Penta campeões, e daí?




Enquanto o mundo explode em vulcões, terremotos, tsunamis e violência, mascaramos nosso medo construindo uma ponte alimentada pela ilusão, nos levando até os pés de alguns poucos homens, endeusados pelo futebol que jogaram e pelo dinheiro que conseguiram. Não sei se os vejo como vencedores ou oportunistas, o fato é que graciosamente eles alimentam sua fama e mantém seu status enquanto centenas de milhares de brasileiros assiste, torce e sofre.
É um tanto constrangedor observar uma nação de cara pintada mordendo um pano verde - amarelo, derramando lágrimas de agonia frente a uma suposta frieza, indiferença ou talvez incapacidade.
Grande parte não se lembra para quem votou na última eleição, porém, "conhece" cada atleta brasileiro, seu time, idade, peso, estado civil, RG, gols marcados, gols defendidos, etc.
Não nos importamos como andam as denúncias e investigações referentes a subornos oferecidos e subornos aceitos, mas nos preocupamos se a Argentina ganhou ou perdeu aquele jogo, naquele dia.
Não pintamos a cara para um protesto civilizado, no entanto desenhamos uma bandeira e pintamos o nariz para observar 11 atletas caminhando em campo.
Domingo, dia 17 de julho de 2011, não pude deixar de observar dois jogos simultâneos transmitidos na TV aberta, em um canal a final mundial de futebol feminino: Japão e EUA, e em outro canal que obviamente todos sabemos qual é: Brasil e Paraguai. Era nítida a diferença nos dois jogos. O jogo feminino estava muito mais "pegado", corrido, suado, emocionante. O jogo masculino estava como sempre a mercê de "um campo cheio de areia", ou seja, determinado pelas "inúmeras" dificuldades enfrentadas por nossos "heróis". As meninas japonesas venceram heroicamente as fortes americanas, os paraguaios não venceram os brasileiros, os brasileiros perderam para si mesmos. Não converteram sequer um único pênalti nas cobranças finais.
Milhões que não ganham mensalmente um salário mínimo, acreditam no suor dourado de alguns homens em um campo verde. É um contraste gigantesco, parecemos crianças nos contentando com bicicletas de plástico, fingindo serem ferraris, basta que nossa TV (que não é de plasma), mostre uma rede balançando em nosso favor.
Contos da carochinha no século 21 para marmanjos: é o futebol entrando em cena. Ele é a droga mais cara para se fazer e mais barata de se conseguir, basta apertar um botão ou gastar seu mísero salário, mais bolsas, indo ao estádio gritar e correr o risco de levar uma bandeirada.
Chega a ser cômico este amor platônico de um povo por um esporte tão barato de se exercer, basta uma bola e um chão batido. Entretanto, as mutações foram tantas que esta prática primitiva transformou-se em um banco suíço, com agentes treinados, olheiros James Bond e atletas "sensíveis", protegidos em uma redoma de vidro, aonde o discurso é sempre o mesmo, aonde as desculpas sempre são "bem vindas", entendidas, e aceitas.
Outro dia enquanto cuidava de minhas coisas, ouvia um atleta da seleção brasileira dizer em uma coletiva que os torcedores brasileiros foram mal acostumados, o que me leva a entender que de acordo com esta afirmação, é errado de-sejar que se vença, é precipitado exigir um título. Com toda a sinceridade de alguém que já gostou de futebol, isso me enojou. E o que dizer depois do jogo deste último domingo, quando após a derrota vergonhosa um outro atleta brasileiro disse que fizeram um bom jogo, porém que não deu pra vencer.
O que somos para ouvir isso? Somos torcedores cegados por um amor sem nexo, desmedidamente fanático, esperançoso por hexas e tudo mais?
Esses atletas ganham milhões anualmente a custa de um povo que sobrevive na miséria, em meio ao lixo, em meio a balas perdidas, em meio a oratória fenomenal de políticos mentirosos, ladrões de colarinhos brancos, bandidos eleitos por nós, pobres em todos os sentidos possíveis da palavra.
Até quando continuaremos tendo orgulho de gritar que somos torcedores roxos, azuis, de todas as cores?
Hoje, eu prefiro ver a Marta jogar futebol, o Falcão no futsal, prefiro as seleções de voleibol. Porque o esporte faz bem: quando o dinheiro não faz pesar as pernas e os braços. Não é errado ganhar dinheiro, errado é fazer de algo apenas um banco, uma máfia, aonde o poder está acima de tudo.
Há muita mentira e interesse.
Para mim, este feitiço não faz mais efeito, já comi a maçã e já fui despertada pelo príncipe, agora o que está faltando, é o reino todo despertar do sono. Mas a pergunta que eu faço é: Você quer?
Andreia Detogni
Autor: Andreia Aparecida Detogni


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