AMAZÔNIA E O CAPITALISMO: UM APARTAMENTO COMPLEXO



Saber se essa relação é benéfica ou é ainda mais prejudicial ao pluralismo. Até que ponto pode existir ou não a relação transacional entre cultura e capitalismo e assim a Amazônia poder ser vista de uma forma na qual, talvez, jamais fora vista, uma visão mais distante possível do El Dourado, visão que perdura sobre ela há vários séculos desde a saída por primeiro navegante rumo ao desconhecido Mar do Ocidente. Levantar questionamentos sobre este aspecto além de reviver o processo de colonização brasileira, com a forte opressão européia na tentativa de aculturação dos índios para torná-los aliados da metrópole com as chamadas missões, é também perceber que grande parte do principio colonizador ainda se mantém, agora não mais por Europeus, mas sim por brasileiros e inclusive moradores da própria Amazônia.







A AMAZÔNIA E O CAPITALISMO: UM APARTAMENTO COMPLEXO

A Amazônia se apresenta hoje como uma grande fonte de riquezas naturais e culturais do mundo, aspectos que sempre se encontraram na mesma, mas apenas um foi extremamente valorizado durante os séculos, o de caráter econômico mercadológico, que sempre priorizou a exploração da Amazônia a fins lucrativos, desmatando, extraindo e queimando, desconsiderando de forma cruel e humilhante as manifestações culturais ali existentes que dependem diretamente do meio natural em que vivem.

Para melhor compreensão do que está a se dizer faz-se necessário um embarque nas caravelas dos europeus, viajando na história da chegada do homem "branco civilizado" na Amazônia, que em busca de novas fontes de riquezas, ainda existentes na Europa, mas pouco para os ideais imperialistas, não permitiria que nada se opusesse em seu caminho muito menos uma multidão de nativos equiparados a "animais selvagens"
O período histórico conhecido como Idade Média, período que antecede a rotas do "descobrimento da América", com seu regime feudal começa apresentar seus primeiros passos de decadência paralelamente as limitações de produtos considerados indispensáveis a classe social dominante, esse fato fez com que as relações comerciais se expandissem além dos feudos, até então, auto-suficientes. Ao passo que essas relações comerciais se alargavam a necessidade do novo correspondia à mesma proporção, ao ponto da Europa se lançar ao desconhecido e "tenebroso mítico" mar do Ocidente a livrar-se do monopólio Italiano no mar mediterrâneo a caminho da Índia.

Os aproximados dez séculos em que parte da Europa viveu em regime feudal- Idade Média- por apresentarem novas características dão origem a primeira fase do capitalismo, o comercial, e a uma nova roupagem histórica conhecida como Idade Moderna, período assim marcado pela fase do expansionismo-imperialista e mercantilista.

A chegada na Amazônia, com Orellana, entre o grupo dos primeiros europeus a chegar à região, começou o que se imaginou como desvendamento do fascínio da Amazônia em meados do século XVI, já a identificando como El-dourado, dando origem ao que Paes Loureiro convenciona chamar de visão hiperbólica sobre a região, onde desde os primeiros narradores até as analises mais contemporâneas, decorrem das inimagináveis grandezas da Amazônia.

O que achar de árvores mais altas do que as torres da Europa, criaturas com várias cabeças, um números de pássaros distribuídos em coloridos que pouco se enxergavam as nuvens? Em meio a tantas, a Diversidade Diversa a qual Paes Loureiro se refere ainda pode ser justificada por:

(...) "civilização fantástica do El Paititi, secreta sociedade continuadora dos Incas; selva majestosa; floresta tropical exuberante e impenetrável; floresta virgem onde reina uma natureza insubmissa; paisagem mágica de obstáculos mitológicos, habitada por seres prodigiosos; o país das amazonas, lugar de reencarnação de mitos ancestrais e universais; refúgio de reinos maravilhosos; pulmão do mundo; espaço de riquezas incalculáveis; natureza cheia de cidades encantada; realidade onde acontece à coincidência de opostos entre o real e o imaginário, onde a vida visível convive com as encantarias, que são as moradas dos deuses da teogonia/crença indígena e cabocla; habitat de homens cobertos de ouro; signo verbal mais universalmente conhecido; palavra individuada como valor de sonho e utopia consagrada pelo marketing; sedução recorrente no imaginário dos habitantes do mundo". ( Paes Loureiro, 2000)


Toda essa fantástica riqueza amazônica embora sempre notada, jamais fora colocada em primeiro plano, pois não era alvo de interesse do sistema capitalista vigente, que limitava a imagem do El dourado ao de mundo do ouro, deixando em segundo plano a maior e principal riqueza amazônica que é a sua diversidade cultural, e pior que isso extinguindo algumas delas.

A partir do século XIX com o surgimento de novos paradigmas à produção historiográfica, muitos sujeitos anônimos passaram a compor de forma continuada, discussões em livros, teses de mestrado, doutorado e artigos científicos de forma geral, recebendo voz que em outrora sempre fora silenciada. Esse emergir das manifestações culturais juntamente com a ação das minorias ( negros, mulheres, homossexuais, etc ), trazem de forma explosiva ao mundo, inovações, fonte de energia, alimento e matéria-prima da Globalização.

A globalização hoje está presente desde os atos considerados mais insignificantes possíveis até a exclusão política, dificuldades econômicas e sociais de nações como ela o faz, por exemplo, aos países do chamado chifre da áfrica. Mas então o que seria globalização?

A globalização é um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política, que tem como relação à minimização de preços em vários seguimentos econômicos dos países do mundo entre os séculos XX e XXI. É um fenômeno gerado pela necessidade do capitalismo de formar uma "aldeia global" que permita maiores mercados para os países centrais "cujos mercados internos já estão impregnados".

O processo de Globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. Gilberto Gil também destaca a globalização nos versos de Parabolicamará; "Antes mundo era pequeno porque terra era grande, hoje mundo é grande porque terra é pequena do tamanho da antena Parabolicamará".

O termo globalização engloba e exige que tudo se adéqüe de forma que se possa tirar proveito econômico, e cada vez mais o novo se faz necessário ao consumo, garantindo assim a manutenção compensatória da diversidade cultural, defendida pelo pluralismo com desafio de respeitar os diferentes grupos e culturas que compõem o mosaico étnico brasileiro e mundial, incentivando o convívio dos diversos grupos e fazer dessa característica um fator de enriquecimento cultural. Com ela propõem-se o respeitar as diferenças, enriquecer-se com elas e, ao mesmo tempo, valorizar a própria identidade cultural e regional. Também lutar por um mundo em que o respeito às diferenças seja à base de uma visão de mundo cada vez mais rica para todos.

O despertar das culturas trazendo em sua bagagem um curioso fantástico que possibilitam a sensação de um nunca acabado, desperta no capitalismo mercadológico, um interesse nunca antes visto por essas manifestações, talvez seja hora da Amazônia falar, e não mais ser falada, e estender através da globalização a riqueza multicultural existente nela antes que a globalização de etiquetas a todos e continue ditando inteiramente o ritmo dos vários seguimentos sociais na tentativa de utilizar da "inocência cultural" assim como os europeus o fizeram com os habitantes da Amazônia no Brasil colônia.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PAES LOUREIRO, João de Jesus, Cultura Amazônica: Uma Diversidade Diversa ( 2000 )
DE MELLO, Luiz Gonzaga. Antropologia Cultural: Iniciação, Teoria e Temas. Ed. 10. Editora Vozes, Petrópolis, 2003.

MARTINI, de Alice. Ciências Humanas e Suas Tecnologias: Ed 01. Editora IBEP, São Paulo, 2005

LINO, Geraldo; Carrasco, lorenzano. O Ambientalismo, um novo colonialismo: 11 a 22 In a Ambientalismo. Novo colonialismo . capax Dei Editora Ltda, 2005



Autor: Thiago Maciel Neves- Tmn


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