A Internacionalização Recente das Principais Multinacionais Brasileiras



A internacionalização recente das principais multinacionais brasileiras

Multiplicam-se, nos últimos anos, notícias sobre aquisições de empresas estrangeiras por companhias brasileiras e de crescentes investimentos brasileiros no exterior. Embora não se constitua fato novo, tendo em vista que as primeiras empresas brasileiras começaram a procurar mercados externos nos anos 1970, o fenômeno recente de internacionalização merece atenção. Fatores político-econômicos domésticos e internacionais no período pós-2003 têm contribuído para uma maior internacionalização da economia brasileira e das empresas aqui sediadas. O ingresso de capitais externos no Brasil bateu recorde em 2011, o que alçou o país à colocação de 5º maior receptor de Investimento Estrangeiro Direto (IDE). O movimento inverso é igualmente considerável. Em 2006, por exemplo, segundo a UNCTAD, pela primeira vez na história a conta de investimento direto brasileira ficou negativa, o que foi investido no exterior por brasileiros superou o fluxo inverso em US$ 8,6 bilhões, em virtude, em grande parte, da aquisição da mineradora canadense Inco pela Vale. Delineia-se, portanto, uma nova tendência na economia brasileira, em que empresas brasileiras se consolidam como verdadeiros players globais em suas áreas.

O período pós 2003 marcou uma nova fase na internacionalização da economia brasileira e de suas empresas. Fatores internacionais e domésticos se mesclam no delineamento desse panorama. Por um lado, o crescimento do preço das principais commodities internacionais, sobretudo petróleo e minério de ferro, grande parte em razão da demanda chinesa, impulsionou as economias latino-americanas, cuja base de exportação se assenta em produtos de baixo valor agregado. No Brasil, a exportação de produtos báscios corresponde a quase 50% da pauta de exportações. As políticas domésticas, por outro lado, representam um considerável fator gerador das novas tendências. A política externa do governo Lula mais independente e autônoma, já iniciada no governo FHC, de expansão e diversificação de parceiros comerciais, incrementou as oportunidades de negócios para as maiores companhias nacionais, sobretudo em países em vias de desenvolvimento (os chamados investimentos Sul-Sul).

Não obstante, o governo brasileiro vem implementando algumas diretrizes na política econômica que, mesmo que tímidas e insuficientes, têm incentivado a exportação e a internacionalização das maiores empresas brasileiras. O aumento nas linhas de crédito de financiamento à exportação através do BNDES e do Banco do Brasil, bem como a expansão das atividades internacionais do próprio BNDES ou da APEX (Agência Brasileira de Promoção de exportações) vem facilitando o trabalho das empresas brasileiras. A política mais visível desse processo é a atuação do BNDES no sentido de formar os chamados Campeões Nacionais, ou seja, destina grande volume de recursos para fusões e aquisições de empresas estrangeiras por empresas nacionais, no intuito de formar companhias competitivas a nível mundial, o que vem obtendo sucesso, apesar das constantes e pertinentes críticas de favorecimento de determinadas empresas e de concentração de alguns setores, em detrimento do consumidor.

O resultado disso é são os crescentes investimentos do Brasil no exterior, alavancados também pelo movimento recente de desvalorização do dólar em nível global, tornando os ativos externos mais interessantes. Segundo Relatório da UNCTAD (2010), "Os fluxos de capitais que saíram da América Latina e do Caribe aumentaram 67%, atingindo US$ 76 bilhões em 2010, a mais forte progressão regional no mundo". Para Casanova (2009), o período pós-2003 inaugura uma a fase going global das principais multinacionais latino-americanas, em especial as mexicanas e brasileiras. Se nos anos 1970 e 1980 os investimentos e a atuação internacional das companhias da região estavam limitadas essencialmente à exportação a mercados com maior proximidade cultural, nos anos 1990 as companhias consolidaram sua atuação doméstica, via aquisição de ativos no bojo do processo de liberalização e privatização dos anos neoliberais. A fase pós-2003 é a que apresenta condições mais favoráveis para as multinacionais latinas, cujas atividades ainda são concentradas na região, expandirem suas operações em nível global.

Esse fenômeno ainda carece de bases mais sólidas de apoio. Enquanto empresas chinesas e coreanas contam com uma sólida estratégia estatal de formação de companhias competitivas, com medidas de financiamento, promoção da exportação, logística, isenção fiscal, entre outras, o Brasil ainda não apresentou um plano estratégico permanente similar. Nossas empresas ainda encalham suas pretensões internacionais no chamado Custo Brasil: infra-estrutura deficiente, sistema precário e insuficiente de apoio e financiamento à exportação, altos juros bancários, deficiência de mão-de-obra qualificada, entre outras. Não há uma política de Estado, de apoio à internacionalização de companhias nacionais. Temos sim medidas governamentais transitórias, que caem no esquecimento ao final do mandato.

Desse modo, entramos em uma nova fase de internacionalização de empresas brasileiras, que já são, não raro, líderes mundiais nos setores em que atuam. Isso em virtude não só do desempenho favorável da economia brasileira e do mercado latino-americano em anos recentes, mas também em virtude do expertise acumulado pelas companhias desde o início do processo de esportação de produtos e serviços nos anos 1970, processo no qual o governo teve uma influência tímida, quando comparado com outros Estados em vias de desenvolvimento. Assim, os êxitos acumulados pelas companhias brasileiras se devem mais ao esforço individual do que a políticas deliberadas do apoio do Estado brasileiro aos investimentos internacionais.

Referências:
CASANOVA, Lourdes. Global Latinas. New York: Palgrave Macmillan, 2009.

UNCTAD. 2011 World Investment Report. Disponível em: . Acesso em 20/08/2011.

Autor: Messias Moretto


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