Psicologia Ambiental: Concepções e Métodos de Trabalho



PSICOLOGIA AMBIENTAL: CONCEPÇÕES E MÉTODOS DE TRABALHO

Edlane Leal dos Santos
Anderson Almeida Chalhub


RESUMO
Este estudo é um trabalho investigativo e exploratório sobre a Psicologia Ambiental, uma disciplina que tem como objetivo compreender a relação pessoa-ambiente, mas apesar de sua relevância ainda é um campo de estudos pouco disseminado no meio acadêmico no Brasil. Através de um estudo bibliográfico, será apresentado um pouco da história de seu surgimento, conceitos, objetos de estudo e possibilidades de atuação do psicólogo nesta área. Foi exposta uma síntese de alguns trabalhos já realizados em Psicologia Ambiental que analisaram a interação de crianças, adolescentes e idosos com ambiente institucional, a interação pessoa com ambiente urbano, entre outros, demonstrando a utilidade da disciplina no estudo da relação pessoa-ambiente como forma de promoção do bem-estar e busca da sustentabilidade. Sendo o ambiente, espaço produtor de desenvolvimento psicológico, emocional, pessoal, profissional e o comportamento, produto da interação do homem com o meio, a inclusão da Psicologia Ambiental no meio acadêmico se mostra bastante interessante, visto que o trabalho do psicólogo estará sendo influenciado pela estrutura física do ambiente em que seu cliente está inserido, sendo este também afetado pelas condições do espaço objetivo e vivenciado.

Palavras-chave: Psicologia Ambiental; Ambiente; Método de Trabalho.

INTRODUÇÃO

Desde 1750, a população mundial tem crescido de forma acelerada, tendo nos últimos cinquenta anos um aumento de 2,5 bilhões de habitantes para 6 bilhões. O represamento dos rios, o uso da água, o consumo de fertilizantes, a população urbana, o consumo de papel e a quantidade de veículos a motor aumentaram expressivamente sem indícios de que haverá uma inversão desse crescimento. Em paralelo, a natureza está mudando com o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, a quantidade de desastres naturais, a destruição acelerada das florestas tropicais e das regiões florestais e a extinção de uma variedade de espécies. Enfim, essas mudanças nas condições ambientais indicam que as atividades humanas podem promover mudanças bruscas no sistema planetário, com consequências ainda vagas (BERTÉ, 2009).
Diante da crise ambiental que hoje se tem notícia, vários setores sociais estão se mobilizando, possibilitando uma maior conscientização ambiental e fazendo com que as pessoas se preocupem mais com a preservação do meio ambiente. Lima (1998, p. 139-154) afirma que:
Entre as décadas de 70 e 80, tornou-se frequente a criação de secretarias, ministérios, agências especializadas, organismos plurinacionais e partidos políticos envolvidos com a questão ambiental. O setor privado tem se preocupado em introduzir em seus produtos e estratégias mercadológicas o "apelo verde", mesmo que de maneira enganadora e superficial, porque já detectou na opinião pública e consumidora o interesse por esta nova tendência. A preocupação ecológica se faz presente também na sociedade civil e setores religiosos, cresce o número de publicações ou de seções ecológicas em jornais, revistas e demais meios. As Universidades, apesar da dificuldade em superar suas barreiras disciplinares, introduzem o debate ambiental, ampliam o leque de suas possíveis abordagens e discutem propostas transdisciplinares.

É bastante adequado considerar que a ação humana pode fazer a diferença, podendo mudar a maneira de pensar o mundo, sendo necessário assumir riscos consideráveis em tentar modificar o estado atual e em defender uma alteração significativa na maneira pela qual as coisas são feitas. Quando os indivíduos atuam, demonstram interesses dos setores da sociedade em que são participantes e até podem superar suas origens passando a representar interesses dos menos sucedidos, social, economica e politicamente. Segundo Moran (2008), uma característica da ação humana parece ser a necessidade de acumular informações por um período de tempo, criando uma preocupação em certos setores e em ação por parte de alguns indivíduos, que associada a um evento importante, resulta em mobilização muito rápida e atuação efetiva, como no caso da adoção imediata do Protocolo de Montreal para redução do uso dos clorofluorcarbonetos (CFCs), responsáveis pela destruição da camada de ozônio.
O homem está a todo o momento em constante interação com o ambiente que o cerca, seja ele organizacional, educacional, urbano ou ecológico e por ser a psicologia a ciência que tem como objeto de estudo o comportamento, por que não uma subárea para investigar o homem e o ambiente, com uma atenção especial a interação entre os dois? Portanto, pouco difundida no Brasil, mas de grande relevância, Moser (1998, p.121) diz que a:
Psicologia Ambiental estuda a pessoa em seu contexto, tendo como tema central as "inter-relações" ? e não somente as relações ? entre a pessoa e o meio ambiente físico e social.

A Psicologia Ambiental tem por objetivo analisar as formas como as condições ambientais afetam as capacidades cognitivas, mobilizando os comportamentos sociais que causam impacto à saúde mental dos indivíduos, além de contribuir para análise das percepções e interpretações das pessoas sobre o meio ambiente. Ela pode trabalhar com outras áreas de conhecimento de forma interdisciplinar, como sociologia e antropologia urbana, ergonomia, desenho industrial, paisagismo, engenharia florestal, biologia, medicina, arquitetura, urbanismo e geografia, entre outras. E a sua abordagem metodológica, vai ser direcionada através do problema, sendo muitos deles beneficiados por uma pluralidade de métodos como observacionais, experimentais, entre outros. Utiliza o modelo pesquisa-ação, na qual o pesquisador tenta contribuir para teoria e prática na sua área (GÜNTHER. e ROZESTRATEN, 2004).
Definir a Psicologia Ambiental como um campo de estudos dentro da Psicologia,é possibilitar a compreensão de como o indivíduo reage às condições do ambiente; poder avaliar e perceber que os espaços físicos também vão influenciar na maneira de atuar das pessoas, pois se interage diferentemente dependendo do local; entender conceitos como:espaço pessoal, dimensão temporal ou projeção no futuro e referência ao passado, à história; poder também ver como o indivíduo se comporta no ambiente em que vive com o surgimento de doenças, enfim, perceber que o psicólogo pode atuar em vários campos e de forma multidisciplinar, no sentido em que os problemas ambientais são tão complexos que costumam exigir uma abordagem a partir de diferentes visões, necessitando uma colaboração interdisciplinar (WIESENFELD, 2005).
Descrevendo o processo histórico da Psicologia Ambiental, definindo a disciplina e seus objetos de estudo e apresentando possibilidades de atuação do psicólogo na área, este estudo permitirá o conhecimento de um "novo" campo da Psicologia ainda pouco disseminado na academia, mas que diante das atuais crises ambientais torna-se essencial para entender e melhorar os impactos da relação do homem com o ambiente, sendo ele natural ou construído. Contribuirá para a Psicologia por ser a ciência que estuda o comportamento humano, permitindo uma compreensão dos processos de conscientização ambiental, a percepção das pessoas frente ao meio ambiente e as atitudes relacionadas à preservação ou degradação diante do cenário atual.
A Psicologia Ambiental é também uma grande responsável para a melhoria tanto na edificação quanto na conservação dos espaços, beneficiando o convívio entre as pessoas, seja no ambiente familiar, educacional, organizacional ou urbano, pois conforme Morval (2007), o ambiente além de ser o cenário das nossas vidas, representa um estímulo abarcante e ao mesmo tempo avassalador, mas também insondável e misterioso, pois ainda temos dele uma representação que parece ser, em muitos aspectos, confusa e subjetiva.
Realizou-se um estudo bibliográfico, que segundo Demo (2000) é destinado a reconstruir teorias, conceitos, ideias, ideologias aprimorando fundamentos teóricos e/ou práticas, já que o assunto abordado não pode ser mensurado. A partir de palavras-chave como Psicologia; Psicologia Ambiental e Ambiente, livros, textos, artigos e periódicos científicos considerados pertinentes foram selecionados, de modo sistemático e reconstrutivo, encontrados em fontes de dados e pesquisas como Scielo, o Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de Brasília, REPALA - Rede de Psicologia Ambiental Latino-Americana e o Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Buscou-se as referências bibliográficas indicadas nos documentos encontrados, dando um melhor embasamento na pesquisa, enfatizando conceitos e história da Psicologia Ambiental. Após dados coletados com um olhar crítico, a fim de evitar informações confusas que venham prejudicar a pesquisa, construiu-se um quadro conceitual oportunizando a visualização do que os diversos autores dizem sobre a Psicologia Ambiental, distinguindo diferenças e semelhanças sobre sua definição e objeto de estudo.

UM POUCO DE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA AMBIENTAL

Psicologia Ecológica ou Psicologia Ambiental? Roger Garlock Barker, aluno, colaborador e assistente de pesquisa de Kurt Lewin, desenvolveu a Psicologia Ecológica, após perceber que havia algo além do modelo de espaço vital de Lewin ? onde o ambiente é aceito como campo subjetivo. Interessado em pesquisar sobre a organização dos acontecimentos públicos da vida diária, Barker e seus colaboradores observaram crianças em suas condições naturais, concluindo que as ações eram influenciadas pelos contextos, ou seja, o comportamento era diferente em cada contexto, denominando behavior setting . Portanto, o termo Psicologia Ecológica em países de idioma germânico se refere atualmente, ao modelo barkeriano com seus avanços, e o mesmo que nos países de idioma alemão, o correspondente a Psicologia Ambiental anglo-americana (CARNEIRO e BINDÉ, 1997; PINHEIRO, 1997).
Em 1943, foi a primeira vez que a terminação Psicologia Ambiental foi utilizada, por Egon Brunswik, psicólogo e PhD pela Universidade de Viena, que realizou pesquisa empírica sobre percepção, e também trouxe a sua abordagem probabilística para tolerar os problemas da percepção interpessoal, raciocínio, aprendizagem e psicologia clínica; ele se importava com estudos na área da psicologia sobre representatividade do design (ALVES e BASSANI, 2008). Sendo ele também responsável pelo conceito de validação ecológica, ou seja, um problema só é válido para ser pesquisado se tiver significância na vida cotidiana dos indivíduos estudados (GÜNTHER, PINHEIRO e GUZZO, 2004).
Na década de 70 do século passado, surgem pesquisas sobre relações entre seres humanos, ambiente físico e problemas ambientais, mas ainda não consideravam a influência mútua entre pessoa e ambiente, é quando a Psicologia Ambiental ganha o caráter de disciplina. Na década de 80, surgem os cursos universitários, firmando a área e, na década de 90, a Psicologia Ambiental passa por uma reestruturação averiguando formas de melhoria da qualidade de vida das pessoas em seu ambiente sócio-físico (FERREIRA, 2004; FREIRE e VIEIRA, 2006). Segundo Moser (2005), a Psicologia Ambiental criou conceitos como cognição ambiental, mapeamento mental, história residencial, identidade ambiental, percepção de aglomeração, etc. e, por isso, é uma disciplina e não apenas um ramo da Psicologia.
Possuindo uma "dupla-personalidade": Psicologia e Ambiente, a Psicologia Ambiental formou-se a partir de duas grandes raízes teóricas. A externa, formada por disciplinas distantes da Psicologia: Arquitetura e Planejamento Ambiental, Geografia e Ciências Bio/Ecológicas e também uma crescente preocupação das ciências naturais pelos problemas ambientais e o papel desempenhado pelo ser humano nesse contexto. E, a interna que surgiu a partir do interesse de compreender melhor o inter-relacionamento entre processos psicológicos e aspectos do ambiente, envolvendo a Psicologia da Percepção (Gestalt) e a Psicologia Social (PINHEIRO, 1997; GUNTHER e ROZESTRATEN, 2004). E, ainda segundo Gunther e Rozestraten (2004, p.4):
(...) é importante salientar que um dos aspectos que distingue a psicologia ambiental das suas raízes, e que constitui um dos elos entre suas vertentes: a atenção ao lugar, i.e., a localização do indivíduo diante dos elementos do seu ambiente.

Os primeiros estudos realizados pela Psicologia Ambiental abarcaram o tema da degradação ambiental que se acreditava ter uma relação com o crescimento populacional e o planejamento de ambientes construídos, pois após a II Guerra Mundial, vários países se preocuparam com a reconstrução de espaços de habitação e convivência social, inclusive setores psiquiátricos de hospitais, sendo os psicólogos solicitados por engenheiros e arquitetos. Este foi o primeiro momento em que se verifica uma preocupação pelo bem estar das pessoas em relação ao ambiente que se ocupa (FERREIRA, 2004; RIVLIN, 2003).
Autores nos Estados Unidos deram contribuições consideráveis para o firmamento da Psicologia Ambiental como Irwin Altman um dos precursores da pesquisa ambiental que desenvolveu a teoria da regulação da intimidade; Daniel Stokols ponderou o impacto da superpopulação em um espaço restrito sobre as atitudes individuais; Kenneth Craik propôs teorias para abordar e compreender as relações entre personalidade e ambiente; J. Russel e L. Ward fizeram o inventário dos progressos no domínio da psicologia ambiental na Annual Review of Psychology (Revisão Anual de Psicologia). Na França, A. Moles desenvolveu conceito de espaço; Perla Serfaty-Garzon contribuiu com a compreensão do espaço privado e público e espaço íntimo da casa; Gustave-Nicolas Eischer propôs uma análise do espaço industrial e avaliação ambiental do espaço de trabalho (MORVAL, 2007).
O desenvolvimento da Psicologia Ambiental em território brasileiro ocorre em paralelo a eventos em outros países, devido a formação de muitos profissionais terem sido no exterior e/ou manter contato com instituições através de congressos internacionais. Foi criada em 2001 a Rede de Psicologia Ambiental Latino-Americana (REPALA), composta por um site (http://www.cchla.ufrn.br/repala/home.html) e uma lista de discussão reunindo profissionais e estudantes de diversas áreas e vários países com objetivo de trocar informações (PINHEIRO, 2003).
No Brasil, em 1990 no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília foi utilizada pela primeira vez a denominação Laboratório de Psicologia Ambiental (LPA), coordenado atualmente pelo Prof. Hartmut Günther, voltado para estudos sobre técnicas e métodos de pesquisa, tendo como campo principal a cidade de Brasília. Foi criado o Laboratório de Psicologia Sócio-Ambiental e Intervenção da USP (LAPSI) e, junto com a International Association People-Environment Studies (Associação Internacional para Estudos Pessoa-Ambiente) - IAPS, realizaram encontros com vários representantes da área e afins, possibilitando apresentação de trabalhos, contribuindo para a divulgação do campo de estudos em território nacional.
Após este relato histórico, é necessário delimitar conceitualmente a Psicologia Ambiental mencionando sobre os seus objetos de estudo enquanto disciplina que determinaram o campo de atuação para psicólogos, já que a complexidade dos problemas ambientais exige muitas vezes uma colaboração de outras disciplinas, trabalhando de forma multidisciplinar.

CONCEITOS DA PSICOLOGIA AMBIENTAL E SEUS OBJETOS DE ESTUDO

Morval (2007, p.23) diz que a "Psicologia Ambiental, se desenha gradualmente como sendo o estudo das trocas entre as pessoas, os grupos e o meio natural, social e construído". Wiesenfeld (2005, p. 54) define como "a disciplina que estuda as transações entre as pessoas e seus entornos, com vistas a promover uma relação harmônica entre ambos, que redunde no bem-estar humano e na sustentabilidade ambiental". Pode-se concluir que o foco principal de estudo da Psicologia Ambiental é a influência da pessoa para o ambiente e vice-versa, visando melhores condições de vida, sendo assim confirmado pela equação de Kurt Lewin, criador dos termos ecologia psicológica e espaço vital, C = f (P x A), onde o ambiente (A) determinando o comportamento (C) é confrontado pela constante interação (x) entre pessoa (P) e ambiente, influenciando-se mutuamente.
Bowlby (1990) explica que para considerar a estrutura de um sistema, o meio ambiente em que ele funciona também deve ser considerado, pois o homem possui grande capacidade para modificar seu ambiente e ajustá-lo às suas necessidades, transformando em ambiente subjetivo, ele se adapta e faz adaptações, modifica o ambiente. Tassara e Rabinovich (2003, p. 340) comentam sobre um dos objetos da discussão entre os interessados pela área, dizendo que:
O ambiente objetivo não é o ambiente do sujeito, mas o substrato de como o ambiente vai se tornar algo do sujeito. Trata-se de analisar a construção da subjetividade em seu aporte material: como, de que forma, porque o ambiente objetivo se constitui em ambiente subjetivo, o que não distingue, portanto, a PA da Psicologia Social.

Bronfenbrenner (1996) traz em sua Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano, uma classificação de ambiente ecológico dividido em quatro sistemas, com um enfoque psicossocial, no qual o homem se relaciona e evolui: no microssistema as relações interpessoais são dadas face-a-face, a pessoa é participante e possui papéis sociais (casa, escola, trabalho); o meso e exossistemas consistem nos processos que ocorrem entre dois ou mais contextos, sendo que no primeiro a pessoa está inserida em todos e no segundo, ao menos em um deles a pessoa em desenvolvimento não participa, mas sofre influências; o macrossistema comporta características dos sistemas mais amplos como, cultura, economia, educação, política, etc. e seus efeitos são indiretos, ou seja, se manifestam através das interações da pessoa nos vários microssistemas que circula.
Semelhante a definição de Bronfenbrenner, porém com uma visão mais espacial e social, Moser (2005) classifica o espaço, também em quatro níveis, sendo: nível individual ou micro-ambiente: residência, implicando o indivíduo; nível da vizinhança-comunidade ou ambientes de proximidade: espaços semi-públicos (bairro, local de trabalho, parques, etc.); nível indivíduo-comunidade ou ambientes coletivos públicos: cidades, espaços intermediários, povoamentos diversos; nível social ou ambiente global: ambiente em sua totalidade, construído ou não, os recursos naturais e os referentes à sociedade enquanto tal.
Altman (apud Morval, 2007), identificou três tipos de territórios que correspondem aos ambientes discutidos pelos autores acima, porém ele atribui um sentido de grau de intimidade e controle por parte do indivíduo em relação ao espaço: territórios primários, a casa ou escritório particular, personalizados de forma que revelam a identidade individual ou do grupo; territórios secundários, menos exclusivos como um barzinho que por vezes aparecem clientes estranhos aos usuários habituais; territórios públicos, espaços abertos como praias, parques, etc., proporcionam pouca intimidade. Classificações do ambiente como as citadas, tornam-se fundamentais para um planejamento teórico e melhor estudo da relação homem-ambiente, já que o ambiente propicia o sentido e a identidade, posicionando o indivíduo social, econômica e culturalmente.
E o indivíduo que a Psicologia Ambiental considera, segundo Bassani, Silveira e Ferraz (2003, p.1694), é "o ser humano concreto, com uma história de vida, um contexto cultural, dotado de cognição e afetos, com identidade social e individual", concordando com Bronfenbrenner (1996), que caracteriza a pessoa como organismo biopsicológico complexo, em crescimento e atuante, composto por um sistema integrado (cognição, social, afetividade, emoção, motivação) que interagem mutuamente. Assim, a Psicologia Ambiental não tem como objetivo a resolução dos problemas ambientais e sim a crise das pessoas no ambiente (PINHEIRO, 1997). Parafraseando Rodriguez (1997, p.27):
Una de las expresiones más equívocas en los discursos sobre la crisis ecológica es la de "problemas ambientales". En realidad se trata de "problemas-de-la-humanidad", y, por ende, del comportamiento humano. Son los comportamientos de las personas los que provocan un incremento de la gravedad de un problema ambiental; y es sobre la vida de las personas sobre las que influye la alteración de un parámetro ambiental.

Observando algumas definições sobre o ambiente e o indivíduo, conclui-se que um não existe sem o outro e por isso, torna-se importante analisar como o indivíduo percebe o ambiente que vive e como este influencia seu comportamento e de que forma este contribui para seu desenvolvimento. O ambiente deve ser um abrigo que protege e dá segurança contra agentes exteriores; filtra qualidade e número de contatos sociais; transmite cultura, valores e interesses pessoais; tem a função de proporcionar prazer e desenvolvimento, dependendo da disposição da pessoa no momento e das experiências que favorecem a aprendizagem de novas habilidades (MORVAL, 2007).
O psicólogo ambiental trabalha com a percepção ambiental, estudo do ambiente físico com sua dimensão social e aspectos funcionais, enfoque da inter-relação e inter-dependência pessoa-ambiente como conceitualmente distinto da ação isolada de seus componentes sobre o comportamento (visão bidirecional), flexibilidade no emprego de níveis variados de análise, variabilidade da escala espacial, escalas temporal e ambiental, conhecimento psicológico sobre o desenvolvimento humano, etc., ou seja, o profissional precisa de uma bagagem de instrumentos visto que a variedade de aspectos que devem ser considerados no estudo da interação pessoa-ambiente é muito extensa (PINHEIRO, 1997).
Alguns conceitos básicos são importantes na Psicologia Ambiental como: espaço pessoal que é o que rodeia o corpo do indivíduo, sendo este o responsável por controlar acesso de outros, é o espaço que dá origem as interações do dia a dia; regulação da intimidade é a manutenção de um nível ideal de contatos sociais, com relação ao tempo e circunstâncias; comportamento territorial é a quando a decoração do ambiente reflete a personalidade dos ocupantes e afirma um controle, indicando posição hierárquica e tempo de permanência; competência ambiental abrange satisfação e motivação pessoal diante de uma ação no meio ambiente; responsabilidade ecológica são comportamentos dos cidadãos que visam a manutenção do equilíbrio ecológico (MORVAL, 2007).
Existem três maneiras de funcionamento na psicologia ambiental que remetem a prática profissional segundo Moser (2005), a acadêmica que se preocupa com a sistematização dos conhecimentos referentes à relação indivíduo-ambiente; a ligada à demanda social, tendo um caráter de investigação, funciona na área de pesquisa aplicada; e uma engenharia sócio-ambiental, que é a parte da pesquisa orientada, preocupada em acompanhar as mudanças introduzidas. Sendo uma disciplina multimétodos e não tendo uma teoria específica em que possa se apoiar, possibilidades de ação deste profissional serão descritas a seguir.

POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO

O ambiente é o campo de trocas cotidiana, cenário de vidas, estímulo complexo com aspectos confuso e subjetivo e por isso, são necessários estudos para que o ser humano possa aproveitar melhor o meio ambiente, não degradando tanto e permitindo que outras gerações usufruam desse espaço. Segundo Pinheiro (1997), a Psicologia Ambiental se interessa por compreender a interação do homem com seu ambiente para desenvolver estratégias e ferramentas de aplicação e intervenção que contribuam para a mudança dessa relação de forma mais consciente.
Será possível encontrar estudos com a mesma problemática, referente a um mesmo contexto, porém com abordagem metodológica diferente e isso, sendo determinado pelo profissional e/ou demanda do contexto, refletindo a riqueza do objeto da disciplina (EVANS, 2005). Apesar de cada profissional ter a sua maneira de ver o mundo, seguir uma determinada teoria e metodologia, de acordo com seus interesses pessoais e/ou profissionais, todo estudo em psicologia ambiental estará voltado exclusivamente para a relação pessoa-ambiente, e Wiesenfeld (2005, p.55) classifica como objetivos desta disciplina:
Estudar a relação pessoa-ambiente no contexto natural, vista como totalidade (ontologia), abordar a dita relação de maneira holística (metodologia), incorporar diversas perspectivas teóricas em seu estudo (epistemologia), enfatizar a dimensão social da relação humano ambiental, estabelecer vínculos com outras disciplinas interessadas na temática humano ambiental (interdisciplinaridade), aplicar os conhecimentos obtidos para melhorar a qualidade ambiental e, por conseguinte, a qualidade de vida dos usuários dos ambientes (pertinência social).

Visto a multiplicidade metodológica para estudar a interação homem-ambiente, torna-se necessário definir métodos para coleta de dados e técnicas que serão utilizadas, dando uma ênfase para o conhecimento prévio da temática, quantificação do tempo e recursos disponíveis. E segundo Gunther, Elali e Pinheiro (2004, p.3) "a maneira mais comum de lidar com as múltiplas abordagens, teorias e métodos numa área como a dos EPA é fazer referência à necessidade de um tratamento inter-, multi- e/ou transdisciplinar (IMT) dos temas por ela trabalhados". Fedrizzi e Tomasini (2008, p. 320-321) definem abaixo estes termos bastante utilizados na psicologia ambiental:
Multidisciplinaridade: configura uma situação em que diversas disciplinas se envolvem, porém, sem a ocorrência das suas respectivas interações;
Interdisciplinaridade: aqui, as interações e a coordenação se definem pela natureza da complexidade do problema em questão;
Transdisciplinaridade: finalmente, nesse caso, as interações não se fazem somente entre disciplinas, mas também entre os diferentes atores sociais envolvidos, sejam eles, os planejadores, os administradores e as populações locais.
Quanto à necessidade do trabalho interdisciplinar, Pinheiro (2005) faz um comentário sobre uma de suas experiências, onde após um "passeio ambiental" pela cidade de São Paulo, realizou uma avaliação e apenas um dos participantes mencionou a presença de pessoas no ambiente, as outras só se referiram a aspectos físicos. O mais interessante, é que não foi um psicólogo e sim uma arquiteta, confirmando a importância de diversas disciplinas darem as mãos e trabalharem unidas nos estudos pessoa-ambiente.
A maior parte das publicações se refere a questões de degradação ambiental, mas a disciplina não se resume somente a isso, mesmo sendo um problema complexo e de grande relevância. Ferreira (2004) apresenta alguns exemplos de estudos e intervenção na área, como: planejamento de edifícios (hospitais, casas, etc.), planejamento e avaliação de equipamentos urbanos (ciclovias, trens, etc.), tratamento de resíduos sólidos, consequências de desastres naturais, impacto de diferentes tipos de ambientes sobre populações específicas, relações de vizinhança, reações de pessoas vivendo situações extremas (cápsulas espaciais, estações isoladas), percepção e avaliação ambientais e enfrentamento de mudanças repentinas nas condições de vida.
Estudos são realizados para avaliar a influência de fatores de estresse ambientais, como o ruído, o calor, a poluição e a multidão que causam efeitos sobre o comportamento social (agressividade, ansiedade, perturbações do sono, etc.). A exposição prolongada ao barulho pode causar atraso no desenvolvimento de crianças, já que afeta a concentração intelectual e motivação durante a aprendizagem, e também pode provocar desequilíbrio psicocorporal nas pessoas, por exemplo, trabalhadores de fábricas barulhentas; o calor também é um grande provocador de prejuízos, estudos realizados em laboratório, onde pessoas eram expostas ao calor, concluíram que as relações sociais são menos positivas, menos hábeis e mais tensas quando a temperatura está muito alta (MORVAL, 2007).
Algumas das técnicas utilizadas em estudos pessoa-ambiente são: o auto-relato, questionários e entrevistas, porém todas apresentam limitações. A entrevista, de acordo com Günther (2008, p. 64) "salienta a relevância da dimensão físico/espacial do ambiente, integrante de experiências e ações humanas nos níveis intrapessoal e interpessoal, grupal e intergrupal", envolve aspectos do ambiente e permite a investigação de respostas variadas em/ou sobre diferentes ambientes, pois o pesquisador terá a possibilidade de saber sobre a percepção que o indivíduo tem do ambiente físico, o que ele vê, escuta ou cheira. Apresenta como limitações, o tempo exigido, os custos e as habilidades sociais do entrevistador. Evans (2005) fala que é importante analisar o ambiente físico objetivo e o contexto sócio-cultural que afeta o mundo e tem passado despercebido nos estudos de Psicologia Ambiental, o que poderá influenciar os resultados de pesquisa.
Quando o pesquisador procura saber sobre a percepção que o indivíduo tem do ambiente, ele está se referindo a percepção ambiental que é a apreensão da realidade externa, o ponto de vista que o indivíduo tem de seu entorno e o vínculo que ele estabelece. Conhecendo a percepção do indivíduo é possível produzir espaços que promovam satisfação e bem estar e até fazer intervenções bem sucedidas. São utilizados alguns instrumentos como, um conjunto de fotografias que simulam os espaços que se quer avaliar e um de adjetivos (diferencial semântico), a fim de verificar, principalmente, emoções que a imagem desperta (CAVALCANTE e MACIEL, 2008).
Gomes, Cavalcante e Grinfeld (2007) realizaram um estudo na cidade de Fortaleza, usando fotografias de 33 salas de espera de consultórios e clínicas odontológicas sendo apresentadas a 152 pessoas de ambos os sexos na faixa etária entre 18 e 47 anos, com escolaridade média e superior, distribuídos em dois grupos experimentais, os que sabiam e os que não sabiam que eram fotos de sala de espera de dentista. Foi analisada a percepção da sala de espera (espaço físico, tamanho, decoração, iluminação, ruído), o tipo de interação que pode ocorrer e o tempo de espera, relacionados ao medo manifesto pelas pessoas no atendimento odontológico. Foi utilizado, também, o diferencial semântico com quinze pares de adjetivos para avaliar espaços (grau de ordem/desordem; segurança/insegurança; impacto emocional) e ao final, uma entrevista com todos os participantes.
Os objetivos do estudo foram compreender como os pacientes percebem a sala de espera do dentista, e dentre os significados atribuídos, quais os mais comuns e se permanecem constantes ou se alteram. Sendo este espaço avaliado negativamente pela maioria dos participantes, visto que a permanência nele vem sempre atrelada a algum sofrimento, como tempo de espera, vivências desagradáveis (tamanho do espaço, odores, etc.) e a padronização dos ambientes que não dão oportunidade de variação dos comportamentos de quem ali permanecem por um tempo. Os autores fizeram algumas propostas para minimizar os efeitos negativos que a estadia na sala de espera traz: diminuição do tempo de espera; opções de passatempo nesse ambiente e melhor acolhimento e, orientação na academia junto aos profissionais de odontologia quanto a importância deste espaço, visto que cada pessoa dá um significado diferente e não se está nele por simples querer, mas por estar a espera de algo (GOMES, CAVALCANTE, GRINFELD, 2007).
Na técnica de auto-relato, as pessoas normalmente falam de seus desejos, acarretando em influência na pesquisa, por isso a observação é o método mais utilizado na área como meio de investigação da relação homem-ambiente, sendo aprovado por precursores da abordagem ecológica como Roger Barker e Urie Bronfenbrenner (PINHEIRO, ELALI e FERNANDES, 2008). Outras técnicas utilizadas são vestígios ambientais da ação humana (arqueologia do comportamento) que permitem analisar sinais ou marcas de ocupações, e mapeamento comportamental, a representação gráfica das localizações e comportamentos do indivíduo no espaço, por meio de observação in loco.
Di Castro (2005), objetivando analisar o cotidiano urbano e como agem as pessoas em um espaço limitado, realizou um estudo em elevadores de um shopping de Brasília no horário matutino (movimentação menor de usuários). Dividido em três etapas: estudo piloto para verificar comportamentos mais frequentes e suas implicações, entrevistas e observação participante de comportamentos de olhar, motores e verbais, sendo as duas primeiras fases consideradas insatisfatórias para o objetivo do estudo por constituírem anotações aleatórias sem embasamento teórico. Hipóteses levantadas foram confirmadas como, por exemplo, o espaço pessoal da mulher que é menor que do homem, ou seja, as mulheres ficam mais próximas de estranhos do que os homens e por isso, estes são mais susceptíveis ao apinhamento (desconforto por falta de privacidade).
Outro exemplo de uso do método de observação é um estudo que objetivou analisar a frequência de comportamentos inadequados (parar fora do ponto, não parar para desembarque, mover veículo antes do desembarque total, trafegar com portas abertas, avançar semáforo e excesso de velocidade) de um motorista de ônibus urbano em Brasília com relação a imprevistos que causavam paradas do veículo (passageiros ou trânsito). Concluiu-se que eventos do trânsito podem afetar o desempenho do profissional e causar estresse, pois estes tem uma probabilidade menor de controle por parte do motorista. Esse tipo de estudo, ajuda na elaboração de projetos para melhorias no trânsito que possam afetar de forma positiva a qualidade do ambiente de trabalho dos motoristas de ônibus (SILVA e GÜNTHER, 2005).
A Psicologia Ambiental trabalhando em conjunto com a Psicologia do Trânsito para analisar o comportamento de pedestres e motoristas no trânsito, poderá auxiliar outros profissionais em busca de redução de danos nesse ambiente, como: desenhista industrial, engenheiro mecânico e ergonomista para estudar veículos; urbanistas e engenheiro do trânsito para avaliar as vias; legislador para estudar, avaliar e propor regras de trânsito. O mais importante é realizar estudos, avaliações e propostas sempre integrando indivíduo, trânsito e regras sociais para evitar comportamentos inadequados que venham causar eventos desagradáveis (GÜNTHER, 2001).
O questionário, principal instrumento para levantamento de dados por amostragem, permite coletar informações das pessoas sobre suas ideias, sentimentos, planos, crenças e status social, educacional e econômico. Pode ser aplicado individualmente ou em grupo, por telefone ou correspondência (GÜNTHER, 2008). Para utilização desse instrumento o profissional precisa definir previamente o objetivo da pesquisa para poder determinar a população alvo, estando atento para o contexto social e cultural, a estrutura lógica das questões e a relevância da pesquisa que fará ou não o público escolhido responder.
A educação ambiental tem como objetivo promover consciência ecológica para que os cidadãos sejam capazes de refletir sobre o por que de fazer algo e não somente, como fazer, ou seja, uma educação para o meio ambiente. Daí a psicologia ambiental irá dar sua contribuição ajudando ao indivíduo a refletir sobre sua atuação no ambiente, mudando o comportamento e construindo valores, assim a prática da educação ambiental não fica reduzida a resolução de problemas ambientais locais, mas a transformação e conscientização dos participantes (LAYRARGUES, 1999) e para isso acontecer, a metodologia adotada é a pesquisa-ação (SOMMER e AMICK, 2003) que contribui tanto com teoria quanto com prática, podendo gerar uma sociedade sustentável.
Sustentabilidade significa a "responsabilidade na utilização dos recursos naturais e humanos, garantindo o equilíbrio da atual e das futuras gerações" (FEDRIZZI e TOMASINI, 2008, p. 315), isto implica mudança na relação homem-ambiente em busca de melhores condições de saúde, ou seja, um dos objetivos da psicologia ambiental. Para que ocorra a mudança, ambientes devem ser projetados envolvendo arquitetos, engenheiros, paisagistas, urbanistas, etc. confirmando mais uma vez a necessidade do trabalho interdisciplinar.
Campos-de-Carvalho e Padovani (2000) observaram dois grupos de crianças entre dois e três anos e suas respectivas educadoras (uma em cada), de duas creches em Ribeirão Preto - SP que atendem famílias de baixa renda, a fim de verificar como o ambiente influencia na formação de agrupamentos de crianças. Foram feitas análises estatísticas, mostrando que a estrutura do espaço favorece agrupamentos e quando próximas, as crianças participam mais de atividades compartilhadas, concluindo que ao planejar ambientes infantis coletivos é importante levar em conta o arranjo espacial com zonas circunscritas, favorecendo a interação entre crianças e educadora.
Agostinho (2003) realizou pesquisa para analisar os espaços físicos, suas configurações e classificação de uma creche da rede pública de Florianópolis, observando crianças de zero a seis anos para saber sobre a forma infantil de perceber, relacionar e viver no espaço físico das instituições, objetivando implementação de uma Pedagogia da Educação Infantil. Foi utilizado para coleta de dados: fotografias, observação-participante e entrevistas com profissionais e famílias, sendo os resultados analisados com base na arquitetura, antropologia, geografia, história, sociologia e psicologia. Observou-se que as crianças usam a creche como um lugar de movimento, de brincadeiras, relações com outras crianças e adultos, buscam privacidade/individualidade e como passam em média 12 horas por dia, mesmo sendo construções padronizadas, as crianças constroem o espaço, dando significados e novos sentidos.
Os dois estudos citados acima, concordam que a estruturação do espaço físico da creche promove a interação crianças-educadores. Apesar de, no caso das instituições públicas, apresentarem uma padronização, esses espaços se tornam diferentes, pois a decoração, arrumação dos móveis, disposição dos brinquedos e etc., acabam dando um diferencial demonstrando a identidade de cada grupo. A necessidade de transformar a creche em um lugar aconchegante, acolhedor e que promova segurança, também é importante para o desenvolvimento da criança, já que elas passam uma grande parte do dia longe de seus familiares, mais ainda na primeira infância, fase em que se está conhecendo o mundo. A aproximação da criança com o ambiente promove uma atitude de respeito e cuidado com o mesmo, sendo uma iniciativa na incorporação da ideia de sustentabilidade.
Dentre 41 escolas que oferecem educação infantil na cidade de Natal - RN, cinco foram escolhidas por Elali (2003), para realização de um estudo buscando avaliar o ambiente físico das instituições, sua ocupação e percepção das crianças e adultos, utilizando como método após vistoria técnica (levantamento e documentação arquitetônica), a observação comportamental, questionários, entrevistas e desenhos-temáticos. Concluiu-se que os ambientes de educação infantil de Natal, não estão adequados podendo dificultar o desenvolvimento das crianças que demonstraram uma valorização das áreas livres e o contato com a natureza diferente dos professores mais preocupados com estética das salas de aula.
Buscando-se investigar os lugares preferidos de adolescentes e como eles estabelecem ligação de apego e desapego com lugares, Günther e colaboradores (2003) aplicaram um questionário a 562 jovens de 13 a 19 anos de três escolas públicas e quatro particulares no Distrito Federal. As questões investigadas foram: "Qual é o seu lugar preferido?" e "Qual é o lugar em que você não gosta de estar?", tendo a própria casa mais indicada como preferida, visto que, a atual geração que frequenta creches logo cedo encontra no domicílio a segurança, privacidade e controle. Os shoppings são lugares preferidos dos jovens entre quatorze e quinze anos, pertencentes a rede particular de ensino e como lugares não preferidos, bar/boate/festa foram citados por 108 jovens e a vizinhança, por alunos de escola pública, devido a insegurança e violência que apresentam. Explicando sobre a motivação para este estudo, os autores ainda afirmam que:
Para a Psicologia Ambiental estudos sobre a identidade de lugar, apego a lugar e temas relacionados como, por exemplo, efeitos restauradores do ambiente, são necessários tanto para o bem-estar psicológico dos indivíduos quanto para a preservação de ambientes e comunidades saudáveis (p. 2).

A Psicologia Ambiental não se preocupa apenas com ambientes de crianças e jovens, existem estudos como o de Maior, Zutira e Bezerra (2007), alunas de Desing de Interiores do CEFET/PB, investigaram instituições para idosos com intuito de melhorar a qualidade de vida, detectando o nível de conforto físico e emocional dos usuários, utilizando conceitos da Psicologia Ambiental. Foram utilizados questionários, observações diretas, levantamento espacial e documentação fotográfica. Os itens investigados do espaço físico foram: cores, iluminação, acústica, ventilação e distribuição de móveis, sendo criticado pelas idosas o alojamento coletivo que acarreta na pouca privacidade. Ao final do estudo, foi recomendada implantação de ambientes sociais que promovam uma maior interação das idosas com o ambiente asilar durante atividades ocupacionais em grupo e individuais, minimizando os sentimentos de abandono, carência e desconforto emocional.
Além dos estudos citados acima, a Psicologia Ambiental pode estar presente também em ambientes organizacionais, analisando o espaço físico observando a funcionalidade, eficiência e nível de satisfação dos ocupantes daquele espaço, melhorando a relação e qualidade de vida no trabalho. Porém, não foi encontrado nenhum estudo publicado sobre esta temática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o estudo foi possível perceber que muitas pesquisas não estão classificadas como sendo da área de Psicologia Ambiental, dificultando o acesso a tais documentos. Talvez, os psicólogos ambientais ainda não acreditem na grande potência que é esta disciplina e como a sua aplicação na promoção do bem estar homem-ambiente pode gerar lucros na saúde, moradia, educação, etc.. Já que a área está em fase de desenvolvimento, deveria ser divulgada, favorecendo crescimento e conhecimento por parte dos profissionais.
Muitos estudos estão sendo realizados, mas aqui no Brasil, ainda muitos são teóricos, sugestivos e não-aplicados. No site do Laboratório de Psicologia da UnB, existe um banco de dados de pesquisas realizadas por estudantes e aplicadas no campus da Universidade. Muitos demandam de tempo e disposição na escolha dos instrumentos para coleta de dados e a análise requer habilidade metodológica. Por ser a Psicologia Ambiental uma disciplina emergente, faz-se necessário o investimento em pesquisas para adquirir subsídios suficientes para aplicação de técnicas e instrumentos, visto que a atuação do profissional pode ser feita de maneira variada e em uma infinidade de ambientes.
Assim como os vários tipos de ambientes, as populações pesquisadas também são variadas. Foram encontrados muitos estudos com crianças, adolescentes e idosos, porém o psicólogo ambiental poderá auxiliar profissionais da arquitetura, engenharia e afins, na construção de ambientes apropriados para outros tipos de população como deficientes físicos, auditivos e visuais, proporcionando um intercâmbio mais saudável entre pessoa-ambiente, dando acessibilidade.
Foi observada a real possibilidade do trabalho interdisciplinar, pois homem e ambiente são interdependentes e todas as disciplinas trabalham com ou no ambiente. A maneira como se projeta um espaço deve ser pensada de forma a possibilitar a interação, respeito e consciência dos cuidados com o ambiente. Porém, como as disciplinas que tem interesse em comum não estabelecem contato com a Psicologia Ambiental, cabe ao profissional desta área criar possibilidades para concretizar o trabalho interdisciplinar.
Faz-se necessário a inclusão da Psicologia Ambiental no meio acadêmico, pois os psicólogos vão trabalhar em diversos ambientes e poderá observar que sua atuação dependerá muito das condições do espaço físico e social, esse que ao mesmo tempo em que protege também adoece. Deve ser também ensinado aos alunos da academia, a trabalhar de forma interdisciplinar, através de atividades e pesquisas interdisciplinares que venham a contribuir para a formação de profissionais mais competentes.

AGRADECIMENTOS
Ao professor Marcelo Andrade por acreditar na capacidade de desenvolver o tema; Thiago Siqueira e Mônica Link pelo apoio e a Anderson Chalhub, pela orientação durante todo o processo de construção do presente trabalho.

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Autor: Edlane Leal Dos Santos


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