GRIPE INFLUENZA PANDÊMICA (H1N1): descrição, histórico, reações e consequências



GRIPE INFLUENZA PANDÊMICA (H1N1): descrição, histórico, reações e consequências


Lourdes Beppler
RESUMO
Em 24 de abril de 2009, houve um primeiro alerta da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o surgimento de uma nova doença, a Gripe Influenza A (H1N1), também chamada de Gripe Suína. No Brasil, no dia 16 de julho de 2009, o Ministério da Saúde registrou o primeiro caso de transmissão direta do vírus H1N1 no território nacional, sem contato com doente vindo do exterior. O contágio pelo H1N1 causou alarme, pois poderia ser rápido e se tornar incontrolável, visto que seus sintomas são muito parecidos com os de uma gripe comum e poderiam ser facilmente confundidos e camuflar a pandemia. Porém, ao contrário da gripe comum, a Influenza A pode causar a debilidade e provocar o óbito do paciente. Devido ao grande perigo dessa pandemia, o Ministério da Saúde, visando reduzir a contaminação pelo vírus H1N1, desenvolveu um programa preventivo e implantou, no ano de 2010, a Estratégia Nacional de Vacinação Contra o Vírus da Influenza Pandêmica (H1N1) 2009. Esta ação foi bem sucedida, pois se fundamentou na análise de vários fatores, tais como a situação epidemiológica no Brasil, a vigência da segunda onda da pandemia no hemisfério norte, a gravidade da doença, o risco de adoecer e morrer e a disponibilidade da vacina.

Palavras-chave: H1N1. Influenza A. Gripe Suína. Contágio. Vírus. Ministério da Saúde. Vacina. Pandemia.


Introdução

O presente artigo aborda os fatores ligados à Gripe Influenza A (H1N1), causas, consequências, fatores de risco, a ação do Ministério da Saúde e a reação da população à vacina. A pesquisa se desenvolveu com base nos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde e também através de uma revisão bibliográfica em material impresso, tais como livros, revistas especializadas, panfletos distribuídos nos postos de saúde, etc., assim como em sites oficiais dos órgãos públicos de saúde, etc.
1 Gripe Influenza Pandêmica (H1N1): descrição e histórico
1.1 Descrição

A Influenza A H1N1 (Suína) ou Gripe A é uma infecção viral aguda do sistema respiratório, de distribuição global e elevada transmissibilidade. O vírus foi identificado como Influenza A, subtipo H1N1, uma variante nova da gripe suína. Ele contém ADN típico de vírus aviários, suínos e humanos, incluindo elementos dos vírus suínos europeus e asiáticos. Por essa razão, essa doença também ficou conhecida como Gripe Suína. Os principais subtipos desse vírus são H1N1, H1N2, H3N2 e H3N1. O Ministério da Saúde (2010) esclarece que:
Os vírus influenza são compostos de RNA de hélice única, da família dos Ortomixovírus, e subdividem-se em três tipos A, B e C, de acordo com sua diversidade antigênica. Os vírus podem sofrer mutações, ou seja, podem passar por transformações em sua estrutura. Os tipos A e B, comparados ao tipo C, têm maior poder de causar a doença (morbidade) e morte (mortalidade). As epidemias e pandemias, geralmente, estão associadas ao vírus influenza A. (BRASIL, 2010, p. 2)
Em outras palavras, os vírus Influenza são subdivididos nos tipos A, B e C, de acordo com seus perfis antigênicos próprios. Outro detalhe a se observar é que embora o vírus Influenza A H1N1 apresente alta virulência e baixa mortalidade em suínos, nos seres humanos apresenta comportamento diferente. Carneiro et alii comentam:
Tipicamente, as propriedades antigênicas dos vírus tipo A variam a cada ano, o que acarreta uma incapacidade do organismo hospedeiro em manter uma resistência duradoura. (CARNEIRO ET ALII, 2010, p. 208)
Por serem altamente transmissíveis e mutáveis, os vírus da Influenza A podem vir a causar surtos, epidemias e mesmo pandemias, podendo proporcionar elevada morbidade e mortalidade entre os seres humanos.
Observe-se, ao lado, um desenho esquemático do vírus Influenza:


Fig. 1. Vírus H1N1 (CARNEIRO ET ALII, 2010)
1.2 Sintomas e processo de transmissão

O quadro do resfriado comum, geralmente, é brando, de evolução benigna (de dois a quatro dias), podendo, no entanto, ocorrer complicações como otites, sinusites e bronquites; e quadros graves de acordo com o agente etiológico em questão. Os sintomas da Influenza A H1N1 (Suína), muitas vezes, são semelhantes aos do resfriado comum, que se caracterizam pelo comprometimento das vias aéreas superiores como congestão nasal, rinorreia, tosse, rouquidão; febre variável e, com menor frequência, mal-estar, mialgia e cefaleia. Observe-se abaixo a distribuição de sinais e sintomas dos casos de síndrome gripal confirmados para influenza pandêmica (H1N1) 2009.

Gráfico 1. Sintomas confirmados para influenza pandêmica (H1N1) 2009 (BRASIL, 2010)
O Ministério da Saúde (2009), afirma que:
Este novo subtipo do vírus da influenza é transmitido de pessoa a pessoa principalmente por meio da tosse ou espirro e de contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas. (BRASIL, 2009, p. 1)
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (2010), pode-se apontar como sendo as principais características do processo de transmissão da Influenza A H1N1 (Suína) os seguintes fatores:
a) alta transmissibilidade, principalmente em relação à influenza A;
b) maior gravidade entre os idosos, as crianças, os imunodeprimidos, os cardiopatas e os pneumopatas;
c) rápida variação antigênica do vírus influenza pandêmica, favorecendo maior suscetibilidade da população; e
d) circulação dos vírus entre aves selvagens e domésticas, suínos, focas e equinos, que, desse modo, também tornam-se em reservatórios dos vírus, constituindo-se, assim, em uma zoonose. (BRASIL, 2010, p. 2)
Os chamados "grupos de risco", ou seja, as pessoas que apresentam as condições que mais favorecem a complicação por influenza pandêmica (H1N1) 2009, evidenciadas, foram (i) pessoas com menos de dois anos e maior que 60 anos; (ii) gestantes; (iii) pessoas portadoras de doença crônica cardiovascular, pneumopatias, renal crônico, hematológica, imunossupressora, metabólica, genética e neurológica. (BRASIL, 2010)
A presença de comorbidade pode colaborar para uma evolução clínica com complicações. Do total de casos confirmados, 21,6% (957/4.434) dos registros apontam algumas condições crônicas de saúde. O grupo das pneumopatias crônicas é o mais frequente, em 20,1% dos casos; o grupo de outras comorbidades a diabetes representa 5,3%. (BRASIL, 2010, p. 5)


1.3 Distinção entre epidemia, endemia e pandemia


Com o objetivo de se procurar a exatidão científica, torna-se necessário apresentar a distinção semântica entre os vocábulos epidemia, endemia e pandemia, empregados de modo muitas vezes indistinto na linguagem corrente, mas que, no entanto, acarretam significados diferentes e que exigem medidas e atitudes diferentes.
Epidemia é um fenômeno que se caracteriza pela incidência, em curto período de tempo, de grande número de casos de uma doença. (REZENDE, 2004) De acordo com Rouquayrol, Epidemiologia é:
a ciência que estuda o processo saúde-doença na comunidade, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades e dos agravos à saúde coletiva, sugerindo medidas específicas de prevenção, de controle ou de erradicação. (ROUQUAYROL, 1986, p.1)
Resumidamente, pode-se dizer que endemia é uma doença que predomina habitualmente em uma região, de causa local. (PINTO, 1962) Pandemia, por sua vez, é uma epidemia de grandes proporções, que se espalha a vários países e a mais de um continente. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais afirma:
Uma pandemia ocorre quando surge um novo vírus contra o qual a população não está imunizada ? não há vacina pronta, nem o corpo das pessoas conhece o vírus. Assim, muitos são atingidos, resultando em uma epidemia que se espalha em diversos países. Fatores como o incremento do fluxo de pessoas entre países, a urbanização e o crescimento populacional contribuem para acelerar esse processo. (MG, 2010, p. 5)
Com base nesses conceitos e nos dados assustadores que foram recolhidos não apenas em muitos países, mas em todos os continentes, dados esses que apontavam para a disseminação mundial desse novo vírus, a doença veio a ser classificada como pandemia. A razão disso foi que a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que a circulação do vírus estava fora de controle e a sua propagação já se dava por mais de um continente. Assim, em dia 11 de junho de 2009, a Organização Mundial de Saúde (OMS) a decretou oficialmente pandemia: a pandemia de influenza A (H1N1).


1.4 Histórico sucinto das grandes gripes da História


Na Antiguidade, no século V a.C. Hipócrates relatou as primeiras suspeitas de infecção pelo vírus Influenza, que ele descreveu como casos de uma doença respiratória que, em algumas semanas, matou muitas pessoas e depois desapareceu. No século XIX, 1889, foi relatada a primeira epidemia de gripe que levou à morte cerca de 300 mil pessoas, principalmente idosos.
No século XX, 1918, a Gripe Espanhola se tornou memorável por ter atingido cerca de 50% da população mundial e levou ao óbito mais de 40 milhões de pessoas. Relata-se que, no Brasil, mais de 35 mil pessoas vieram a falecer. Assim, a Gripe Espanhola, em uma série de quatro ondas epidêmicas, no período de 1918-1920, havia se tornado, até então, o parâmetro moderno de pandemia de influenza devido a sua rápida disseminação e incomparável virulência. Carneiro et alii comentam:
A pandemia de influenza, nesse período, infectou, aproximadamente, 600.000 de pessoas e causou entre 40.000 a 100.000 mortes, mundialmente. Salienta-se que a notificação era apenas de casos mais graves e que os registros eram precários. (CARNEIRO ET ALII, 2010, p. 207)
No Oriente, houve gripes famosas. A gripe asiática, em 1957, vitimou, em seis meses, cerca de um milhão de pessoas em todo o mundo. Já a gripe de Hong Kong, em 1968, produziu uma epidemia de grande extensão, que se propagou ao mundo. Em 2003, houve um surto da gripe aviária na Ásia, que atingiu 121 pessoas e matou 62 pessoas naquele continente.


1.5 A Gripe Influenza A (H1N1)


Em 24 de abril de 2009, houve um primeiro alerta da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o surgimento de uma nova doença, a Gripe Influenza A (H1N1), também chamada de Gripe Suína. No Brasil, até o dia 15 de julho daquele ano, o Ministério da Saúde registrou poucos casos e apenas de de pessoas que haviam contraído o vírus no exterior ou através de contato com alguém que estivesse fora do país.
De acordo com Machado (2009), passado apenas um mês da notificação do primeiro caso, já estavam disponíveis na literatura científica informações sobre o vírus, assim como a descrição de 642 casos da infecção com o vírus influenza A (H1N1) identificados nos Estados Unidos. Segundo Tatiana Sabadini:
O vírus H1N1 foi detectado em abril de 2009 no México e nos Estados Unidos e se espalhou rapidamente pelo mundo. No Brasil, foram registrados 46.100 casos graves e 2.051 óbitos no ano passado. De janeiro a julho deste ano foram identificados 793 casos, com necessidade de internação e 95 mortes. (SABADINI, 2010, p. 1)
Entretanto, no dia 16 de julho de 2009, o Ministério da Saúde registrou o primeiro caso de transmissão direta do vírus H1N1 no território nacional, sem contato com doente vindo do exterior. Essa pessoa era um paciente do Estado de São Paulo e veio a falecer em virtude do contágio. Foi a primeira evidência de que a circulação do vírus H1N1 já era uma lamentável realidade no Brasil.
O contágio pelo H1N1 causou alarme, pois poderia ser rápido e se tornar incontrolável, visto que seus sintomas são muito parecidos com os de uma gripe comum e poderiam ser facilmente confundidos e camuflar a pandemia: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza. Porém, ao contrário da gripe comum que costuma apresentar quadro clínico leve e evoluir para a cura, a Influenza A pode causar a debilidade e provocar o óbito do paciente.


1.6 Medidas preventivas


Devido ao grande perigo dessa pandemia se alastrar no Brasil e vitimar muitas pessoas, o Ministério da Saúde, visando reduzir a contaminação pelo vírus H1N1, desenvolveu um programa preventivo e implantou, no ano de 2010, a Estratégia Nacional de Vacinação Contra o Vírus da Influenza Pandêmica (H1N1) 2009. Esta ação foi bem sucedida, pois se fundamentou na análise de vários fatores, tais como a situação epidemiológica no Brasil, a vigência da segunda onda da pandemia no hemisfério norte, a gravidade da doença, o risco de adoecer e morrer e a disponibilidade da vacina. Sobre a gravidade dessa pandemia em território nacional, o Ministério da Saúde (2010) afirma:
Segundo o boletim nº 88 da Organização Mundial da Saúde (OMS), disponível no site http://www.who.int/csr/don/2010_02_19/en/index.html, até 19 de fevereiro de 2010, mais de 212 países têm casos confirmados de influenza (H1N1) 2009, com, pelo menos, 15.921 óbitos. (BRASIL, 2010, p. 3)
A pandemia foi dividida em duas fases epidemiológicas e operacionais distintas: a fase de contenção e a fase de mitigação. De modo resumido, elas são assim caracterizadas:
? Fase de contenção: período em que o vírus estava se disseminando no mundo e os casos estão relacionados às viagens internacionais ou contato com pessoas doentes que tenham realizado viagens internacionais. Nesta fase, houve ações de vigilância em pontos de entrada do país, ou seja, em portos, aeroportos e passagens de fronteira. De acordo com o Ministério da Saúde (2010):
Epidemiologicamente, esta fase compreendeu da semana epidemiológica (SE) 16, período de identificação dos primeiros casos suspeitos, a SE 28, período da declaração de transmissão sustentada. (BRASIL, 2010, p. 5)
? Fase de mitigação: período a partir da SE 29, após declaração de transmissão do vírus da Influenza em todo o Brasil. Nesse momento, as ações de vigilância nos pontos de entrada do país perdem a relevância e o importante é dar assistência aos contaminados a fim de se reduzir a gravidade da doença e mortalidade que ela provoca.
Neste período, foram confirmados casos em todas as regiões. O período de maior incidência foi durante a semana epidemiológica (SE) 31, refletindo o padrão observado nas regiões Sul e Sudeste, as mais afetadas, seguido das regiões Centro-oeste e Nordeste. (BRASIL, 2010, p. 5)
O modo mais econômico, aconselhado e difundido de prevenção à infecção por H1N1, foi a higienização das mãos através da lavagem com água e sabão ou sabonete, pois a assepsia reduz significativamente o número de vírus Influenza A H1N1, bem como outros micro-organismos transmitidos pelo contato. No caso de não ser possível a lavagem das mãos, a higienização pode ser realizada através de álcool, seja sob as formas de gel ou solução. Entretanto, deve-se ter cuidado, pois o álcool líquido ou em gel para limpeza doméstica não deve ser usado para esse fim.
De acordo com a ANVISA, para ser eficaz contra a contaminação pelo vírus Influenza A H1N1, o produto deve ter concentração de 70% de álcool, pois álcool com concentração menor que 70% não é eficaz e álcool a 90% não deve ser usado, porque pode causar irritação na pele. Assim, é importante que se tome cuidado na compra do produto. Machado (2009) comenta que:
...a higienização das mãos pode ser realizada com preparação alcoólica (sob as formas em gel ou solução), quando essas não estiverem visivelmente sujas, uma vez que:
1) O vírus da influenza sazonal é rapidamente inativado em 30 s após antissepsia das mãos com álcool 70%.
2) Determinados vírus envelopados (ex: herpes simples, HIV, influenza, vírus respiratório sincicial) são suscetíveis ao álcool quando testados in vitro. (MACHADO, 2009, p. 1)
O Ministério da Saúde promoveu curso de preparação de profissionais de todo o País para capacitar os trabalhadores que atuariam no enfrentamento da gripe H1N1. Esses profissionais deveriam atuar como multiplicadores desses conhecimentos em seus Estados, tendo como dever repassar as informações recebidas durante o encontro para outros trabalhadores, através de capacitações locais. (ESTADÃO, 2010) De acordo com notícia veiculada no Correio Braziliense, o governo federal gastou cerca de R$ 2,5 bilhões para combater a doença. (SABADINI, 2010, p. 1)
Aconselhou-se firmemente que, cada estabelecimento, respeitando suas particularidades, definisse formas de conscientizar os seus funcionários sobre os sintomas da gripe, a importância das regras de higiene, da lavagem das mãos, da observância cuidadosa dos possíveis sintomas, além da necessidade de afastamento nos casos de suspeita da doença. A conscientização deveria se dar a partir da divulgação das informações corretas encontradas em fontes oficiais como o site do Ministério da Saúde, postos de saúde, etc. Além disso, as empresas deveriam evitar a realização de qualquer evento que implicasse na aglomeração de pessoas em espaços fechados.


2 A vacina ? imunização e reações

2.1 Tratamento e vacinas

A Professora Associada do Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Alcyone Artioli Machado, comenta sobre o tratamento:
Dados de sequenciamento genético e testes funcionais de inibição de neuraminidase indicam que o vírus Influenza A (H1N1) de origem suína é suscetível tanto ao oseltamivir como ao zanamivir e é resistente a adamantanes, incluindo amantadina e rimantadina. Assim, o tratamento dos casos que se enquadrarem nas definições de caso suspeito, provável ou confirmado, com idade igual ou superior a 1 ano, deve ser realizado preferencialmente com oseltamivir. A utilização do medicamento deve ser realizada, no máximo, até 48 h a partir do início dos sintomas. (MACHADO, 2009, p. 1)
De acordo com o site "h1n1online.com", as vacinas H1N1 usadas no Brasil, foram compradas de três laboratórios: Glaxo Smith Kline (GSK), SANOFI Pasteur, que tem parceria com o Instituto Butantan, e Novartis. Esses foram os laboratórios autorizados pela Organização Mundial da Saúde. O nome comercial da Vacina no Brasil é Vacina Influenza A/H1N1 (Fragmentada e Inativada). Afirma o Ministério da Saúde:
O Ministério da Saúde adquiriu dos laboratórios Glaxo SmithKline (GSK), Sanofi Pasteur/Butantan e Novartis, um total de 112,9 milhões de doses da vacina monovalente influenza pandêmica (H1N1) 2009, sendo 68 milhões de doses sem adjuvante e 44,9 milhões de doses com adjuvante. (BRASIL, 2010, p. 7)
Sobre os efeitos secundários mais frequentes, o site "h1n1online.com", comenta:
Vermelhidão, inchaço ou dor no local de injecção, formação de nódoas negras ou endurecimento da pele no local de injecção, febre, mal-estar geral, cansaço, dores de cabeça, transpiração aumentada, arrepios, sintomas semelhantes aos da gripe, dores nos músculos e nas articulações. Estes efeitos secundários desaparecem geralmente num período de 1-2 dias, sem tratamento. Se continuarem, CONSULTE O SEU MÉDICO. (H1N1ONLINE, 2010, p. 1)

2.2 Estratégia Nacional de Vacinação Contra o Vírus da Influenza Pandêmica (H1N1) 2009


Tendo como objetivo geral contribuir para a redução de morbimortalidade pelo vírus da influenza (H1N1) 2009 e manter a infraestrutura dos serviços de saúde para atendimento à população, foi criada, pelo Ministério da Saúde, a estratégia nacional de vacinação contra o vírus da Influenza Pandêmica (H1N1) 2009. Assim, com o fim de reduzir o risco de expansão da transmissão do vírus da Influenza Pandêmica (H1N1) 2009, procurou-se, primeiro, vacinar os trabalhadores da área da saúde de modo que os serviços de saúde pudessem ser mantidos em pleno funcionamento. Carneiro et alii afirmam:
O controle do vírus H1N1 pela disponibilidade de vacina específica oferece vantagens (reduzindo morbimortalidade) e favorece a manutenção da infraestrutura, sem superlotações, dos serviços de saúde, para atendimento à população. Outros benefícios associadas são a redução do risco de transmissibilidade, aptidão dos trabalhadores de saúde, mantendo o pleno funcionamento dos serviços. (CARNEIRO ET ALII, 2010, p. 211)
Foram definidas cinco etapas de vacinação a partir da definição dos grupos prioritários. Desse modo, o sistema de saúde brasileiro seria capaz de atender a população em tempo oportuno visando evitar que viesse a adoecer em razão da Influenza Pandêmica (H1N1) 2009.
Segundo o Ministério da Saúde (2010), muitos foram os fatores considerados na articulação da estratégia para que se pudesse enfrentar uma segunda onda pandêmica desde 2009. Para o sucesso desse planejamento, a vacinação da população brasileira foi o ponto fundamental. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (2010), levou-se em conta os seguintes fatores:
1. Situação epidemiológica da influenza pandêmica no Brasil.
2. Observação da 2ª onda no Hemisfério Norte.
3. Recomendação do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações PNI/SVS/MS.
4. Recomendações da OMS e Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) para definir públicos prioritários.
5. Articulação com sociedades científicas, CFM, AMB, ABEN, Conass e Conasems.
6. Critério de sustentabilidade dos serviços de saúde para organizar a estratégia, visando não haver esgotamento na capacidade de atendimento oportuno à população.
7. Fornecimento de vacinas pelos laboratórios produtores em tempo oportuno, ou seja, antes da sazonalidade esperada para a segunda onda pandêmica. (BRASIL, 2010, p. 7)
A partir da análise desses fatores foram definidos os grupos chamados prioritários. Carneiro et alii comentam:
Alguns grupos de pacientes foram gratificados devido ao risco potencial de evoluir com formas graves da enfermidade (crianças menores de 2 anos de idade, idosos acima de 65 anos de idade, portadores de doenças crônicas, obesos mórbidos, gestantes, populações de origem indígena). (CARNEIRO ET ALII, 2010, p. 209)
A operacionalização da estratégia de vacinação se deu em etapas e se diferenciou das tradicionais "campanhas nacionais de vacinação" justamente pela especificidade dos grupos prioritários selecionados. Além disso, deve-se considerar também o fato de não ser possível a convocação da população em geral. A vacinação teve início em 8 de março e se prolongou até 21 de maio de 2010, tendo sido realizada em cinco etapas, num total de onze semanas de trabalho. (BRASIL, 2010)
A meta de vacinação do Ministério da Saúde foi bastante ousado, eficiente e com critérios bastante claros, como podemos constatar a seguir:
A cobertura vacinal a ser alcançada é igual ou maior a 80%, em todos os municípios do Brasil, para os seguintes grupos prioritários: crianças de 6 meses a menores de 2 anos, gestantes e adultos de 20 a 39 anos de idade. Para os demais grupos a serem vacinados, será acompanhado o número absoluto de pessoas vacinadas e não a cobertura vacinal. (BRASIL, 2010, p. 13)


2.3 Boatos alarmistas sobre a vacina


As reações documentadas à epidemia foram as mais alarmistas, tanto em relação à vacina quanto em relação à própria doença. Explicando melhor: houve uma grande circulação de boatos, muitas vezes anônimos, circulando de boca em boca e pela internet, com o objetivo de assustar a população.
Uma das mensagens eletrônicas que circulam anonimamente na internet afirmava que a vacina possuía, em seus componentes, substâncias capazes de provocar problemas desde autismo nas crianças até problemas no sistema imunológico humano. Além disso, essas mensagens, que não se restringem a e-mails mas envolvem também vídeos disponibilizados no site chamado "youtube.com", sugerem um complô, ou seja, uma armação entre autoridades de saúde e os proprietários de laboratórios farmacêuticos fabricantes da vacina. O objetivo desse complô seria obter lucro com a vacinação em massa da população mundial e com a venda de medicamentos como o Tamiflu.
Camargo Neto (2010), que assina um artigo se autointitulando "jornalista científico trilógico", afirma:
Os hospitais de São Paulo estão abarrotados de pessoas que se queixam de estar sofrendo efeitos danosos da vacina contra gripe suína, mas essas queixas não podem ser registradas pelos médicos, porque não existe um CID ? Código Internacional da Doença ? para a reação patológica à vacinação. (CAMARGO NETO, 2010, p. 1)
É interessante observar que, embora Camargo Neto afirme que os médicos consultados acreditem que os que estão tendo reações às vacinas deveriam procurar um advogado e abrir um processo pedindo indenização pelos prejuízos sofridos, ele também afirma que "as fontes de informação pediram para não ser identificadas, com receio de perder os empregos" (CAMARGO NETO, 2010, p. 1). O jornalista até pode estar dizendo a verdade e ter razão, isso não está sendo julgado aqui, entretanto, o fato de ele não citar as suas fontes faz com que perca a credibilidade.
O site anônimo "pandemia-h1n1.com/", por exemplo, declara que a "gripe "A", H1N1 é a maior conspiração do século XXI" e traz uma lista de personalidades, entre as quais médicos, cientistas, investigadores, etc., que divulgariam informações evidenciando que o vírus teria sido criado artificialmente. Ainda afirma acerca do Dr John Carlo:
Director Médico no Dallas County DCHHS ( Dallas County Human Health and Services ) ( E.U.A) , diz que o vírus H1N1 foi uma mistura genética feita em laboratório. Algo que nunca tinha sido visto em nenhuma parte do mundo nem nos Estados Unidos. (ANÔNIMO, 2010, p. 1)
O site português "publico.pt" apresenta essa notícia sobre o cientista australiano Adrian Gibbs:
...Adrian Gibbs pretende publicar um relatório sugerindo que este vírus pode ter sido criado acidentalmente em experiências laboratoriais para desenvolver vírus passíveis de virem a ser usados na produção de vacinas. (PÚBLICO, 2010, p.1)
O referido site ainda acrescenta:
Os centros norte-americanos para o controlo e prevenção de doenças, em Atlanta, já tiveram acesso ao estudo de Gibbs e afirmam não ver provas que sustentem a conclusão do investigador australiano. (PÚBLICO, 2010, p.1)
A Dra. Rauni Kilde, ex-Ministra da Saúde da Finlândia e ex-diretora clínica da província finlandesa da Lapônia, em entrevista legendada em português cujo vídeo circula na internet e está disponível no site "youtube.com", defende que a OMS apresentaria dados falsos acerca das estatísticas sobre a gripe e que as "elites" estão pretendendo reduzir a população mundial a dois terços. A Dra. Rauni Kilde afirma que a informação que circula sobre o vírus H1N1 é "autêntico lixo" e que "não é a gripe suína que é perigosa, são as vacinas".
Em sua entrevista, a Dra. Rauni Kilde afirma que tudo se resume a uma estratégia das "elites" para reduzir a população mundial a dois terços, conforme ela afirma, "por detrás de tudo está a diminuição da população mundial" e o objetivo é "colocar milhões nos bolsos de quem difunde as vacinas".
Luciana Coelho, do Jornal da Ciência, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entrevistou o Dr. Wolfgang Wodarg, médico alemão, presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, membro do Partido Social Democrata (SPD) desde 1988. De acordo com Coelho:
O pneumologista alemão Wolfgang Wodarg vê um paralelo entre a indústria farmacêutica e a bélica: "Ambas vivem do medo". Se em uma a ameaça terrorista infla orçamentos de defesa, na outra as pandemias fazem fluir o caixa. (COELHO, 2010, p. 1)
Segundo sua entrevista, o Dr. Wolfgang Wodarg critica a alteração nos critérios de definição de pandemia, que tinham relação com a gravidade da doença aliada à sua expansão e não apenas à expansão. O Dr. Wolfgang Wodarg teria afirmado:
A definição anterior de pandemia era muito melhor, não nos levava a usá-la todos os anos. Agora qualquer gripe comum é uma pandemia. A definição antiga dizia que tinha de ser uma doença disseminada, mas com alto índice de letalidade. A severidade era levada em conta. Agora isso foi excluído da definição. Pode ser só uma gripe leve, mas porque alguém viajou a um país e "exportou" a gripe já há alarme. (COELHO, 2010, p. 1)
Não sendo o objetivo central do presente artigo considerar detalhadamente os boatos que surgiram em torno da vacinação contra o H1N1, mas apenas expô-los a fim de se registrar o cenário e os ânimos na ocasião. A verdade é que, de modo geral, os efeitos provocados pela vacina foram reações leves, como dor local, febre baixa e dores musculares, com duração em torno de 48 horas.
A polêmica torno da vacinação teve início devido ao uso de substâncias na composição da vacina como o timerosal, um derivado do mercúrio, que, desde 2000, a Agência Francesa de Medicamento recomenda que não seja usada. Entretanto, em virtude da pandemia, a OMS autorizou seu uso por considerar que seus riscos eram mínimos. O timerosal é usado para conservar o medicamento. O mesmo ocorreu em relação ao esqualeno, que é um componente comum em vacinas. Em entrevista ao Jornal Nacional, Rede Globo de Televisão, o diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Dr. Alexander Roberto Precioso, afirmou:
A quantidade de mercúrio que tem nessa vacina é muito pequena e considerada não prejudicial à saúde das pessoas. O mesmo vale para a substância esqualeno. (G1, 2010, p.1)

Como se percebeu empiricamente, os efeitos nocivos que os referidos e-mails alarmistas denunciavam não se mostraram verdadeiros, pois milhares de pessoas foram vacinadas no Brasil sem que se registrasse qualquer efeito colateral grave. A vacina foi eficaz, segura e protegeu a população, contra a expectativa dos autores das citadas mensagens.


Considerações finais

De acordo com a literatura científica pesquisada, deve-se considerar, em primeiro lugar, que a atuação do Ministério da Saúde na prevenção e o combate à Pandemia foi bastante meritória e eficaz, pois evitou que uma catástrofe de proporção continental, em virtude da extensão territorial do Brasil e do tamanho da sua população, viesse a acontecer.
A fase mais crítica da pandemia passou. Entretanto, embora o mundo já não se encontre mais na fase 6 de alerta pandêmico, ainda há necessidade de vigilância e prevenção, pois o atual período é o que se chama de pós pandêmico. Em outras palavras, a atual situação não significa que o vírus H1N1 tenha desaparecido, mas, sim, que a sua manifestação, nesse momento, a sua manifestação pode ocorrer semelhantemente a um vírus de gripe sazonal e poderá continuar circulando ainda por vários anos. Desse modo, não se deve descuidar a prevenção.
O vírus deve continuar a ser monitorado. Apesar do fim da pandemia, ele ainda circula pelo mundo e atinge grupos mais vulneráveis ao H1N1, como gestantes, portadores de doenças crônicas e crianças menores de 2 anos. A recomendação da OMS é para que as ações preventivas continuem, principalmente durante o inverno.
Referências bibliográficas


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Autor: Lurdes Beppler


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