Construção De Identidades Num Processo De Alfabetização



INTRODUÇÃO

Este trabalho é o relato de uma experiência de Estágio em Grupos e Instituições, da Universidade Paulista -UNIP/SJC, realizado numa Construtora Civil de São José dos Campos, São Paulo. O objetivo deste trabalho foi construir identidades, através do processo de alfabetização, de adultos oriundos do nordeste e residentes no sudeste do Brasil.

Uma idéia fundamental para este trabalho, está inserida no desenvolvimento desta configuração conceitual: Sociedade//trabalho/educação/identidade/sujeito/subjetividade. Vários autores comoErickson (1978), Paulo Freire (1979), Ciampa (1983), Codo (1984), (Morin (1996), Vygostky (1998), Antunes (2002) e Guirado (2007) trataram deste arcabouço teórico organizando estilos de pensar produzidos singularmente, constitutivo de sua história e de si próprio como sujeito.

Na nossa história brasileira, o conceito de sociedade colonial, nos imprime uma marca que o ponto de decisão econômico está dentro de uma outra sociedade, o que a configura como periférica e não reflexiva.

Segundo Paulo Freire (1979, p.34):

A sociedade fechada se caracteriza pela conservação do status ou privilégio e por desenvolver todo um sistema educacional para manter este status. Estas sociedades não são tecnológicas, são servis. (...) Consideram o trabalho manual degradante; os intelectuais são dignos e os que trabalham com as mãos são indignos. (...) Também se caracterizam pelo analfabetismo e pelo desinteresse pela educação básica dos adultos.

Numa sociedade capitalista, como a nossa, conjunturas sociais e econômicas interferem na formação do homem apto para vida, ou seja, é aquele que cumpre os critérios exigido para a conservação e manutenção do status quo, produzindo um homem condicionado.

Para Paulo Freire (1979, p.34):

Todo esse mundo histórico-cultural, produto da práxis humana, se volta sobre o homem, condicionado-o. Criado por ele, o homem não pode, sem dúvida fugir dele. Não pode fugir do condicionamento de sua própria produção.

Para Engels, citado por Codo (1984), o enfoque histórico está relacionado com a sobrevivência, as formas de produção, as relações sociais e o papel do homem são estabelecidos permeando literalmente toda a atividade que transforma e é transformado pelo homem numa relação dialética.

O trabalho apresenta na divisão social o valor de uso e de troca para a sobrevivência, se o trabalho vale apenas pelas horas trabalhadas, altera-se o vínculo trabalho-satisfação.

A atividade laborativa, não é apenas uma mercadoria, mas é a única capaz de produzir excedente, por ser o único valor de uso capaz de criar novos valores, sendo assim, o homem consumi e cria trabalho. As necessidades do homem submetidas perde sua especificidade e se transforma em valor abstrato, confundindo-se com a moeda que representa o homem. (Codo, 1984)

Com o advento do capitalismo, o desenvolvimento do maquinário fez aumentar o rendimento, com diminuição do tempo gasto por unidade do produto, sem reduzir o tempo de trabalho. O capital rouba do homem seus gestos e movimentos, esquadrinhando e expropriando a relação homem-transformação-trabalho.

Na tentativa de transformar nossa história,nos apoiamos no conceito de sociedade em transição, ou seja, uma sociedade que está em constante mudança, onde o amanhã se cria ontem, através de um hoje.

A sociedade institui um modo de viver característico, no entanto, a complexidade das relações humanas não permite a estandartização, pois a estrutura social é dinâmica e modifica a organização das relações. Para Morin (1994, p.48):

A sociedade é, sem dúvida, produto de interações entre indivíduos. Essas interações, por sua vez, criam uma organização que tem qualidades próprias, em particular a linguagem e a cultura. E nessas qualidades retroatuamsobre os indivíduos desde que vêm ao mundo. Isto significa que os indivíduos produzem a sociedade, que produz os indivíduos.

Nessa rede de interações, as produções, as construções, as estruturas e as funções dizem da dinâmica dos elementos que se articulam nas mediações sociais, na constituição configuracional da subjetividade, criando um sujeito situado num contexto específico, produto e produtor de sua própria história. Temos que saber o que fomos e o que somos, para saber o que seremos.

Segundo Antunes (2002), o trabalho constitui-se como fonte originária, primária, de realização do ser social protoforma da atividade humana, fundamento ontológico básico da omnilateralidade humana.

Para tal, a esfera políticada identidade do homem na sociedade precisa ser construída pela realização dos projetos coerentes com seus propósitos, feitos coletivamente e de forma democrática, através da atividade laborativa.

Já para Luckás, citado por Antunes (2002, p.136):

O trabalho tem na sua natureza ontológica um caráter transitório, uma inter-relação entre homem e a natureza. Constitui-se como categoria intermediária que possibilita o salto ontológico das formas pré-humanas para o ser social. O trabalho tanto em sua gênese como no desenvolvimento, ou seja, no seu ir-sendo ou em seu vir-a-ser tem uma intenção voltada para o processo da humanização do homem em seu sentido amplo.

Neste processo de humanização, faz-se necessário que, o homem não seja nem escravo e nem senhor, mas ele mesmo, um sobrevivente, um inventor da sua própria vida.

ParaENGELS In: CODO (1984, p.151) disse:

"(...) o único fato psicológico é que o homem precisa sobreviver; (...) Submeter-se ao mundo como um simples mortal, projetar e recriar o mundo à sua imagem e semelhança, como um Deus".

Ser mortal, construindo diferentes projetos, recriando o mundo e a si próprio a imagem e semelhança do Ideal, fazendo o melhor possível de Si, levando em consideração que o homem é um ser de relações e portanto precisa estar situado e temporalizado.

Segundo Paulo Freire (1979, p.63):

Todas essas características das relações que o homem trava com e

na sua realidade fazem dessas relações algo conseqüente. Na verdade não se esgota na mera passividade. Criando e recriando, integrando-se nas condições de seu contexto, respondendo aos desafios, auto-objetivando-se, discernindo, o homem vai se lançando no domínio que lhe é exclusivo, o da história e da cultura.

Para atingireste domínio, o da história e da cultura, o homem faz escolhas que o inscreverá numa categorização específica em virtude das exigências societais no processo de civilização. Não há educação fora das sociedades humanas. (FREIRE, 1979, p.61).

Neste trabalho, a educação, especificamente a alfabetização de adultos é um instrumento que transforma a dor de não saber num ato de criação. Sendo assim, alfabetizar é um processo que implica em auto-formação, em construção de uma nova identidade.

O modo como o sujeito se desenha, o lugar e o movimento de construção/ reconstrução e desconstrução dos sentidos, institui múltiplas possibilidades de subjetividade que se configura nos contornos de uma identidade.

Para Ciampa (1983,p.61):

"A identidade é contraditória, múltipla e mutável, no entanto única. A identidade é movimento, é transformação, é desenvolvimento, é sermos o Um e o Outro, para que cheguemos a ser Um, numa infindável transformação".

A noção de identidade inscreve-se na diferenciação e na igualdade, pois o conhecimento de si é dado pelo conhecimento recíproco dos indivíduos identificados, através de um determinado grupo social que existe objetivamente, com sua história, suas tradições, suas normas e seus interesses.

A identidade coloca-se de maneira diferente dependendo do tipo de sociedade. Há especificidades dentro de um mesmo modo de produção, ligadas à ordem simbólica. Na sociedade capitalista, o caráter temporal, da identidade, fica restrito ao modo de produção num momento originário, em que o indivíduo é algo pelo seu fazer e, desde que esta identificação existe pela posição dada ao ser social, torna-se um Ser posto.

A identidade do sujeito é pressuposta, e dessa forma a cada momento re-posta. Configura-se na relação com os outros, que identificam o indivíduo como ele mesmo. Desse modo, objetifica-se pelo caráter temporal, formalmente atribuído à identidade, o que surge como parte da encarnação da totalidade dele, confundindo a representação diante dos outros com a expressão de totalidade do indivíduo.

Segundo Erickson, citado por Gallatin (1978, p.187):

"A identidade configura-se por um sentido consciente da singularidade individual, um esforço inconsciente para manter a continuidade da experiência e uma solidariedade para com os ideais do grupo".

A identidade vai além de um processo de identificação no decorrer da construção do eu e o desenvolvimento da identidade pessoal que está vinculado à própria história do sujeito. A identidade é processualmente constituída na personalidade.

A articulação das possibilidades e a sustentação do sentido fazem com queos indivíduos, configurem-se na busca de vir a ser um sujeito. A noção do sujeito, como afirma o autor citado, constrói-se a partir de um pensamento complexo, ou seja, pela capacidade de unir conceitos que se rechaçam mutuamente.

Já para Morin (1996, p. 45), a noção de sujeito:

"É contravertida, pensando a contra-versão a partir da contra-adição, ou seja, é a justaposição resultante da cognição, do afetivo, da linguagem, mas a articulação destes na possibilidade de sustentar a posição do sujeito, ser alguém pressupõe tornar-se alguém, construir-se".

Para Vygostky, é na interação humana que ocorre a construção do sujeito em situações concretas de vida, e no processo de constituição articulam-se as necessidades, o afeto, a cognição, a volição e a historicidade como indissociáveis do processo de subjetivação.

A constituição do sujeito e da subjetividade como produções históricas é resultado de um processo de constituição social do indivíduo através das mediações sociais com a realidade objetiva. O sujeito concreto,é constituído e constituinte nas e das relações sociais compreendido aqui como psíquico e apoiado conceitualmente em Guirado (2007, p. 28):

"Um sujeito do e no discurso. Singular (...), como se pode esboçar em pontos de estofo de representações e afetos, nas malhas ou nas redes das relações que se instituem concretamente. Sujeito que só pode dizer psíquico porque institucional".

Trata-se aqui parafraseando Guirado (1987), um "sujeito-posição", concreto, que se marca pelo dizer, a partir de um lugar singular nas tramas relacionais, onde o movimento de construção/reconstrução e desconstrução dos sentidos suportam a posição de sujeito, legitimam as posições subjetivas e as práticas instituídas reeditando os lugares.

METODOLOGIA

O método freireano foi criado a partir de uma visão de mundo, e de uma perspectiva singular do ser humano. Partindo das necessidades populares, do projeto de vida das pessoas. Nasceu de uma proposta libertadora, onde cada palavra tem sua importância na construção do conhecimento, colocando educador e educando sempre em posição simétrica.

A metodologia utilizada para intervenção institucional foi o método de Paulo Freire através de uma oficina de escrita e no desenvolvimento a análise dos resultados fundamentou-se na análise institucional do discurso.

Os sujeitos que participaram destaexperiência foram cinco sujeitos, com idade entre 17 e 50 anos e grau de escolaridade desconhecido, portanto analfabetos, alguns nunca escreveram e outros não se lembravam como escrever.

O procedimento adotado apoiou-se nas etapa do método freireano: situações codificantes; levantamento do universo vocabular; seleção de palavras geradoras; criação de situações sociológicas; fichas auxiliares e ampliação-ficha de descoberta.

DESENVOLVIMENTO

Fizeram parte desta experiência, trabalhadores da obra civil, que lutam pelo pão de cada dia, com o suor de seus corpos, olhares cansados e calejados pelo trabalho pesado, dias que não se agüentavam, procurando um motivo para ficar e continuar, estavam lá na unidade escolar, a espera, de aprendizagem.

Como disse Paulo Freire, a educação não pode ser imposta, muito menos como forma de doação, mais tem que vir de dentro para fora, movimento este que sempre deverá ser realizado pelo próprio educando.

Estes trabalhadores são personagens de suas próprias histórias de coragem, fé, resistência e causa pela qual Paulo Freire ficou conhecido e defendeu até seus últimos dias. A reconstrução do mundo lido tem a mágica função de emancipar e fazer submergir, é um ato criador, de ensinar a pensar e encontrar um mundo que antes parecia inabitável, o mundo do conhecimento e reconhecimento, acima de tudo como cidadão.

Durante a realização das etapas do método, os educandos apareceram com realidades semelhantes e ao mesmo tempo singulares, pois cada um conduziu sua vida de maneira própria.

As histórias de vidas, saberes, conhecimentos, cultura, valores, comportamentos estavam sempre presentes e serviam de conteúdo para as aulas, pois são seres no mundo e o educador não pode estar alheio a esta realidade se quiser resgatar e transmitir experiências.

Situações Codificantes

Durante o desenvolvimento do projeto na Construtora, as etapas aconteceram de forma definidas. Inicialmente, os educandos eram extremamente tímidos, apenas respondiam de cabeça baixa, pois a vergonha de não saber era nítida e realmente estavam ali por uma solicitação da Direção.

Nosso primeiro encontro foi de apresentação no canteiro de obras, eles estavam ansiosos por uma proposta formalizada de aprendizagem. Cansados e desconfiados, esperavam por alguém que viesse lhes oferecer um certificado que atestasse que estavam aprendendo a ler e a escrever.

Para eles, era o que a empresa estava oferecendo e seria suficiente, ter o status quo, de quem lê e escreve.No entanto, não era essa a nossa causa,pois dentro da proposta de Paulo Freire, o certificado era algo que menos importava.

Iniciava aqui o processo de conscientização, o diálogo posto entre ter o título de leitor/escritor e ser leitor/escritor, ou seja, autor da própria história. Poderíamos propor a essas pessoas que estaríamos juntos para aprender uns com os outros e poderíamos buscar informações de como conseguir certificar-se da alfabetização.

O projeto foi realizado de imediatocom o diálogo de amor, humildade, esperança, fé e confiança. Com o estilo dialético de pensar, não separando a teoria e prática, mais sim trabalhando o princípio da relação entre o conhecimento e o conhecedor, constituindo uma relação de confiança.

Percebemos que o engajamento pela educação modificou o movimento desses sujeitos, pois seus valores e seus reconhecimentos foram reconstruídos. Esta é uma das situações dos debates:

"Antes eu ficava com inveja de quem era rico,

hoje fico de quem sabe ler e escrever."

Você já parou para pençar como eu estou feliz ir você sente o mesmo. Só

converçando para saber como você pença".

Levantamento do universo vocabular

Descobrimos o universo vocabular, levantando palavras conhecidas e inseridas no contexto social no qual o grupo se encontra. E neste trabalho, foi possível perceber que muitas vezes, as palavras deixam de ter um sentido de formação da linguagem e transmitem desejos, frustrações, desilusões, esperanças e desejos de participação.

Vejamos algumas situações:

"Estudar no meu ponto de vista é muito cansativo mas não pode dezistir tem que estudar

bastante".

 

"olhe na minha ifasia não tive condiçaos de estudar mas nunca é tarde para a preder quando a gente quer mudar".

"Eu no tempo de criança ate tive oportunidade de estudar mass não dei valor pençava quenunca ia presizar os meus pás senpre falava un dia voce vai presizar do Estudo eu levava tudo enbrincadeira mas não demorou muito untenpo parou a minha mocidade também: Sai pelo mundo a perqura de enprego: mas nunca encontrei inprego bon porque não tenholeitura: i ogi estou pagando o presso : eu tenho vontade de aprender".

"Ogi estou contente por estar na escola i tenho fé que vou consegir aprender a ler eescrever. Sem leitura nos não consegimos nada".

Percebemos na análise institucional de discurso que estudar requer um esforço, uma perseverança, uma posição ativa, um desejo de participação do sujeito. A necessidade engendra um movimento de criação e recriação,aprendemos desde que almejamos mudanças.

Seleção das palavras geradoras

Após a capacitação de elementos culturais foi trabalhado a segunda etapa, dandosignificação aos temas levantados fazendo a substituição de uma visão inicial considerada ingênua para uma visão crítica e social, absorvendo da própria cultura subsídios para a iniciação da escrita e leitura através da decomposição dos fonemas.

Embora os educandos não tenham realizado a ficha de decomposição fonética conforme ensinamos no método, respeitamos o modo como eles compreenderam e puderam demonstrar a suas habilidades com as palavras.

No terceiro encontro, indo três vezes por semana a Construtora, era perceptível a desinibição dos educandos. Neste dia a palavra geradora escolhida por eles, foi estressada, lembrando diretamente o cansaço do dia, diziam eles: "dia de trabalho duro","segunda-feira pesada", "fizemos a caixa d'água, guardamos material, armazenamos mil tijolos.."Um dos educandos, reclamou que trabalhou sozinho, pois o ajudante havia faltado, tinha sido muito cansativo.

Acolher essa realidade, faz parte da leitura de mundo traduzida por Paulo Freire. É a teoria do respeito, da identificação e principalmente do espaço aberto para ouvir e partilhar, tornando o diálogo a base do conhecimento.

Dessa palavra geradora, foi lembrado o cansaço e o mau-humor que provoca, gerando conflitos...

ESTRESSADO

A-E-I-O-U

TA-TE-TI-TO-TU

SA-SE-SI-SO-SU

DA-DE-DI-DO-DU

TRA-TRE-TRI-TRO-TRU

ES

TRE

SSA

DO

Palavras geradas: TRABALHO, TRIGO,TROCA

TRUCO, TRCO

CANSADO

CA-CE-CI-CO-CU

SA-SE-SI-SO-SU

DA-DE-DI-DO-DU

Palavras geradas: COCO, CALÇADO, DANCETERIA, SUSESO, SOLIDO, DIC, DULCI, DOCI.

Através dos temas geradores, foi surgindo a essência de cada um, presente no local, inclusive a nossa. Os temas geradores: estressado e cansado surgiram como atributo daquele contexto e condição daqueles sujeitos.

Destes temas surgiram palavras significativas: estressado-trabalho-trigo-troca-truco-trco, e ainda, cansado-danceteria-suceso-solido. Nestas associações, é possível demonstraro alcance subjetivo do processo de alfabetização, a ultrapassagem simbólica da linguagem formal. O estresse, é o excesso de atividade que solidifica nos corpos o cansaço,sendo a superação desta condição, o sucesso.

Paulo Freire em suas andanças tinha o costume de comparar os seres humanos com as plantas que em sua necessidade de crescer procuram o sol, enquanto nós procuramos o saber. E essas palavras sempre ecoaram naquele espaço, as paredes se erguendo aos poucos do lado defora, enquanto do lado de dentro, erguiam-se a dignidade e a construção de valores, desejos de aprender mais.

Criação de situações sociológicas

O contexto socialaflorou na problematização e na tematização. Eles conseguiam falar do seu dia-a-dia cansativo, da enorme saudade da terra de origem e dos familiares e amigos que ficaram distantes.

Um dos educandos, contou com felicidade nos olhos da viagem que fez no ano passado à Paraíba. Depois de dez anos de saudade, pode rever seus pais e familiares. Disse ele:"Custou caro, mais valeu a pena", disse ele. Eis uma experiência matemáticavivida e realizada com muitos cálculos, débitos e muito acréscimo de felicidade.

Paulo Freire nos ensina a observar e considerar a relação prática com a experiência vivida para não correr o risco de fornecer conteúdos específicos e pré-determinados. É a teoria do conhecimento que liberta e estimula a crescer, o método freireano orienta e conduz a alfabetização re-significando o ato do aprender e ensinar.

Do ponto de vista libertador e democrático onde se baseia a metodologia de Paulo Freire, essas pessoas mais do que ninguém, conhecem perfeitamente o sentido de cada uma das palavras escritas e retratam com muita sutileza neste espaço o que eles sentem.

"Pinherinho e uma ocupação organizado conecido en todo teritorio nacionali enternacional aqui nos teno sete mil pecoa ten muita genecoragoso mais

tanben ten muito cabra froxo tem omen mulher tem ome que des não vale

uma mulher ten ome que sides ser braboquando estar com um copo na mão

cheio de pinga ele e um valentão mas na ora qui u pega ele entra dentro do

baraco tranca o portão e fica dentro e coloca u codeado pra fora".

Inicialmente é necessário fazer o reconhecimento da localização, "Pinherinho" é o lugar onde ele mora, designado de ocupação, conhecido em todo território nacional e internacional.

Em seguida conta sobre a coragem dos homens que vivem lá, marcando que os homens que não são corajosos não valem uma mulher. Neste texto o educando afirma sua posição de homem identificado ao atributo corajoso e isto equivalendo mais que uma mulher. Faz-se necessário, apreender este contexto como construção das e nas inter-relações, criação do próprio sujeito.

Os homens sobrepujam as máquinas de manutenção do sistema capitalista revelam seus sentimentos e suas dores. Suas mãos calejadas pelo trabalho duro conseguem expressar no papel o sentimento reprimido de nordestino corajoso que saiu da sua terra em busca de melhorias, não só para si, mais para toda a família.

Fichas auxiliares

Como dizia Paulo Freire, "educar-se é impregnar de sentido cada expressão do cotidiano". Através da reflexão, do buscar saber da necessidade de migrar para outro Estado em busca da sobrevivência, descobre-se que a dor da saudade é causada pela política desigual, pelo sistema excludente, que obriga o cidadão nordestino abandonar seu lar para não morrer da seca e da forme, dar-se conta disso, é dar liberdade à própria consciência.

Aos poucos, os educandos vão criando autonomia e se acostumando com a prática dialógica transformadora. Timidamente, foram surgindo as primeiras frases, desvendadas através dos fonemas trabalhados, partindo dos temas geradores, através dos diálogos, eles foramexpressando a dor da saudade, a tristeza por estar longe de quem se ama, o medo do futuro, a preocupação com a família e com os problemas, sendo possível perceber nesse processo a construção participativa. Para ilustrar as situações, seguem as frases:

 

"A noite e muito bela para a gente dromir quando a gente descança muito e gostosu. Agora

quando a gente estar com problema o fica ruim".

"Saudade, sair de casa longe da mãe pai família causa dor dos amigos – passou o tempo que lembra da infância brincar".

 

As frases escritas desvelam os dois lados da noite, o efeito dobradiça, bela para dormir gostoso e por outro lado, ruim quando estamos com problema, ou seja, não descansamos a noite quando estamos com problemas, ficamos preocupados.

A saudade, uma palavra doce que traduz tanto amargor, saudade como se fosse espinho beijando a flor. Este poema expressa a dor contida na palavra saudade, a dor de deixar as pessoas que amamos nos traz as reminiscências da infância.

Ampliação- ficha de descoberta

Aos poucos, eles foram conseguindo fazer síntese das palavras trabalhadas e a partir daí deram início a formação de novas palavras, sempre se remetendo a palavra geradora.

"Terra é tudo é sobrevivência porque tiramos alimento, a plantas minério e vida É importante lugar onde nasceu É importante".

Diante do exposto, houve uma mudança de percepção,na problematização de uma realidade concreta, nas suas contradições, implicando um novo enfrentamento do homem com sua realidade.O homem é esse que deve atuar, pensar, crescer, transformar e não se adaptar a uma realidade desumaniazante, essa é a opção de um trabalhador social que quer mudança.

Conclusão

Concluímos que o processo de alfabetização é mediador da inscrição subjetiva na construção da identidade e do laço social. Este trabalho acima de tudo conseguiu mostrar que o trabalho de Paulo Freire subsidiou novas experiências em favor dos indivíduos; unindo em um ato indissolúvel a questão da política com o ato pedagógico, mostrando-nos e ensinando-nos a possibilidade de construção de uma sociedade mais justa, solidária e principalmente democrática.


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Autor: Sirléia; Natal da Silva;


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