Sangue jovem
Tem manifestação marcada na Av. Paulista amanhã. Nós vamos parar aquela porra lá! Vamos encher aquela avenida de gente e bandeira!
Vão ser milhares e milhares de pessoas. Todas as entidades estão mobilizadas pra trazer gente. Nós vamos gritar bem alto nossas palavras de ordem, fazer nossas reinvindicações. Vamos sair em passeata até o Anhamgabaú! Vai encher de rede de TV pra nos filmar. Nossa mensagem vai ser passada pra todo o país ver, e Governo vai nos escutar. Vai ter que nos receber pra negociar!
A minha galera vai ajudar na mobilização. A juventude vai pichar todos os muros daqui da nossa região, chamando os trabalhadores, os estudantes, os desempregados, as donas de casa, chamando todos para o ato. Vai ficar todo mundo avisado. A gente coloca o motivo, o local e a hora. Nós vamos fazer a revolução!
- Rafael, a gente tem que pichar os muro da avenida. Ela é um corredor de ônibus. Passa um monte de trabalhador lá de manhã cedo. Só que a gente tem que fazer isso rápido, Rafael, pra não arranjar briga com os outros pichadores. A gente não tá aqui pra arranjar briga. Nem com eles nem com o pessoal quer faz colagem, entendeu?
- Tá certo, mano. Ou tu acha que é a primeira vez que eu faço isso?
- É, só que da última vez saiu até tiro, vacilão! Você demorou no serviço, chego a turma que trabalhava pro filho da puta daquele vereador corrupto, e aqueles bandidos quase que pegam a gente. Se a gente não sai correndo pela viela, nós taríamos é mortos agora!
- Caralho, Marcelo, a culpa é sempre minha?
Marcelo, eu tô misturando o corante com a cal e o fixador, mas tá fraco. A mistura em vez de vermelha vai ficar rosa. Ninguém vai enxergar porra nenhuma!
- Se tá tirando uma da minha cara, Rafael? Você acha que eu tô brincando? Você não comprou corante, seu merda?
- Pô, Marcelo! O dinheiro era pouco. Comprei o que deu!
- A manifestação é amanhã, caramba! E agora, meu Deus? E agora?
A gente precisa fazer este trabalho. A gente precisa... Onde a gente vai arranjar corante vermelho agora, essa hora da noite? Onde?
Rafael, tive uma ideia! Você trouxe o seu canivete?
- Trouxe sim, por quê?
- A gente vai misturar o nosso sangue no cal da lata. Tem bastante fixador, vai funcionar! A gente vai usar o nosso sangue, pra ajudar a dar cor a essa tinta.
- Marcelo, você tá brincando, num tá? Ficou louco, cara?
- Não tô louco não, Rafael. A gente vai é deixar a nossa mensagem, gravada no muro com nosso sangue, pra todo o povo ver!
A gente vai dar nosso sangue pra revolução!
Autor: Ana Kátia De Souza Pessoa
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