"Pouco caso" para a Meta de Inflação



As campanhas salariais de setores importantes, tradicionalmente mais organizados, já começaram e junto com elas veio novamente o medo do Governo com os reajustes acima da inflação. Desde o semestre passado, autoridades, como o ministro Guido Mantega, já haviam sinalizado para a necessidade de conter aumentos que possam significar a volta da inflação para patamares que dificultem o cumprimento do já impossível centro da meta de 4,5%. Mas nem o apelo da presidente Dilma foi o suficiente para impedir aumentos reais. Os metalúrgicos aprovaram reajuste de quase 10%, o que significa um ganho real de 2,55%.

De fato, o fantasma da inflação assusta, principalmente aqueles que sentiram na pele os efeitos das elevadas taxas da década de 80, mas o que se observa é que há camadas da sociedade que ignoram os pedidos do Governo, pleiteando salários dignos e defasados há anos. Por trás do "pouco caso" da população com a meta de inflação está a incoerência do Planalto que nem sempre consegue ligar o discurso à prática. Os parlamentares, ditos representantes do povo, deveriam dar o exemplo e agir de acordo com o que prega o Governo, mas não é o que se vê. Os servidores do Senado, por exemplo, ficaram assustados com o fim da possibilidade de ganharem acima do teto salarial permitido, mas o susto, é claro, foi passageiro. O Judiciário abriu a torneira de novo e eles voltam a receber tudo o que tem "direito", e "não há nada de mais", como diz o jornalista Carlos Alberto Sardenberg.

Está na pauta de discussões no Congresso proposta de aumento para o Judiciário, os deputados não se cansam de pedir a liberação de emendas parlamentares, vereadores de cidades do interior de São Paulo, como São José dos Campos, aprovaram aumento de 55% nos próprios salários a partir de 2013, e por aí vai a gastança no poder público. E os trabalhadores onde ficam? Qual parte do bolo vai sobrar para eles? Reposição inflacionária apenas?

Obviamente, o trabalhador brasileiro não quer ver seus rendimentos serem corroídos pela inflação, mas também não quer receber um salário defasado. A carga tributária desigual que pesa sobre eles já abocanha parte considerável de sua renda e o que sobra mal consegue sanar suas necessidades básicas. O Governo fecha os olhos para as distorções na renda do brasileiro e olha apenas o índice de inflação, como se os números retratassem fielmente a realidade. Não se olha, por exemplo, que a correção na tabela de Imposto de Renda foi de apenas 4,5%, quando a inflação já supera os 6%. Isso significa que uma parte do salário vai ficar retida na fonte e outra parte vai ser levada pela inflação. Pedir aumento real nos salários seria, portanto, a solução?

Em um primeiro momento, sim, nada mais justo do que o aumento real para a classe trabalhadora. Já se sabe que não serão esses reajustes que vão consertar a defasagem nos salários e tampouco vão equilibrar o poder de compra da sociedade brasileira, mas já é um amenizador. A reforma tributária tramita há anos no Congresso e até agora não se chegou a um consenso, somente ela, poderia, de fato, desde que bem estruturada e justa, consertar a desigualdade que vemos.

Por enquanto, acho justo os pedidos de aumento acima da inflação, pois com o mercado de trabalho aquecido e com a renda em trajetória ascendente, que aumenta o poder de barganha do trabalhador, para que atender ao pedido de um Governo que age contra seu próprio discurso? Só digo uma coisa: vai ser difícil convencer os trabalhadores enquanto a imoralidade e o gasto público desenfreado persistir.

Autor: Aelton Aelton Aquino


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