Conquista, escravidão e colonização na América Latina
Por Júlio Rangel Borges Neto
A conquista e porque não dizer a descoberta do novo mundo, ocorreu de certa maneira por acaso, pois os espanhóis no afã de encontrar caminhos que os libertassem da dependência dos atravessadores que monopolizavam o comércio de especiarias vindas do oriente, se lançaram em alto mar e acabaram por chegar a América. Quanto aos aspectos culturais que impulsionaram a conquista propriamente dita e a posterior colonização das populações nativas, pode-se dizer que toda a Europa, em especial a península ibérica (Espanha e Portugal) estavam envoltos num clima de grande religiosidade, que os envolveu em grandes guerras como as cruzadas e agora tentando barrar o avanço do protestantismo. Assim sendo, o novo mundo era um fértil campo para digamos assim, dar prosseguimento as cruzadas, combatendo-se assim os hereges e aumentando os limites do reino de Deus sobre a terra. Aliado a esse fator, a abundância de ouro e outras riquezas minerais atiçou a cobiça dos invasores estrangeiros. Por outro lado, as civilizações indígenas apesar de milhares de vezes mais numerosas que seus futuros algozes, era bastante religiosa e ingênua o bastante para enxergar neles traços de divindade e cordialidade em razão do grande desnível cultural existente entre ambos.
Os índios apesar de muito avançados em algumas áreas, não tinham armas de fogo, cavalos, armaduras e entre muitas outras coisas, não tinha noção do valor econômico do ouro e outros bens que tinham em grande quantidade. Desta forma, explorando esta superioridade cultural e se aliando a tribos inimigas numa rede intrincada de intrigas e dissimulação, foi fácil para os ibéricos dominarem e escravizarem os nativos, ainda mais que contavam com a Igreja católica para dar um ar de legitimidade e sacralidade a tudo isso. No que se refere a colonização, além dos pormenores já tratados, a grande quantidade de riquezas minerais e a esperança de deixar a pobreza, atraiu muitos do velho continente, os quais receberam afora terras em usufruto, outras vantagens. Depois do ouro, surgiram outros produtos que ajudaram a colonização, como o açúcar, o café etc, consagrando assim, a vocação exportadora e de dependência externa de nossa economia colonial.
Foi assim que surgiu o latifúndio, pois culturas como o do açúcar, o café e mesmo o cacau não aceitam concorrência (monocultura), exigindo ainda muita mão-de-obra. Como esta força de trabalho, já existia aqui em grande quantidade de forma quase gratuita, visto que os índios e os negros eram escravos na mineração e boa parte dela estava se exaurindo, bastava deslocá-los para a nova atividade. Na verdade, praticamente só negro continuou escravo, pois séculos de exploração e de doenças trazidas pelos colonizadores brancos, os reduziu a um pequeno número de indivíduos, mesmo porque, a Santa Sé proibiu a escravização do gentio.
Desta feita, por tudo que já foi dito, a escravidão teve uma importância imensa no esforço de colonização de toda a América, em especial a Latina, afinal não havia mão-de-obra suficiente, tão barata e capaz de um trabalho tão penoso como os índios e os negros. Não fossem eles, não haveria como ter viabilidade econômica para a colonização da América. Não bastasse tudo isso, a herança destes povos (negro e o índio) está no nosso sangue, língua, culinária, dança, religião (cultos africanos), enfim na cultura latina tão forte como a do colonizador europeu.
BIBLIOGRAFIA:
A América Latina na época colonial/ James Lockhart, Stuart B. Schwartz; tradução de Maria Beatriz de Medina. ? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América latina. São Paulo: Paz e Terra, 1983.
QUIJANO, Anibal. Dom Quixote e os moinhos de vento na América latina. Revista de estudos avançados, vol. 55. São Paulo: Sept, 2005.
SILVA, Janice Theodoro da. Descobrimentos e colonização. São Paulo: Editora Ática, 1998.
Júlio Rangel Borges Neto ? Advogado e Sociólogo
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Autor: Júlio Rangel Borges Neto
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