Marketing Religioso: catolicismo precisa se reinventar




Várias foram as manifestações contrárias a publicação quando submeti este texto à amigos. Ouvi que o tema era muito polêmico e não agregaria nenhum valor aos meus escritos já publicados ou ao meu perfil de articulista. Ouvi até uma indagação: "você acredita mesmo que as igrejas adotam estratégias mercadológicas para arrebanhar fieis?" Afirmei categoricamente que sim, o Marketing está presente nas ações das igrejas. Polêmicas deixadas de lado, ou não, vamos aos fatos. Li recentemente na revista Isto é que a migração de seguidores tem aumentado significativamente entre as igrejas. A mesma matéria fala de uma nova categoria que surge neste cenário, os Evangélicos não praticantes.

Não só a pesquisa da Isto é, mas todas as outras, mostram que a principal perdedora é a Igreja Católica que já foi quase absoluta no Brasil. No século 19 o catolicismo no Brasil era quase uma "Comodity". Entre 1991 e 2006, os católicos no passaram de 83,8% para 68% da população. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada em parceria entre as universidades federais de São Paulo (Unifesp) e de Juiz de Fora (UFJF). Enquanto isso, o número de evangélicos no país passou de 9% para 24%, no mesmo período. A pesquisa também aponta que 5% dos entrevistados em 2006 afirmaram não ter religião, e 5% declaravam outras religiões. Importante ressaltar que a migração acontece também entre as Igrejas Evangélicas, prova disso é diminuição do número de fieis (?) da Igreja Renascer, segundo a Universidade Mackenzie, depois das prisões dos líderes da Instituição.

Outra pesquisa, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas, corrobora os números acima. Segundo a FGV, a proporção de brasileiros adeptos do catolicismo caiu ao menor nível já registrado desde 1872, quando os Católicos representavam 99,7%. Apesar da queda, o catolicismo ainda é a maior religião no país, seguida pela igreja evangélica e pelo espiritismo. A Instituição fez um mapeamento religioso do Brasil que apontou em linhas gerais os seguintes números: Sem religião 6,72%, Católicos 68,43%, Evangélicos 20,23% e Espiritualistas 1,65%, em 2009. Acredito que se lembre que a única disciplina disponibilizada pelas escolas na área de ensino religioso, que fazia parte da grade, era a Católica e os poucos alunos não católicos acabavam por assistirem também, sem saber o que seria mais constrangedor, retirarem-se da sala ou participarem de uma aula que não lhe dizia respeito. Mas por que será que essas mudanças estão acontecendo?

É absolutamente natural o consumidor experimentar outros produtos, quando os mesmos surgem como novidade, e as Igrejas Evangélicas são relativamente novas no Brasil, pelo menos em relação ao tempo de mercado da Católica. A tendência é que as pessoas experimentem outras, poderão voltar para a Católica, conheço alguns casos, ou não. Curiosamente, a migração da Igreja Evangélica para a Católica não é observada em nenhuma pesquisa, pressupomos que não ocorra. A tendência natural do mercado é que haja uma divisão quando um produto que não tinha concorrentes passa a tê-los. Exemplos de marcas que já foram absolutas, e assim como a Igreja Católica hoje precisam lidar com a "fúria da concorrência" são a palha de aço Bombril, o sabão em pó Omo, o aparelho de barbear Prestobarba, isso só para citar alguns.

O conservadorismo extremo, a inércia da cúpula diante de escândalos internos e a postura diante de questões polêmicas, exemplo disso, ser contrária ao uso de métodos contraceptivos, são apontados como algumas das causas da perda acentuada de adeptos por parte da Igreja Católica, segundo especialistas. Isso não significa, porém que não ocorram mazelas nas outras Instituições religiosas, haja vista o exemplo dos Bispos da Igreja Renascer e vários outros casos. A análise pode parecer tendenciosa, mas afirmo que não o é, pelo fato de a Igreja Católica ser a principal referência religiosa no Brasil e como tal ser mais evidenciada torna-a pauta constantemente. Não repercutiria em um artigo as ações de uma Igreja recém inaugurada na esquina da minha casa. As razões são óbvias: não conheço a "Marca", permitam-me a utilização do termo, e a mesma tem pouquíssimos adeptos.

Mesmo a pequena Igreja citada, em breve estará cheia e depois se multiplicará... como é fácil abrir uma igreja no Brasil. As estratégias de Marketing utilizadas pelas Evangélicas são as mais diversas. Os programas de televisão, jornais, revistas e internet são determinantes para a difusão das seitas. Muito mais eficazes são as expressões verbais e corporais dos Pastores demonstrando uma grande habilidade de oratória e de retórica através de persuasivas pregações. A Igreja Católica reage à altura, já temos santo e beatos brasileiros. Movimentos como a Renovação Carismática, que mesmo contrariando aos mais conservadores tem papel importante na era da "Pregação Vibrante", é um show.

Falando nisso, padres como Marcelo Rossi, Reginaldo Manzotti e Fábio de Melo são verdadeiros artistas. Em vendagens, cachês e em público nos eventos, equiparam-se aos principais nomes do cenário musical. Mas serão produtos fortes o suficiente para manter a Igreja Católica no topo do mercado por muito tempo? Acredito que não. A Igreja Católica deveria rever seus conceitos, contratar profissionais, estudar as ações dos concorrentes e acima de tudo fazer uma Pesquisa de Marketing para saber o porquê da perda de seguidores. Dessa forma, através de um Planejamento Estratégico, reposicionaria o seu produto, do contrário, apesar do sincretismo religioso brasileiro, continuará perdendo a sua fatia de mercado.

Autor: Reginaldo Rodrigues


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