Novo Acordo Ortográfico: OS HIFENS (I)



No artigo anterior, falamos, em linhas gerais, sobre o Novo Acordo e desenvolvemos algumas perspectivas ortográficas quanto ao uso de algumas letras. Marcamos ponto inclusive no aprendizado do "S" e do "Z" das palavras. Hoje, escreveremos um pouco sobre a mudança referente aos hifens.
Num primeiro momento, observamos um fato em relação à mudança dos hífens, ao considerarmos a informação didático-metodológica, pois "trocou-se seis por meia dúzia": antes, a regra não era muito bem entendida; e agora, com o Novo Acordo ortográfico, a dificuldade para muitas pessoas ainda parece existir. Isso nos revela, por outro lado, uma vantagem interessante: todos nós estamos preocupados em entender como funciona a nova regra dos hífens! Para esse desafio, propomos novamente a coerência da nossa proposta que consiste em estudar os conceitos da gramática com critério; a regra dos hifens não pode ser, assim, tão complicada; e, de fato, o novo acordo simplificou um pouco mais a regra anterior. Podemos até dizer que facilitou mais a fixação dos hifens nas palavras.
Comecemos então com um esclarecimento estratégico: as palavras compostas que possuíam hífen, aquelas que já guardavam a sua independência fonética (som) e de sentido (significado), como "guarda-roupa", "pé-de-moleque","porta-retrato" etc, continuarão com o hífen. Existem também palavras que perderam, em sua estrutura, a noção de autonomia fonética e de sentido, formando apenas um vocábulo sem essa "ponte" de ligação, que é o hífen. Ilustrando: "planalto", "aguardente", "girassol". Agora, no Novo Acordo, foram inseridas, apesar da polêmica, as palavras "mandachuva" e "paraquedas", por exemplo. Mas onde se localiza a nossa maior dificuldade em relação ao uso dos hifens? Tanto no Novo Acordo como na regra anterior, o maior problema mesmo parece ser focado nas palavras ligadas com alguns tipos de prefixos e não em relação às palavras compostas. Explico:
Dentre algumas considerações sobre a formação das palavras, basicamente encontramos dois processos: composição ou derivação. A composição acontece quando a palavra é formada por dois radicais (duas unidades de significado, "raízes"). Já a derivação pressupõe, na maioria dos casos, que haja prefixos ou sufixos ligados a um radical. Assim, uma palavra que tem prefixo não significa que ela seja composta. Os prefixos são unidades simples anexadas antes do radical: "pré" = "pré-escola", "pré-datado", "pré-vestibular" etc. O que ocorre é que há outros prefixos que possuem uma "cara" um pouco estranha, ou seja, eles se parecem com palavras. É o caso de "semi", "supra", "infra", "auto", "contra", "extra", "ultra" etc. Como precisaremos compreender bem esses prefixos para entender as novas regras, dou-lhes uma dica para saber reconhecê-los. Use a palavra S U P I N E C A . Nela, podemos lembrar-nos dos principais prefixos:

S U P I N E C A
semi ultra pseudo infra neo extra contra auto
supra intra anti

Observe que juntei, acima, uma parcela considerável de prefixos que terminam em vogais. Há, evidentemente, outros que têm a terminação em consoantes como "hiper", "circum", "pan", "sub" etc. De modo geral, atente: se a palavra, a que esses prefixos estiverem ligados, começarem com a MESMA VOGAL, assim como a MESMA CONSOANTE àquela que terminou o prefixo; ou a palavra começar com H, pode ser inserido o HÍFEN entre o prefixo e a palavra. Esse é um princípio geral deduzido, e acredito que assim iniciaremos nosso raciocínio: em um segundo momento, podemos esclarecer as particularidades dessa regra, mas o fato é que esse princípio geral parece ser capaz de resolver inúmeros problemas quanto ao uso dos hifens!
Veja, peguemos, por favor, o prefixo "ultra". Liguemos esse prefixo com as palavras "aquecido", "oceânico", "hiperbólico" e "som". Seguindo o critério acima, em quais dessas ligações haverá hífen? "ultra" termina em vogal, e a palavra "aquecido" começa com a mesma vogal que terminou o prefixo (confira!). Para que se mantenha a autonomia fonética entre o prefixo e essa palavra, inserimos, então, o hífen: "ultra-aquecido". Já na palavra "oceânico", encontramos uma vogal diferente a do prefixo a que ela está ligada, o que já garante a autonomia fonética entre o prefixo e essa palavra. Nesse caso, ficam juntos sem hífen: "ultraoceânico". E se a palavra começar com H? Também colocamos hífen (não saímos do esquema até agora): "ultra-hiperbólico". E para a palavra "som"? Não há motivos para separação. De acordo com o esquema, é claro que juntaremos essa palavra com o prefixo "ultra". Só não esqueça uma coisa: entre vogais sempre usamos "SS" para mantermos o som de "s": "ultrassom". Da mesma forma, é a manutenção do som do "r": "ultrarromântico", "neorromântico", "antirracista" etc.
Quem sabe agora podemos entender por que as palavras que seguem obedecem ao novo acordo ortográfico: "autoescola", "auto-observação", "anti-infracionário", "anti-higiênico", "super-homem", "anti-herói", "circum-hospitalar", "sobre-humano"... . Podemos facilmente deduzir a regra, em linhas gerais, dos hífens com o princípio sugestivo que apresentamos aqui. Continuaremos esse assunto no próximo artigo; mas até lá, muitos problemas serão resolvidos e a nossa motivação falará mais forte, ao ponto de não considerarmos mais os hífens como um "bicho-de-sete-cabeças". Bom treino!

(SOUZA, wallas Cabral de. 12.02.2009)
Autor: Wallas Cabral De Souza


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