Professores maus



PROFESSORES MAUS

Um dia, quando os meus alunos forem maduros o suficiente para entenderem a lógica que motiva os professores, eu hei de lhes dizer: Eu os amei o suficiente para exigir, não somente a escrita correta, mas a fala também?
Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele colega não era o melhor para sentar junto.
Eu os amei o suficiente para fazê-los devolver a caneta ao colega e dizer: "Desculpe, a caneta é sua".
Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês depois da aula, enquanto refaziam uma tarefa, sendo que estava certa, mas estava desorganizada.
Eu os amei o suficiente para deixá-los assumir a responsabilidade de suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiram o coração.
Eu os amei o suficiente para deixá-los ver além do amor que eu sentia por vocês o desapontamento e também as lágrimas retidas nos meus olhos.
Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para lhes dizer não, quando sabia que poderiam me odiar por isso. Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, pois venci...porque no final vocês venceram também.
E qualquer dia, quando seus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os professores, meus alunos vão lhes dizer quando lhes perguntarem se seus professores eram maus.
Uma professora má.

"Sim... Nossa professora era má. Era a professora mais má do mundo. Os outros alunos lanchavam em plena aula e nós tínhamos que esperar o intervalo e escovar os dentes logo após. Os outros entravam em sala mascando chicletes, usando bonés, enquanto nós éramos obrigados a entrar em silêncio e andar bem arrumados, a cortar as unhas. Ela nos obrigava a usar sapatos fechados, mesmo em dias de calor e falar baixo nos corredores, bem diferente das outras professoras que deixaram os alunos usarem o que quisessem e saírem gritando em frente as outras salas.
Ela insistia em saber por que demorávamos a voltar do recreio e nos mandava colocar as cadeiras em ordem. Enquanto os outros professores aceitavam trabalhos copiados da internet ela nos fazia comentar cada citação e ainda corrigia os erros de português. Era quase uma prisão.
Nossa professora tinha que saber quem eram os nossos pais e amigos e o que nós fazíamos depois da aula. Insistia que lhe disséssemos se fossemos faltar, mesmo que fosse só um dia. E se perdêssemos a prova, tínhamos que documentar para fazer outra. A prova, então, era tão longa que parecia um jornal.
Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou as leis do trabalho. Nós tínhamos que aprender a fazer ofício para conseguir as coisas, dar reforço aos alunos com dificuldades, de graça e, se jogássemos lixo no chão tínhamos que pegar e jogar no cesto. Era uma tortura. Ela implicava com todos os fumantes da escola.
Eu acho que ela nem dormia a noite, pensando em coisas para mandar a gente fazer no dia seguinte: um trabalho, uma pesquisa, um resumo, uma resenha, uma visita. Qualquer coisa para nos "esticar" o cérebro e isso significava: Ler, ler, ler, ler, ler outra vez. Era capaz de trazer presentes para quem lesse mais de quatro livros literários por mês. Não é um absurdo? Ela fazia cada pergunta, que somente quem lesse o livro saberia responder.
Ela insistia sempre conosco para lhes dizermos a verdade, e apenas a verdade. Dizia que mais vale um 7.0 sabendo a matéria que um 10.0 colando. Nunca tiramos um zero com ela, pois explicava tantas vezes que era uma canseira. Mas ter um 10.0 não era para qualquer um. Em dia de prova, ela olhava as cadeiras e as palmas de nossas mãos para ver se não tínhamos colocado algum lembrete. Para ganhar um ponto tínhamos que quase carregar pedras.
A nossa vida na escola era mesmo chata. Enquanto tantas outras turmas brincavam durante as aulas, nós tínhamos que ficar sentados por pelo menos duas horas. Acreditam que na hora do intervalo nos sentávamos novamente para conversar?
Por causa de nossos professores maus, nós perdemos imensas experiências da infância e adolescência.
Nenhum de nós abandonou a escola, nem esteve envolvido em roubos, atos de vandalismo, violação de propriedade, colas, repetências, uso de drogas, não fomos presos por nenhum crime e nos formamos com honra e louvor, deixando nossos pais e mães orgulhosos de nós.
Foi tudo por causa de nossos professores. Agora que já nos formamos e somos profissionais renomados, respeitados, prósperos, honestos e educados fazemos o nosso melhor para sermos "profissionais maus", como nossos professores foram.
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: Não há suficientes professores "maus". Adaptado de Mães Más.

Autor: Marislei Brasileiro


Artigos Relacionados


Por Sua Causa

Amei-te

MÃe Diferente

Uma Sexta De Poesia

Confusão No Amor

Se Amar De Verdade!

O Segredo Da Amizade