O Casarão Da Sexta Rua



Tudo aconteceu em 2003 quando chegamos de Londrina, do Paraná, para morar na cidade de Itaituba, no Pará. Tínhamos uma casa já esperando pela nossa mudança, na Sexta Rua do Jardim das Araras. Era uma casa muito grande, cercada de jambeiros e mangueiras, sem nenhum conforto. Tinha quatro salas enormes, cinco quartos, seis banheiros, uma cozinha gigantesca e um grande quintal com muito lixo, muitos garrafas de diferentes bebidas, taças quebradas, móveis velhos de ferro retorcidos, tocos de vela, chumaços de cabelos, espelhos trincados e fitas de variadas cores.
Parte da frente do casarão, estava ainda em construção, a qual soltava areia e detritos de cimento para dentro da casa, ficando impossível mantê-la limpa. Além das partes da casa sem terminar, tinha material de construção em um lote vazio ao lado do casarão, com uma vila de quartos e apartamentos para alugar, no estilo de um motel. A construção, pela altura do teto, pelo estilo e localização dos quartos dava a impressão que ali deveria ter sido um hotel ou coisa semelhante, com bar, salão de dança e dormitórios.
O que sabemos ao certo é que a casa era assombrada em todos os sentidos: tinha sombras do passado, sombras das árvores, sombras nas divisões dos quartos e salas, vultos de pessoas e animais apareciam à noite, além de portas e janelas batendo ao menor sinal de vento. E o que é pior: ouviam-se gritos, choro e ranger de dentes!
Para se ter uma idéia do tamanho da casa, basta imaginar quatro famílias que estavam se alojando ali com suas respectivas mudanças, sem ocupar todos os cômodos, ou seja, cada família reservou para si um quarto, uma sala e um banheiro, sobrando um quarto e dois banheiros. Como a cozinha também era muito grande, tendo em vista ter sido construída para uma empresa, segundo os moradores da vila, todos nós colocamos nossos fogões, geladeiras, mesas com cadeiras, máquinas de lavar e armários de louças dentro dela, e ainda sobrava espaço.
Durante três meses esperamos que o proprietário da casa terminasse a construção, mas foi em vão.O muro da parte da frente do casarão, o piso da sala de estar, parte da cozinha e metade dos banheiros estava sem terminar. Havia algo inexplicável na construção: quando terminava um dos banheiros, o reboco do outro acabava de cair. Quando os pedreiros levantavam uma parede dividindo as salas, parte do muro de fora começava a ruir. Começamos a pensar que havia uma maldição, uma má sorte, algo sobrenatural, coisa de "alma penada".
Assim, dia-a-dia, cada família foi saindo com sua mudança para morar em outros lugares. Das quatro famílias que moraram inicialmente no casarão da Sexta Rua, a minha por ser a mais corajosa e ter experiência em requerer "alma do outro mundo", foi a última a deixar o casarão. Mas, só depois de fazer um pacto com o fantasma que gerenciava o casarão: teríamos que desocupá-lo dali a um mês e, enquanto isso, teríamos que chamar um padre, um pastor e uma benzedeira para fazer orações, em dias alternados para amenizar a dor de antigos moradores que faleceram no terreno onde construíram aquela casa. O fantasma, na verdade, nunca apareceu de fato. Somente nos sonhos dos moradores do bairro e no medo dos que mudaram naquela casa.
Depois de tanta reza, não ouvíamos mais gritos nem choro, mesmo assim cumprimos o combinado: mudamos para outro lugar no tempo previsto.

Vocabulário:

Itaituba: cidade da região do Tapajós, no sudoeste do Pará.

Paraná: Estado do Sul do Brasil.

Jardim das Araras: Bairro da cidade de Itaituba, famoso pela presença de urubus.

Sexta Rua: denominação da rua número 6, a partir da cidade alta de Itaituba.







Autor: Djalmira Sá Almeida


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