Design Gráfico e Responsabilidade Social: Visão Estratégica para Sustentabilidade Empresarial e Ambiental



Design Gráfico e Responsabilidade Social: Visão Estratégica para Sustentabilidade Empresarial e Ambiental



Autores: MSc. Leonardo Nunes Santana
Anderson Luiz silva Guimarães

















RESUMO
O propósito deste trabalho é conduzir uma explanação no tocante à importância do papel social que o design deve exercer através de suas ações mais especificamente na cidade de Aracaju, capital do estado de Sergipe no Brasil. Os questionamentos e abordagens sobre sustentabilidade nunca estiveram tão evidentes como nos dias atuais, sendo a profissão design gráfico uma das áreas do saber que menos interage positivamente para tal finalidade. Desse modo o designer deve promover tanto o desenvolvimento ambiental, como empresarialmente sustentável, sendo ele socialmente atuante por uma melhor qualidade de vida. Para poder quebrar paradigmas mercadológicos e promover a inovação como estratégia é necessário termos uma consciência política, econômica e social, harmonizando a necessidade dos problemas mercadológicos aos critérios que regem os princípios da sustentabilidade fazendo uso de sua maior habilidade, a alfabetização visual, em prol de um mundo mais consciente e democrático. O designer, como instrumento da comunicação, deve refletir sempre os impactos de suas ações, seu papel social, a fim de promover uma conscientização empresarial, assim como da sociedade, acerca da sustentabilidade e da qualidade de vida.

Palavras-chave: Sustentabilidade; Responsabilidade Social; Design Sustentável; Empresa Sustentável.









ABSTRACT

The purpose of this study is to conduct an explanation regarding the importance of the social role that design must carry through its actions specifically in the city of Aracaju, capital of Sergipe in Brazil. The questions and approaches to sustainability have never been so evident as today, and the graphic design profession one of the areas of knowledge that interact less positively for such a purpose. Thus the designer should promote both the development environment, such as sustainable business, being socially active for a better quality of life. In order to break paradigms marketing and promoting innovation as a strategy is necessary to have a political conscience, economic and social necessity of harmonizing the marketing problems of the criteria governing the principles of sustainability by making use of their greater ability, visual literacy, to support a more conscious and democratic. The designer, as an instrument of communication, must always reflect the impacts of their actions, their social role in order to promote an awareness of business, and society, about the sustainability and quality of life.
Keywords: Sustainability, Social Responsibility, Sustainable Design, Sustainable Enterprise.










Design Gráfico e Responsabilidade Social:
Visão Estratégica para Sustentabilidade Empresarial e Ambiental
Introdução

Muito se fala sobre esta recente profissão no Brasil, o design gráfico, mas o que significa ser um designer? Quais implicações e responsabilidades em sua área de atuação e na sociedade como um todo?
Para tal é necessário entendermos que o ainda não há um consenso definitivo sobre suas definições, porém Niemeyer (2007, p.23) explana que há três formas básicas na qual podemos enquadrar o design: como sendo uma atividade artística, onde se torna pertinente a valorização estética de sua criação; atuando como tecnólogo integrado aos processos e etapas de fabricação, projetos e inovações tecnológicas; e por ultimo assumindo o papel de gestor, onde irá coordenar e interagir de forma interdisciplinar tudo que disser respeito ao projeto, desde recursos naturais utilizados até conseqüente destinação dos produtos finalizados. Niemeyer (2007, p.14) afirma ainda da fragilidade na qual o designer se apresenta frente aos interesses políticos e corporativos tendo em vista sua falta de consciência sócio-ambiental bem como ética na profissão.
Quando falamos em tal consciência, remete-nos a pensarmos em responsabilidade social, embora sua conceituação seja ainda difusa e com distintas interpretações. Segundo Francisco Paulo de Melo Neto (2004, p.02) a melhor maneira de definirmos será "fazer o bem", ainda dentro de sua visão, alguns autores definem como sendo um compromisso social, ou seja, a empresa tem o dever ético de promover o desenvolvimento social e preservação ambiental como princípios e política adotados. Dickson (2001 apud MELO NETO, 2007 p.03) aborda o conceito de responsabilidade social praticado pelas empresas como sendo estratégia de marketing para melhoria do bem-estar social.
Unido ao pensamento social, está a responsabilidade com o meio ambiente e sua notável necessidade de preservação de recursos para gerações futuras. Tratando-se de ações empresariais, as ações sócio-ambientais acabam embutidas numa nova terminologia, responsabilidade corporativa que "é, portanto, mais amplo, visto que abrange os dois outros: Responsabilidade Ambiental e Social." (MELO NETO, 2007, p.30)
O objetivo de relacionarmos o design gráfico com a responsabilidade sócio-ambiental é refletir as ações e impactos causados, traçando novas metas e formas de pensar, sendo assim mais eticamente corretos, responsáveis e atuantes na proposição do bem-estar comunitário.
O papel do designer por demais esteve apagado, questões ambientais acabavam sendo de cunho quase exclusivo da biologia e áreas afins, porém hoje percebemos o surgimento de novas teorias, conceitos, modos de pensar e suas iniciativas ao questionar e contribuir para a sustentabilidade. "A área do design (nos seus diversos modos e escalas, tem sido também cada vez mais chamada a dar o seu contributo e assumir a sua responsabilidade nesta matéria." (LEAL, 2005)

"... é útil reconhecer que o movimento global produziu duas perspectivas: uma relacionada com as atitudes corporativas internas e a outra relacionada com as atitudes corporativas externas. As atitudes internas referem-se à forma como a corporação realiza as operações diárias de suas principais funções. As atitudes externas referem-se à participação da corporação fora de seus interesses empresariais diretos. [...] Ao unir as perspectivas de responsabilidade social corporativa tanto interna como externa, percebemos que as corporações tem não somente compromissos financeiros com seus acionistas, funcionários e consumidores, mas, também compromissos sociais e ambientais com eles e com as comunidades afetadas por suas atividades." (AUDRA JONES apud NEVES, 2003 p.38)
Ora, uma vez que a empresa assim como outra corporação está inserida na sociedade, suas ações impreterivelmente irão refletir e interagir quer seja positiva como negativamente nesta mesma sociedade. A autora refere-se que nos atuais dias o empresariado deve se preocupar além de seu relacionamento e bem estar interno, de seus funcionários e colaboradores, o bem estar social e sua responsabilidade sócio-ambiental enquanto parte integrante da mesma.
Nos tópicos que se sucederão serão abordados princípios gerais que um designer deve ter ao promover um pensamento ou projeto em design sustentável, bem como analisar o chamado efeito "boomerang", sendo de fundamental importância na aquisição do bem-estar relacionando-se com o paradoxo existente entre a necessidade de demanda de consumo do atual sistema de mercado com a necessidade de redução deste consumo por parte da sociedade a fim de promover a preservação ambiental. Neste sentido também será abordado o discurso que deve ser adotado pelo design e pelas empresas frente a esta problemática, o seu marketing social e desafios na construção da sustentabilidade social e ambiental.
Diversidade Sustentável

Quando falamos em sustentabilidade, é valido mensurar que não se trata apenas do simples ato de admitir a necessidade de certos cuidados se na prática o mesmo não ocorrer. É necessário questionar sempre em termos de design, se o projeto é sustentável, se suas orientações e diretrizes irão caminhar sobre princípios fundamentais na quais corroboram para uma solução sustentável, ou seja, com coerência durante todas as etapas, do planejamento à sua distribuição. (MANZINI, 2008, p.30)
Então é preciso pensar antes de fazer, não ser conivente com fornecedores duvidosos, não colaborar com empresas quem em sua política não trabalha nem priva por ações sustentáveis, de cunho ambiental tais como reciclagem e reaproveitamento de recursos como água até de cunho social, que não utilize trabalho de mão de obra infantil entre outros fatores.
Segundo Manzini (2008, p.32) falar em sustentabilidade é praticamente o mesmo que falar em diversidade, ou seja, é necessário promover a variedade. A atuação do designer deve então ser não somente de proteger, mas de propagar a diversidade biológica, cultural e social. Isso implica então numa nova forma de utilização de recursos, buscando tecnologias que promovam a redução do desperdício, otimizando a funcionalidade do projeto aproveitando e melhorando o já existente, minimizando assim as intervenções e impactos ambientais.
Quanto ao tocante da diversidade sócio-cultural, o designer e o empresariado deve se atentar a importância dos produtos artesanais locais, a cultura local, requalificando valores sociais, fortalecendo assim uma malha de rede social onde as habilidades pessoais são incentivadas, construindo cidadãos mais críticos-reflexivos desempenhando um papel fundamental dentro da sustentabilidade.
Promover a diversidade ambiental é tornar a empresa qualificada a reduzir a necessidade do novo, ou seja, desenvolver formas de ecologia industrial onde há um ciclo de uso dos materiais necessários para o desenvolvimento do produto. Utilizar sistema de energia solar, não optar por materiais com grande impacto ambiental ou comprovadamente nocivo à saúde humana. (MANZINI, 2008 p.34)
A visão mercadológica atual é reflexo direto da globalização tão marcante e comentada. Mas qual implicação deste fato para a sustentabilidade? A resposta é bem simples, a globalização diminui a diversidade cultural, diminui a diversidade sócio-econômico o que estimula o super-consumo na qual o design tem papel fundamental no uso de mídias tendo objetivo de aumento de vendas e estimulo ao consumo de produtos que em muitos casos não se fazem necessários. Logicamente isso denota uma cadeia econômica peculiar: produção ? consumo ? crescimento econômico, ou seja o consumo excessivo reduz recursos naturais não renováveis . (CASAGRANDE, 2004)
"Sucintamente: para ser sustentável, um sistema de produção, uso e consumo tem que ir ao encontro das demandas da sociedade por produtos e serviços sem perturbar os ciclos naturais e sem empobrecer o capital natural. Isto significa em primeiro lugar reduzir drasticamente o uso dos recursos ambientais (deve ser fundamentalmente baseado em recursos renováveis, minimizando a utilização daqueles não renováveis ? inclusive o ar, a água e a terra ? e evitando a acumulação de lixo e resíduos." (MANZINI, 2008 p.24)
A utilização de recursos renováveis faz-se hoje totalmente necessários. Não se pode pensar em sustentabilidade se toda sua projetação e empreendimento forem voltados ao uso de fontes não-renováveis ou com baixa taxa de reciclagem. A preservação e conscientização devem começar na prancheta.
A área de atuação do design gráfico na qual mais sofre este tipo de problema diz respeito à produção de embalagens. É comum notarmos algumas empresas preocupadas em gerar um redesign de suas embalagens de forma a reduzir o impacto ambiental do mesmo. Segundo Manzini (2008, p.24) o projeto em design tem papel fundamental neste quesito desde a escolha de materiais biodegradáveis ou que possam ser reciclados em sua maior parte até a projeção de uso futuro por parte do consumidor em reaproveitar a embalagem dando assim uma nova finalidade a mesma. Mas quanto se deve mudar dentre o pensamento de reduções drásticas na utilização de matéria prima e modos de produção? É preciso realizar estudos mercadológicos e investir num novo discurso de marketing para que haja um equilíbrio entre a necessidade do consumo e a sustentabilidade ambiental e social.



Paradoxo do Bem-Estar

"Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades" (BRUNDTLAND apud NEVES, 2003 p.29). Esta afirmação nos remete a uma problemática, de que nosso atual sistema de produção e consumo ainda permanece completamente diferente do ideal, ou seja de uma sociedade sustentável.
De acordo com Leal (2005) apenas a partir dos anos 90 passou-se a ser difundido conceitos para a sustentabilidade no que diz respeito ao setor produtivo industrial e consequentemente influenciando outras áreas assim como o design. Isso nos mostra que a visão de gestão ambiental em empresas sustentáveis bem como designers ainda é embrionária, o que acarreta a conservação de paradigmas na tradição mercadológica de consumo que vão de encontro com os princípios sustentáveis.
A atual visão que temos sobre bem-estar é da satisfação de consumo e aquisição de produtos, ou seja, a qualidade de vida é norteada por uma visão de que viver bem é poder consumir mais. Como o designer pode ser sócio-ambientalmente sustentável se sua principal razão de existência é a confecção de peças e modos de promover o aumento e o desejo do consumo de produtos e outros artefatos.
"A boa noticia é que esse paradoxo pode ser superado: é possível imaginar uma nova geração de artefatos (tangíveis e intangíveis) que colaborem na definição de novas, e mais sustentáveis, demandas sociais. Quer dizer, artefatos que sejam ao mesmo tempo apreciados pelos potenciais usuários e capazes de regenerar a qualidade de contexto onde se encontram. A notícia ruim é que conceber e desenvolver estes novos artefatos não é simples. E, certamente, não se caracteriza como a tradição consolidada daquilo que os designers, até agora, foram capazes de fazer." (MANZINI, 2008 p.57)
Produzir e confeccionar novas idéias e produtos que sejam sustentáveis implica necessariamente um público consumidor diferenciado, logo, é preciso que haja uma mudança no entendimento do que seja a qualidade de vida para que possamos ter então artefatos condizentes. O autor comenta ser difícil, pois, a atual necessidade mercadológica criou um pensamento e metodologia consumista e capitalista de criar e agir, tanto no design, como na comunicação de um modo geral.
A cidade do Rio de Janeiro, em 1992 sediou a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92 , com ela tivemos pela primeira vez a temática ambiental como centro de pauta e interesses na agenda política internacional. E segundo Manzini, (2008, p.21) embora já sabido de toda a problemática e má uso dos recursos naturais, nunca houve por parte dos interesses políticos tal prioridade a ser debatida e consequentemente a população da mesma forma não prioriza frente a outros problemas emergentes do ramo econômico, educacional entre outros fatores ficando apenas restrito tal abordagem a desastres ambientais momentâneos.
Contudo o avanço da ciência e de novas tecnologias e capacidades estatísticas de predizer o futuro emergente de degradação ambiental, trouxe a tona para toda a sociedade a real consciência da situação do meio ambiente desde sua explosão na era da revolução industrial. A produção e consumo desenfreado numa idéia de bem-estar que promove o rápido crescimento demográfico traz não apenas o problema ambiental, como também sócio cultural agravando a desigualdade social. "Desde então desenvolver e conservar têm sido um dos maiores paradoxos com a qual a humanidade tem de conviver". (CASAGRANDE, 2004)

"O problema é que o que foi feito ate agora, na realidade, não colocou em discussão os atuais paradigmas econômicos e sociais. Consequentemente, as linhas básicas da economia política e social ainda direcionam o sistema na direção oposta à sustentabilidade." (MANZINI, 2008 p.26)

Ainda dentro deste paradoxo, é preciso estarmos cientes da existência do chamado efeito "boomerang", ou seja, um evento imprevisível que devido a uma gama de fatores, as escolhas consideradas positivas no contexto da sustentabilidade, não produz resultados esperados, ao contrario, o problema permanece. "O efeito ?boomerang? é, portanto, o resultado de uma desordem econômica, social, cultural e tecnológica que invade todas as esferas da vida social e individual" (MANZINI, 2008 p.44)
Apesar do Ecodesign visar a confecção de produtos economicamente viáveis e ecologicamente corretos (MAZZA et al., 2008, p.23), estudos de caso mostram que ao desmaterializar o produto na visão da sociedade, não houve redução no consumo de produtos.
Sendo assim, frente a máxima: mais produtos = maior degradação ambiental e social, não se consegue resultados brilhantes ao romper essa idéia devido ao efeito "boomerang", então o designer deve, repensar as formas de atuação e criar projetos que rompam outra relação mais pertinente, o maior consumo de produtos com a idéia de maior bem-estar.

"É nessa altura que o designer se distingue, porque seu papel pode ser transversal, integrador e dinâmico entre ecologia e concepção de produtos, inovações econômicas e tecnológicas, necessidades e novos hábitos" (KAZAZIAN, 2005 p. 27 apud MAZZA et al., 2008 p.29)
O design é, enquanto profissão, indiscutivelmente multidisciplinar e interdisciplinar em sua essência. A esta característica atribui-se a capacidade da inovação, da resolução de problemas e uso de tecnologias a fim de se alcançar o objetivo proposto, que neste caso, deverá ser sócio-ambientalmente correto.

A descontinuidade do discurso

Ao se constatar os paradoxos atuais pelas definições do que seja o bem-estar social, faz necessária uma descontinuidade do discurso. Essa descontinuidade é tão somente a mudança ou rompimento da atual linha de pensamento e raciocínio adotada pelos processos econômicos e internalizada pela sociedade, ou seja, acabar com a continuidade de um pensamento consumista.

"A transição rumo à sustentabilidade requer uma descontinuidade: de uma sociedade onde o crescimento continuo dos níveis de produção e consumo material é considerada uma condição normal e salutar, devemos nos mover para uma sociedade capaz de desenvolver-se a partir de uma redução destes níveis, incrementando a qualidade do ambiente global" (MANZINI, 2008 p.25-26)

Para que haja essa mudança é preciso também que todos os atores envolvidos contribuam de sua forma, ou seja, que o governo, políticos e instituições em geral promovam uma situação favorável para designers, empresas, e outros no desenvolvimento da sustentabilidade (MANZINI, 2008 p.28). Uma forma de romper o pensamento globalizado, e causar a descontinuidade é valorizar as tradições do passado. O contexto histórico atual não deve enxergar os tempos antigos como apenas saudosismo de uma época que não se aplica no presente, mas ao contrario, o designer, a empresa e a sociedade como um todo deve enxergar no passado a motivação e solução dos problemas vigentes.

"O passado que emerge nestes casos é um recurso social e cultural extraordinário, absolutamente atualizado. É o valor da socialidade de vizinhança que nos torna capazes de trazer novamente vida e segurança aos nossos bairros e cidades. É o respeito pelas estações climáticas e a produção local de alimentos que pode reorganizar a insustentável rede de fornecimento e distribuição atual. É o compartilhamento que nos torna capazes de reduzir o peso da aquisição individual de equipamentos, sem renunciar às funcionalidades que desejamos" (MANZINI, 2008 p.66)
Foucault (2009, p.52) denota ainda a existência da rarefação do discurso, o que implica diretamente na suposição de um discurso ininterrupto. Ele também fortalece e fundamenta a necessidade da descontinuidade, onde não se deve imaginar percorrendo o imaginário algo não dito ou impensado, logo os discursos descontínuos "devem ser tratados como práticas descontínuas, que se cruzam por vezes, mas também se ignoram ou se excluem" (FOUCAULT, 2009 p.53)
Logo, a descontinuidade do discurso deve ser exercitada pelos meios que tem a capacidade de influenciar e gerar os discursos da sociedade. O designer gráfico, através dos recursos publicitários, possui em mãos uma significativa ferramenta de contribuição para a promoção da sustentabilidade através do discurso descontínuo da responsabilidade social e ambiental.
De acordo com Tavares (2005, p.24), o discurso publicitário é um dos instrumentos de controle social e reflexo da ideologia dominante, sendo ideologia dominante a ideologia da classe dominante (FIORIN, 1988 p.31 apud TAVARES, 2005 p.24). o design e a publicidade, na propaganda fundamenta na sociedade o desejo inconsciente de um mundo melhor, sendo assim transformadores do social, dos desejos, mitos, sonhos e frustrações que permeiam o imaginário coletivo (TAVARES, 2005 p.27). Sendo assim é preciso reaver e criar a descontinuidade da ideologia de bem-estar, da ideologia de consumo, onde hoje nitidamente percebemos a ampla utilização de signos, semiótica e apelos emocionais e culturais para ditar o pensamento comum.

"É concebido através de um simulacro social, no qual não apenas espelha o real, mas fabrica-o; sua narrativa constrói práticas sociais e culturais com formas lingüísticas cotidianizadas e com um discurso de senso comum [...] É, sem nenhuma dúvida, uma forma de dominação simbólica a serviço da ideologia do consumo" (TAVARES, 2005 p. 17).

Se o mercado mostra que os consumidores anseiam por serem seduzidos e conquistados, o designer deve voltar sua pesquisa como gestor interdisciplinar para romper o imperialismo do discurso publicitário que caminha na contra-mão da sustentabilidade.
Neves (2002, p.39) complementa fazendo uma abordagem sobre o marketing social, onde empresas que ativamente participam do mercado e tem uma relevância maior, conhecendo seu publico alvo e da importância de uma política de cidadania e responsabilidade sócio-ambiental sentem necessidade de se valer de mídias e publicidade para divulgação de tais ações.
Isso mostra que embora haja por parte de algumas empresas a pratica da sustentabilidade e adoção de políticas socialmente responsáveis, o que se nota é a utilização da problemática real para gerar lucros advindos do marketing social. Mesmo que os fins não sejam os ideais na descontinuidade do discurso, notamos que o empresariado despertou e percebeu a importância destas ações sócio-ambientais.
"... é possível perceber que a tendência é questões sociais/ambientais, quando tratadas pelas empresas, com o passar do tempo deixarem de ser diferenciais e passarem a ser uma obrigação mercadológica para manter ou conquistar consumidores" (NEVES, 2002 p.39).
Os empresários visam o lucro e crescimento de seus negócios com o menor custo possível para realizá-lo. O pensamento da consciência ambiental, mesmo que não haja um correto entendimento sobre a sustentabilidade por parte da população, habita a discussão pública, passando a ser, deste modo, algo diferencial. Porém este fato, que deveria ser realizado pela necessidade e dever de uma melhor qualidade de vida e conservação ambiental, torna-se uma estratégia para o aumento de sua lucratividade através do marketing empresarial.

Desafios do designer rumo a sustentabilidade

Projetar idéias e soluções que sejam sustentáveis e possuam um resultado significante é um eterno desafio. É necessário desenvolver meios de modo a reduzir o consumo de recursos ambientais, além de promover uma melhoria sócio-econômica para sociedade consumidora de seus produtos (MANZINI, 2008 p.36). De fato, somente ocorrerá uma sustentabilidade sócio-ambiental quando os sistemas de produção e modelos tecno-econômicos forem capazes de respeitar as diversidades culturais e ecológicas promovendo uma melhor qualidade de vida, um real bem-estar (CASAGRANDE, 2004).
Para Schumacher (1973 apud CASAGRANDE, 2004) as tecnologias automatizadas de larga escala de produção não são compatíveis com as necessidades básicas do ser humano, causam grande impacto ambiental e transformam a humanidade escrava das máquinas que por sua vez são altamente consumidoras de recursos energéticos para sua utilização.
De modo prático, o designer precisa provir meios, escolher formatos e modos de confecção de seus projetos na qual se utilize de recursos menos impactantes ou até mesmo manuais quando cabíveis. Pensar em sustentabilidade empresarial e ambiental é pensar no coletivo, na democracia (MANZINI, 2008 p.30).
Segundo Neves (2003, p.74), para vencer tais desafios é preciso também internalizar a formula dos Rs dentro da pesquisa em design, ou seja se valer de palavras-chaves como: reduzir; reutilizar; recuperar; reciclar; repensar. O designer junto a empresa deve evitar o desgaste excessivo de recursos naturais em geral, em particular os explorados por mineração. Deve também evitar os resíduos resultantes do processo de manufatura por descaso nas etapas de planejamento, etapa esta onde é necessário pensar o uso do produto, seu descarte principalmente no que se refere à produção excessiva de embalagens (CASAGRANDE, 2004).

Conclusão

O designer possui a habilidade e capacidade técnica da construção visual, se valendo da psicologia, cognição, lingüística, semiótica entre outros recursos interdisciplinares para promover a comunicação visual. Mas se faz necessário pensar além da tecnicidade, refletir para além da coerção mercadológica que embora algumas empresas pensem em sustentabilidade, ainda há um longo caminho de mudanças radicais no rompimento do pensamento consumista dominante, a globalização.
Devemos pensar na importância da alfabetização visual como recurso, ou seja, a capacidade de clareza da comunicação visual não apenas de cunho estético, mas funcional para que se crie uma mudança de comportamento e qualidade de vida.

"A importância desse fato tão simples vem sendo negligenciada por tempo longo demais. A inteligência visual aumenta o efeito da inteligência humana, amplia o espírito criativo. Não se trata apenas de uma necessidade, mas, felizmente, de uma promessa de enriquecimento humano para o futuro" (DONDIS, 2007 p.231).
A inteligência visual, proporcionada por uma correta comunicação visual por parte do designer, leva a sociedade a evoluir, a se tornar capaz de agir com responsabilidade social e sustentável.
É também necessário sermos criativos, provir soluções inovadoras. E pessoas criativas fizeram isso recombinando o que já existe, sem esperar por mudanças sócio-econômicas. "Pessoas que, de forma colaborativa, inventa, aprimora e gerenciam soluções inovadoras para novos modos de vida" (MERONI, 2007 apud MANZINI, 2008 p.64)
O designer, como um comunicador visual, tem em suas mãos o poder influenciar a sociedade. Tem a responsabilidade e o dever de repensar suas ações a nível local e global, e trabalhar em prol da sustentabilidade.



REFERÊNCIAS

CASAGRANDE JR, E. F. Inovação Tecnológica e Sustentabilidade: Possíveis Ferramentas para uma necessária interface. Revista Educação & Tecnologia. Tecnologia, Energia e Sustentabilidade. Centro Federal de Educação tecnológica do Paraná. n.8, 2004.

DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. 3ªed. Martins Fontes, São Paulo, 2007.

FOUCAULT, Michel A Ordem do Discurso ? aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 19ªed. Loyola, São Paulo, 2009.

LEAL, Rui "A sustentável leveza do fazer: do design e do ambiente no início do século XXI", in Jornadas ISPGaya?05 ? Ambiente e Juventude, Instituto Superior Politécnico de Gaya. Gaia, 27 a 29 de Abril, 2005.

MANZINI, Ezio Design para a inovação social e sustentabilidade ? Comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais (Cadernos de Grupo de Altos Estudos; v.1) E-papers, Rio de Janeiro, 2008.

MAZZA, Adriana C. A.; FORTES, Vitória C.; MORAES, Maria E.E. O ecodesign como estratégia para aumentar a competitividade das microempresas de confecção em fortaleza. Revista FFBusiness, Fortaleza v.5 n.5 p.23-35, 2008.

MELO NETO, Francisco Paulo de. Empresas Socialmente Sustentáveis: o novo desafio da gestão moderna. Qualitymark, Rio de Janeiro, 2004.

NEVES, Márcia O Novo Mercado ? do social ao ambiental. E-Papers, Rio de Janeiro, 2002.

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NIEMEYER, Lucy Design no Brasil: origens e instalação. 4ªed. 2AB, Rio de Janeiro, 2007.

REGO, Mauro A.; FERREIRA, Joana K.; FARIA, Alessandro Balaio Design Universal e Sustentável: atividade de discussão e reflexão realizada durante o 17º encontro nacional de estudantes de design. ENSUS ? II Encontro de Sustentabilidade em Projeto do Vale do Itajaí. 9,10 e 11 de abril, 2008.

TAVARES, Fred Discurso Publicitário e Consumo ? Uma análise crítica. E-Papers, Rio de Janeiro, 2005.

Autor: Leonardo Nunes


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