Carta ao Senhor Rogante (visita à boate Love Story)




Estimado Senhor,

Em acordo com o previamente firmado, e dado vosso sincero interesse no assunto, venho, por esta singela missiva, relatar minha passagem pela danceteria conhecida como "Love Story".

Primeiramente, causou-me espécie a região central da cidade, onde se localiza o estabelecimento. Naturalmente, antes de adentrar o recinto, fiz todo um trabalho tático-estratégico de reconhecimento de área. Impressionou-me como o Senhor tinha razão! A região é caracterizada pela presença de boates gays, todas lotadas, com enormes filas de espera! E é engraçado ver a entrada dessas boates: eles colocam uma drag queen na portaria, que libera a passagem a conta-gotas, mantendo-se filas que dobram o quarteirão (é como se o tamanho da fila representasse o "status" do estabelecimento).

Meu deus, Dr. Rogante, a juventude de hoje em dia é totalmente gay! Bem faz o Senhor, é realmente arriscado ter filho nesses dias... Seriam necessárias constantes seções de doutrinamento para mantê-los sempre nos eixos (analogamente como o Senhor, sábio que é, faz com a Senhora sua esposa). Se bem que, é necessário dizer, também não é aconselhável ter filha - nesse caso, não basta a vigília sobre a própria prole, é necessário vigiar também os filhos dos outros (muitas noites de insônia, então, reservaria o futuro).

Mas não vamos ficar mudando de assunto. Sei que o Senhor é homem ocupado e anseia que as coisas sejam ditas de pronto. Pois bem, além das boates GLS, a região central é abundante em seres da noite, criaturas perdidas, prostitutas, travestis e seres afim. Freguesia certamente não falta, e para todos os gostos, pois as ruas estavam bem movimentadas. Para meu espanto, nesse reconhecimento tático-estratégico, acabei descobrindo a rua dos garotos de programa. Isso mesmo, Senhor! Existe uma longa e escura rua, onde os michês marcam ponto em sequência, junto aos postes dispostos na calçada. Cada coisa que a gente encontra na madrugada paulistana...

Confesso que esse reconhecimento me deixou com receio, pensei até em ir embora. Em que roubada havia me metido dessa vez? Nesse momento, sua voz de reprovação e ponderação ecoou em minha mente. Já que estava ali, encarei o desafio e entrei na Love Story!

O lugar não deixa de ser interessante, embora eu esperasse que fosse maior. Mas certamente tenho que fazer referência a seu conhecimento de vida, estimado Senhor! Estava completo de razão quando disse que o recinto era intensamente frequentado por garotas de programa. De tal modo que é impossível estar na Love Story sem pensar que todas as mulheres são garotas de programa (e isso talvez seja verdade, embora, ao longo da noite, você comece a ter dúvidas - principalmente se beber).

Aliás, um adendo, fiquei sabendo da história de um cara que encontrou uma garota no recinto, encantou-se com ela, saiu com ela, levou para casa e, não sei quanto tempo depois, foi acossado de grande fúria, ao ter conhecimento que a mesma era garota de programa. Pura ingenuidade, Senhor!

Pois bem, no interior da boate verificam-se cenas surreais, como os tiozões que de repente surgem no meio da pista de dança, como clientes procurando profissionais do amor. Até mesmo senhores de gravata despontam aqui e acolá, o que se constitui em mais uma característica que distingue o ambiente na comparação com outros estabelecimentos. Até mesmo me deparei, como quem vê uma miragem, com um distinto senhor, cachimbo à boca, prospectando o ambiente. Teria trabalhado até tarde e passou ali para considerar as possibilidades?

Em resumo, trata-se, sim, de lugar frequentado por muitas garotas de programas, de todos os níveis, e, por consequência e infelizmente, no arrasto, muitos homens.

Valeu pelo conhecimento de mais um mundo que nós, normalmente, acostumados ao cotidiano normal, nem fazemos idéia que existe. Comparado com outros lugares, há ainda um quê mais evidente de erotismo nas pessoas, na dança, nas aproximações (se bem que, dizem, cada dia da semana é frequentado por um público diferente). Mas, fora o risco de alguém, por engano, lhe passar a mão no traseiro, o lugar não é perigoso. Há bastante segurança e pouca bebida - até porque é muito cara, uma cerveja não saía por menos de R$ 15.

Ah, sim... Não posso esquecer de mencionar que, já perto da hora de ir embora (cheguei às 2h, saí às 7h), quando o recinto começa a esvaziar, aparecem uns travestis endemoniados na pista de dança. Bem que o Senhor avisou, eles fecham o expediente ali...

Fui embora quando estavam tocando psy e não aguentei mais (realmente, o nome psy é adequado para esse péssimo tipo de música). Esqueci de levar os providenciais chumaços de algodão para proteção dos ouvidos e passei o dia seguinte escutando o apito de uma panela de pressão.

Para finalizar, relato que tocaram uma estranha música (hipnótica?) que dedico ao Senhor. Ela tinha um característico e estranho refrão que dizia: "Wash my nipples... Touch my nipples... Feel my nipples..."

Esse Mike Tyson é louco de ir num lugar desses... Mas, quem sabe, um dia, eu volte lá.

Atenciosamente,

Seu amigo.


Autor: José Marcelo Rigoni


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