FAUNA URBANA



Fauna Urbana

Antônio Padilha de Carvalho

Para viver neste planeta necessário se faz o jogo de cintura, a malandragem do carioca, o jeitinho nacional, a maneira de ser do Cuiabano. Existe um código a ser seguido, mantido, perseguido, ou inexiste lei que nos ensina a viver?

Corremos de um lado para o outro e, quanto mais alcançamos, menos temos, mais ansiamos, menos somos, mais desejamos, menos compreendemos.

Os janeiros sempre trazem novas páginas para que possamos escrever uma nova história, deixando de lado as estórias inúteis que nos embalaram, lembrando-nos que a música ainda é possível, quando a idéia é útil.

A lei proíbe enterrar músicos de poucos méritos na sarjeta, eles já vivem lá, atolados até o pescoço, como gente usuária de drogas. Drogas que aprisionam em nome da liberdade. Gente que usa droga são imprevisíveis, são animais, por opção, agem por instinto. A substância nociva é a sua razão de ser. Depois que entram, não conseguem sair, perdem a opção. São como peixes, não vivem sem água.

Gente doente que sonham com cachoeira de cervejas, chuvas de baseados, tortas de bagulhos, entulhos, cadeados liquefeitos, latas, garrafas, litros, curotinhos de pinga, uísque de vinte anos, rótulos emblemáticos com desenhos fantasiosos, embalagens que embalam ilusões doentias e funestas. Como dizia Salomão: Tudo ilusão;

As mães, os pais, sabem de tudo! Fingem para protegerem-se. Para proteger a cria, criam redomas intransponíveis, proteção com amparos materiais, visões distorcidas que forçam costas aos problemas, achando que costas dadas resolvem as questões postas.

As mães, os pais, são esponjas, sugam tudo! Acreditam que vivem do lado certo do inferno, suas crias são máscaras mortuárias ambulantes, desmaiam, vomitam, não trabalham, não estudam, acham tudo um saco e participam de passeatas em favor da liberdade. Desprezam tudo, para investir tudo na desgraça que grassa de graça num montão de fumaça. Não sabem o que querem.

Começou colocando fogo num simples cigarro da Souza Cruz, bebia alguns goles daquela que desce redondo, acendeu vários fininhos de maconha, maconha medicinal daquelas que não viciam, maconha natural. Agora põe fogo até em carro de polícia pra tornar a maconha legal; que legal!

O efeito da bebida e a reação de anestesia que vem da maconha, deixam o sujeito falando e ouvindo em câmera lenta, isso é natural, propósito legal da erva que não faz mal. Existem pessoas que há mais de vinte anos fazem uso diário e até hoje não se viciaram, vivem tranquilamente num mundo de extrema anestesia, sem hipocrisia, em verdadeira harmonia com a agonia de quem não morre, mas se mata a cada dia.

O maconheiro esconde os olhos porque os olhos os denunciam. Quando os olhos estão escondidos, as pessoas não são as mesmas. Mamãe e papai não estão vendo isso? Papai e mamãe estão cuidando do futuro da cria. Que cria hein?

As paredes fecham-se sobre o drogado. Não existe chão firme, agora tudo é areia, areia movediça que rima com carniça, que atrai urubu. No lugar do rosto, uma máscara mortuária, uma lápide no lugar do coração, aquele festivo defensor da natural erva, como Eva, está nu. Nu de tudo, de pudor, de valor, de amor, de calor, simplesmente é um andrajo de pura dor.
Papai e mamãe criaram um dissabor, não só pra si, mas para uma sociedade sedenta de coração e não de moedas, fama e poder.

Antônio Padilha de Carvalho é escritor Cuiabano, Presidente do IMPdrg - Instituto Mato-grossense de Prevenção às Drogas.


Autor: Antonio Padilha De Carvalho


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