SEMPRE FOI ASSIM



SEMPRE FOI ASSIM
Nazaré, 29-08-1976

Dr. Inácio e sua calvície,
Sempre lustrosa e perfumada.
Sua imensa barriga,
Sempre cheia e estufada.

Dr. Inácio lança uma ordem
E Orestes, cabisbaixo,
Obedece sem pestanejar,
Com sua barriga vazia,
E sua boca sem comer
O seu pão de cada dia,
E caminha sobre os andaimes
Sempre pronto a despencar,
E assim ele se comporta
Se o chefe necessitar.

Dr. Luis com suas botas
Sempre novas a brilhar.
Lança a chibata sobre Cazuza
Para ele trabalhar.
Cazuza sufoca o ódio
E caminha com sua foice.
Nem sequer percebe o sódio
Pelo corpo a derramar.
Seus olhos são profundos
De tristeza e sofrimento,
Trabalhando de sol a sol
Não descansa um só momento.
Derruba árvores com o machado,
O cabo lhe passa rente à cabeça.
O seu corpo todo inchado,
Não demora para que pereça.

Dr. Meireles lança um grito
Para seus subordinados.
Pedro ousa sorri
E ecoa a bofetada.
Pedro rola no chão
E não diz absolutamente nada.

Seu corpo começa a tremer,
Sua boca fica calada.
Em seguida se levanta,
Dr. Meireles, gargalhada.

Pedro sai cabisbaixo,
Seus olhos vertem lágrimas,
Pelo ódio é dominado.
E ainda cambaleante
Com sua fúria recalcada,
Pragueja contra Dr. Meireles
Com o pensamento em voz baixa.
Chora de dor e humilhação,
Com o ódio sufocado,

Orestes, Cazuza e Pedro
Sempre tristes se abraçam.
Inácio, Luis e Meireles
Sempre sorrindo os amordaçam.

Autor: Gilberto Nogueira De Oliveira


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