FICHAMENTO DO LIVRO: POR QUÊ FOUCAULT? NOVAS DIRETRIZES E BASES PARA A PESQUISA EDUCACIONAL.



CAPÍTULO 1: POR QUE FOUCAULT? NOVAS DIRETRIZES PARA A PESQUISA EDUCACIONAL.


Neste capitulo o autor menciona a importância de estudar os aspectos que marcam os diversos pensamentos de Michel Foucault para uma análise dos diversos quadros políticos, filosóficos e pedagógicos que nos acercam. "A recepção de Foucault é muito diferente em distintos contextos nacionais e culturais, especialmente quando ele é lido por audiências e gerações diferentes e, com freqüência, por razões diferentes". A sociedade pode usar algumas citações de Foucault para demonstrar proposições, elucidar pontos de vistas, examinar argumentos e enfeitar teorias filosóficas.

Ainda neste capítulo o autor faz uma breve descrição sobre quem é Michel Foucault, citando alguns pensamentos que o relacionam com o estruturalismo e o pós-estruturalismo. " Acho que fui colocado em muitas casas do tabuleiro político, uma depois da outra e às vezes simultaneamente: como anarquista, esquerdista, marxista ostensivo ou disfarçado, niilista, antimarxista, explicito ou secreto, tecnocrata a serviço do gaullismo, como novo liberal etc." (Foucault, 1984). Mas o autor apresenta uma classificação foucaultiana em quatro estágios: um estagio heideggeriano, um estagio arqueológico, um estagio genealógico e um estagio ético.

O autor ainda menciona a importância de Foucault no campo educacional. "Foucault oferece uma compreensão dos sujeitos educaionais ? aluno, estudante, professor, etc. ? em termos de uma historia da subjetividade e de uma investigação genealógica que permitiu aos teóricos da educação entender os efeitos da educação e das pedagogias tanto como disciplinas quanto como praticas". "Os estudos de Foucault sobre educação oferecem ferramentas de análise que inspiraram abordagens históricas, sociológicas e filosóficas que cobrem uma vasta gama de tópicos: genealogias dos alunos, estudantes, professores e conselheiros/orientadores; as construções sociais das crianças, a adolescência e a juventude; epistemologias sociais da escola em formas institucionais mutantes, bem como estudos sobre o surgimento das disciplinas e de sua relação com regimes de disciplina e punição; estudos filosóficos sobre os conceitos educacionais que cresceram com o humanismo europeu, em especial nas formações do Iluminismo e especificamente kantianas ? homem, liberdade, autonomia, punição, governo e autoridade".




CAPÍTULO 2: MICHEL FOUCAULT: PESQUISA EDUCACIONAL COMO PROBLEMATIZAÇÃO.


Neste capitulo o autor menciona a importância de novas diretrizes para uma pesquisa educacional completa e eficaz. "(...) deveria a pesquisa educacional seguir os modelos da ciência e/ou da filosofia da ciência?". " Outro debate foi chamado de quantitativo x qualitativo. Aqui a questão volta-se à coleta de dados científicos ou deveria se voltar aos estudos de caso, que longe de tentar desenvolver princípios gerais, se concentram em um estudo amplo e holístico sobre a instituição individual, a pratica, ou os "atores" individuais? Ou dever-se-ia abandonar a pesquisa educacional de uma vez por todas porque algumas pessoas da área de educação acreditam que a teoria e a pesquisa têm pouco a oferecer às praticas da educação?".

Ainda neste capitulo, o autor se refere a problematização de um tema para melhor compreensão deste tema. " Questionar significados, condições e metas é ao mesmo tempo liberdade em relação ao que se faz. É tratar o objeto de pensamento como um problema. Um sistema de pensamento seria uma história de problemas ou uma problematização. Envolveria o desenvolvimento de um conjunto de condições nas quais possíveis respostas pudessem ser propostas. Mas não se apresentariam como uma solução ou resposta. (...) Finalmente, problematizar não é fazer questões à política a partir do qualquer perspectiva em particular. Não se deve abordar a problematização nem como adversário nem como um teórico ou ideólogo comprometido".

No final do capitulo ainda coloca em discussão a questão da punição corporal em alguns paises e suas implicações para toda a sociedade.



CAPITULO 3: LIBERDADE E DISCIPLINA: TRANSFORMAÇÕES NA PUNIÇÃO PEDAGOGICA.


Neste capítulo o autor analisa a questão da disciplina em todos os aspectos, tanto punitivos quanto políticos/sociais. Ele menciona a relação que alguns pedagogos fazem entre punição e coerção e que outros mencionam a relação entre disciplina e autodirecionamento ou prevenção. " Um dos maiores problemas na educação é como combinar a sujeição à disciplina requerida com a capacidade de fazer uso da liberdade. Pois a disciplina é necessária! Como cultivar a liberdade juntamente com a disciplina?"(KANT, 1899). " Deve-se mostrar à criança que se impõe a disciplina a ela com o intuito de levá-la a fazer uso de sua própria liberdade, que se cultiva a criança para que ela, ao final do processo, se torne livre, i.e., para que ela não precise ser dependente da assistência dos outros". (KANT, 1899).

O autor ainda faz menção a três tipos de punição:

? PUNIÇÃO ILUMINADA: " partindo da convicção fundamental da pedagogia do Iluminismo, segunda a qual a integração social do individuo deve ser ancorada na formação da consciência, as novas praticas de punição não mais apontavam primordialmente para o corpo e seus habitus, mas para um espaço interno, seja ele chamdo alma, imaginação, consciência ou razão. Essa mudança em particular já pode ser vista no inicio do Iluminismo, na disciplina pedagógica rígida e sublimada do conjunto das diversas instituições pedagógicas estabelecidas em Halle pelo teólogo e pedagogo August Hermann Franke (1663 ? 1727)". A vontade da criança ser subjugada passou a ser de fato um ato repressivo. A disciplina não é exercida com violência vingativa, mas com cuidado paternal. " O ponto obvio de ataque para essas formas de punição e disciplina não é mais o corpo; o que se coage é a alma, que é envergonhada, exposta ou desapontada".

? PUNIÇÃO DISCIPLINAR: " O século XVIII estabeleceu a base para formas mais sutis de controle pedagógico, que ainda são propagadas e usadas até hoje. (...) em vez de extorsão moral e da humilhação, apareceram a formação disciplinar e os exercícios corporais. As instituições disciplinares do século XIX, ao contrario, cada vez mais fizeram uso do exercício, do treinamento silencioso, da correção continua, por trás das quais uma relação pessoal ? no ato da própria punição também ? desempenha um papel cada vez menor. A punição de torna um ato administrativo presente em um sistema de aprendizagem completamente racionalizado". " Finalmente, a punição disciplinar é apenas um elemento integrador de um sistema mais amplo de recompensas e sanções, de condicionamento e negação, que abrange o individuo. Ela opera como um micropoder que atua no corpo discente e busca ligar um gasto mínimo a um efeito Maximo. É por isso que Ziller(1817 ? 1882) em geral rejeita a punição corporal: não se trata de um meio de educação e pode ser "deixada para a policia". Punições durante a aula, segundo Ziller: PAUSA, OLHAR DESAPROVADOR; MOVIMENTO DA MÃO, BATER NA MESA; ADVERTENCIA VERBAL; REPRIMENDA ACOMPANHADA DE UMA AMEAÇA SERIA E RESTRITIVA; ISOLAR O ALUNO DA CLASSE; RELATÓRIO PESSOAL DO ALUNO AO PROFESSOR E AO DIRETOR.

? PUNIÇÃO PANÓPTICA: acredita-se aqui que a punição de fato não precisa ser exercida, pois já tem um efeito inconsciente. Os procedimentos disciplinares demonstram sua completa eficácia justamente quando não precisam sequer serem visíveis. "O foco da pedagogia reformadora abandonou o sistema escolar de disciplina e voltou-se decididamente para a criança. (...) Dessa forma, a rede disciplinar não é mais organizada em termos de decretos administrativos, mas em termos dos mecanismos de direcionamento ultra-flexiveis da vida escolar. Fala-se agora em livre dinâmica das capacidades, de estar liberto do solo da comunidade. A escola avança para o estagio da vida e é entendida como uma esfera de capacidades. (...) Claramente, a mais severa punição nesse ambiente é a exclusão da escola ou da própria comunidade da turma. A exclusão poderia ser precedida de sanções graduais, tais como perda de uma colocação ou o direito de mantê-la, o direito de votar nas reuniões de classe ou a exclusão das atividades da escola, como excursões, festas e etc.".







CAPÍTULO 4: PEDAGOGIA E CUIDADO DE SI NAS RELAÇÕES MESTRE-ALUNO NA ANTIGUIDADE.


Neste capítulo o autor faz uma breve descrição da importância de Foucault para a área pedagógica, principalmente quando este compara e analisa as relações mestre-aluno na Antiguidade. " realmente não consigo entender o que é tão reprovável na pratica daqueles que sabem mais de um determinado jogo da verdade do que outro participante e que dizem a esse outro o que deve fazer, ensinam-no, passam-lhe conhecimento e explicam-lhe tecnicas. O problema surge muito mais em saber como, quando se usa tais praticas, evitar os efeitos da dominância. Tais efeitos fariam de um garotinho subserviente à autoridade sem sentido e arbitraria de um professor da escola primaria, ou fariam um aluno dependente do professor que abusa de sua posição etc. Acredito que esse problema deve ser entendido em termos das leis relevantes, dos métodos racionais de controle e também da ética, da pratica de controle do eu e da liberdade" (FOUCAULT, 1985).

Além disso, o autor mostra a diferença que Foucault atribuía a pedagogia e a psicagogia, onde esta última teria a função de mudar o "ser essencial do sujeito" através da divulgação plena da verdade. O "cuidado de si" e o "falar a verdade" (parrhesia) também é foco deste capítulo, onde segunda Foucault, cuidado de si é uma condição pedagógica, ética e ontológica para ser um bom "governador", e impede que a pessoa abuse de seu poder. "Na ausência de um mestre não pode haver cuidado de si, mas a posição de um mestre é definida pelo fato de que ele se ocupa com o cuidado de si da pessoa a quem lidera, que pode chegar a isso por conta própria" (FOUCAULT, 2004). Mas para o mestre, o cuidado de si não é suficiente, "falar a verdade" deve também ser praticado. "É tarefa do mestra "contar tudo". (...) ele não deve apenas expressar o conteúdo da verdade mas também aplicá-la habilmente e viver de acordo com ela".



CAPÍTULO 5: FOUCAULT, O FALAR A VERDADE E AS TECNOLOGIAS DO EU: AS PRATICAS CONFESSIONAIS DO EU E DAS ESCOLAS.


Neste capítulo o autor discute o "falar a verdade", tecnologias da confissão e tecnologias do eu. "ser parte da historia das maneiras pelas quais os seres humanos têm regulado os outros e a si mesmos, à luz de certos jogos de verdade...[O] papel regulador das ciências psi está conectado a questões da organização e da reorganização do poder político que têm sido bastante importantes na formatação de nossa experiência contemporânea" (NIKOLAS ROSE, 1998).

"As escolas são instituições que claramente envolvem essa regulação e governança da experiência de seus alunos. Isso, por sua vez, constitui o eu. Para o professor, há importantes questões pessoais, profissionais e éticas para sua constituição do eu. Não obstante, além das implicações pragmáticas e possíveis efeitos sobre a vida e educação dos alunos, há implicações sobre como tanto aluno como o professor constituem seus eus por meio de diferentes praticas do eu ? cuidado de si, conhecimento de si, confissão e falar a verdade ? que provavelmente serão envolvidas no processo. As questões que surgem envolvem o efeito de falar a verdade ou de mentir, incluindo não dizer nada (i.e. mentir por omissão), e o efeito dessas praticas mais tarde dará forma à compreensão que o individuo tem de seu próprio eu. (...) Assim, o eu a que Foucault adere não é versão do Iluminismo que objetiva ser um eu coerente, consistente, racional, harmônico, autônomo e unitário. Ao contrario, Foucault favorece as formas descentralizadas, múltiplas, mutantes e mesmo contraditórias do eu, da identidade e das maneiras de ser".



CAPÍTULO 6: PARADOXO DE CAPACIDADE E PODER: ONTOLOGIA CRÍTICA E O MODELO DE DESENVOLVIMENTO DA INFÂNCIA


Neste capítulo o autor apresenta uma discussão sobre ontologia critica de Foucault, principalmente sobre a tradição iluminista e a crítica de Kant, "o que posso conhecer? O que devo fazer? O que posso esperar?". Na filosofia critica de Foucault é mencionado " o que se pode ser conhecido, o que pode ser feito e o que se pode esperar." Foucault não pretende que o projeto da ontologia crítica seja um "gesto de rejeição", um tudo rejeitar, mas, antes, uma crítica pratica para transformações possíveis. Sugere que o projeto tome uma atitude "experimental" em relação à "realidade contemporânea, tanto para entender os pontos em que a mudança é possível e desejável quanto para determinar a forma precisa que isso deve tomar".

Ainda é mencionado a questão do exercer o poder e suas relações. " Não estou me referindo ao poder ? com P maiúsculo ? dominando e impondo sua racionalidade sobre a totalidade do corpo social. Na verdade, há relações de poder. Elas são múltiplas, tem formas diferentes, podem estar em jogo nas relações familiares ou em uma instituição ou administração ? ou entre uma classe dominante ou dominada... é um campo da análise e não, em absoluto, uma referencia a uma instancia única. [Além disso], ao estudar essas relações de poder, eu, de forma alguma, construo uma teoria do Poder. Mas quero saber como a reflexividade do sujeito e o discurso da verdade estão relacionados ? "como o sujeito pode falar a verdade sobre ela mesma?" - e eu penso que as relações de poder que se dão umas sobre as outras constituem um dos elementos determinantes nessa relação que estou tentando analisar" (FOUCAULT, 1988).

Neste capítulo ainda é feito um estudo sobre o desenvolvimento infantil sobre o ponto de vista da ontologia critica. Ele cita alguns comentários que Locke e Rousseau fizeram a respeito do desenvolvimento infantil, alem de Shakespeare. Como Locke, Rousseau enfatizava a distinção da infância como uma fase da vida humana, tendo suas próprias maneiras de pensar, agir e ver as coisas. Porem, tanto um quanto outro, fizeram observações não-sistemáticas das crianças e não foram submetidas a estudos experimentais. Adolphe Quetelet introduz o estudo estatístico neste campo, aplicando a lei do erro, usado por astrônomos. Neste âmbito, o autor salienta que "a investigação histórica sobre o modelo de desenvolvimento mostra que a idéia de desenvolvimento não pode ser oferecida com perfeição em uma situação de dilema do tipo ou isto ou aquilo: ou você aceita o desenvolvimento ou o rejeita. Mas, ao entender o funcionamento dos efeitos normalizadores do conhecimento sobre o desenvolvimento das crianças sobre os indivíduos, os pais e outros cuidadores dispõem de uma base mais sólida de conhecimento para fazer julgamentos sobre o crescimento das crianças e das praticas de educação de crianças. O conhecimento do desenvolvimento físico e psicológico pode nos dizer quando algo deu completamente errado. Mas buscar os padrões estabelecidos pelas tabelas de desenvolvimento de forma simplória pode ser algo desastroso. Ao escolher usar o conhecimento sobre o desenvolvimento infantil, talvez em conjunção com outros modelos sobre como as crianças crescem, esses indivíduos estão rompendo com os efeitos normalizadores de tal conhecimento".



CAPÍTULO 7: ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO "GOVERNO": UMA PERSPECTIVA ANALÍTICA DO PODER.


Neste capítulo, o autor explicita a análise do poder que Foucault faz em algumas de suas obras. Para aqueles que são controlados, "[O poder] está neles investido, é transmitido por eles e por meio deles; exerce pressão sobre eles, da mesma forma que eles próprios, em sua luta contra o poder, resistem ao domínio que ele tem sobre eles" (FOUCAULT, 1994). O autor cita que Foucault apresenta a educação, as assistências publicas e o trabalho/assistência social, juntamente com a medicina e a psicologia, como sendo os pilares dos "mecanismos de normalização", existentes desde o inicio do século XIX e, portanto, como os herdeiros dos "mecanismos disciplinares" dominantes até então. " À medida que a medicina, a psicologia, a educação, a assistência pública e o "trabalho/assistência social" assumem uma parcela ainda maior nos poderes de supervisão e avaliação, o aparato penal será capaz, por sua vez, de tornar-se "medicalizado", "psicologizado" e "educacionalizado"; e pelo mesmo motivo aquele ponto critico representado pela prisão se torna menos útil quando, pela lacuna entre seu discurso penitenciário e seu efeito de consolidação da delinqüência, articula o poder penal e o poder disciplinar. Em meio a todos esses mecanismos de normalização, que estão se tornando cada vez mais rigorosos em sua aplicação, a especificidade da prisão e seu papel de ligação estão perdendo de seu propósito" (FOUCAULT, 1994).



CAPITULO 8: O "INTRA-EMPREENDEDOR" E A "MÃE": ESTRATÉGIAS DE "FOMENTO" E "DESENVOLVIMENTO" DO EMPREENDEDOR DE SI NO DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL E NA AÇÃO AFIRMATIVA.


Neste capítulo o autor começa explicitando sobre conceitos de desenvolvimento organizacional e suas realizações, e como isso pode ser analisado de um modo educacional. " (...) o conhecimento educacional tem (...) a tarefa de otimizar a eficiência dos recursos humanos. Constrói a aprendizagem duradoura do "empreendedor de si mesmo" em estratégias de um desenvolvimento organizacional. Ao mesmo tempo, vemos a estratégia de "fomento e desenvolvimento" de recursos humanos na mãe como "empreendedora da família", que é responsável pela otimização das qualidades da criança por meio da educação" (WEBER, 2006).

O autor menciona o levantamento de alguns diagnósticos de problemas, como o risco, o aumento de complexidade e falha de controle das diversas redes sociais que existem, além de diferenciar burocracia de mercado. Comenta que o conhecimento educacional tem a tarefa de gerar o sujeito melhorar por conta própria. Idéias de gerenciamento do próprio eu também aparecem no texto, focalizando a possibilidade da reinvenção do próprio eu e a pratica da autodefinição e auto-exame.



CAPÍTULO 9: PENSANDO A GOVERNAMENTALIDADE " A PARTIR DE BAIXO": O TRABALHO SOCIAL E OS MOVIMENTOS SOCIAIS COMO ATORES (COLETIVOS) EM ORDENS MOVÍVEIS/MÓVEIS.


Este capítulo explora a noção de Foucault sobre a governamentalidade relacionada aos auto-entendimentos, perspectivas e experiências coletivas no contexto do trabalho social "crítico/radical" que está historicamente conectado aos movimentos sociais. O autor ainda menciona fatos históricos sobre a Europa Ocidental, na transição de uma sociedade feudal para uma sociedade capitalista durante os séculos XVIII e XIX. Menciona os conceitos e modos de vida e ordem familiar. Enfatiza, durante a virada do século (1900) a classe trabalhadora e o movimento feminista na Alemanha em relação ao desenvolvimento da pedagogia social, da política social e do trabalho no sentido moderno. Os dois movimentos surgiam talvez de uma necessidade de "mudar a situação" e neste sentido Foucault "nos ensina que vale a pena prestar atenção à história da própria problematização enquanto se reconstrói historicamente os processos de mudança social e o estabelecimento de novas ordens sociais".

Novos movimentos como o da Nova Esquerda, os direitos civis e o movimento estudantil dos anos 60 na Alemanha também são abordados neste capítulo. Portanto o autor descreve a questão da governamentalidade de Foucault como estratégia política que precisa ser entendida para que os múltiplos micropoderes possam ser entendidos, não como sinal de repressão, mas como sentido à liberdade.



CAPÍTULO 10: SOMENTE O AMOR PELA VERDADE PODE NOS SALVAR: FALAR A VERDADE NA UNIVERSIDADE (MUNDIAL)?


Neste capítulo os autores fazem um questionamento sobre o velho conceito de universidade. " A velha idéia de universidade está morta. Enquanto isso, "os últimos acadêmicos" terminaram seu pranto ? confessamo-nos à comunidade da equipe acadêmica empreendedora centrada na qualidade e na excelência". Menciona ainda o "falar a verdade" em uma universidade moderna (como conceito do final do século XVIII) e ainda cita a educação cientifica nestas universidades. Relaciona o pensamento na universidade à produção de conhecimento. "(...) a universidade busca oferecer competências de pesquisa que capacitam as pessoas a produzir conhecimento de maneira autônoma. E já que os profissionais em uma sociedade de conhecimento também precisam de competências de pesquisa, o treinamento de profissionais de pesquisa é outro desafio para a educação na universidade".

Discute ainda a necessidade de reformulação da filosofia de uma universidade e o quanto esta pode promover uma nova perspectiva do "falar a verdade". Discute o que chamamos de excelência em uma universidade, primeiramente na visão de Mittelstrass, enfatizando a necessidade de uma racionalidade edificante no âmbito da pesquisa cientifica, mas da mesma forma que oferece não só uma orientação, mas um conhecimento sobre a orientação. Mostra um outro ponto de vista de Derrida (2001), que inclui um pensamento jurídico sobre o " falar a verdade" e o conhecimento cientifico. " A ciência e a educação fundamentadas em disciplinas impedem que certos desafios e demandas externas entrem na universidade. De certa maneira, as disciplinas tornam-se prisioneiras de seus próprios discursos. Portanto, Derrida propõe orientar a universidade para a alteridade.



CAPÍTULO 11: FOUCAULT: A ÉTICA DA AUTOCRIAÇÃO E O FUTURO DA EDUCAÇÃO.


Neste capítulo o autor faz uma breve descrição sobre a visão de Foucault sobre ética e liberdade (Liberdade é a condição ontológica da ética. Mas ética é a forma deliberada assumida pela liberdade). " Não é um campo de regras, princípios ou preceitos, é um campo de nossa autoconstituição como sujeitos. [Consiste em ] um conjunto de atitudes, praticas e metas pelos quais guiamos nossa auto-compreensão moral. Nesse esquema, a ética é um subconjunto da categoria da moralidade". O autor deixa muito claro a relação que Foucault fazia em quanto a liberdade e ao poder, mencionando que não há liberdade sem poder, assim como não há poder sem liberdade.

O autor compara bastante ainda a questão ética de Foucault com o imoralismo de Nietzsche. "A ética de Foucault não contém nenhuma das armadilhas do imoralismo de Nietzsche, embora ele subscreva a mesma busca pela inflexibilidade da integridade e da autenticidade intelectual e compartilhe da fonte filosófica do imoralismo de Nietzsche, nomeadamente seu perspectivismo, seu ceticismo quanto à defesa da verdade objetiva sobre qualquer cosia, não somente a moralidade". Menciona ainda a ética do autocuidado em que Foucault cita que "o cuidado de si é naturalmente conhecimento de si ? esse é o aspecto socrático-platônico ? mas é também o conhecimento de um certo numero de regras de conduta ou de princípios que ao mesmo tempo verdades e regulações. Cuidar de si é prover-se dessas verdades. É aí que a ética se relaciona ao jogo da verdade".



CAPÍTULO 12: PESQUISA EDUCACIONAL: OS "JOGOS DA VERDADE" E A ÉTICA DA SUBJETIVIDADE.


O autor começa descrevendo a importância de Foucault sobre a pesquisa educacional. " Em particular, suas genealogias do sujeito humano, suas historias de subjetividades e sua analise de como as relações de poder e os discursos moldam os processos de autoconstituição ética têm provado ser abordagens poderosas para o estabelecimento de histórias críticas da infância, dos estudantes e das escolas, e também para o auxilio a pesquisadores na problematização de conceitos, categorias e instituições educacionais". " Foucault oferece um conjunto de metodologias históricas e um refinamento das ferramentas de analise que capacitam as epistemologias social e espacial das regimes discursivos e institucional".

O autor cita ainda o significado de jogos de verdade e filosofia analítica, numa visão foucaultiana. "A preferência de Foucault por uma forma de pensamento critico relacionado a "jogos de verdade" mais do que à filosofia da verdade, ele descobre em nossa herança clássica grega: as duas ? analítica e critica ? surgiram lada a lado".

Cita ainda um modelo para entendimento da pesquisa educacional. "A pesquisa educacional é um conjunto de praticas que são fortemente influenciadas por formações culturais epistêmicas mais gerais e códigos que modelam as condições de possibilidade para o conhecimento educacional e determinam as "regras de formação" para as racionalidades discursivas que operam além do nível da consciência subjetiva do pesquisador. Em termos de subjetividade do pesquisador educacional, podemos talvez melhor destacar a noção foucaultiana de "práticas do eu por meio do exame rápido da pesquisa qualitativa e do modo pelo qual o agora tradicional conceito de "observador participante" já começa tacitamente o processo de "retirar de dentro dos parênteses" a subjetividade do pesquisador ? isto é, desafiando a ideologia objetivista associada ao fato de se colocar entre parênteses as crenças , premissas, gostos e preferências ? a fim de reconhecer o quão profundamente ela penetra a sua construção de conhecimento. Foucault também nos oferece os meios para começar a questionar a relação entre pesquisador como autor e texto, entre fazer pesquisa e reportá-la. Há diversos modos de reportar, nenhum dos quais tem privilegio sobre a verdade. A pesquisa educacional qualitativa, que se baseia no entendimento do pesquisador mais do que no diálogo construído que ocorre entre os participantes ? embora com diferentes papéis e responsabilidades ? não pode mais ser sustentada. Dá ainda maior ênfase a autoconscientização do pesquisador, da identidade do pesquisador e da ética da autoconstituição, que desafia e Poe em destaque novamente o pesuisador/sujeito e suas representações disvcursivas e metodológicas".








CAPÍTULO 13: UMA POLÍTICA EDUCACIONAL CRITICAMENTE FORMATIVA: FOUCAULT, DISCURSO E GOVERNAMENTALIDADE.


O autor começa falando da análise da política e seus estudos. Mas a política, não num aspecto partidário, mas em um nível geral, de política no sentido de conduta, orientação, objetivo, ou mais especificamente, de conduta geral de um individuo adotada em apoio a outros objetivos e desejos. Define ainda DISCURSO, sendo um conjunto de idéias, conceitos e crenças que se estabelecem como conhecimento, ou como uma maneira aceitável de olhar o mundo. A partir daí relaciona um conceito a outro. "Os discursos são os recursos, a própria matéria a partir da qual os textos em que se faz referencia à política são produzidos. Discursos dominantes, complementares, persuasivos, legitimadores, contrastante e discordantes formam o tecido dos textos das políticas. A amplitude desse tecido alarga-se, incluindo documentos, declarações, legislação, falas, eventos, materiais de treinamento, sites e uma ampla gama de locações políticas que incorporam declarações autoritárias de valores, prescrições, futuros, prioridades e obrigações".

O autor ainda menciona a importância da governamentalidade segunda Foucault, onde oferece um segundo horizonte em relação aos estudos da política de ação educacional. " A governamentalidade é um prisma que ilumina um estrato particular de investigação, uma perspectiva que examina, com um olhar histórico, o governar, como uma atividade deliberada, propositada e técnica, dirigida ao sujeito, à sociedade ou a alguma subdivisão categorizada do corpo social. Essa atividade reside e opera em um meio conflituoso, complicada pelo que é contingente, inesperado e continuamente desequilibrado pelo funcionamento das lutas discursivas". Menciona ainda a influencia do estado numa política educacional, num âmbito da governamentalidade, citando aspectos neoliberais e liberais de governo.



CAPÍTULO 14: INVOCANDO A DEMOCRACIA: A CONCEPÇÃO DE FOUCAULT (COM INSIGHTS RETIRADOS DE HOBBES).


O autor aproveita para esclarecer algumas visões que Foucault possuía sobre democracia, liberdade e ética. O autor menciona ainda a importância da ética em nossa sociedade e como ela nos guia. "A ética, como tal é a parte da moralidade, mas enfoca exclusivamente códigos de comportamento moral. Ela concentra-se na relação do seu eu consigo mesmo, pois o modo com que nos relacionamos conosco mesmo contribui para a amaneira pela qual nos construímos e formamos nossas identidades, tanto quanto pela maneira que levamos nossas vidas e governamos nossa conduta". Foucault afirma sobre a prática da liberdade: "A liberdade é a condição ontológica da ética. Mas a ética é a forma deliberada assumida pela liberdade. Isso significa que o "cuidado de si" implica a liberdade e a ética, o que presume certa forma de estrutura social: certo grau de liberação".

O autor ainda cita a preferência que tinha Foucault em chamar de política da verdade. "Foucault promoveu uma reviravolta no pensamento político que priorizava a questão da soberania que perguntava pela questão de "como ser governado?" A análise de Foucault tem como grade de inteligibilidade a guerra. Na esteira de Nietzsche, sua questão é: quem vai colonizar os indivíduos? A teoria da soberania, com Hobbes, procurou evitar a realidade da guerra. Por isso, Foucault toma outra via para pensar a filosofia política. Ele rejeita o discurso jurídico-filosófico da tradição e se filia a um discurso histórico-filosófico e contingente da guerra das raças como um saber nobre que pode codificar com mais precisão a realidade da guerra. Aqui, o biopoder aparece como a maquinaria social que atua na fabricação da subjetividade dos indivíduos que para isso se utiliza da norma, daquilo que a sociedade institui como normal como política da verdade".








Autor: Bruno Pedroso


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