Na Espera



NA ESPERA

Paulina uma senhora de 80 anos que nunca fez exames preventivos e acompanhamento periódico ao médico sendo levada praticamente à força para o pronto socorro de seu município.
Sua filha caçula Ana Cecília entre oito filhos percebia que a saúde de sua mãe estava debilitada. Paulina uma mulher que sempre fora forte e disposta levantava cedo e gabava-se constantemente de ter boa saúde por manter uma vida com hábitos saudáveis e não possuir nenhum vício prejudicial ao corpo é a mente.
Paulina sentada em uma cadeira desconfortável de plástico branco observava Ana na fila de fazer a ficha de atendimento para a consulta com médico sua respiração tornando-se cada vez mais escassa, em um breve momento de delírio sua mente a leva para as lembranças de sua infância. No seu vestidinho de chita, correndo entre as plantações, subindo no pé de manga e comendo ali mesmo, até ouvir sua mãe lhe chamando.
"_Nina, Nina está na hora do jantar venha se lavar menina."
Após o banho e o jantar todos os membros da família sentados ao redor de seu patriarca no chão ouvindo histórias típicas do interior de Minas Gerais a sua favorita Curupira e pedia para seu pai repeti-la varias vezes e de tanto ouvi-la ela mexia os lábios acompanhando-o.
_Mamãe, está tudo bem? Exclama Ana preocupada colocando sua mão sobre o ombro de Paulina.
_Estou bem Ana só um pouco cansada. Falou pousadamente quase sem fôlego.
Ana andava de um trajeto ao outro, inquieta percebia que sua mãe estava piorando.
_Mamãe, me espere aqui que eu vou procurar o médico.
Saiu pelos corredores falando alto quase aos prantos pedindo atendimento imediato para sua mãe.
Paulina voltou a viajar para o passado, agora se lembra quando conheceu seu amado Joaquim, rapaz forte, bem afeiçoado estava procurando emprego nas fazendas da região e seu pai era o capataz da fazenda "Olhos de Ouro" onde morava como era época de colheita de café foi contratado imediatamente.
Dos trocares de olhares passavam as conversas sua lembrança mais doce e feliz de sua vida foi do dia em que Joaquim lhe pediu em casamento, ele usava calça social e camisa azul marinho, sapato preto cabelo penteado e perfume suave, carregava com cuidado em sua mão direita um lenço embrulhado. Paulina de vestido vermelho com babados branco e chinelinho de palha e as mãos trêmulas e suadas ansiava pelo que estava por vir.
Seu pai observava e pressentia a proposta, todos sentados a jogar conversa fora, quando de súbito Joaquim levantou-se e falou com voz engasgada quase não se podia entender o que dizia e o pedido foi feito e aceito pelo pai de Paulina. E Joaquim desembrulhou do lenço uma aliança de ouro que colocou no dedo de sua amada caipirinha.
_Mamãe, fale comigo? Ana a balançava com as duas mãos apoiadas em seu ombro suavemente para que acordasse.
_Ana, o que foi? Estou bem! Quase não se podia ouvir a sua voz.
Ana com os olhos encharcados tentou fazer com que sua mãe fosse atendida, mas não conseguiu, havia na emergência algumas vitimas de acidente de carro em estado grave. Tanto era a inquietação e o desespero que não podia ficar sentada e andava de um lado ao outro em busca de socorro.
Novamente Paulina voa em seus pensamentos suas lembranças agora não são felizes, deixar seus familiares e partir para São Paulo com seu marido, a perda da sua primeira gravidez, a morte de seu pai, de seu irmão Antônio.
O nascimento, o casamento de seus filhos, o falecimento de sua mãe e o nascimento de seus netos, todos os acontecimentos nesta ordem e a mais dolorosa a morte de seu amado Joaquim.
Nunca se sentiu tão sozinha...
_Mamãe, acorde o médico já vai chamá-la.
Paulina segurou sua filha querida puxando-a para bem perto de si e passou a mão sobre sua face e disse sussurrando com um tímido sorriso olhando com candura dentro de seus olhos lagrimejados.
_Tive uma boa vida e fui muito feliz na maioria dos anos agora eu lhe peço não chore por muito tempo deixe a saudade vir com doçura e não com tristeza foi uma boa filha eu amo você, seus irmão e meus netos.
Terminando de falar deu um beijo em sua face e fechou seus olhos vagarosamente e sua respiração parou em um último suspiro sereno.
Ana pasma por alguns segundos não conseguiu se mover quando deu por si as lágrimas rolavam e aos soluços gritou por socorro, mas o atendimento do médico foi só para constatar o óbito.
Paulina de Jesus faleceu no dia 20.05.04 de causa desconhecida na espera do Pronto Socorro Municipal.

Autor: Adriana De Barros Silva


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