da criticidade.



3 ª aula
Apresentação da Obras no Data Show: Moça com livro (1879) de José Ferraz de Almeida Júnior, Menina lendo (1930) de Anita Malfatti, Mário na rede (1930) de Lasar Segall, Homem lendo (1881) de Vincent Van Gogh,, La Lectur (A Leitura),1932 de Pablo Picasso e Les Deux Soeurs (As duas irmãs) 1889 de Pierre-Auguste Renoir. Descrevendo.
Desenvolver habilidade critica para a leitura de obras de arte (ver e olhar). Descrição: o aluno realiza um inventário oral ou escreve uma lista de tudo o que é perceptível e evidente na imagem.( O que o educando vê e percebe).
4 ª aula
Aspectos conceituais da analise formal: Analisando. Através de análise atribuir sentido a imagem observada. Questões levantadas pelo professor em folha relacionado a materiais, cores, formas, linhas, texturas e técnicas, onde o aluno verbalizar tudo o que vêem nas imagens, para que percebam os elementos formais.

5 ª aula
Interpretando a obra Construção de sentidos, à crítica e ao julgamento. Compreender o que se vê numa obra de arte. Realize um pequeno debate para explorar a interpretação das imagens.

6 ª aula
Contexto histórico da vida do autor e da obra escolhida: Fundamentando.

Sala de informática Aprenda a pesquisar e coletar informações. Ampliação de conhecimento. O educador oferece elementos para pesquisa da historia da arte: informações sobre a imagem, o artista e o percurso de seu trabalho.

7 ª aula
O fazer artístico: Revelando. Aprender a revelar-se através do fazer artístico. Produção pelo aluno de um trabalho empregando uma das linguagens: texto visual, desenho, pintura, escultura, vídeo, etc. (Uma nova obra).

8 ª aula Exposição dos trabalhos realizados pelos alunos Aprender a Interagir com o objeto de conhecimento, produzindo novas aprendizagens. Apresentação pelos alunos de conclusão referente às imagens pesquisadas.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o estudo que a pesquisa bibliográfica possibilitou, concluo que como se aprende a ler, também aprender-se a ver, dando sentido ao que se olha, ao que se vê. Aprendendo a entender, interpretar e operar com os códigos visuais. A leitura, como já foi ressaltado, é um processo complexo que envolve não apenas a palavra, mas a imagem e os aspectos mais diversos do mundo. Como Freire (1982) aponta: leitura é bem mais que decodificar palavras: é ler o mundo. E diante de um mundo repleto de mensagens pictóricas, a leitura envolve ler imagens. Aprender a ler e produzir imagens é uma necessidade de compreensão do mundo, de suas modificações e também do fazer artístico. Além de ser um desafio enriquecedor, onde se aprende a não somente valorizar o fazer artístico, mas a compreender o olhar que vai além dos olhos, atribuindo sentido, significado as imagens que esta lendo.
Este ato de observar, ler imagens proporciona infinitas leituras e interpretações que variam de acordo com a compreensão de cada leitor, das experiências que cada um já viveu, da imaginação, das recordações passadas, ou seja, depende da bagagem de vida de cada um. Neste sentido, a imagem passa a ser vista como importante elemento de informação e quando assim explorada abre espaço para o estudo de seu potencial pedagógico, ou seja, podendo ser utilizada no processo de comunicação, além de contribuir para formação do próprio educando para conviver com esse "bombardeio de imagens" cotidianas. Equivocadamente há quem acredite que não necessitamos de conhecimento formal para realizarmos uma leitura de imagem, mas sem esse conhecimento a leitura torna-se superficial. Desta forma a leitura de imagem dentro do contexto escolar pode contribuir para ampliar o repertório imagético e o conhecimento em arte. Pois a imagem também é uma forma de conhecer e representar o mundo, e como as palavras produzir idéias.
Portanto, a proposta adotada para realização da leitura de imagem no projeto de Curso foi a Metodologia de Robert Ott Olhando Imagens (Image Watching). Sua metodologia mostra de forma bem simples como é possível dialogar com a obra de arte. Para ele, quando os alunos têm contato com as obras originais são desafiados à observação, adquirindo mais conhecimento que serão úteis na hora da produção. Mesmo sendo um sistema de ensino de arte desenvolvido para museus, apresenta a flexibilidade, podendo ser adaptado para a sala de aula, tornando a leitura de imagem mais significativa. Dentro deste contexto, esta complementada o estudo da Leitura de Imagens no contexto escolar. A partir do momento em que o aluno observa uma imagem ele estará descobrindo as características, as técnicas e pode até deduzir os motivos que levaram aquele artista a tal criação, é o público que valoriza e atribui significados as obras, habilitar uma criança a tal conhecimento faz com que a arte nunca perca seus apreciadores. Oportunizando aos alunos a possibilidade de externar seus pensamentos, suas interpretações e inquietações, levando-os a um olhar mais atento. Assim sendo a leitura imagem traz uma importante contribuição no processo de desenvolvimento para uma leitura critica do mundo.








REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC / SEF. 1997. p. 130.

BUORO, Anamélia Bueno. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. Disponível em: Acesso em 20 jan. 2011.
CADERNO PEDAGÓGICO. Disponível em: Acesso em: 04 mar. 2011.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Disponível em: Acesso em: 03 jan. 2011.

HERNANDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores. Estudos Avançados, São Paulo, v 15, nº. 42, 2001. Disponível em Acesso em 15 01 2011.

____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e terra, 1996.

FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM AMERICANO. Pinturas rupestres. s.d. Disponível em Acesso em 07 out. 2009.

FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO. Guia do Professor. s.d. Disponível em: http://www.iberecamargo.org.br/content/escola/guia.asp Acesso em 25 set. 2009.

MARTINS,Maria Helena . O que é Leitura. São Paulo: Brasiliense, 1984.

RIZZI, Christina. Contemporaneidade (mas não onipotência) do Sistema de Leitura de Obra de Arte Image Watching. Boletim Arte na Escola. S.d. Disponível em: Acesso em 25 set. 2009.

SARDELICH, Maria Emilia. Leitura de imagens, cultura visual e prática educativa. Caderno de Pesquisa. Vol.36 nº 128. São Paulo Maio/Agosto 2006. Disponível em Acesso em 02 out. 2009.

TIBURI, Márcia. Aprender a pensar é descobrir o olhar. Disponível em Acesso em 02 out. 2009.








Autor: Vanderleia Moreira Barrozo


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