Surpresa na chegada



Surpresa na chegada

Helena

Abri os olhos despertando de um sono pesado e pelo azul do céu que via pela janela, soube que o dia estava lindo e também que já não era lá muito cedo. Ótimo, pensei, não tenho nada urgente para fazer e posso me espreguiçar à vontade me espalhando pela cama como uma gata preguiçosa.
Lembrei que tinha acordado de madrugada, o que não era comum, e não sabia se era a vontade de ir ao banheiro que tinha me acordado ou se, já que estava acordada, deu vontade de ir ao banheiro, what-a-big-deal aliás, esse era o tipo de pensamento de quem estava com a cabeça vazia mesmo. Era melhor me levantar e tomar um rumo na vida.
Fiz minha acrobacia matinal de usar as duas mãos, uma para escovar os cabelos e outra os dentes, porque sem escovar os cabelos eu não era ninguém, mesmo com aquele corte quase raspado que o maluco do Jorginho, meu cabeleireiro, tinha cismado de fazer na semana passada, me convencendo, com aquele jeito engraçado e "viadíssimo" dele, de que cortar o cabelo bem curto de vez em quando, muda o astral e trás sorte com os "bofes". Sei lá, não custava nada tentar, porque a escassez de "bofes" - para usar os termos dele - estava grande por essas bandas.
Decidi que ia tomar café da manhã na casa dos meus pais, que moravam bem perto de mim, por preguiça de fazer o café e para vê-los, claro, mesmo sabendo de antemão que infalivelmente minha mãe me perguntaria mais ou menos na metade do café, se eu tinha conhecido alguém interessante.
Meu pai se estivesse em casa, sorriria como sempre provavelmente diria pela milésima vez para ela me deixar em paz, o que seria a deixa para um discurso sobre o fato de eu ainda estar solteira, falta de netos e blá,blá,blá. Isso não me abalava, porque eu sabia que era só uma pressãozinha boba, que no fundo eles sabiam que eu ainda ia encontrar alguém interessante, aliás, podia até ser hoje mesmo. Quem sabe?
Pensando nisso achei melhor caprichar um pouco no visual matinal, e depois de lavar o rosto, vesti uma bermuda xadrez largona por cima da calcinha que tinha dormido ? quando estou muito vestida durmo só de calcinha ? e achei que não estava legal, sei lá, meio largada demais parecendo "tiazinha". Resolvi pela boa e velha calça jeans com cós bem baixo, que já estava bem antiginha, mas que me deixava pelo menos uns dez anos mais nova.
Para completar o visual peguei a blusa de linho bege que estava pendurada na cadeira do quarto e vesti sem nada por baixo mesmo, porque só ia à minha mãe e não precisava colocar sutiã logo de manhã me apertando.
Esqueci de dizer que tenho 34 anos, mas me sinto e pareço bem mais nova, segundo o que escuto de comentários por aí. Deve ser verdade, porque tenho uma prima de 25 anos, com quem saio de vez em quando, que parece ter a minha idade. Talvez seja pelo fato de estar sempre cuidando da pele, da boa alimentação e de levar uma vida saudável, sem bebidas e drogas pesadas, no máximo um baseadozinho com as amigas de vez em quando, que também ninguém é de ferro. Não faço o tipo marombeira, nem gosto, mas caminho e ando bastante de bicicleta, meu transporte favorito na Zona Sul do Rio, o que me mantém com o corpo bem sequinho, graças a Deus.
Acabei de me vestir colocando uma sandália havaiana e, olhando o relógio antigo da sala, vi que já eram nove e dez.
Desci correndo as escadas do meu prédio e abri a porta da rua, fechando um pouco os olhos com a claridade e me arrependendo de ter esquecido os óculos escuros de novo e de repente, lá estava ele, em pé bem na minha frente.
Acho que ele notou a minha surpresa, mesmo eu tendo disfarçado legal. Para usar uma forma bem simples de descrever o cara - e sei que minhas amigas vão entender rapidinhas ? sabem o que é TUDO DE BOM? Pois é, ali bem ao alcance de minhas mãos nervosas e assanhadas, estava APOLO, não, vocês estão pensando que eu estou exagerando? Mas, não estou e vou tentar traduzir para vocês na forma descritiva mais direta que eu conseguir:
Altura: de quase um metro e oitenta, porte atlético sem parecer do tipo marombeiro que eu odeio.
Corpo: saradézimo! Dava para ver pela camiseta amarrotada meio justa que gorduras naquele corpão só se aplicassem para massagem ? aliás, eu estava às ordens para esse sacrifício.
Cabelos: bem curtos, mas que dava para ver uma boa parte esbranquiçada daquele tipo que dá vontade de ficar alisando que nem pêlo de "Golden Retriever".
Olhos: castanhos quase pretos, grandes e com sobrancelhas grossas.
Nariz: sei lá, só fiquei olhando aquela boca grossa que devia ser muito gostosa de beijar até cansar.
Ele ficou olhando para mim, estático ? acho que deve ter notado minha surpresa - com aquela boca meio aberta mostrando um sorrido simples e franco, de dentes brancos e grandes, e de repente como se lembrasse que tinha que falar me perguntou se eu conhecia a Helena. Juro! Vocês acreditam? Perguntou se eu me conhecia, e então me lembrei num flash, que o Michel, um músico amigo meu, gente muito boa e doidão, que agora tocava num barzinho em São Paulo, tinha me ligado um dia desses e me pedido para dar uma força para o irmão dele, Mário, que morava fora do Brasil há um tempão e estava chegando ao Rio para umas férias e não conhecia ninguém.
Eu disse que não tinha problema e dei meu telefone e endereço para que ele me ligasse na chegada ? se soubesse que era tudo isso de homem eu tinha ido buscar na porta do avião, e no colo!
Dei aquela disfarçada básica, que também não vou dar mole, e falei com sincera surpresa que a Helena era eu, que ele devia ser o Mário e sei lá mais o que, e sempre aparentando naturalidade para ele não sacar o meu desbunde, peguei na mão dele e o convidei para subir, aliás, que mão meu Deus! Forte e dura que nem pedra, ele nem notou, mas só de segurar a mão dele eu fiquei arrepiada.
Entramos em casa e sentei-o no sofá, que era a única coisa arrumada que tinha na minha casa, para evitar que ele circulasse e visse a zona que estava a minha cozinha, o quarto e o escritório.
Perguntei se ele queria tomar ou comer alguma coisa, alguma fruta, pão com manteiga, myself... Brincadeirinha, claro que fiquei na minha, no mais alto nível. Ele disse que estava legal, que tinha dormido bem nos voos que tinha feito até o Brasil, mas que aceitava um cafezinho. Notei que ele tinha olhado discretamente para meus peitos pelo decote da blusa e lembrei que, como estava sem sutiã, à visão devia ter sido das melhores, porque esse meu, digamos assim, atributo, era razoável e invejado por um monte de amigas.
Adorei ele ter pedido o cafezinho, porque na semana passada eu tinha comprado uma dessas máquinas automáticas de café expresso, que o café vem em potezinhos de vários tipos e estava doida para estrear com alguma visita e, cá entre nós, não podia ter visita melhor para essa estreia.
Me levantei do sofá e fui para a cozinha, adorando a oportunidade de dar uma ajeitada no visual e me arrependendo de não ter me produzido mais um pouquinho, mas também quem podia adivinhar que de manhã, numa quarta-feira, na porta de casa e indo tomar café na mamãe, eu ia dar de cara com esse monumento? Ok, também não estava tão desmontada assim, a blusa, principalmente sem o sutiã, era uma arma secreta da melhor qualidade, valha-me meu Santo Antônio que aqui vamos nós a luta.
Enquanto preparava o café - preparava, aliás, é modo de dizer, porque era só colocar o potinho no buraquinho da máquina e apertar um botão ? fiquei repassando na memória o que o Michel tinha me contado sobre o irmão dele e me lembrei que ele era solteiro, tinha uns 50 anos e já tinha morado há muitos anos atrás com alguém importante, acho que uma atriz. O Michel também tinha dito que ele morava e trabalhava fora do Brasil para uma grande multinacional de mineração, nas minas e em lugares muito distantes, enfiado na selva, essas coisas meio aventureiras.
Foi bom esse tempinho na cozinha que deu para me recompor um pouco, porque minhas mãos tinham ficado suadas de tanto nervoso pela proximidade dele no sofá. Engraçado que eu não sou de ficar me emocionando perto de homem bonito, ultimamente eu fico analisando e acabo sempre encontrando mais defeitos do que beleza ? claro que com exceção do George Cloney ? mas esse homem por algum motivo que não entendia direito, tinha uma coisa, sei lá, uma energia muito forte, assim como um imã, é isso, um imã que me puxava para perto dele.
Meu Deus será que estou ficando maluca? Acabei de conhecer o cara há dez minutos e já estou falando em imã... Acho que preciso me tratar.
Respirei fundo e voltei para a sala, carregando a bandeja de forma bem natural, aparentando segurança, bem à vontade, até olhar para ele e descobrir que ele me olhava com interesse, também bem disfarçado, daquela forma elegante que homem educado sabe olhar para uma mulher, sem ofender, mas demonstrando prazer com o que via e gostando da companhia dela. Juro que a bandeja deu uma tremida, mas ele nem notou.
Sentei ao seu lado, tomando o cuidado de não ficar colada nele e tomamos o café conversando sobre coisas genéricas, aquele tipo de conversa social. Mas, sem que eu percebesse, nossa conversa passou para o plano pessoal e acabamos contando, eu e ele, nossas histórias e experiências, tristes e alegres, nossas viagens e, de repente, parecia que ele já estava ali há muito tempo, que éramos amigos que se reencontravam depois de muito tempo, mais do que isso, senti que estava ficando muito interessada nele e parecia que ele também. Lembro-me que pensei numa espécie de devaneio que se ele tentasse me "pegar" ali mesmo, eu não ia resistir nem um pouco.
Ele então me disse que precisava ir descansar no hotel que eu tinha indicado, mas que queria me ver de novo e quase, juro por tudo que é mais sagrado, quase saiu sem querer da minha boca para ele ficar e descansar ali mesmo, que "mico" que eu ia pagando, mas acho que ele nem notou. Ao invés disso eu disse naturalmente e me senti poderosa, que claro que poderíamos nos ver a hora que ele quisesse. Ele marcou para as 7h da noite para vir me pegar e aí aconteceu a coisa mais engraçada do mundo, nós nos levantamos ao mesmo tempo como se tivéssemos ensaiado e ficamos assim um em frente do outro, perto mas sem nos tocarmos.
Eu cheguei a pensar que ele ia me dar um beijinho no rosto e sair, mas ao invés disso ele me deu um abraço que podia parecer até de amigo, mas que me fez sentir um calor gostoso, forte e profundo, uma coisa diferente, meio sideral. Ficamos naquele abraço primeiro na forma usual de "colado em cima e separado em baixo", mas naturalmente, o abraço foi ficando mais junto, nossos corpos foram se procurando e se encaixando sozinhos, como se no passado tivessem sido separados.
Não sei quanto tempo ficamos assim, sem fazer nada só com nossos corpos colados, eu sentindo cada parte do corpo dele como se fosse meu, com medo de me mexer e estragar aquele momento mágico, porque o que eu sentia e acho que ele também, talvez de outra forma, é que o tesão, a paixão, estavam num nível mais abaixo do que aquilo e o sexo, a vontade de fazer amor, mergulhando naquele paraíso, aconteceria no momento certo, como foi, ali mesmo, porque era para ser assim.


MARIO

Lembro como se fosse hoje, que a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando a vi pela primeira vez foi: "Meu Deus, de onde saiu essa Deusa?"
Estava chegando ao Rio de Janeiro pela manhã bem cedo de um luminoso dia de Setembro, depois de quatro anos morando e trabalhando fora. Havia voado desde a Nova Guiné, via Austrália, Nova Zelândia e Argentina, que sem contar os fusos horários, a linha de datas e esperas e vistorias nos aeroportos, tinha demorado algo como 35 horas.
Mesmo assim, com o corpo cansado e a mente ainda meio sonada, a visão daquela mulher abrindo a porta do prédio me surpreendeu muito e os acontecimentos que viriam em seguida, comprovariam que em termos de surpresas eu sequer imaginava o que esse encontro iria me proporcionar.
Os cabelos louros quase brancos e com um corte curtíssimo, contrastavam com a pele de seu rosto bronzeado pelo Sol das praias do Rio de Janeiro e ressaltavam ainda mais o brilho do verde esmeralda dos olhos, como se neles morasse toda a luminosidade e cores das águas Caribenhas.
Seus lábios finos na boca pequena eram de um vermelho forte quase vinho, que levemente entreabertos deixavam à mostra dentes brancos e brilhantes.
Ela notou minha expressão, provavelmente de abobalhado e mantendo aquele leve sorriso de quem estava acostumada a não passar despercebida em nenhum lugar do universo, me perguntou de forma natural se poderia me ajudar.
Depois de uns segundos e fazendo um esforço enorme para sair daquele transe meio hipnótico em que me encontrava, respondi com uma voz que me sou estranhamente rouca, que eu procurava pela Helena, uma moça que morava naquele prédio, mas cujo apartamento eu havia esquecido de anotar.
O sorriso se abriu ainda mais, como se todo seu corpo, que eu ainda não havia olhado preso que estava naquele rosto único, sorrisse também e, como se lembrando de repente de algo, me disse:
- Ah, você deve ser o Mario, irmão do Michel, né?
- Sim - respondi surpreso - sou eu mesmo, meu irmão me pediu para te procurar quando chegasse ao Rio, mas não imaginei que ele estivesse se referindo a uma Deusa e não a um ser humano comum, brinquei, imediatamente me sentindo um babaca completo. Ela sorriu mais ainda e pegando na minha mão me levou para dentro do prédio.
- Venha, vamos entrar e colocar suas coisas lá em cima que você deve estar cansado da viagem, seu irmão me mandou um e-mail avisando de sua chegada, mas eu, com minha cabeça de vento, havia esquecido. Por pouco não nos desencontramos, eu estava de saída para a casa de meus pais, que fica a dois quarteirões daqui, onde, às vezes, tomo meu café da manhã para matar as saudades, mas isso pode ficar para depois.
Enquanto falava, abriu a porta de madeira do vestíbulo, toda pintada com flores coloridas e detalhes bem ao estilo tirolês, e subimos a escada, também de madeira envernizada, do sobrado antigo e bem cuidado onde ela morava.
O prédio devia abrigar quatro ou cinco apartamentos pequenos, dando a impressão de no passado ter sido a residência de algum abastado comerciante, provavelmente Germânico, já que em muito lembrava as construções que vi na época em que estudei em Monique.
Ainda falando sem parar, abriu a porta do apartamento, me conduzindo pela mão para dentro da sala, que cheirava a um incenso Indiano muito gostoso, daquele tipo leve e nada enjoativo. A pequena e simpática sala era decorada com móveis e utensílios de vários tipos, locais e tendência diferentes, mas que em conjunto formavam um ambiente alegre, desarrumado e agradável.
Pediu que me sentasse ao seu lado no grande e largo sofá forrado com um tapete felpudo colorido e eu, que ainda não havia conseguido articular uma única palavra, balbuciei ainda com uma voz meio rouca um muito obrigado não precisa ou algo assim.
Ela perguntou se queria alguma coisa para beber, se tinha tomado café da manhã, ao que, finalmente conseguindo falar um pouco mais normalmente, respondi que estava bem, aliás, estava ótimo e não precisava de nada, que ela não se preocupasse, porque eu havia dormido muito bem nos aviões e que o café da manhã tinha sido muito bom e completo. Se ela me acompanhasse num café preto, para mim estaria ótimo.
Continuando, disse que não queria incomodar e que tinha passado lá somente para cumprimentá-la e pedir algumas dicas para a minha estadia de três semanas na cidade, que conhecia de um passado remoto, mas que há muito tempo não visitava.
Enquanto falava sentado próximo a ela, procurei com muito esforço me fixar no seu rosto, porque se ele era belo, o resto eu não conhecia adjetivos suficientes para descrever. A cada minuto que passava ao seu lado, ficava claro que não conseguiria me concentrar e produzir algum tipo de raciocínio que fizesse qualquer sentido.
Se existisse uma fórmula para criar uma mulher como aquela, certamente era única e impossível de ser copiada.
Começando pelo pescoço, adornado por um colar de pequenas conchas coloridas entremeadas de corais, seus ombros, nem largos nem estreitos, pareciam ter sido criados como a moldura perfeita para o decote, onde repousavam os mais belos seios que a mãe natureza já havia concebido. Pensei num devaneio que pareciam dois golfinhos rosados prontos a saltar fora d?água. Sua blusa clara de linho naturalmente amarrotada, não conseguia e nem deveria, esconder a forma arredondada e perfeita deles.
Abaixo dos seios soltos e firmes sob a blusa, estava uma cintura não muito fina, à vista através da transparência do linho, que parecia se equilibrar sobre os quadris. Onde se prendia, não sei como, a calça jeans surrada de um cós perigosamente baixo e com o botão superior desabotoado, que deixava aparecer a fina calcinha preta onde se lia o VS da marca Victoria Secret.
Hoje fico pensando em como consegui naqueles poucos segundos ver tanto do seu corpo, sem dúvida o mais belo que o meu pobre olhar já havia testemunhado, e isso enquanto ela me perguntava se queria algo. É claro que ela deve ter notado que a olhava.
Ela disse que faria um café e se levantou do sofá caminhando para a cozinha e aquele movimento simples e corriqueiro, revelou o que faltava para confirmar que estava passando por um dos níveis mais altos de paixão que eu já havia chegado em toda a minha vida.
De repente, senti vontade de correr dali e colocar o maior número de quilômetros possível entre eu e ela, uma reação absurda e sem sentido, mas que naquele momento me pareceu a coisa certa a fazer. Felizmente, o pouco de sanidade que ainda me restava me manteve sentado procurando me refazer daquela sensação e agir o mais naturalmente possível.
Enquanto ela fazia o café cantarolando uma música baixinha, lembrei que meu irmão, um músico duro e meio maluco, tinha me recomendado ligar para ela, com quem havia tocado num conjunto de música instrumental medieval na época da faculdade, para "me situar nas paradas" usando suas palavras. Disse que ela era uma grande amiga dele, um anjo que tinha um coração de ouro e que seria a pessoa certa para eu falar quando chegasse ao Rio.
Fiquei pensando se o tempo afastado da civilização, literalmente enterrado nas minas de Irian Jaya na Indonésia, havia "detonado" tanto a minha cabeça a ponto de me abalar daquela forma ridícula e adolescente por uma mulher, logo no primeiro dia de minha estadia no Brasil. Pensando mais um pouco me lembrei que havia passado por outros lugares e aeroportos e visto outras mulheres lindas, mas nenhuma que mexesse comigo como aquela.
Ainda perdido nos meus pensamentos, ao vê-la sair da cozinha com uma bandeja com duas grandes xicaras de café fumegante, tive a certeza forte e até meio doída, de que ali, bem na minha frente, ao alcance de minhas mãos, estava a mais especial das mulheres que eu havia encontrado na vida.
Agradecendo a Deus pelo tempo obtido enquanto ela preparava o café, para mais ou menos organizar meus pensamentos, sorri de volta para ela e aceitei o café que provei sem uma palavra, olhando firme, admirando e mergulhando sem pudor nos seus olhos.
Disse, pela primeira vez com minha voz normal, que estava delicioso, que o café era uma das coisas de que eu mais sentia falta quando estava fora do Brasil e emendando uma frase na outra, falei sorrindo que eu jamais seria capaz de agradecer ao Michel por ter me indicado uma pessoa tão simpática, agradável e que ainda por cima fazia um café tão gostoso.
Demonstrando sempre naturalidade com os elogios, ela falou que também sentia falta do café Brasileiro quando viajava e que sempre quando voltava a primeira coisa que fazia quando entrava em casa era fazer um café, tirar os sapatos, colocar as pernas para cima do sofá e beber bem devagar, matando as saudades. Era como se só assim sentisse que havia voltado.
Respondi que para mim o café Brasileiro era também uma referência de casa, porque minha família, originária do interior de São Paulo, tinha o costume de moer e torrar seu próprio café.
Ela me perguntou de onde eu era e sem que percebêssemos ficamos o resto da manhã conversando animadamente, contando nossas histórias de vida como se fossemos velhos amigos que há muito não se encontravam.
Ela falou sobre sua ingenuidade de procurar por valores num mundo dominado pela falta dele, aprendendo finalmente a estar sem se deixar fazer parte dele. Contou suas pequenas experiências amorosas, na procura do inexistente príncipe com quem teria seus dois filhos no máximo. Rimos juntos dos sofrimentos adolescentes e dos namorados engraçados do meio musical com quem ela convivia.
Contou sobre seu trabalho de crítica e revisora musical, trabalhando na profissão de maior número de doidos por metro quadrado.
Eu de minha parte, me senti incentivado e à vontade para contar com simplicidade minhas histórias, fraquezas e defeitos, antes tão escondidos e agora falados sem pudor ou vergonha. Contei minhas vitórias e derrotas na vida fora do Brasil que tinha escolhido, dos meus medos e da solidão nos acampamentos, onde a loucura está sempre à espreita para nos levar ao inferno.
Ela sorriu emocionada com minhas teorias defensivas contra a saudade, quando disse que havia aprendido que sempre quando partia, para me blindar pensava: Parti, então já estou voltando.
Falei da minha tristeza por ver e de certa forma tomar parte com o meu trabalho, da destruição do meio ambiente em prol de uma minoria estrangeira e rica, que nada deixava para os filhos e donos da terra destruída.
Conforme o dia passava, com a proximidade da hora do almoço, tanto eu como também acho que ela, sentimos que deveríamos nos separar, era uma sensação estranha que me incomodava, aquela de saber que precisava sair dali, mas não queria e sentia que ela também não.
Porém, chegou aquele momento em que ambos ficam esticando o papo, como se o assunto que realmente ambos querem falar nenhum dos dois tem a coragem de iniciar.
Eram umas 13h horas e achei que devia deixar a sua casa, porque corria o risco de ser inconveniente, o que seria imperdoável e tomando coragem disse para ela que tinha sido um privilégio e uma surpresa muito agradável ter encontrado e conhecido uma pessoa tão especial como ela, que precisava ser sincero, mesmo correndo o risco de ser piegas, e dizer que tinha ficado sem fôlego quando a vi saindo desse prédio, que ela era uma mulher muito linda, de uma beleza que ultrapassava o que simplesmente se via.
Disse ainda que ficaria conversando com ela a vida toda, mas achava que precisava deixa-la a sós e procurar o hotel que ela me havia indicado ali perto, para descansar da viagem. Completando, falei que gostaria de me encontrar com ela de novo se não fosse inconveniente.
Ela, com aquele sorriso que me deixava sem ar, disse que tinha adorado o nosso papo e claro que gostaria de se encontrar comigo de novo, quando eu quisesse.
Quase respondi: - Que tal agora mesmo? Sem roupa rolando pelo chão? - Mas disse que poderia ser amanhã na hora que fosse melhor para ela. E foi muito engraçado, porque tive a impressão que ela esperava um encontro mais cedo, mas não dei crédito aos meus pensamentos. Ela falou que estava ótimo e que eu podia passar na casa dela às sete da noite.
Levantamos os dois do sofá ao mesmo tempo, e ficamos rindo um para o outro pela coincidência, e sem saber se a cumprimentava com um beijo ou um abraço, preferi abraçá-la e nesse momento, quando senti o corpo de Helena abraçado ao meu, tive a certeza, num choque, que estava apaixonado, simples assim, apaixonado, embasbacado, "de quatro" ou qualquer outro adjetivo que defina essa sensação pouco racional, irresponsável e maravilhosa, que acelera o coração, deixa a mente alerta e ao mesmo tempo sedada, que nos faz suar e tremer de frio enfim, essa coisa maluca que nem os filósofos nem os poetas jamais vão conseguir definir propriamente.
É difícil descrever o que se sente num abraço perfeito, porque os olhos não se comunicam, são os dois corpos que o fazem, multiplicando as suas próprias energias.
No abraço de Helena, senti junto a mim outro corpo que era parte do meu. Primeiro, levemente encostado e depois lentamente se aproximando mais, ela foi se moldando a mim, se encaixando de forma perfeita, uma espécie de "lego" sensual, aonde as peças, como num passe de mágica, vão se juntando em uma escultura feita pelas mãos invisíveis do mais forte dos sentimentos.
Deixei de sentir o chão e era como se levitasse numa nuvem morna em outra dimensão. Helena era quase da minha altura, do meu "número" e durante algum tempo ficamos sem nos mexer nesse transe multidimensional que só a paixão pode proporcionar.
Foi nesse momento que decidi que escreveria sobre essa experiência, porque me pareceu inacreditável que em tão pouco tempo uma coisa dessas pudesse acontecer com qualquer pessoa, e em especial comigo.
Eu era um homem de quase cinquenta anos, com duas experiências matrimoniais muito boas, sem problema sentimental, razoavelmente inteligente e pouco inclinado a aventuras amorosas e sexuais do tipo rápido e sem compromisso. Assim, esse encontro com Helena, essa paixão fulminante repentina e que poderia estar sendo correspondida por ela, tinha tudo para me deixar maluco.
O instinto sexual do nosso abraço não foi imediato, nós, como que deixamos que a vontade do amor demorasse a se manifestar e se tornasse irrefreável. Ambos estávamos comprometidos com a energia proporcionada por aquele abraço mágico e sabíamos que o sexo de certa forma iria transformar aquela magia estática em algo que necessitava de alguma mecânica para acontecer.
Assim, ficamos abraçados por tanto tempo que quando nos afastamos já sabíamos o que ambos queríamos e teria que ser naquele momento, nem um segundo podia ser desperdiçado.


HELENA

Como é bom acordar depois de uma noite louca de amor como aquela. Meu Deus que homem mais gostoso foi cair na minha casa! Era perfeito, suave, romântico, carinhoso, cortês, sem deixar de ser homem de fato.
Eu não sou casta e já tinha saído com homens carinhosos antes, mas a verdade é que sempre tinha um lado predominante, ou o carinha era meloso demais e nunca chegava a realmente empolgar ou se empolgava demais e acabava sendo rude. Eu não gosto de uma coisa nem de outra, gosto de ser tratada com carinho, suavidade mais com muito calor, se vocês entendem o que eu digo.
Com Mario tinha sido tudo o que sempre sonhara, era inacreditável que tivesse conhecido, amado e me apaixonado por um homem em menos do que um dia, mas era verdade, estava ali, dormindo que nem um anjo no tapete da sala depois de uma performance admirável.
Pensava isso enquanto me espreguiçava na cama com os braços e pernas fazendo um xis, me preparando para levantar quando ouvi um ruído na sala e pensando que era o Mario acordando, levantei da cama e me dirigi a sala ainda me espreguiçando e a cena que vi me tirou o folego.
Mario estava agachado atrás do sofá, nu com a bunda (linda por sinal) virada para mim e na porta de entrada estava nada menos que meu pai, logo ele, podia ter sido qualquer pessoa, minha mãe, minha avó, sei lá até um ex-namorado, mas meu pai era muita falta de sorte.
Fiquei paralisada pelo susto e me lembro que pensei que tinha sido uma idiota de dar a chave para ele, mas quem iria pensar que eu estaria com um homem sem roupa na sala e justamente na hora que meu pai nunca passava por lá. Continuando, pensei que também até ontem eu era uma mulher sozinha e ele sabia, até porque minha mãe não se cansava de lembrar esse fato ao universo.
Para vocês terem uma ideia exata do tamanho do problema, me deixa contar para vocês quem é meu pai para vocês entenderem. Ele é um Almirante reformado, que foi comandante das forças especiais mais "especiais" que existem no Brasil, tal de brigada de mergulhadores de combate, que vem a ser a versão brasileira do SEALS americanos, um grupo que faz tudo de ruim que tem de ser feito nas guerras. Para comandar uma equipe dessas o oficial tem que ser melhor do que todos os comandos e, segundo seus comandados me disseram, ele era temido e respeitado por todos os comandos das forças especiais de todas as armas, ou seja, Rambo era pinto perto dele.
Quando eu era ainda bem jovem, me lembro que via cada gato lindo todo tatuado, cheio de músculos, maravilhosos e eles nem sequer levantavam os olhos para me olhar porque sabiam de quem eu era filha, um caos!
A diversão de meu pai é fazer triátlon, sair de Botafogo e nadar até a Barra da Tijuca, saltar de paraquedas, fazer as escaladas mais radicais, essas coisas. Com seus 2 metros por um de largura, ele é o tipo de homem que quando chega num lugar não precisa pedir licença para passar, porque todos abrem caminho para ele.
Comigo, minha mãe e as pessoas de quem ele gosta, é um doce de pessoa, mas de quem ele não gosta é melhor ficar bem longe.
Bem, agora vocês imaginam esse tipo, digamos suave, chegando à casa da filha e dando de cara com um homem desconhecido e sem roupa, e enquanto se prepara para trucidar o indivíduo, dar de cara com a filha saindo do quarto de calcinha?
Eu fiquei sem fala, tipo estátua, até que ele dizendo um palavrão, usou uma tática que eu conhecia bem que era a do "vou contar até dez" e saiu de volta para o corredor. Graças a Deus o Mario entendeu rápido e mais que depressa se vestiu enquanto eu catava um short e uma camiseta qualquer, correndo para sentar ao lado dele no sofá.
Ficamos sentados olhando um para o outro e, claro não ia deixar aquela boca gostosa olhando para mim sem beijá-la só um pouquinho né? E justamente no meio do beijo o meu pai entrou de novo na sala e pensei que ele fosse explodir de raiva da forma como disse que o Mario realmente estava querendo ficar sem o pescoço ou algo assim.
Fiquei orgulhosa da coragem do Mário que se levantando foi se apresentando e, tentando melhorar as coisas e certamente sem conhecer meu pai, disse a pérola de que se meu pai quebrasse o pescoço dele ele ia demorar a ser avô. Eu correndo em socorro dele disse para o meu pai parar com essa coisa de machão e sentasse que eu ia preparar um café para ele. Sabia que se desse tempo ao Mario ele ia desfazer a má impressão, o que não aconteceu exatamente na velocidade que eu esperava porque quando voltei com os cafés o ambiente ainda estava tenso.
Meu pai ainda meio emburrado tomou o café rapidamente e se levantou dizendo que ainda tinha que terminar a corrida de não sei quantos quilômetros certamente para impressionar o Mário que nem percebeu e se despediu com outro aperto de mãos mais cordial pelo jeito.
Assim que ele saiu, em poucos minutos nós já estávamos no tapete de novo como se nada tivesse acontecido na noite anterior e a nossa vida em comum começou.


MARIO

Despertei de um estado semiadormecido, como se tivesse cochilado ou meio que desmaiado sem querer, um pouco sobressaltado e olhando o teto me veio à lembrança o que tinha ocorrido naquelas ultimas horas. Ainda estava no mesmo lugar onde tudo tinha começado naquela manhã, estava deitado sobre o tapete ao lado do sofá da sala e olhando em volta me vi sozinho, o que me deu tempo de organizar um pouco o meu pensamento.
Estava ainda sem roupa, embaixo de um lençol que não me lembrava de ter visto antes e pensei que ela devia ter me coberto quando eu adormeci ou mais precisamente desmaiei.
Num gesto mecânico olhei o relógio e vi com enorme surpresa que eram três e vinte da madrugada, meu Deus pensei, estava dormindo há várias horas e nem tinha ideia de onde ela estava. E ao pensar nela me veio em detalhes, ao vivo e a cores como se diz, o que havia acontecido.
Como estou escrevendo para todos, inclusive, claro, os meus familiares e amigos e os dela também, vou precisar manter o sigilo ético e respeitoso que todos merecem, além claro de preservar uma das coisas mais importantes de um relacionamento que é a cumplicidade no segredo das famosas quatro paredes, que, aliás, tem um teto também e ninguém nunca cita.
Porém até por uma questão de manutenção da sanidade, eu preciso dizer, ou melhor, gritar ao mundo, que Helena é a melhor, mais linda, mais sensual, mais caliente, mais ... Sei lá o que mais, mais tudo que existe nesse mundo! E se ela tiver gostado somente um décimo do que eu gostei de estar com ela, gostou muitíssimo.
Sabe quando fazemos algo que nos dá a impressão de que vivendo até aquele momento já teria valido a pena, pois é! Isso, já valeu a pena ter vivido até hoje.
Levantei-me com o corpo meio dolorido de quem viajou várias horas de avião, e se alguém estiver achando que estou disfarçando, é verdade estou mesmo. Comecei a andar pela casa e depois de passar por uma espécie de escritório e sala de televisão as escuras, cheguei ao que devia ser o quarto dela, entrando pela porta quase toda aberta.
O que vi me obrigou a parar estático para não fazer nenhum barulho, pois sobre a cama deitada de bruços em sono profundo, estava a minha companheira da melhor e mais louca viagem de amor que havia feito na minha vida. Aproximei-me devagar, observando extasiado sua beleza adormecida. Ela estava com o rosto apoiado sobre os braços, com um leve e suave sorriso e vestindo praticamente nada.
Não me lembro de quanto tempo fiquei ali numa espécie de adoração, olhando cada detalhe daquele corpo perfeito, por onde havia passeado com a calma que só o amor verdadeiro pode proporcionar, tocando e sentindo a suavidade mágica daquela pele. Depois bem devagarinho, voltei para a sala e sem nada para fazer me deitei no mesmo lugar de antes e em pouco tempo estava dormindo de novo.
Voltei a acordar algumas vezes durante o resto da madrugada e quando olhei no relógio e eram 8:30h , me levantei disposto a acorda-la com uns carinhos e quem sabe começar de novo mais uma seção do paraíso.
Exatamente na hora que me sentei no tapete e mecanicamente alongava os braços, escutei a porta da entrada sendo aberta e pensando rápido me levantei a ponto de ver uma pessoa no movimento de abrir a porta e entrar. Sabendo que estava sem roupa e sem saber quem entrava, minha única alternativa foi correr para trás do sofá e abaixar, ficando cara a cara com um homem, dos seus 60 anos ou menos, enorme, largo e com cara feia, vestido com uma malha de corrida que fazia com que ele ficasse ainda maior e mais forte.
Ele me olhou com uma cara séria e fechada e com voz calma e gelada, de arrepiar os pelos da nuca, se apresentou de uma forma que não deixava dúvidas de quem ele era e do perigo que representava: "meu nome é Almirante Dias, sou ex-comandante das Forças Especiais de Mergulhadores de Combate da Marinha do Brasil", fez uma pequena pausa e continuou, "gostaria de saber o que o senhor faz nu na sala da minha filha e estou com muita vontade de quebrar o seu pescoço"
Assim, com essa simplicidade e sem deixar a menor dúvida de que facilmente quebraria meu pescoço, eu tomei conhecimento de que estava diante do pai da mulher da minha vida, que, claro, do jeito que sou pé frio, ao invés de ser um professor de história velhinho, era um nada mais nada menos do que o comandante do grupo mais perigoso das forças armadas brasileiras.
Sem saber o que responder, mas tendo de dizer algo e rápido, me apresentei com uma frase que até hoje é motivo de piada nas reuniões familiares, eu disse: "Não é o que o senhor está pensando, eu sou o Mário, irmão do Michel, amigo de sua filha.
Nessa hora escuto um ruído atrás de mim e me virando para olhar, vejo a Helena saindo do quarto só de calcinha e se espreguiçando com os braços para cima e fica lá paralisada na porta do quarto, com os braços para cima, olhando aquela cena, comigo nu agachado atrás do sofá, virado de costas para ela, e, seu pai, com a mão ainda na maçaneta da porta entreaberta, a poucos segundos de acabar com minha vida de uma forma muito dolorosa.
Quem resolveu o impasse foi o pai dela que, dizendo: "puta que pariu será que ninguém veste roupa nessa casa?" Disse que ia sair para o corredor, contar até dez e entrar de novo e gostaria de ver duas pessoas vestidas, para variar. Saiu e fechou a porta.
Nós dois corremos para vestir alguma coisa sabendo que ele estava falando sério, eu vesti a calça e camisa em dois segundos, sentando no sofá como um aluno comportado. Ela entrou e saiu do quarto com um short e uma camiseta e se sentou ao meu lado.
Eu olhei para ela, disse um bom dia meu amor, que flagra né? E, dei-lhe um, enquanto o pai dela abria a porta e via a cena do beijo, dizendo que eu realmente estava querendo ficar sem pescoço.
Me levantei a fui em sua direção com o meu mais respeitoso sorriso, com a mão estendida dizendo que se ele quebrasse o meu pescoço ficaria mais tempo sem ver o seus netinhos.
Ele esmigalhou os ossos dos meus dedos e sorrindo como um tubarão antes de arrancar meu braço, me respondeu que ainda era muito novo para ser avô.
A Helena salvou a situação dizendo para o pai parar com aquela cena de Rambo e sentar enquanto ela fazia um café, ao mesmo tempo em que dava um abraço e um beijo estalado no pai.
Ficamos os dois, sentados no sofá, ele me olhando sem sorrir ou demonstrar a menor vontade de conversar e eu pensando na forma de iniciar um conversa. Comecei dizendo que estava retornando ao Brasil para umas férias, que tinha morado fora, que era engenheiro de minas com doutorado em minérios não ferrosos na universidade de Munique, e ele aos poucos foi relaxando e vendo que eu não era um "sem noção".
Quando Helena trouxe os cafés ficamos os três conversando socialmente, com ela contando ao pai como eu tinha chegado até a casa dela e a coincidência de nos encontrarmos na porta do prédio etc e tal e ele tomou o café e disse que tinha que correr mais oito quilômetros ainda e saiu sem antes tentar mais uma vez quebrar os dedos da minha mão, só que dessa vez estava preparado e também resisti o quanto pude ao aperto. Acho que me sai bem.
Depois que ele saiu Helena me perguntou se eu sabia o risco que tinha corrido falando para o pai dela que ele ia ser avô, assim sem mais nem menos e eu respondi que tinha falado a verdade, que realmente queria casar e ter filhos com ela, que estava apaixonado e senti que ela ficou surpresa com a minha afirmação tão segura, menos de um dia depois de conhecê-la. Ela ficou calada olhando para mim e eu a abracei e de novo estávamos nos amando com se quiséssemos comprovar que realmente era possível isso acontecer.

HELENA E MARIO

Ficamos um tempão discutindo para escolher quem escreveria o final da nossa história, o Mario com o argumento de que a ideia inicial de escrever nossa história tinha sido dele e todo aquele argumento estruturado de engenheiro.
Se alguém aí desse lado é ou já foi casada com engenheiro, vai entender o que eu estou dizendo, engenheiro não sabe falar sem ter um papelzinho para anotar, fazer esquemas e setinhas mostrando os argumentos dele tem sempre explicação para tudo, uma doença, mas isso não importa, porque, claro que como sempre, eu venci, usando a mesma estratégia de quando quero algo importante para mim. É só dizer que eu não me importo que eu sei que é importante para ele e pronto, ele deixa eu fazer ? ele vai ficar "P" da vida comigo.
Hoje estamos casados, morando numa pequena e confortável casa, bem pertinho do nosso antigo apartamento, com duas filhas lindas, e vivendo um amor muito legal, grande, sólido, gostoso, enfim, eu e ele estamos muito felizes.
Casamos menos de seis meses depois daquele dia, e demorou tanto porque o Mario precisou voltar ao Brasil e procurar um emprego por aqui, reduzindo bastante a frequência e principalmente o tempo fora de casa. Ele é um pai maravilhoso e modéstia a parte tenho a certeza que sou seu grande amor também.
Ele deu força para eu continuar com o meu trabalho com os artistas, de preferencia mulheres, mas até que não faz muita cena de ciúmes não. Adora quando toco o meu violão e até ensaia uma ou outra canção, das que ele gosta.
Já com relação ao meu pai, a cena da nudez atrasou um pouco o entendimento deles, o Mario fez de tudo para amolecer o meu "Rambo pai", mas não foi fácil não, eles demoraram um pouco para se relacionar como amigos, também pudera né? Qual o pai normal que vai esquecer-se do namorado da filha correndo sem roupa para se esconder no sofá? A amizade só ficou forte quando ele começou a fazer os esportes com meu pai e aí virou uma guerrinha particular, sempre perdida pelo Mário, claro, mas que aproximou os dois e hoje andam juntos até demais, para o meu gosto, o que é motivo de algumas briguinhas entre nós.

De resto eu sempre que encontro meu cunhado doido dou um monte de beijinhos nele por ter me indicado para ser o contato ? e que contato ? do irmão dele.








Autor: Rubem Ferreira Dos Santos Filho


Artigos Relacionados


Acrepuslado

A Cachorra E A Arquiteta

Uma Noite Sem Dormir

Meninos Eu Vi

Noite Macabra

Striptease

A Mansão