Empresas Socialmente Responsáveis



O processo de desenvolvimento da sociedade torna-se cada vez mais alucinante. Viemos de uma sociedade agrícola, de sobrevivência, onde utilizava-se meios muito rudimentares para produzir e se relacionar.

A História nos mostra que o Estado e a Igreja se confundiam entre si, tratavam os indivíduos como seres incapazes, tutelavam as relações sociais. A maior riqueza era a terra. Igreja e Estado eram proprietários de grandes latifúndios.

Depois, surgiu a sociedade industrial que mudou e acelerou a História da sociedade com a invenção de máquinas e do motor. Surgiram as fábricas e as cidades. Nas cidades a concentração de pessoas, os conflitos de relações entre etnias, classes sociais e entre a sociedade e o meio ambiente. Entre o Estado e a Igreja há uma ruptura e surge a empresa. A riqueza passa a ser o bem de produção e os trabalhadores passam a ser parte integrante dos meios de produção, ou seja, tratados como máquinas – quem não se lembra do filme "Tempos Modernos" de Charles Chaplin?

Com a sociedade promovendo um ambiente mais competitivo, as empresas passam a disputar uma nova riqueza, o mercado consumidor.

O ritmo de desenvolvimento, de capacitação, de investimento, de formas de administração passa a ser acelerado.Surge a Globalização. Novos paradigmas assumem o lugar dos antigos e o Estado passa a dividir a responsabilidade do bem comum com a sociedade, surgindo as ONGs e as Empresas Socialmente Responsáveis.

Com um futuro incerto, o desenvolvimento sustentável é a preocupação. Portanto, Responsabilidade Social e Sustentabilidade são a "bola da vez".

O ser humano da atualidade passou a ser referência, meio e fim da ação as organizações. Os indivíduos do nosso tempo estão mais exigentes, mais ambiciosos e mais poderosos. Mais exigente porque estão mais bem informados, conscientes da realidade, de seus direitos e deveres. Mais ambicioso porque já não se contenta em ser atendido apenas no papel que desempenha em determinada relação (funcionário, consumidor, investidor, fornecedor), mas "quer ser considerado parte integrante do todo como um ser integrado". É mais poderoso porque faz parte de uma dinâmica social e de múltiplas relações na qual está inserido. Essa dinâmica de relações faz com que indivíduos, sozinho ou em grupos, provocam grandes efeitos na sociedade e nas organizações.

Age sozinho quando consome, faz escolhas de produtos ou marcas; quando, como funcionário, atende bem ou mal um cliente, trazendo conseqüências benéficas ou catastróficas para a empresa.

O indivíduo age em grupo através de movimentos sociais, onde se organizam e se unem através de crenças e interesses comuns, com alto grau de motivação, dedicação e competência, para atingir determinados objetivos.

Crescentemente, os consumidores têm preferido produtos e serviços oferecidos por empresas éticas, que demonstrem real preocupação com as questões socioambientais. Paralelamente, cada dia mais o mercado de capitais exige ética, prestação de contas e responsabilidade social como garantias de cobertura dos riscos de crédito. As empresas que desejarem e modernizar, se manterem ou se desenvolverem precisarão buscar sempre mais eqüidade na relação com todos os seus públicos, entretanto, é tão crucial para as empresas manter eqüidade em todas as suas práticas que começa a surgir a figura do "deontologista", um profissional para a questões éticas. Na França e na Inglaterra ele é presença constante.

Em maio de 2008 participei de um congresso internacional e de um fórum social para o desenvolvimento sustentável na idade de Campinas (SP), onde compareceram um grande número de empresários, executivos, dirigentes de ONGs, políticos e profissionais da área. A pergunta abordada por grande parte dos dirigentes empresariais era: "Como enfrentar o desafio de colaborar?". Em minha linha de raciocínio, uma das mais importantes características atuais de uma organização de sucesso é propiciar aos seus stakeholders uma atmosfera de confiança.

O desafio da colaboração provoca a visão de alguns conceitos empresariais. A função social da empresa na economia capitalista, que alimenta polêmicas desde a Primeira Revolução Industrial, tornou-se bastante ampliada nos dias de hoje. Já não se traduz apenas por: produzir riqueza, multiplicar o capital investido, gerar empregos e arrecadar tributos. O compromisso deve ser assumido também com o desenvolvimento das pessoas que emprega, principalmente com a satisfação dos seus clientes e consumidores, com a proteção do meio ambiente e o bem-estar da comunidade, desafios estes que precisam ser encarados como alvos estratégicos, tão importantes como sempre foram marketshare e rentabilidade do negócio.

Transformar em prática essa teoria significa uma mudança fundamental de atitude na esfera organizacional. Uma empresa calcada em valores coletivos baseia-se na idéia de que ela tem uma responsabilidade para com a comunidade que a sustenta. A empresa que se preocupa com a comunidade, seja ela local, nacional ou global, desenvolve sua estratégia operacional não só focada na lucratividade, mas também na qualidade de vida dessa comunidade. Estabelecendo uma comunhão entre seus investimentos financeiros e a sociedade, recebe, em contrapartida, um "lugar especial no coração dos seus clientes", o que resulta em fidelidade á marca e garantia e um lucro saudável. Empenhar-se além do lucro imediato, contribuindo para uma progressiva melhora de toda a sociedade, representa uma contribuição inestimável da empresa para o conceito de desenvolvimento sustentável e de responsabilidade social. E isso está se convertendo num imperativo inescapável.

Se, por um lado os trabalhadores eram parte dos meios de produção, hoje o capital intelectual passou a ser tão ou mais importante que o capital financeiro para o sucesso os negócios. Mudanças ocorreram e novos processos surgiram, novos paradigmas, missão, ética, cultura, valores foram incorporados nas gestões das empresas. Mais do que constatar, empresas estão "sentindo na pele" que, crescentemente, os consumidores têm preferido produtos e serviços éticos, oferecidos por empresas limpas e sérias, que demonstrem real preocupação com as questões sociais.

Costumo dizer ás minhas empresas-clientes que, mais dia, menos dia, as empresas necessitarão engajarem-se nesse contexto, será uma questão de sobrevivência. A convergência nesse sentido é inevitável. Além do que fazer está o como fazer. O domínio das premissas e dos comportamentos éticos é complexo, especialmente porque se trata de construir e mostrar verdades.

É preciso que haja convergência entre empresa e sociedade, estabelecer uma visão comum do que se quer atingir, do onde, do como e do por que. Estabelecer responsabilidades, recursos, foco e resultados. Desenvolver a flexibilidade de, com criatividade, mudar de opinião e adotar nova postura. De buscar o consenso. De aprender a aprender. De reinventar-se.

Hamilton Chelegon

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Autor: Hamilton Chelegon


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