CLASSE DE INCLUSÃO: INSERÇÃO E LIMITES A ESTAGIÁRIOS DE PSICOLOGIA



CLASSE DE INCLUSÃO: INSERÇÃO E LIMITES A ESTAGIÁRIOS DE PSICOLOGIA


Alessandra Mendes Ferrari Alves¹
Fabiana Pereira Misaka ²
Nelson Tallarico Junior³
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ORIENTADORA: FLÁVIA AMOROSO BOATTO SOLEIRA-Professora do curso de psicologia da Fundação Educacional de Araçatuba FAC/FEA

RESUMO

A Psicologia Educacional ocupa tradicionalmente uma posição de destaque na preparação de professores - e isto reflete o reconhecimento generalizado de que é grande a contribuição que ela pode oferecer à educação em geral e à formação dos educadores em particular. A Psicologia da Educação compreende, pois, a utilização de conclusões obtidas em diversas áreas das ciências psicológicas sobre assuntos que interessam especificamente à educação e à investigação de problemas relacionados às pessoas sob ação educativa. Tivemos como foco à questão da inclusão de alunos com deficiência em classes comuns do ensino regular e teve por objetivo geral verificar a visão de alunos sem necessidades educativas especiais sobre a inclusão de outros alunos com necessidades escolares.


Palavras-Chave: Classe de inclusão; Psicologia Educacional; Igualdade



INTRODUÇÃO
A Psicologia Educacional ocupa tradicionalmente uma posição de destaque na preparação de professores - e isto reflete o reconhecimento generalizado de que é grande a contribuição que ela pode oferecer à educação em geral e à formação dos educadores em particular. Paradoxalmente, entretanto, pouco tem sido feito em nosso meio no sentido de analisar e definir o campo, os desenvolvimentos recentes, o conteúdo, os problemas e o ensino da Psicologia Educacional.

Aluna graduanda do curso de Psicologia pela Fundação Educacional de Araçatuba.¹
Aluna graduanda do curso de Psicologia pela Fundação Educacional de Araçatuba.²
Aluno graduando do curso de Psicologia pela Fundação Educacional de Araçatuba: bolsista do PROUNI.³

A Psicologia da Educação compreende, pois, a utilização de conclusões obtidas em diversas áreas das ciências psicológicas sobre assuntos que interessam especificamente à educação e à investigação de problemas relacionados às pessoas sob ação educativa. A utilidade da psicologia educacional, segundo Libâneo (2001) depende do grau em que dá conta de explicar problemas enfrentados pelos professores na sala de aula, problemas esses, no entanto, que somente podem ser compreendidos como resultantes de fatores estruturais mais amplos.


DESENVOLVIMENTO
Desenvolvemos nossos trabalhos direcionados aos alunos (processo interventivo), envolvendo questões abrangentes e temas gerais encontrados pelos educandos no seu cotidiano, tais como: conscientização em relação à importância da família explorando principalmente a questão da afetividade no seio familiar (Tema: família), relacionamento com os professores e colegas de classe bem como os limites a serem respeitados dentro de cada relação (abordado no tema: refletir sobre regras); debatemos assuntos que condizem as dúvidas gerais dessa faixa etária, como por exemplo, o preconceito (abordado no tema: refletir sobre o preconceito), este ultimo tema se mostrou muito fecundo pelo fato de que a sala onde atuamos ser uma classe de inclusão onde há alunos com necessidades especiais.
Também abordamos a questão da sexualidade por se mostrar um tema muito presente no discurso das crianças, entenda-se por presente não só as perguntas diretamente dirigidas, mas também as brincadeiras e comentários surgidos e até a demonstração de vergonha por parte de alguns alunos quando o tema foi levantado (abordado no tema: refletir sobre a sexualidade); discutimos também a questão da violência, tema que não poderia deixar de ser abordadas, principalmente por observarmos a freqüência do surgimento deste no discurso das crianças, algumas diretamente relacionadas à suas próprias relações familiares, e em outras observadas na vizinhança deste, um dos alunos até relatou o fato de ter presenciado a visão de um cadáver sem cabeça localizado às margens de um rio da cidade, (abordado no tema: refletir sobre a violência), etc.
O presente projeto teve como principal foco à questão da inclusão de alunos com deficiência em classes comuns do ensino regular. O objetivo geral consistia verificar a visão de alunos sem necessidades educativas especiais sobre a inclusão escolar. Participarão da intervenção os alunos da escola municipal de ensino básico Emeb Cristiano Olsen de Araçatuba.
Verificamos que mesmo com vivências diferentes quanto à inclusão, os alunos demonstraram credibilidade em relação à mesma (por ainda serem crianças, as representações sociais da deficiência e da inclusão ainda não é carregada de preconceitos. Os sentimentos decorrentes da inclusão que predominaram entre os participantes foram positivos.
Contudo, o objetivo deste artigo é possibilitar a descoberta das potencialidades existentes em cada aluno dentro da inclusão, de modo que seja evidenciada a conscientização, possibilitando a manutenção e a expansão desse olhar para outras esferas.
Evidentemente, somente podemos falar de inclusão quando há uma efetiva interação entre deficientes e não deficientes, desta forma pensamos que os programas de ensino especial devem estar compatibilizados com os do ensino regular; faz-se necessário o convívio social entre os alunos, professores e demais profissionais da escola, a participação da família é importante nesse processo. A inclusão é um processo complexo que envolve a adaptação de todas as partes: população geral, profissionais, familiares e a própria pessoa a ser integrada.
Torna-se importante, então, não se ter uma visão simplista da educação inclusiva. Sartoretto (2001) a compreende como um processo muito amplo de reforma do sistema escolar. A escola deve abrir espaço para a diversidade humana; os professores devem estar continuamente em busca do aprendizado sobre como se deve ensinar, para que possam proporcionar um ensino de qualidade a todos. Infelizmente como alerta Santos (2001), ainda hoje muitos entendem, erroneamente, a inclusão como simplesmente a prática de colocar pessoas com deficiência estudando com outras não portadoras de necessidades especiais.
Vale ressaltar que o princípio básico da educação inclusiva implica na possibilidade de que todas as crianças aprendam juntas, independentemente de suas dificuldades ou diferenças. As escolas devem reconhecer e responder às diversas necessidades dos alunos, acomodando tanto estilos como ritmos de aprendizagem, assim assegurando um ensino de qualidade a todos.
A inclusão implica uma transformação no modo de se conceber a educação como um todo, a fim de que as escolas possam receber todos os alunos, quaisquer que sejam suas especificidades. A teoria histórico-cultural oferece alguns subsídios para a discussão sobre a inclusão escolar de crianças portadoras de necessidades especiais: as funções psicológicas superiores são construídas nas práticas sociais, negando a concepção de que as capacidades e possibilidades dos seres humanos são pré-determinadas e universais. Deste modo, a psicologia histórico-cultural contribui para que novos elementos sejam apresentados para uma reflexão mais crítica sobre a inclusão e os aspectos que devem ser contemplados para promovê-la. De acordo com Vygotsky:
"todas as atividades cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se constituindo no produto do desenvolvimento histórico-social de sua comunidade. Portanto, as habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas por fatores congênitos. São isto sim, resultado das atividades praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo se desenvolve. Conseqüentemente, a história da sociedade na qual a criança se desenvolve e a história pessoal desta criança são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar. Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de como a criança vai aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através de palavras".

Historicamente, a pessoa com deficiência ? não importando o tipo de desvio ? sempre lidou com a manipulação de sua identidade, inicialmente na família, posteriormente na escola e em outros espaços sociais, nos quais estabelece interações. Na pós-modernidade, tem-se o discurso da inclusão e da aceitação das diversidades, recomenda-se a tolerância e o respeito com relação às pessoas com deficiência.
Alguns discursos sobre inclusão aludem ao modelo clínico-médico de deficiência como plenamente superado, entre os princípios dos movimentos em prol da inclusão apregoa-se a "celebração das diferenças", a "solidariedade humanitária", em clara opção a lidar com a diversidade, dentro de uma perspectiva não-crítica - não problematizando a questão da identidade e da diferença.
Advogamos que a compreensão da prática da educação inclusiva deve partir do conhecimento da forma como a comunidade escolar lida cotidianamente com as pessoas com deficiência, onde as ações podem ser compreendidas no ambiente natural de ocorrência. Assim, não é possível divorciar as ações e concepções dos atores do contexto sócio-cultural no qual estão inseridos. Isto remete às concepções de identidade circulantes nas escolas que praticam a inclusão. Mas a educação inclusiva possível, dentro das condições objetivas das escolas que, geralmente, difere das propostas oficiais.
Compreendemos identidade como bem mais que uma realidade biológica ou psicossocial; está relacionada à elaboração conjunta de cada sociedade particular, ao longo da sua história, algo que tem a ver com regras e normas sociais, com o controle social e com as relações de poder.
Iniguez (2001) aponta que a noção de identidade nasce das relações e intercâmbios sociais que permitem uma identificação com os que nos rodeiam e uma diferenciação em relação a eles. A identificação garante que a singularidade de saber quem somos nós e um processo de diferenciação evita nos confundirmos com os outros: a construção da identidade é um processo de separação entre o eu singular e o eu coletivo.
As sociedades exercem a endoculturação, por intermédio da qual envolvem os indivíduos nos modos de vida (simbólicos e práticos) que implicam normas a serem respeitadas. Obviamente, a quebra das normas significa sanções e entram em jogo os mecanismos de controle social. Está formado o cenário que vai garantir o processo de reprodução econômica e cultural das sociedades intimamente atrelado à construção das identidades.
Na escola manifesta-se o poder que constrói/desconstrói/reconstrói interações sociais; certos indivíduos ou grupos estão submetidos à vontade e ao arbítrio de outros, por rotinas e rituais estabelecidos em sala de aula. Interessa-nos como a escola circula/veicula concepções de identidades pessoais e sociais com aporte, principalmente, nos estudos sobre identidade e estigmatização. Um dos princípios básicos da teoria de Vygotsky é o conceito de "zona de desenvolvimento próximo" quanto a esse conceito ele escreveu:
"Zona de desenvolvimento próximo representa a diferença entre a capacidade da criança de resolver problemas por si própria e a capacidade de resolvê-los com ajuda de alguém. Esta pessoa que intervém para orientar a criança pode ser tanto um adulto (pais, professor, responsável) quanto um colega que já tenha desenvolvido a habilidade requerida. A idéia de zona de desenvolvimento próximo é de grande relevância em todas as áreas educacionais. Uma implicação importante é a de que o aprendizado humano é de natureza social e é parte de um processo em que a criança desenvolve seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a cercam. Uma característica essencial do aprendizado é que ele desperta vários processos de desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas quando a criança interage em seu ambiente de convívio". (Vygotsky, 1978).

Utilizamos em nossas intervenções a abordagem Histórico-Cultural, pois trabalha com um olhar que privilegia a história e os fatores culturais e sociais no qual os indivíduos estão inseridos, destarte não responsabilizando o sujeito individualmente por suas condutas inadequadas a determinados contextos, já que durante seu desenvolvimento o sujeito se relaciona com outros em uma troca mútua de experiências.
As intervenções foram realizadas junto a uma turma da 3° série, cujo faixa etária média é de 08-09 anos, e com esta turma nos utilizamos recursos tais como: filmes, dinâmicas de grupos, música, histórias infantis, etc. Todos esses recursos utilizados tiveram como objetivo levar as crianças a refletirem quanto ao seu papel na escola e na sociedade. Utilizamos um encontro semanal, às segundas-feiras das 07h00min às 09h00min. Sobre este projeto consideramos importante esclarecer que os resultados obtidos estão sendo ao nosso modo de entender, positivo, houve por parte das crianças e de nós, os estagiários, uma crescente transferência de afetos positivos que foram se construindo no decorrer dos encontros.
É importante esclarecer também que a nossas intervenções obedeceram a um planejamento, exposto no pré-projeto, sendo definido dessa forma como a priori, mas que no decorrer da implantação do projeto as coisas foram acontecendo a posteriori, isto é, as coisas foram acontecendo e fomos conduzindo de acordo com as demandas que foram surgindo.
Obviamente esta escolha revela a crença de que esta é uma das possibilidades de atuação do psicólogo na escola, que contribui para não só compreender a gente de nossa terra, como também para tentar levantar alternativas de ação, juntamente com a população, para que esta possa assumir a sua própria história e tentar construir formas mais dignas, éticas e humanas de convivência na escola, construindo um "mundo psicossocial" mais justo e humano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção da personalidade do aluno e da relação professor ? aluno na sala de aulas está sujeita a inúmeros fenômenos, que podem ter como ponto de partida, tanto a atitude e comportamento dos estudantes como os sistemas de referência e expectativas dos professores.
Cabe a Psicologia Escolar estabelecer os limites de tais inter-relações e o alcance dos fenômenos inerentes. Na compreensão destes fenômenos se promovem experiências e teorias psicopedagógicas apresentadas neste trabalho, a garantir um esclarecimento cada vez maior por parte de todos os intervenientes do processo pedagógico, de tais fenômenos.
Concluímos que a compreensão da prática da educação inclusiva deve partir do conhecimento da forma como a comunidade escolar lida cotidianamente com as pessoas com deficiência, onde as ações podem ser compreendidas no ambiente natural de ocorrência. Assim, não é possível divorciar as ações e concepções dos atores do contexto sócio-cultural no qual estão inseridos. Isto remete às concepções de identidade circulantes nas escolas que praticam a inclusão. Mas a educação inclusiva possível, dentro das condições objetivas das escolas que, geralmente, difere das propostas oficiais.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS


GUZZO, Raquel. Saúde psicológica, sucesso escolar e eficácia da escola: desafios do novo milênio para a psicologia. In: PRETTE, Zilda. (Org). Psicologia escolar e educacional. Saúde e qualidade de vida. Campinas: Alínea, 2001. 25-42p.

INIGUEZ, Lupicínio. Identidade: de lo personal a lo social. Um recorrido conceptual. In: CRESPO, E.(ed.).La constitución social de la subjetividad. Madrid: Catarata: 2001, p.: 209-225.

LIBÂNEO, José Carlos. Psicologia Educacional: uma avaliação crítica. In: Lane, S. T. M. e Codo, W. Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 2001.

SALVADOR, César Coll; MESTRES, Mariana Miras; GONI, Javier Onrubia; GALLART, Isabel Sole. Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artmed, 1999. 209p.

SARTORETTO, M L. M. (2001). Uma conquista de pais, professores e alunos. Em M. T. E. Mantoan (Org.), Caminhos pedagógicos da inclusão: como estamos implementando a educação (de qualidade) para todos nas escolas brasileiras (pp. 95-134) São Paulo: Memnon.

SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Maria. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FDT, 1999.382p.



Autor: Nelson Tallarico Junior


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