UMA CONFERÊNCIA DIFERENTE




Preocupam-se com a camada de ozônio; Mico leão dourado; Araras azuis; os 2% de água doce em todo o planeta; a poluição do ar; a floresta amazônica; o destino do lixo, a madeira de lei... questões que comprometem a saúde do ecossistema.
Mas, e as rugas? Cirurgias plásticas, laser, botox, cosméticos, massagens... até simpatias existem para extingui-las e ninguém se preocupa. Para discutir isso, houve uma conferência internacional onde todas elas foram intimadas a comparecer. As das grandes estrelas e astros de Hollywood e de todo o mundo; das personalidades científica, política e empresarial. Fossem de países ricos ou pobres, de áreas urbanas ou rurais. A luta urgia união da classe. Suas existências estavam por um fio! Explicou a organização.
Portanto todos os tipos e origens se fizeram presentes. As profundas, rasas, pequenas, minúsculas, grandes... curvas, retas... rugas para todo gosto. Ou melhor, desgosto! E a reunião já começou inflamada. Faixas de protesto, choros convulsivos, desmaios... As menores, a princípio brincando absortas entre a multidão, foram surpreendidas: poderiam nem chegar à adolescência! Levaram o maior susto, claro.
Uma ruga de testa, iniciou o discurso dizendo que a situação estava complicada e difícil de ser solucionada. A ciência evoluindo... a tecnologia a cada dia se aperfeiçoando... a engenharia genética a todo vapor... podiam até inventar a vacina contra elas! Não fora assim com algumas patologias? A diferença é que não eram doenças e deveriam ser motivos de orgulho! Nem todos tinham o privilégio de adquiri-las. Milhares de crianças morrendo por falta de comida, saúde... Isso, sim, era vergonha. Existiam as provenientes do excesso solar, das preocupações, do vício do cigarro e outros... mas vieram porque foram convidadas! Dizia ela de forma eloquente e sábia, tentando acalmar os ânimos ao mesmo tempo. Todas realmente acalmaram-se, em meio a discretas lágrimas, suspiros, olhares de cumplicidades, tapinhas no ombro.
De repente uma ruguinha de canto de nariz, quase invisível, levantou a voz, no fundo do salão, propondo uma greve. As demais espiaram-na, de cima a baixo: que besteira! Greve não era falta de atuação no local de trabalho, não- produtividade? Era justamente isso que buscavam delas! A outra nem completara a frase de tanta timidez, arrependeu-se de ter aberto a boca. Nunca palpitava! Quando se arriscou, foi pra dizer o que não devia. Pensava ela, encolhidinha no seu canto.
O clima esquentara novamente e o zum-zum-zum se acirrara, criticando a idéia da colega. Passeando o olhar pela assembléia, a dirigente da reunião encarou uma a uma e perguntou: não se reuniram ali para discutir alternativas urgentes e precisas? Por que, então, ao invés de críticas precipitadas, não pensar naquela proposta? Poderia ser uma modalidade nova de greve! Mas nada do que fosse discutido e decidido poderia sair dali. Sigilo de Estado. Ou, melhor, de rugas! Todas silenciaram. Havia um clima de suspense no ar.
Depois de algum tempo assim, a dirigente expôs o plano, e a alegria foi geral. Champanhes estourando, abraços, risos, beijos, declarações de amor. Ficaram tão felizes que suas dobras desapareceram e elas se sentiram até mais charmosas. A dona da sugestão gritava e dançava, prometendo a si mesma, daquele dia em diante nunca mais omitiria uma idéia por medo de não ser aceita!
O acordo firmado?! Desculpem-me. Dizem por aí que o segredo é a alma do negócio. Espera aí! É alma ou arma? Ah! Tanto faz. Até porque isso depende da natureza do negócio! Como o negócio aqui é... deixa pra lá. Melhor, não!

Autor: Helena Rodrigues


Artigos Relacionados


Amizade Das Estrelas

A Grave Dos Bancos E A Emissão Dos Novos Números De Pis

Zé Iscritório Em: Onde Esta Dona Anita?

Marketing Para As P.m.e.

Água & Petróleo

Por Que Tanta Greve

Greve Geral