Dislexia





Podemos definir leitura, de um modo restrito, como a interpretação de um texto escrito, interpretação e não apenas decodificação de sinais, ou seja, o leitor deve dar sentido ao que está escrito. Na leitura, a mudança de uma simples palavra, pode modificar o significado do texto. A dislexia é caracterizada pelo DSM-IV, (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), como comprometimento acentuado no desenvolvimento das habilidades de reconhecimento das palavras e da compreensão da leitura.
Este artigo apresenta os resultados dos avanços tecnológicos recentes, na área da neurociência, na busca pelos fatores que causam comprometimento na habilidade de reconhecimento das palavras e compreensão da leitura, e, transpondo a problemática do campo da medicina para o olhar pedagógico e psicopedagógico, apresenta propostas de diagnóstico e intervenção dos estudiosos desse transtorno, a fim de minimizar ao máximo as dificuldades de aprendizagem dos sujeitos disléxicos.

Palavras chaves: Dislexia. Escrita. Leitura.












SUMMARY

We can define reading in a restrictive way, as the interpretation of a written text; not only interpretation and decoding of signals, for example the reader must make sense of what is written. In the reading, changing a single word can modify the meaning of the text. Dyslexia is characterized by the DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) as strong commitment in developing the skills of word recognition and reading comprehension.
This article presents the results of recent technological advances in the field of neuroscience, in the search for factors that cause impairment in the ability of word recognition and reading comprehension, and the problem of bridging the medical field to look at pedagogical and psychopedagogical, has proposals for diagnosis and intervention for researchers of this disorder in order to minimize the learning difficulties for peoples that have dyslexic.


Key Words: Dyslexia.Writing. Reading.










INTRODUÇÃO

Dislexia, do grego "dis"-dificuldade e "lexis"-linguagem, é, entre os Transtornos Funcionais Específicos, o mais citado, e um dos que mais têm sido pesquisados pelos profissionais interessados nas questões relacionadas com a aquisição da linguagem escrita. Assim, pelo fato da língua materna estar presente em todas as disciplinas escolares, e as dificuldades de linguagem serem uma das mais importantes causas dos problemas de aprendizagem, os estudos relativos ao tema são fundamentais para a prática pedagógica em geral e psicopedagógica em particular.
A dislexia traduz uma dificuldade de aprendizagem que se caracteriza por problemas na linguagem oral, ou escrita, tanto no aspecto receptivo, como no expressivo. De acordo com Rotta (2006. P.151) o termo foi empregado pela primeira vez em 1872, por Berlin e em 1896, Morgan publicou, no Britian Medical Journal, "o interessante caso de um adolescente com incapacidade para ler, embora, se avaliado cognitivamente, deveria ter condições de fazê-lo, chamou essa peculiar condição de ?cegueira verbal?".?
A expressão "cegueira verbal congênita" foi substituída por "dislexia específica após o estudo clínico de Hallgério, em 1950. (Rotta. p.152).
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- DSM-IV caracteriza a dislexia como "comprometimento acentuado no desenvolvimento das habilidades de reconhecimento das palavras e da compreensão da leitura"
Leitura, em sentido estrito, é interpretação de sinais gráficos convencionais e, portanto, uma forma simbólica de aprendizagem. Assim, a mudança de um único signo pode mudar, ou dificultar a interpretação do texto.
De acordo com Rotta e Pedroso (2006 p.153) "A leitura oral no disléxico é caracterizada por omissões, distorções e substituições de palavras e pela leitura lenta e vacilante". Barreto (2009 p.89) citando Bradley & Briant, comenta "crianças com dislexia são aquelas que apresentam problemas quando tentam aprender a ler e escrever, embora sejam inteligentes, rápidas e alertas".
Aprender a ler é uma das tarefas mais relevantes da escola, e é nesse espaço que se começa a detectar o problema do reconhecimento da equivalência arbitraria fonema-grafema. Para o sujeito disléxico a aprendizagem da leitura é sempre um processo lento e laborioso.
Há, enfim, um consenso entre os pesquisadores de que, apesar de não haver ainda cura para dislexia, ela pode ser tratada e atenuada, e uma das funções e atributo da ação psicopedagógica é elaborar estratégias e planos de trabalho para auxiliar o sujeito disléxico.
O objetivo deste trabalho é revisar a literatura especializada buscando, além de descrever a dislexia e suas manifestações, pesquisar as teorias que relacionam a consciência fonológica e dislexia, a fim de aprofundar os estudos acadêmicos, e os conhecimentos científicos sobre essa temática, e aplicá-los, sempre que possível na prática psicopedagógica.
A metodologia empregada foi a pesquisa biográfica, tanto em revistas especializadas, como em livros de neurociências, artigos recentes publicados pela Associação Brasileira de Psicopedagogia e pela internet.

REVISÃO DE LITERATURA
DISLEXIA
"A dislexia consiste em alterações resultantes de limitações sensoriais discretas ou de anomalias na organização dinâmica dos circuitos cerebrais responsáveis pela coordenação vísuo-audio-motora. Os indivíduos acometidos são portadores de diferenças de aprendizagem específicas, não se tratando, portanto de uma doença e sim de um modo diferente de pensar não uma incapacidade" (Silva, 2009).

Para Estill, de acordo com Souza e Barreto (2009), a dislexia é uma dificuldade específica nos processamentos da linguagem para reconhecer e ordenar os sons e as formas das letras.
Para Fonseca (2009, p.340), "Trata-se de uma inesperada dificuldade de aprendizagem, e não incapacidade, e muito menos doença...".
"Dislexia é um transtorno de aprendizagem na área de leitura e escrita e soletração e é apontada como o distúrbio de maior incidência na sala de aula" (Barreto, 2009, p.88)
O Word Federation of Neurology, na citação de Rotta e Pedroso (2006, p.152) define dislexia como "um transtorno manifestado por dificuldade na aprendizagem da leitura, independente de instrução convencional ou inteligência".
De acordo com a Associação Nacional de Dislexia, a dislexia é uma falta de habilidade na linguagem refletida na leitura, não é doença, não é causada por falta de inteligência, é um funcionamento peculiar do cérebro.
Para Olivier (2008, p.48), na visão neuropsicológica a dislexia é uma alteração nos processamentos centrais e periféricos e sempre causada por uma lesão, em algum ponto do cérebro, enquanto que, visão psicopedagógica reconhece uma dislexia "ocasional", causada por estresse ou excesso de atividades e "característica disléxicas", que isoladas não são um problema grave, ambas passíveis de tratamento e cura.
Comum a todas as definições o fato da dislexia ser uma disfunção caracterizada por falha no funcionamento do processo da linguagem, qual seja, uma dificuldade em estabelecer associação entre sinais gráficos (grafemas) e sinais auditivos (fonemas).
Em relação às causas da dislexia Penningtom (1892, apud Barreto 2009), diz que são neurobiológicas e genéticas, ou causadas por fatores ambientais, havendo evidências que 35% a 40% dos parentes de primeiro grau também são afetados.
Bradley, Bryant, Olson et all, defendem a hipótese do défict fonológico como um dos principais fatores causais da dislexia. Para estes pesquisadores crianças com déficit fonológico apresentam dificuldade na rota soblexical 0 para a leitura, ou seja, no emprego do mecanismo de conversão fonema/grafema. (2020, de acordo com Barreto 2009.).
Quanto à classificação, Capovilla (2002, p.9) cita como principais os quadros:
a) Dislexia Visual, onde há distúrbios na análise visual das palavras e os erros de leitura mostram semelhanças entre a palavra escrita e a falada. Por exemplo, diante de "bobagens", ler "bandagens";
b) Dislexia de Negligência, os distúrbios também estariam no sistema de análise visual, mas sua característica seria ignorar parte da palavra ao lê-la; e c) Leitura Letra-a-Letra, onde a leitura só é feita a partir da soletração de cada letra. Por exemplo: "cavalo" c /a ca,v/a va, l/a La.
d) Dislexia Atencional, há dificuldade em codificar a posição das letras e desse modo pode acontecer mudanças de letras dentro de uma mesma palavra, ou de uma palavra por outra no mesmo texto. Por exemplo: "a saca é branca", por "a casa é branca"
e)Dislexia Fonológica: a disfunção encontra-se no processamento fonológico, a principal dificuldade está na leitura de palavras desconhecidas. Um disléxico dessa ordem dificilmente leria o hino nacional brasileiro, por exemplo.
f) Dislexia Morfêmica ou Semântica: há dificuldade na leitura pela estratégia ortográfica.
Essa classificação baseia-se na hipótese de Frith segundo a qual a escrita ocorre por meio de três estratégias: logografica, alfabética e ortográfica. (Frith 1985, apud Capovilla 2002). Na estratégia logografica a leitura e a escrita necessitam de pistas contextuais e não-linguisticas, como cores, fundos, desenhos, logomarcas. Na estratégia alfabética há reconhecimento da correspondência grafema/fonema, mas é possível que o sentido da palavra não seja alcançado. Finalmente na estratégia fonográfica os níveis lexicais e morfêmicos são reconhecidos, de modo que há um reconhecimento direto das palavras e do seu significado.
Para Ellis e Boder (1973, conforme Barreto 2009) as dislexias são assim classificadas:
a) Dislexia Disfonética, ou Fonológica, caracterizada pela dificuldade na leitura oral, principalmente de palavras pouco conhecidas. É associada a disfunção no lóbulo parietal.
b) Dislexia Diseidética ou Superficial, causada por problema de ordem visual. Está associada a disfunções no lóbulo occipital.
c) Dislexia Mista, quando há problemas das duas ordens acima. Associam-se as disfunções dos lóbulos pré-frontal, frontal, occipital e temporal.
As dislexias também podem ser classificadas em Dislexia Acústica, que manifesta pela insuficiência na diferenciação dos sons; Dislexia Visual, onde há confusão de letras com semelhança gráfica e Dislexia Motriz que provoca retrocessos e intervalos mudos ao ler. (Caldeira e Cumiotto 2004, apud Barreto 2009).
Para Álvares (2002, apud Barreto, 2009, p.90), crianças dislexias, antes da alfabetização, apresentam atraso na fala, têm dificuldade em decorar versinhos, cantar, contar histórias, fazer rimas. Podem ter problemas nas motricidades fina (fazer recortes, desenhos) e grossa ( tropeçar com facilidade, andar desengonçado). Normalmente não se interessam por livros infantis, jogos de quebra-cabeça e confundem conceitos de tempo, hoje/amanhã. E a incidência é maior em canhotos e portadores de lateralidade cruzada.
Ainda de acordo com Álvares, (idem) na idade escolar o aluno disléxico apresenta inversões nas letras, por exemplo, o "b" virado, trocas ortográficas, problemas para reconhecer rimas e fonemas repetidos em uma frase. Podem ainda ser desatentos e dispersos, com baixo rendimento escolar.
País e educadores podem encontrar diversos sinais que indicam a possibilidade da dislexia nos primeiros anos escolares, como a demora na aquisição e desenvolvimento da linguagem; dificuldade em se exprimir; copiar e escrever números inadequadamente; ter dificuldade para organizar-se no tempo e reconhecer horas e dias; dificuldade com a memória de curto prazo; pouco interesse em livros impressos. (Estill 2005, conforme Barreto, 2009, p.91)
Rabinovitch (2004, apud Barreto 2009, p.91), diz que o problema em diagnosticar a criança disléxica baseia-se na tanto na qualidade da leitura, quanto na extensão em que os problemas de leitura de apresentam. Para ele, nos processos diagnósticos, é preciso determinar o nível funcional da leitura, o potencial e a capacidade de leitura, as deficiências específicas na habilidade da leitura, a disfunção neuropsicológica e investigar o raciocínio das crianças em atividades lógicas-matemáticas, comparando-as alunos de mesma idade e escolaridade.
Stanovich, Siegel e Gottardo avaliaram 68 crianças disléxicas em leitura de palavras irregulares e pseudopalavras. Palavras irregulares, taxi, por exemplo, só podem ser lidas corretamente pela via lexical e a leitura de pseudopalavras só pode ser realizada corretamente pela via fonológica. Com base nos resultados, as crianças foram divididas em três grupos: disléxicas fonológicas, ( que apresentavam pobre leitura de pseudopalavras, mas leitura regular em palavras irregulares);disléxicas morfêmicas ( boa leitura em pseudopalavras, mas pobre leitura em irregulares) e disléxicas mistas( leitura similar em ambas as tarefas). Essas crianças foram comparadas a 44 crianças não disléxicas, sendo que as disléxicas freqüentavam a 3ª série e as não disléxicas os 1º e 2º anos. O padrão de leitura dos disléxicos morfêmicos foi bastante similar ao das crianças não disléxica, ou seja, tinham mais um atraso na leitura do que um desvio. Os disléxicos fonêmicos, por sua vez, tiveram índices significativamente inferiores aos não disléxicos, revelando um real padrão desviante. (1997, apud Capovilla et all, 2002,p.11).


Figura 1.1..

A figura 11. mostra a ativação cortical na ressonância magnética nuclear funcional durante a leitura de um leitor disléxico e um normaléxico( Swaimann, K.F. Pedriatric Neology, apud Rotta e Pedroso,2006,p.158)





Arquitetura da leitura

Muitos pesquisadores da dislexia têm atribuído ao processamento neural da linguagem os problemas relacionados às dificuldades específicas de leitura. O córtex temporoparietal, que recebe projeções visuais e auditivas; a área de Wernicke, associada a questões de linguagem; o parietal inferior; o giro supramarginal e o giro angular estão associados à compreensão da linguagem falada. (Ciasca e Moura-Ribeiro, 2006, p.181).
Dejerine (1892, apud Ciasca e Moura-Ribeiro, 2006, p.181) propôs que o giro angular fosse também considerado como "a área da escrita".
"Portanto, o processo da linguagem é conceituado como uma série hierárquica de componentes, em que sistemas neurais altamente especializados modulam o processamento de elementos distintos que constituem a linguagem.
Para o ato de falar uma palavra é preciso que a pessoa lembre-se dos fonemas que constituem o seu léxico interno, analise-os e converta-os em palavra. Para o ato de ler uma palavra o processo é inverso: o leitor inicialmente fraciona a palavra em pequenas unidades fonêmicas, analisa e compara com segmentos e som previamente armazenado posteriormente reúne os elementos de acordo com seu léxico interno, para depois ler a palavra de forma completa, tornando assim a leitura um ato extremamente difícil" (Capelli e Ciasca 1999, apud Ciasca e Moura Ribeiro, 2006, p.182).

Aprender a ler não é, portanto, um ato isolado, porque quando a criança aprende a ler está, simultaneamente, aprendendo a soletrar e escrever, assim, processando informações não só em nível visual e auditivo, mas também atencional, seqüencial, conceptual e de fala, em diferentes fases do desenvolvimento e, se existir uma falha nesse processo, surgem os chamados transtornos específicos de aprendizagem, sendo que o mais comum é, sem dúvida, a dislexia. (Ciasca e Moura Ribeiro, 2006, p.182).

Para Luria (1990, apud Fonseca, 2009, p.342) a aprendizagem da leitura resulta da criação de conexões entre muitos grupos e redes de células que se encontram posicionadas em distantes áreas do cérebro. Para ele a aprendizagem da leitura e da escrita implica que no cérebro da criança se opere um processo ativo conjuntural e reorganizador de sistemas funcionais múltiplos e de integração sensorial progressiva, evolvendo em sua superfície o sistema visual e o sistema auditivo, e na sua profundidade, o sistema cognitivo complexo. Fonseca (2009, p.342) comenta que, esta forma, Luria coloca-se numa posição de desacordo tanto com a teoria "localizacionista" que afirma a existência de áreas cerebrais fixas ("centro de leitura", "centro de escrita", etc.), como com a teoria dos "equipotencialistas" que defendem a tese de que todos os comportamentos envolvem a participação de todas as áreas.
Da noção de sistemas funcionais resulta que se alguma parte do sistema estiver disfuncional ou desagregado, a aprendizagem, representada pela cadeia funcional pode ficar afetada, provocando diversos tipos de distúrbios, entre eles a dislexia.

Na figura 1.2. temos o processamento da leitura de acordo com Luria,( apud Fonseca,2002).
Figura 1.2.

Processamento auditivo

Em palestra realizada no dia 9 de julho de 2011, no Colégio Municipal de Porto Seguro, Bahia, a fonoaudióloga Drª Namir Siqueira, sustentou a hipótese de que o processo da dislexia poderia ser causado por disfunções no complicado sistema auditivo. Destacando que, antes de chegar às zonas cerebrais específicas para ser decodificado pelo cérebro, o som deve percorrer um intricado caminho de "peças" anatômicas. Se alguma dessas "peças" não estiverem funcionando corretamente,disse, o cérebro poderá processar uma informação incorreta, provocando erros em sua interpretação, que poderiam causar diversos distúrbios na leitura e na escrita.Testes fonoaudiólogicos poderiam localizar os problemas, e atenuá-los, principalmente em crianças de pouca idade.

Sob uma ótica neurológica, o processamento auditivo central se refere aos mecanismos e processos do sistema auditivo, responsável pela localização e lateralidade sonora (de onde vem o som, direita, esquerda, em cima, embaixo); descriminação auditiva (agudo grave); ordenação temporal [...} e desempenho auditivo para sinais acústicos degradados. (Americam Speech Hearin and Language Association, 1993, de acordo com Barreto, 2009, p.92).
O processamento auditivo é o conjunto das habilidades específicas das quais o sujeito depende para interpretar o que ouve. Essas habilidades são mediadas pelos centros auditivos situados no trono encefálico e no cérebro.
Para Barreto(, 2009, p.92) esses centros podem ser subdivididos nas áreas gerais: atenção, envolvendo habilidades relacionadas à maneira pela qual o indivíduo atenta à fala e aos sons do seu próprio ambiente; discriminação, envolvendo habilidades relacionadas à capacidade de distinguir características diferenciais entre sons [...] organização de saída, envolvendo um conjunto de habilidades de seriação, organização e evocação de informações auditivas para o planejamento e emissão de respostas.
Caso haja disfunções nesse processamento auditivo, também pode ocorrer dificuldade com a linguagem, oral e escrita.


Consciência Fonológica

Para uma leitura correta é necessário conectar as letras de uma palavra aos sons que ela produz ao ser pronunciado, a fim de decodificá-la. Para Shaywtiz, (apud Deuschle e Cechella, rev. CEFAC, 2008), das 30% das crianças que depois de um ano de ensino da leitura ainda não sabem separar fonemas e grafemas, provavelmente estão relacionadas aos 20% ou 30% das crianças em idade escolar que passarão por dificuldades de leitura.
O leitor deve, de alguma forma, converter o que lê em código lingüístico. Contudo, diferentemente das partículas da linguagem verbal, as letras do alfabeto não têm nenhuma conotação lingüística inerente. A não ser que o futuro leitor saiba converter caracteres impressos em código, essas letras continuarão sendo apenas um amontoado de linhas e círculos, sem nenhuma conotação lingüística inerente. (Shaywtiz, de acordo com Deuschle e Cechella, rev. CEFAC, 2008).
"A criança que começa a ler deve aprender desenvolver a consciência fonológica para poder aprender o princípio alfabético, a correspondência grafema-fonema. A aprendizagem das regras de correspondência grafema-fonema é considerada a habilidade mais básica para analisar os sons das palavras".( Deuschle e Cechella.rev. CEFAC, 2008)

Os componentes e subcomponentes da leitura estão associados a diferentes regiões do cérebro, e são seletivamente processados para identificar, classificar e armazenar a informação, até a emissão da palavra propriamente dita. (Ciasca e Moura-Ribeiro, 2006, p.182)
A figura 1.3., mostra os caminhos da leitura, como proposto por Shaywtiz, apud Ciasca e Moura-Ribeiro, 2006). A palavra seria identificada na região occipitotemporal, reconhecida na região parietotemporal e, por fim, processada fonológicamente na região do giro frontal inferior
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Figura 1.3


Diagnóstico e intervenção

O fonoaudiólogo e o psicopedagogo são profissionais habilitados para determinar o nível funcional da leitura e as deficiências específicas na capacidade de leitura, tanto nos aspectos morfológicos, como sintáticos e semânticos, O neuropediatra poderá diagnosticar eventuais disfunções neurais que possam causar dificuldades de leitura e escrita e o psicólogo apontar causas psíquicas e comportamentais que "bloqueiem" a interpretação das palavras orais ou escritas. Outros aspectos como o histórico familiar de disléxicos, problemas de articulação fonética na infância, dificuldades com a memória de curto prazo, devem ser levados em conta no diagnóstico, que, como vimos, depende de uma avaliação multidisciplinar.
Crianças que apresentam erros na leitura oral, como omissões, ou adições de palavras ou de letras dentro das palavras, ou ainda dificuldades de memorizar o que foi lido, devem ser submetidas a testes que revelem dificuldades com consciência fonológica, leitura e compreensão de palavras e pseudopalavras, vocabulário, memória de longo e curto prazo.
A intervenção tem o objetivo de auxiliar o disléxico a superar suas dificuldades em distinguir as letras do alfabeto e o som que elas representam.
Santos (1984, p.89) afirma que a criança disléxica deve ser alfabetizada através de um método mais fonético do que analítico-sintético, que prioriza a correspondência grafema-fonema.
Para Deuschle e Cechella (Rev. CEFAC, 2008)" os sujeitos com distúrbios de leitura e escrita devem participar de atividades que possam promover o desenvolvimento da consciência fonológica".
Para a definição de estratégias de intervenção é fundamental um diagnóstico e uma avaliação precisa, pois, como ficou claro, a dislexia pode se manifestar por diversos padrões de comportamento, ou associar-se a outros distúrbios, dificuldades na linguagem oral, atenção, cálculo, memória, alem de possuir diversos graus de gravidade.

Considerações finais.

Ao término dessa revisão pode-se concluir que não um consenso entre os profissionais que se dedicam ao estudo da dislexia, quanto à sua etiologia e quanto aos diversos fatores ligados a ela. Entretanto, todos concordam com a importância desse distúrbio como fator negativo para o bom desempenho da leitura e da escrita e, como uma das principais causas da dificuldade de aprendizagem, já que o disléxico tem dificuldade para associar o símbolo gráfico, às letras e ao som que elas representam.
Conclui-se, também, a importância de proporcionar suporte multidisciplinar ao disléxico para que melhore seu desempenho escolar, através de atividades focadas em leitura, escrita e fonética, valorizando suas potencialidades e elevando sua auto-estima.







Referências:

Livros:

CIASCA,SM; MOURA RIBEIRO; Avaliação e Manejo Neuropsicológico da Dislexia; in:ROTTA,NT (Org.).Transtornos da Aprendizagem, Abordagem Neurobiologica e Multidisciplinar, Porto Alegre, Artmed,206

COLL,C.;MARCHESI,A.;PALACIOS,J.; Desenvolvimento Psicológico e Educação, 2ª ed.Porto Alegre, Artmed,2004.

COSTA,MRN;Desenvolvimento Neuromotor do Indivíduo;Canoas;Rio Grande do Sul;Ed. Ulbra,2008.

OLIVIER,L.; Distúrbios de Aprendizagem e de Comportamento,4ª ed.Rio de Janeiro, Walk Ed.;2008.

PIRES,MP.;Neurociências e transtornos da Aprendizagem; 2ª ed.,Rio de Janeiro:Walk Ed.,2008.

ROTTA,NT;OHLWEILER,L.;RIESGO,RS.;Transtornos da Aprendizagem, Abordagem Neurobiologica e Multidisciplinar; Artmed; Porto Alegre;2006;

SANTOS, CB; Dislexia Específica de Evolução;São Paulo: Ed.Savier,1984


Revistas

BARRETO,MASC; Caracterizando e Correlacionando Dislexia do Desenvolvimento e Processamento Auditivo;Revista da Associação Brasileiro de Psicopedagogia;São Paulo, V.10,nº 21; 1991.

CECHELLA,C.;DEUSCHLE,VP.;O Déficit em Consciência Fonológica e Sua Relação Com A Dislexia: Diagnóstico e Intervenção; Revista CEFAC;V.11, Suplemento 2; São Paulo;2009.

FONSECA,V.; Dislexia, Cognição e Aprendizagem: Uma Abordagem Neuropsicológica das Dificuldades de Aprendizagem da leitura; Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia; São Paulo, V.10; nº 21;1991.

SILVA,SSL ;Conhecendo A Dislexia e a Importância da Equipe Interdisciplinar no Processo Diagnóstico; Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia;São Paulo, 26(81);2009.


Internet

BARRETO,ERL; Dislexia: Hipóteses Teóricas e Métodos de Reeducação;
Partes Revista Virtual;disponível em www.partes.com.br/educação/dislexiaereducacao.asp; acesso em18/07/2011.

CAPOVILLA,FC,et all; Natureza das Dificuldades de Leitura em Crianças Brasileiras com Dislexia do desenvolvimento;Revista Eletrônica Moçambras; São Paulo,SP., disponível em www.mocambras.org; acesso em 30/06/2011.


Palestra

N,S ;Dislexia fonética; I Seminário de Inclusão de Porto Seguro,Porto Seguro,BA, Secretaria Municipal de Educação,2011, Anotações de Palestra.







Autor: Everal Vergilio Da Silva


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