Tem algo a mais ou sobre a inteligência dos macacos



Num outro dia foi veiculada uma reportagem que me chamou atenção: falava de uns macaquinhos, numa região do Piauí, que aprenderam a quebrar casca de coco, para se alimentar. Até aí nada de mais, pois várias espécies de animais são capazes de usar instrumentos para se alimentar. Mas comecei a juntar fatos. Os macaquinhos da reportagem, não só quebram os cocos, como usam diferentes pedras para diferentes cocos. Quer dizer, em seu processo de busca de alimentação, desenvolveram algum tipo de raciocínio e, aparentemente, capacidade de manipulação intencional. Esse fato, invariavelmente nos leva à teoria da evolução. E, dentro dessa ótica, aqueles macaquinhos estariam avançando num processo evolutivo. Além disso, esse fato indica um caminho que pode ter sido percorrido pelos seres humanos no processo da humanização. O ser humano transformou-se no que é atualmente ? possuidor de grade potencial de raciocínio, capaz de manipular instrumentos, capaz de interferir na natureza, além de várias outras capacidades ? justamente porque, entre outras, desenvolveu a capacidade de utilizar instrumentos: aprendeu a trabalhar e, com isso, produziu cultura. Daí a indagação: aqueles macaquinhos estão começando um processo consciente de intervenção na natureza, trabalhando e, com isso, produzindo cultura? A indagação procede porque um dos principais elementos diferenciadores do ser humano em relação aos demais animais não é, em primeiro lugar, a capacidade racional, mas a capacidade de, trabalhando, produzir cultura. No atual estágio da pesquisa, em relação aos macaquinhos piauienses, um pouco por etnocentrismo e um pouco por desconhecimento, não podemos dizer que eles estejam efetivamente trabalhando e produzindo cultura, mas também não podemos negar que estejam num processo evolutivo ascendente. O fato é que as dificuldades em localizar comida e se alimentar exigiram que o ser humano aprendesse a improvisar, criar oportunidades e aprendesse a reproduzir experiências satisfatórias ao mesmo tempo em que passou a evitar situações não gratificantes. Isso implicou em que na gênese do ser humano ocorresse um processo de ampliação da capacidade de armazenamento de informações. E, quanto mais armazenava informações e desenvolvia técnicas, mais imprimia sua marca no mundo natural pelo trabalho, ampliando a capacidade cultural. Esse processo estaria ocorrendo com os macaquinhos? Estariam aprendendo a armazenar informações para, mais tarde, reutilizá-la, num processo ascendente de abstração que desembocará no raciocínio abstrato? Efetivamente não sabemos, mas, neste momento, podemos nos direcionar ao ser humano. Nosso desenvolvimento racional chegou ao ponto em que estamos e, com isso, aprendemos a desenvolver as mais diversas tecnologias. Essas tecnologias têm nos ajudado a melhorar nossa qualidade de vida. Cada vez mais estamos utilizando recursos tecnológicos para as mais diferentes atividades. Inclusive, com o advento da escrita, há cerca de seis mil anos, o ser humano vem criando e recriando recursos de armazenamento de informações. Quanto mais desenvolvemos tecnologias, mas temos necessidades de armazená-las. E entre outros recursos mecânicos, nossa memória tem sido um recurso fundamental não só para armazenar informações, como para processá-las. E aqui entra o grande nó da questão. De um lado os macaquinhos do Piauí nos desafiam a rever o conjunto das nossas teorias explicativas da humanização (tanto o criacionismo como o evolucionismo) para vermos até que ponto podemos dizer que estamos no cume das espécies animais ou os macaquinhos também estão se encaminhando para isso; por outro lado, alguns estudos recentes chamam nossa atenção para um perigo que surgiu justamente pela utilização das tecnologias informacionais: é possível que estejamos perdendo a capacidade de retenção de informações. O ser humano, entre outras características é capaz não só de aprender, armazenar e processar informações, mas é capaz de ampliar suas capacidades intelectuais, mediante os desafios que o seu cotidiano lhe apresenta. Entretanto, recentes pesquisas têm demonstrado que os recursos da informática (notadamente a internet) justamente por ser um recurso de armazenamento de informações, têm diminuído nossa capacidade de retenção de informações na memória. Ou seja, desenvolvemos tantas tecnologias que sua constante e intensiva utilização pode diminuir justamente uma de nossas principais características, que é a capacidade de retenção de informações na memória. E assim caminha a humanidade: parece que vamos continuar nos desenvolvendo e criando novas tecnologias que podem nos limitar ainda mais, ao mesmo tempo em que outra espécie pode também estar aprendendo a trabalhar, produzindo cultura para, quem sabe, daqui a alguns milhares de anos ocupar o nosso espaço... Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; ; ;
Autor: Neri P. Carneiro


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