ELE



Quando olhei pela janela do quarto, vi que o dia estava cinza e uma garoa fina caía. Fazia frio e eu procurei por um agasalho.
Passei uma pequena manta pelos ombros e fui até a cozinha preparar um chá quente.
Eu pensava no dia que estava por começar e quais eram as coisas importantes que eu teria que fazer.
Tomei o chá e me vesti.
Fui até a garagem e saí com o carro.
O dia prometia ser de muito frio. As pessoas na rua passavam por mim encolhidas em seus agasalhos, com os braços cruzados, evitando a rajada de vento gelado que batia em seus rostos.
O mar estava revolto, com ondas altas que batiam furiosamente nas areias da praia.
Foi quando eu o vi.
Ele estava sentado em um tronco de árvore que provavelmente tinha sido arrastado até a praia pela maré.
Não sei ao certo o que chamou minha atenção para ele.
Ele era bonito de uma forma simples. Vestia-se com simplicidade também.
Os cabelos eram claros e cortados bem curtos. A pele era clara e provavelmente os olhos eram verdes.
Ele olhava para o mar, mas parecia não estar vendo coisa alguma.
Eu não sei porque mas parei o carro, abri completamente o vidro da janela e fiquei olhando aquele homem.
Algo nele despertou minha atenção.
Talvez sua solidão, sentado ali olhando para o nada.
Desci do carro e me aproximei um pouco, mas mantendo uma distância segura para que ele não reparasse em mim.
De onde eu estava pude observar seus olhos que mostravam uma tristeza e desalento profundos. Perda.
Senti um aperto em meu coração e tive vontade de chorar.
O vento frio açoitou meu rosto e me trouxe de volta para a realidade.
O que eu fazia ali observando um estranho que parecia olhar para outra dimensão?
Olhei para a areia molhada sob meus pés e prestei atenção ao ruído do mar.
O mar dizia que a tristeza um dia iria embora. Que talvez fosse hora de recomeçar.
Será que aquele homem também ouvia as mensagens do oceano?
Será que o recado para ele seria diferente daquele que eu estava recebendo?
Respirei profundamente o ar gelado daquela manhã e o cheiro de maresia invadiu meus sentidos.
Olhei para as ondas, e me lembrei que a vida nos leva e nos traz de volta para nossas histórias.
Olhei para o homem solitário e lembrei que a solidão as vezes é desejada.
Eu caminhei por alguns minutos pela praia deserta, e quando voltei, ele já não estava mais lá.
Procurei em todas as direções, mas não o vi.
Voltei para o carro e segui meu caminho.
Mas um vazio no meu coração havia sido preenchido.
(Júlia Bellini)
Autor: Júlia Telles Bellini


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