Educação Patrimonial no Setor Sucroálcooleiro. Uma proposta.



MARIO PEREIRA MAMEDE












Educação Patrimonial no Setor Sucroálcooleiro. Uma proposta.















GOIÂNIA 2008




Educação Patrimonial no Setor Sucroálcooleiro. Uma proposta




RESUMO





Este artigo é uma proposta para o desenvolvimento de atividades de educação patrimonial em áreas afetadas pela implantação de usinas sucroálcooleiras. A educação Patrimonial proposta aqui é uma sugestão a ser aplicada principalmente nos municípios é distritos onde o trabalho educacional possa ser desenvolvido junto a um público específico.


Palavras Chaves: Arqueologia, Educação Patrimonial, Proálcool.


Abstract: This article is a proposal to develop a new theoretical and methodological practices in Manegment and Education of the Archaeological and Public Heritage. This proposal is to apply in counties and local communities.
Key worlds: Arcaheology, Heritage Education, Alcool Industries.





INTRODUÇÃO

A educação patrimonial muitas vezes não têm sido uma das preocupações dos trabalhos de arqueologia desenvolvidos em áreas de implantação de obras do segmento sucroálcooleiro em Goiás. Talvez isso aconteça pelo fato de não estar claro o foco de abrangência desse tipo de atividade educacional em concordância com as atividades de arqueologia.
A legislação atual não deixa claro quando e em que fase da implantação do empreendimento se deve desenvolver atividades de educação que envolva a temática do Patrimônio Cultural. Desta forma, se as ações educacionais forem limitadas às áreas destinadas a implantação da obra a abrangência dessas atividades fica restrita a locais determinados e a públicos reduzidos aos empreendedores e trabalhadores da usina de álcool. Em geral, os limites da ação do trabalho de educação não consegue apresentar ações nos municípios e distritos próximos dessas usinas, ficando alocado a áreas diretamente afetadas pela construção de tais obras, limitadas ao parque industrial, a áreas de cultivo e de captação de água, com isso o foco da ação de um trabalho educacional sobre patrimônio cultural é constantemente restrito.
Desta maneira, a educação patrimonial fora limitada a um campo a um espaço a uma cidade a uma escola a um museu, e não a um trabalho que objetive uma maior identificação do público a respeito do que é cultura material, cultura edificada, cultura religiosa. Esquecemos assim do ser humano que trabalha direta e indiretamente na implantação dessa e de outras obras impactantes.
Nesse artigo apresentaremos propostas para o desenvolvimento de uma educação patrimonial no setor sucroalcooleiro, de forma a buscar uma maior compreensão sobre o patrimônio cultural.






1 - O Setor Sucroalcooleiro

Em trinta anos de existência o setor sucroalcooleiro brasileiro passou por grandes mudanças geradas por transformações econômicas e tecnológicas. Os anos 70 historicamente foi uma década de grandes investimentos no país, onde predominava a cultura do desenvolvimento é do crescimento do bolo econômico.
O Proálcool foi um programa energético desenvolvido pelo Governo brasileiro do então presidente da república Ernesto Geisel, foi criado em 14 de novembro de 1975 pelo decreto n° 76.593, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos (www.biodisel.com.br-acesso 22-08-11).

"Este programa apesar de suas falhas, injetou considerável soma de capital no setor fomentando o ínicio do desenvolvimento tecnológico em todos os segmentos econômicos relacionados com a produção de álcool a partir da cana de açúcar, principalmente". (Rossel, 2007)

Foi também nesse período que a produção de energia mundial atingiu seu limite principalmente com a crise do petróleo nos anos de 1973. Desta forma, o "Proálcool" contava com grandes investimentos e incentivos fiscais do governo brasileiro para a construção das usinas. Esses incentivos duraram até o ano de 1990. Com o fim desses incentivos o setor apresentou um grande decréscimo de investimento. Desta maneira, iniciou-se uma efetiva profissionalização e modernização desse segmento em busca de novas alternativas de rendimento.
Essas transformações e adequações tecnológicas ocorreram para atender a demanda do mercado em relação a fontes alternativas de energia, que não atenderia apenas aos veículos automotores mais serveria também ao abastecimento interno de enérgia elétrica como é feito pelas usinas atualmente.
Aproveitando o momento de expansão desse setor econômico é energético, o centro-oeste do país com suas terras férteis e topografia plana passou a despertar o interesse de empresários que aqui vieram com suas usinas, e nos últimos dois anos foram encaminhados mais de trinta projetos de implantação de usinas sucroálcooleiras a SEMA (Secretária Estadual de Meio Ambiente - GO).

1-1 - Estudos Arqueológicos no Setor Sucroálcooleiro. Responsabilidade de quem?
A arqueologia no Brasil como um instrumento pleno de formação educacional é carente de definições e conceitos a respeito de como seria seu papel em um processo educacional que objetive o bem maior que é um sentimento de identificação voltado para preservação do patrimônio cultural.
A preservação do Patrimônio cultural brasileiro é difícil, porque em certos aspectos ela é refém de problemas conjunturais que estão ligados a uma legislação que restringe e não deixa claro como se devem desenvolver os estudos do patrimônio cultural em conjunto aos trabalhos de arqueologia. Carece também de uma melhor estrutura para que se fiscalize a realização de tais programas tanto educacionais quanto arqueológicos.
Como parte dos processos ligados ao licenciamento ambiental para o caso de usinas sucroalcooleiras os estudos do patrimônio cultural arqueológico são desenvolvidos em áreas estabelecidas pela legislação e se desenvolve conforme as necessidades de liberação para a implantação da usina, que são, a área da indústria, do canal de adução e do trecho da linha de transmissão de energia.
A dificuldade em se evidenciar sítios arqueológicos em área da usina se dá porque, normalmente no local onde se construirá o parque industrial o terreno já foi bastante antropizado por sucessivas mudanças de cultura agrícolas e a constante utilização de máquinas no preparo do terreno para o cultivo provoca danos no solo que podem causar perdas de vestígios arqueológicos. O que não comprova a não existência de sítios arqueológicos.
Outra área a ser prospectada pelos estudos arqueológicos e a área do canal de adução d`agua. A área do canal de adução, comparado à área da indústria e de cultivo, esta e a que apresenta maior grau de integridade, com áreas preservadas e ainda não antropizado. Por isso segundo Melo (2007), e onde se encontra o maio numero de sítios arqueológicos.
Outra área esquecida pelos estudos e a de plantio, nessas áreas segundo Melo (2007) é que predominantemente os impactos serão contínuos devido à ação das máquinas para a colheita, e se houver queimadas, sofrera ação de fogo durante a colheita, pisoteamento constante devido o uso de pessoas no ínicio do plantio, fatores que modificam qualquer estrutura arqueológica que porventura poderia existir na área de cultivo e arrendadas.
A linha de energia elétrica é mais um caso de omissão do poder público e dos órgãos fiscalizadores, muitas vezes elas já se encontram prontas, implantadas sem nenhuma liberação arqueológica para a sua instalação.
Considerando a omissão de parte dos empreendedores e dos órgãos fiscalizadores, muitas vezes os sítios identificados não são objetos de um trabalho de resgate arqueológico impedindo a realização de pesquisas sobre aspectos significativos da ocupação humana em determinada área.
Segundo dados da empresa de arqueologia Griphus foram feitos levantamentos arqueológicos em trinta usinas de álcool, e encontrados 29 sítios, 2 ocorrências arqueológicas. Os sítios arqueológicos encontrados são conforme os vestígios, 3 Sítios Lito-Cerâmico, 20 Sítios líticos, 4 cerâmicos, 1 petroglifos e 1 histórico, sendo que, até o momento somente em duas áreas de usinas de álcool foram realizados trabalhos de resgate arqueológico e de educação patrimonial.
Sendo assim, além desse fator predominantemente ignorado pela agência ambiental SEMA-GO, por empreendedores e IPHAN, as áreas que por lei deveriam ser contempladas com estudos arqueológicos estão sendo erroneamente omitidas durante as fases de liberação das licenças de instalação, assim como, áreas que por lei deveriam ser objeto de estudos sobre o patrimônio cultural.
A responsabilidade de obras do setor sucrooálcooleiro não está apenas em construir a fábrica com a estrutura edificada, ela deveria se estender a um compromisso em desenvolver trabalhos que objetivem a preservação da memória, da identidade cultura e, sobretudo em preservar a história, itens importantes para a formação de uma nação.
Apresentar esses trabalhos desenvolver projetos em conjunto com as autoridades municipais criando iniciativas que objetivem a preservação do patrimônio cultural, seriam iniciativas que demonstrariam um maior senso de responsabilidade e respeito com uma herança cultural comum a empreendedores e autoridades.
Atualmente são os trabalhos de arqueologia em áreas sucroálcooleiras e que chamam a atenção das autoridades e empreendedores para a responsabilidade de cada um na preservação do patrimônio e valorização do mesmo. E é graças aos resultados científicos obtidos nos trabalhos de resgate a sítios arqueológicos (quando realizados) nas áreas de usina de beneficiamento de álcool que uma parcela do patrimônio cultural esta sendo preservada.

"Atividades educativas em Arqueologia deveriam ser motivadas espontaneamente, muito mais que prescrição de um princípio ético. Se os arqueólogos não compreenderem como a Arqueologia nos ajuda a entender o passado e o presente, outros poderão quem sabe, definir sítios arqueológicos como "Minas de Ouro." " (Herscher & McManamon apud, Fernandes, 2007)

Diante desses problemas o fator educação patrimonial seria uma alternativa para amenizar o constante desrespeito que o patrimônio arqueológico e cultural vem sofrendo com o descumprimento da lei e destruição de sítios arqueológicos em obras modificadora do ambiente.

2- Patrimônio Cultural ? Educação Arqueológica

Toda ação educativa deve ser precedida de um plano em que estejam claramente definidos: conteúdos, objetivos, métodos de ensino/aprendizagem, recursos. Faz se necessário ainda que estes componentes estejam articulados entre si para que facilitem os processos educativos.
Deste modo, esta proposta de educação patrimonial objetiva desenvolver um trabalho que propicie uma maior aproximação entre a comunidade e o seu entendimento sobre patrimônio cultural, fazendo com que essa identificação e valorização do patrimônio cultural, não seja algo elitizado e distante da realidade do povo (Maia & Lacerda, 2007).
A ação educativa realizada por meio de objetos culturais exige o uso de encaminhamentos metodológicos e de referenciais teóricos específicos, que permitam a decodificação de seus significados pelos atores sociais.
Desta forma, entendemos que:

" A Educação Patrimonial, centrada no objeto cultural, também preconiza a cultura viva, pois lida com a evidência material da cultura e apela mais para o concreto, o sensível, o visual e o emocional do que para palavras e idéias. A tarefa da Educação Patrimonial se refere a transmitir ao indivíduo a consciência do patrimônio cultural e essa consciência implica na consciência de que ele é produtor. Ele recebe, se utiliza (é portanto consumidor) e produz ou cria esse patrimônio. Ele se insere numa trajetória". (Alencar, 1989).


Neste caso, os sítios e objetos arqueológicos, além da sua materialidade concreta, possuem significados simbólicos que se acumularam ao longo de sua existência e que envolvem os motivos pelos quais foi criada, sua função para as sociedades que deles usufruíram e as formas como foram ou não preservados até o presente momento. (Lima, 2003)
Conforme Horta (1999), Educação Patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidência material ou manifestação da cultura, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um sítio histórico ou arqueológico, uma paisagem natural, um parque ou uma área de proteção ambiental, um centro histórico urbano ou uma comunidade da área rural, uma manifestação popular de caráter folclórico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expressão resultante da relação entre os indivíduos e seu meio ambiente.
A Educação Patrimonial torna-se, um processo constante de ensino/aprendizagem que tem por objetivo central e foco de ações o Patrimônio (Horta,1999). É nesse tópico que se encontra a fonte primária de atuação que vem enriquecer e fortalecer o conhecimento individual e coletivo de uma nação sobre sua cultura, memória e identidade. Através de ações voltadas à preservação e compreensão do Patrimônio Cultural, a Educação Patrimonial torna-se um veículo de aproximação, conhecimento, integração e aprendizagem de crianças, jovens, adultos e idosos, objetivando que os mesmos (re) conheçam, (re) valorizem e se (re) apropriem de toda uma herança cultural a eles pertencente, proporcionando aos mesmos uma postura mais crítica e atuante na (re) construção de sua identidade e cidadania. Identidade essa que, cada vez mais, urge por uma atençao especial dos diversos setores da nossa sociedade (QUEIROZ, 1989. HORTA, 1999).
O propósito de atividades de educação patrimonial é provocar na comunidade o redescobrimento e novas formas de olhar a arqueologia, de forma a desenvolver atitudes de preservação, proteção e respeito em relação a seus bens culturais, resgatando o que compõe a referência cultural das pessoas da comunidade e as formas de expressão cultural que constituem seu patrimônio vivo. (Viana, Mello & Barbosa 2004).
Assim, suas histórias de vida e o contexto histórico, social, cultural, político e econômico em que estão inseridos e serão determinantes no conhecimento sobre o patrimônio arqueológico.
A arqueologia deve buscar na memória, e no sentido de identidade os elementos para uma prática didática e pedagógica educacional que leve a compreensão dos indivíduos sobre a importância dos vestígios materiais. Isso seria correto se não nos identificássemos mais com o Santo Graal, com o manto de Cristo e Arcas perdidas do que com o cocar e machadinha de pedra de algum índio brasileiro.
Nosso arqueólogo escava cacos de cerâmica em longínquas terras e sertões do Brasil, mais pensa nas construções de Faraós e em cerâmicas gregas, e educa as pessoas com essa proposta, quando se dispõe a isso.
A educação entendida em um sentido mais amplo, não é apenas aquela obtida em escolas, e universidades, ela deve abranger nosso convívio social, e nos induz de forma sutil a valorizar mais a nossa própria memória.
Buscar uma identificação do público, quando se propõe o trabalho de educação patrimonial com o objeto material da arqueologia brasileira é um dos desafios para a arqueologia enquanto ciência. No Brasil não se ensina à noção de patrimônio cultural como uma responsabilidade cidadã. Então, não se pode exigir o que não se tem ensinado. (Pessis, 1997)
A arqueologia, ainda não encontrou uma maneira de fazer de seu objeto de estudo, a cultura material, um elemento eficaz capaz de educar de maneira pedagógica qualquer público.
Acreditamos que, a educação patrimonial em arqueologia poderá ser tratada como uma ciência com métodos e pedagogias próprias, a ponto de ensinar não apenas como se escava mais como esse conhecimento pode ser amplo e universal, capaz de estabelecer um vínculo de identidade em seu público e do mesmo ao objeto de estudo dos arqueólogos, isso ocorrera quando tivermos uma educação em que o patrimônio cultural seja considerado importante.
Desta maneira, em longo prazo poderíamos notar alguma mudança de atitudes em relação à destruição de sítios arqueológicos. (Mamede, 2007)
As atividades educativas ligadas à arqueologia devem fazer parte da pratica profissional de todo arqueólogo. Mesmo aqueles que não têm habilidades para tais práticas devem no mínimo apoiá-las. A tarefa do arqueólogo seria mais fácil se dele fosse cobrada somente a pesquisa. Mas o que está em questão em nosso exercício é a pesquisa para produção de um novo conhecimento. (Almeida, apud Mamede, 2007)
E o significado dessa importância despertada em um público mesmo que de forma singela e romântica, é a semente de uma consciência de valorização, e de identificação com tal patrimônio cultural.


3- Educação Patrimonial ? Uma Solução para a preservação do Patrimônio Cultural em municípios e distritos onde serão implantadas usinas de beneficiamento de álcool.

Memória não é algo do passado, é um fenômeno que traz em si um sentimento de continuidade e de coerência, seja ele processado individualmente ou em grupo, torna-se o fator preponderante para o entendimento de sentimento de identidade. (Santos, 2007)
Segundo Batista (2007) memória é de suma importância para à construção de uma identidade consistente de um determinado povo. Para isso é necessário que não deixe de rememorar, ir à busca das raízes, das origens, do âmago da sua história, etc.
Buscar as raízes, esse é um dos fatores determinantes para um desenvolvimento de educação patrimonial no setor sucroalcooleiro. A relação entre a obra e a responsabilidade de preservação do patrimônio cultural não pode se restringir ao simples e burocráticos trâmites de licenciamentos de operacionalidade, o empreendimento é uma obra modificadora não só do meio ambiente em que ela será implantada, mais percussora de uma grande e complexa relação cultural.
Temos dificuldade em apropriarmos de nossa herança, pois ela está impregnada de preconceito, quando entrevistamos um morador a respeito de pote de barro de índios, ele não liga não importa não encontra nem um valor nisso, mais em seguida ele pergunta se você encontrou ouro nos potes de barro, isso importa.

"O Patrimônio e o patrimônio econômico, e o que poderia ser considerado como patrimônio cultural era o que vinha importado da Europa. Assim a noção patrimonial que vai surgir no Brasil vem determinada pela historia da colonização." (Pessis, 1997)

A não importância dada ao objeto arqueológico demonstra por parte do empreendedor uma clara ignorância em relação ao patrimônio, muitas vezes por não saber claramente o que é, é o que significa esse tal patrimônio cultural.
Essa não identificação com os objetos arqueológicos, constrói um universo que muitas vezes é encontrado na própria percepção do que significa o patrimônio cultural da nação. A falta de compreensão leva ao descaso com aquilo que legalmente e importante como bem cultural, mais que não " importa" se for destruído. (Mamede, 2007)
A restrição do trabalho de educação patrimonial somente as áreas do empreendimento (ADA E AIA) , limita a compreensão do patrimônio cultural como um todo. Ao mesmo tempo não chama a atenção para outras questões do patrimônio cultural dos municípios que são importantes como o patrimônio edificado, religioso e histórico, que muitas vezes são elementos de um complexo acervo cultural existente em tais municípios é colocado de lado.
Desta forma, os trabalhos de arqueologia (para o setor sucroalcooleiro) deveriam contemplar de forma efetiva trabalhos de educação patrimonial que, em conjunto com as empresas de álcool contemplem outros aspectos do patrimônio cultural como memória, identidade e patrimônio edificado, itens importantes em qualquer região ou município e que podem ser apreciados com estudos mais amplos e eficazes.

Assim concordamos com a afirmação de Horta (2007),

" existem outras formas de expressão cultural que constituem o patrimônio vivo da sociedade brasileira: artesanatos, maneiras de pescar, caçar, plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir moradias e fabricar objetos de uso, a culinária, as danças e músicas, os modos de vestir e falar, os rituais e festas religiosas e populares, as relações sociais e familiares, as canções, as histó¬rias e lendas contadas de geração a geração, tudo isto revela os múltiplos aspectos que pode assumir a cultura viva e presente em uma comunidade."

A memória histórica constitui um fator de identificação humana sendo a marca ou o sinal de sua cultura. Reconhecemos nessa memória o que nos distingue e o que nós aproximamos. Identificamos a história são os seus acontecimentos mais marcantes, desde os conflitos às iniciativas comuns. E a identidade cultural define o que cada grupo é e o que nos diferencia uns dos outros. (Batista, 2007)
Os estudos arqueológicos têm sido importantes para chamar a atenção das empresas, órgãos públicos e comunidades em geral sobre a importância da preservação da cultura material.
Sendo assim, a Educação Patrimonial deve abordar de maneira clara e dinâmica os estudos sobre a diversidade cultural de um povo em uma determinada região. Estudos de educação patrimonial deveriam ser realizados com uma equipe específica de educadores que tenham pleno conhecimento sobre patrimônio.
Desta maneira, o casarão velho e abandonado poderia ser restaurado e passaria a ter sua história e arquitetura contada, as festas religiosas e toda sua dinâmica deveriam ser descritas, a música regional seria preservada também com ações de uma educação patrimonial bem feita.

" ........ para promovermos o reencontro e a reconquista de um grupo consigo mesmo, faz-se necessário reavaliarmos nossa própria visão de cultura, de identidade e de auto-reconhecimento no contexto para o qual estamos voltando nossa atenção" (Queiroz, 2007)

Com uma atitude ampla de educação patrimonial o empreendedor contribuiria socialmente com a preservação da memória da identidade de um município de um distrito através da especificidade cultural ali existente.
Dada a especificidade das ações associadas aos programas de Educação Patrimonial, se faz necessário desenvolver um conjunto de atividades que objetive inserir os indivíduos no processo de recuperação e construção da memória cultural.
Conforme Horta, Grunberg, Monteiro (1999), Lima (2003), a metodologia de educação patrimonial tem seu desenvolvimento em etapas sucessivas de percepção, análise e compreensão interpretativa dessas expressões culturais. Ainda segundo os autores, o desenvolvimento dessas etapas requer ações de observação, registro (percepção), exploração (análise) e apropriação (interpretação). Deste modo busca-se construir em parceria com os atores sociais um processo educativo voltado para o conhecimento e a valorização da memória e da identidade local. A preservação do patrimônio cultural é fundamental para a manutenção e o encontro da identidade social e cultural permitindo a identificação da dinâmica das ações humanas individual e coletivamente. (Mamede, 2008)
A metodologia da Educação Patrimonial é materializada através do estudo de objetos comunitários como estratégia de aprendizagem do contexto sociocultural. Neste sentido a educação patrimonial pretende ser um programa que busca a conscientização das comunidades acerca da importância da criação, valorização e da preservação dos patrimônios locais. Tal conscientização é construída por meio da interação da população com os patrimônios da região onde vivem.

3.1- Ações Diretas de Educação Patrimonial Para o Setor Sucroalcooleiro

Como dissemos acima a necessidade de integrar as comunidades locais dentro da história viva do município e da região requer fundamentalmente a aproximação desta comunidade com o patrimônio a ela associado. Neste sentido foram pensadas atividades interativas que buscam o despertar da consciência cultural, para que a valorização do Patrimônio Cultural venha não apenas instigar e fomentar a valorização da identidade local como um todo, como principalmente venha a criar agentes multiplicadores e difusores de conhecimento. A idéia é que tais atividades gerem redes de integração que venham a culminar no pleno exercício da cidadania e da responsabilidade frente ao patrimônio cultural.
As atividades foram pensadas dentro dos diferentes contextos sociais e locais, tentando maximizar o processo de criação do conhecimento. Assim nas,

ºFeiras Agropecuárias; atividade educacional direcionada pelo meio de exposição de artefatos arqueológicos expostos em vitrines, banners, panfletos explicativos, projeção de filmes e fotos, aproveitando o público diversificado de visitantes da feira.

ºFestas de Aniversário dos Municípios: Abrangeria parcela significativa da população, como parte dos festejos haveria uma exposição em um local público (Escola, Universidade, Sede da Prefeitura etc;) demonstrando aspectos significativos da arqueologia e da cultura regional,

º Festas Religiosas: Compreenderia atividade educacional com exposições, palestras e oficinas demonstrando as práticas cotidianas e as crenças religiosas e populares.

ºFeiras e Congressos científicos: Atividades direcionadas a estudantes em nível fundamental e médio (Feiras cientificas) e alunos Universitários (Unidades universitárias),

º Comunidade acadêmica: Serão realizadas palestras para os alunos das escolas e o corpo docente do município a fim de se criar agentes difusores de conhecimento, que auxiliem na fiscalização e preservação do Patrimônio Arqueológico e Cultural.

º Comunidade diretamente associada ao empreendimento: Trabalhadores, executivos, técnicos, etc. Serão realizadas palestras, visando também à formação de agentes difusores. Tais palestras irão ressaltar as especificidades do empreendimento frente ao Patrimônio Arqueológico. Tendo em vista que ainda se iniciará o empreendimento.

º De modo geral:

Ï incentivar a auto-sustentabilidade por meio da criação de produtos artesanais associados aos bens arqueológicos locais.
Ï desenvolvimento de mídias pedagógicas como revistas em quadrinhos, vídeos, banners e folders.
Ï desenvolvimento de oficinas e kits arqueológicos a serem utilizados nos processos de educação formal.
Ï exposição de fotos sobre a memória local, incluindo fotos produzidas por moradores e que retratem a cultura, a ambiência e a memória local.

Os recursos de multimídias serão utilizados na ampla divulgação das atividades levando em conta a especificidade de cada festividade e o tipo de público envolvido nas atividades educacionais. Serão criados blogs na internet não só para a divulgação dos eventos, como também para a discussão dos temas propostos durante as atividades educacionais.
Tais iniciativas cumprem as propostas de uma educação patrimonial que visa inserir a comunidade local dentro de sua própria história regional.

Conclusão

A Educação Patrimonial esta tendo um crescimento vertinoso enquanto objeto de projetos desenvolvidos em trabalhos vinculados a arqueologia de contrato no Brasil. Trata-se de uma preocupação responsável dos profissionais em arqueologia e empreendedores em relação a comunidades e ao próprio patrimônio cultural da nação.
Sabemos que por muito tempo trabalhos amplos e direcionados a públicos diversos que envolveram a arqueologia enquanto aprendizados educacionais foram limitados a palestras em escolas públicas de pequenas cidades e povoados rurais, e a conceituações pontuais sobre arqueologia.
A preocupação em se trabalhar o patrimônio cultural de uma forma educacional mais abrangente tendo na arqueologia a ciência que estabelece o vínculo entre os diversos públicos com sua herança cultural têm demonstrado novas alternativas para trabalhos de educação patrimonial para as áreas do segmento sucroalcooleiro.
Essa nova perspectiva para os estudos de educação arqueológica e do patrimônio cultural amplia a necessidade de projetos que além do conhecimento natural sobre a cultura material deve apresentar também um conhecimento a respeito de como essas atividades servirão a um público mais amplo.
Nessa probabilidade a arqueologia também será responsável em desconstruir mitos e erros históricos, que prejudicam o estabelecimento de uma relação maior e de valorização do patrimônio cultural por parte de empreendedores.
Enfim, será necessário estabelecer caminhos didáticos e pedagógicos para que a educação patrimonial tendo como seu objeto de estudo a arqueologia construa novos paradigmas e que consigamos formar noções de valor, responsabilidade e identidade com nosso patrimônio cultural no público que direcionaremos nossa ações educativas.
Bibliografia

BATISTA, Cláudio Magalhães. 2007. Memória e Identidade: Aspectos Relevantes para o desenvolvimento do Turismo Cultural. Caderno Virtual de Turismo. V. 5 Nº 3.

FERNANDES, Tatiana Costa. 2008. Vamos Criar um Sentimento? Um olhar sobre a Arqueologia Pública no Brasil. Dissertação de Mestrado ? Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, 2008.

HAIGERT, Cynthia Gindri. et al. 2007. Educação Patrimonial Através da Imagem. VII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IV Encontro Americano de Pós-Graduação ? Universidade do Vale do Paraíba.

HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Fundamentos da educação patrimonial. Ciências e Letras (Porto Alegre), nº.27, 2000.

HORTA, Maria de Lourdes, GRUMBERT, Evelina & MONTEIRO, Adriane Gia Bárico. 1999.Guia Básico da Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN.

LIMA, Janice Shirley Souza. 2003. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA ÁREA DO PROJETO SERRA DO SOSSEGO ? CANAÃ DOS CARAJÁS (PA). Apresentado no Simpósio de Educação Patrimonial em Projetos Arqueológicos durante o XII Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, no período de 21 a 25 de Setembro de 2003, em São Paulo.

MELO, Jonas Israel de Souza. 2007. IMPACTOS SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL EM DIFERENTES EMPREENDIMENTOS. Publicação Interna. Griphus. Goiânia.

MAMEDE, Mario Pereira. 2007. Índios na Pista. Artigo SAB. Florianópolis ? SC.

MAMEDE, Mario Pereira IN; TELLES, M. A. 2008. Relatório Final de Resgate do Patrimônio Arqueológico e Cultural Usina Boa Vista ? Quirinópolis ? GO. Griphus. Goiânia ? GO.

QUEIROZ, Moema Nascimento. 2007. Preservação do Patrimônio Através da Educação Patrimonial: Uma Experiência com Professores da Rede Pública de Ensino de Itabirito/MG. Revista Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação. Vol.1, Nº 5, pp. 275 - 280

ROSSEL, Carlos Eduardo. 2007. O Setor Sucroalcooleiro e o domínio tecnológico. Vol. 2. NAIPPE/USP

SANTOS, M.R.S. 2007. Saberes Culturais, Memória e Identidade Social em Tempos de Modernidade ? Por uma leitura das categorias teóricas da/na pesquisa. Dissertação de Mestrado. CCSE ? UEP.

PESSIS, Anne-Marie. 1997. PATRIMÔNIO E CIDADANIA. Revista - FUMDHAMENTOS - V








Autor: Mario Pereira Mamede


Artigos Relacionados


O PatrimÔnio Cultural E Sua ImportÂncia Para A Atividade TurÍstica

Museu Dr. Carlos Barbosa Uma Ferramenta Para A Educação De Jaguarão

Educação Patrimonial E Turismo Arqueologico Na Serra Da Capivar Piauí: Uma Questão D Valorização Social

Educação Patrimonial

Patrimônio Cultural: Algumas Edificações Culturais De João Câmara - Rn

A Igreja De Nossa Senhora Dos Prazeres: O Papel Do Estado E Da Sociedade Para Sua Preservação

A AtuaÇÃo Do Poder PÚblico E O Papel Do TurismÓlogo Para O Desenvolvimento Do Turismo ArqueolÓgico Do PiauÍ