A Pérola E A Ostra



Há uma série de materiais aos quais o homem dá um valor especial, como é o caso do ouro, da prata, dos diamantes, dos rubis e de outras pedras preciosas.

Todos eles têm origem em estruturas metálicas ou cristalinas, inorgânicas, como é o caso dos diamantes, produzido a partir de uma exposição do carbono a milhares de anos de pressão e calor.

Um outro tipo de jóia é a pérola, que possui natureza orgânica, uma vez que é produzida a partir das ostras.

Não é sem razão que ela foi tomada muitas vezes como elemento simbólico das coisas espirituais, tanto por Jesus Cristo como pelas mensagens proféticas.

Vejamos, por exemplo, como o Mestre caracteriza o reino de Deus:

"Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem negociante, que busca boas pérolas(1);

E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a(2)."

Mateus 13: 45-46

Tal alegoria nos indica algumas características da natureza transcendental, da avaliação de Deus a respeito de nós:

  1. O Reino Eterno se encontra aberto a todos, mas somente será encontrado daqueles que realmente têm objetivos elevados, que ultrapassam as meras coisas do dia a dia.
  1. Depois de identificado o valor de tal objetivo, torna-se necessário abrir mão de tudo que se possui para poder adquirir o tesouro supremo.

Destaca-se no sentido de tal parábola o fato de Jesus não ter se dirigido em sua comparação a um tipo de tesouro inerte, mas sim a algo derivado do sofrimento de um ser vivo.

Na realidade, a Palavra nos instrui, desde o seu início, que Deus não se inclina para ofertas que não tenham a essência da vida.

Caím falhou em seu sacrifício porque ele não envolvia sangue, nos moldes do apresentado por Abel, um cordeiro que nos trazia a imagem de Cristo, que por meio de sua morte na cruz produziu remissão, pois ela somente pode ser obtida com sangue( Gênesis 4: 8-16).

Essa análise nos conduz a três verdades:

1º Não existe salvação alternativa àquela que nos é oferecida por Jesus Cristo.

A maioria das filosofias, seitas e religiões e, em parte, a própria aplicação da doutrina cristã, "aposta" no aperfeiçoamento do ser humano e na "santificação" a partir da "redução dos erros e pecados", pela prática da caridade e da beneficência.

Isso nos é ensinado desde o berço, quando mamãe nos diz: "seja um bom menino, pois assim Papai Noel lhe trará um bom presente no Natal".

Tais idéias têm mérito prático indiscutível e integram a mensagem de Cristo de amor a Deus e ao próximo(João 15:12; Lucas 1 6:13), mas são completamente insuficientes para nos qualificar diante do Altíssimo (Paulo fala dos atos que são humanos, mas que não contêm a essência de Deus, que é amor - I Cor 13:1-13). Pedras preciosas, mas não a pérola de grande valor que simboliza o Reino.

A "santidade" de modo especial, tão propalada de cima dos púlpitos e tão pouco vivida no dia-a-dia, não é propriamente um requisito, mas sim uma conseqüência da aproximação para com Deus.

As pessoas gostam muito de buscar "conselhos especiais" de como entrar no Reino, fórmulas imediatas de melhoria, mas Jesus tem uma resposta simples e cortante:

"E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.

Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és mestre, vindo de Deus; Porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.

Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

Na verdade, na verdade, te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito."

João 3: 1-6

Os esforços humanos, as doutrinas, as filosofias, as boas obras, não diferem muito de uma torre de Babel (Gênesis 11:1-6)que poderia subir 100 metros, 1000 metros, 1.000.000 metros, mas jamais poderia atingir a dimensão onde o Senhor habita (Isaías 57:15).

"Jesus simplificou a idéia mediante uma afirmação categórica:

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim."

João 14:6

Sei que tais considerações não são bem aceitas por muitos, uma vez que as pessoas fazem questão de "mostrar serviço", e que a confiança absoluta em Jesus Cristo irá reduzir seus créditos.

A "religião formal" estabelece regras que muitas vezes fogem da realidade de Cristo e Cristo crucificado(I Cor 2:2), havendo dificuldade da aceitação do que é puro.

Jesus não teria morrido na cruz e certamente Deus não teria entregado seu Filho Unigênito se alternativa humana existisse. Séculos de vigência da Lei Mosaica, perfeita e imutável, serviu unicamente para provar que somos incompetentes para cumpri-la (Rm 4:15; Mt 5:17).

Nosso Senhor sabia do que haveria de acontecer, e por isso nos alertou sobre o cuidado que temos que ter ao apresentar as pérolas para os outros, evitando todo tipo de polêmica (Tt 3:9), mesmo porque não há bom resultado quando o evangelho é motivo de desprezo por parte de pessoas que não nasceram de novo nem temem a Deus.

"Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; para que não as pisem, com os pés, e, voltando-se, vos despedacem".

Mateus 7:6

2º O sacrifício de Cristo não pode ser comparado a qualquer outro, realizado por algum herói ou mártir da história. É algo mais profundo, que atinge a esfera da eternidade, além da morte.

Para que uma pérola possa ser gerada é necessário que a ostra seja ferida pelo introdução de um corpo estranho em sua concha.

Como elemento de defesa, ela irá produzir um nácar que, lentamente, partícula por partícula, formará a jóia viva que é a pérola.

É a própria essência da ostra que gerará esse elemento precioso, que para ser utilizado deverá envolver a sua morte.

Jesus foi ferido por nós (Isaías 53:5), superando todos os desafios, que não foram poucos, e as artimanhas daqueles que queriam desviá-lo de sua missão (Lucas 4:1-13).

Entendamos que Ele fez isso de vontade própria e por amor a nós(João 3:16).

O fato de Jesus ter se feito carne e tomado sobre si nossos pecados veio introduzir um "elemento estranho" no universo divino. Eles feriram tão profundamente a sensibilidade divina que o Pai teve que "virar o seu rosto" de seu Filho.

O evangelho pregado e aceito, a confissão dos salvos de que crêem em Jesus, o perdão dos pecados, a adoração ao Senhor, envolvem gradativamente o ferimento inicial e vão constituindo a pérola do reino.

Quando as pessoas negam a realidade de Cristo, recusam a mensagem ou praticam pecados conscientes e intencionais, revivem o sofrimento de Jesus e impedem o progresso do Plano de Deus.

Não é sem razão que a Palavra declara:

"E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más."

João 3:19

Cabe lembrar que a religiosidade e os rituais não conduzem a lugar nenhum, de tal maneira que mesmo a ceia tomada sem o discernimento da realidade de Cristo leva à condenação(I Cor 11: 27-34).

Isso significa dizer que há pessoas que não entendem que o sacrifício de Jesus realmente pode perdoar qualquer pecado, mas mesmo assim tomam parte de um sacramento que declara essa verdade. Isso representa reconhecer o pecado, mas não o perdão, o que leva à condenação.

3º A condição que nos liga ao reino é algo sublime, mas passa por um caminho estreito que, nem sempre, permite isenção de sofrimentos.

Como já avaliamos, Cristo é o fundamento de um reino onde prevalece o gozo e a paz no Espírito Santo, mas Ele mesmo, em sua jornada terrena, foi identificado como "homem de dores experimentado nos trabalhos" (Isaías 53:3), o que desqualifica qualquer pretensão de vivermos uma vida de servos mantendo-nos afastados de todos os problemas e desafios, inclusive questionando os outros que conosco professam a mesma fé, tentando obter vantagens a partir deles.

A pérola cresce em um processo longo e trabalhoso, agregando micro partículas que são totalmente homogêneas entre si em uma união que deve ser seguida pela igreja. Isso pode significar o "tomar a sua cruz" (Lc 14:27 ), mas valerá a pena quando recebermos a coroa da vida na cidade eterna(Apocalipse 2:10).

É nessa cidade que fica mais uma vez evidenciado o significado simbólico das pérolas em comparação a Cristo, pois elas serão localizadas exatamente nas portas de entradas, como Jesus é o caminho e a porta para Deus.

"E levou-me em espírito a um grande monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu.

E tinha um grande e alto muro com doze portas, e nas portas doze anjos,...........

E as doze portas eram doze pérolas: cada porta era uma pérola; e a praça da cidade de ouro puro, como vidro transparente."

Apocalipse 21: 9........ 27

Você tem duas alternativas para sua existência terrena: manter-se longe de Deus, viver uma vida medíocre de ostra, fechado em sua concha, até morrer, ou crer em Cristo de todo o coração, integrar-se à pérola do Reino de Deus e partilhar da vida eterna. (João 11:25-26)

Dúvidas ou aconselhamento escreva: [email protected]


Autor: Januário Elcio Lourenco


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