Miracleman: O homem deus diante da sociedade e a sociedade diante de deus



1 ? Apresentação

O personagem Miracleman criado no início da década de 50 por Mick Anglo pouco se parece com sua reformulação feita em 1987 por Alan Moore a pedido da editora Eclipse.
A população não mais engolia as inocentes aventuras do personagem original e seus aliados. A influência da mídia modifica a sociedade a todo o momento e da mesma forma isso ocorreu com as histórias em quadrinhos. Mesmo super heróis clássicos foram mudando com o decorrer do tempo.
No caso de Miracleman, a semelhança com o personagem Capitão Marvel e a falta de profundidade levaram a editora californiana Eclipse a encomendar uma nova origem ao escritor inglês Alan Moore. Uma abordagem nova foi criada para contar as histórias do personagem. É neste momento, mais maduro e adulto, do personagem que este artigo irá se dedicar.
A proposta deste artigo é contextualizar o leitor com o universo em que o personagem foi criado, sua história de criação, e mostrar um pouco do mundo onde seu enredo é ambientado. Desta forma será possível analisar as personagens de herói e vilão dentro da história.
Entendo o mundo do herói, tentaremos mostrar sua transformação de homem para deus e a postura que ele se impôs à sociedade e da mesma forma, a postura em que a sociedade recebeu este deus e o mundo que ele criou e influenciou.
Ainda neste artigo, veremos como o principal antagonista da série se coloca frente à sociedade e o herói.
Para a produção deste de artigo foram aplicados os métodos de pesquisa bibliográfica, podendo assim embasar as discussões apresentadas, e o método de estudo de caso, mais especificamente a pesquisa documental.
As 24 edições lançadas pela editora californiana Eclipse, além de outros materiais, serviram como base para o estudo desenvolvido sobre o personagem e seu meio. Cada edição foi analisada individualmente, contribuindo desta forma para todo o contexto apresentado a seguir.
O objetivo é mostrar como, na visão dos roteiristas Alan Moore e Neil Gaiman, um ser dotado de poderes divinos se enxerga perante a sociedade e como a sociedade reage a esta influência.


2 ? Desenvolvimento

2.1 ? A Criação

As histórias de Miracleman se iniciam na conhecida era de prata dos quadrinhos. Este termo foi utilizado para denominar a fase ingênua pela qual os heróis foram inseridos no pós guerra, isto é, nos anos 50.
Inicialmente, o personagem foi chamado de Marvelman e era uma cópia inglesa de Capitão Marvel. Marvelman foi criado em 3 de fevereiro de 1954, justamente para ocupar o espaço deixado pelo capitão Marvel, tirado de circulação pela DC, por ser muito parecido com seu carro chefe, o super homem.
Voltando ao personagem Miracleman, ou seja, Marvelman, sua premissa era muito parecida a do Capitão Marvel. Só que em vez do garoto Billy Baston que gritava Shazan para se transformar num homem robusto de cabelos negros e roupa vermelha com um raio amarelo no peito, Marvelman era o jornalista adulto Mike Moran e gritava Kimota (poderes adquiridos graças a um astrofísico Guntag Borghelm), tornando-se um herói de uniforme azulado com dois Ms no peito e cabelos loiros (assim como o próprio Mike).
Marvelman também contava com sua "família" de ajudantes, assim como o Capitão Marvel. Young Marvelman (Young Miracleman) e Kid Marvelman (Kid Miracleman) eram os parceiros mais jovens do herói da terra do Big Ben.
No Brasil, as histórias de Marvelman e seus amigos foram publicadas durante a década de 60, sendo em 1963 feito o cancelamento de sua publicação inglesa. Os heróis ingênuos já não chamavam tanto a atenção dos leitores.

(...), os anos 60 começaram e o Marvelman acabou perdendo espaço para personagens mais terra-a-terra com a realidade inglesa dos dias que se seguiram à beatlemania, à swinging London, ao psicodelismo, etc. e tal. Na América, quadrinistas underground como Robert Crumb, Gilbert Shelton, Victor Moscoso, apresentavam personagens ambíguos e nada juvenis, como Fritz, the Cat, os Freak Brothers, Dealer McDope, entre outros. Na Inglaterra, o jeito underground de fazer quadrinhos também criou um gato malandro, viciado em drogas, sexo e rock?n?roll. Esta lista de underground comics viria a ter sérios problemas com a censura pouco depois, dos dois lados do Atlântico, mas os quadrinhos de super-heróis não sairiam afetados. O resultado de tudo isso foi que, em1963, Marvelman deixou de ser publicado. (SALERNO, 2004, p. 12 & 13).

Em 1982 a editora inglesa Warrior, contratou o roteirista Alan Moore (responsável por escrever histórias como Watchmen, a reformulação do Monstro do Pântano, dentre outras). A idéia da Warrior era recomeçar a franquia, criando uma nova origem para o personagem, mais adulta e menos copiada. O cancelamento da Warrior fez com a idéia morresse por cinco anos, até que em 1987 a editora californiana Eclipse contratou Alan Moore para começar a escrever o personagem.
A fim de evitar problemas com a editora Marvel, foi solicitado a Moore que o nome do personagem fosse alterado, surgia então Miracleman, e desta vez sua história, mais madura, seria contada.
O roteirista Alan Moore escreveu as histórias do personagem até a edição número 16, que foram desenhadas por Garry Leach e Alan Davis. A da edição 17, o também inglês, Neil Gaiman (escritor de Sandman e Stardust) assumiu a revista, junto com o ilustrador Mark Buckingham.
A revista foi publicada até a edição de número 24, quando a editora Eclipse faliu, deixando os fãs do personagem sem a seqüência da história do personagem milagroso. São nestes dois momentos (Moore e Gaiman) que iremos nos concentrar para fazer a análise dos personagens antagônicos e de suas ações.

2.2 ? A História

As aventuras de Miracleman pela editora Eclipse começam da mesma forma que as antigas histórias do herói, praticamente de onde parou. As personagens protagonistas defendem a terra da invasão de um vilão cartunesco vindo do futuro e sem dificuldades, utilizando jargões tais quais os heróis de outrora, "Santa macarronada! O que foi isso? (Kid Miracleman)" (MOORE, 1987, p. 2), derrotam o adversário.
Logo a aventura, a cena e até o desenho infantil da história é transformado. Michael Moran aparece em sua casa acordando de um sonho que não se lembra muito bem. A única coisa que sabe é que três pessoas foram ao espaço e uma explosão aconteceu.
A primeira história, na verdade, eram sonhos implantados nos órfãos filhos de militares que participaram do projeto Zarathustra: Michael Moran, Johnny Bates (Kid Miracleman) e Dick Dauntless (Young Miracleman). Diferente da história original, a palavra de cada personagem não os transforma, ela apenas traz outro corpo que é mantido em estado de hibernação em outra dimensão. A mesma mente é utilizada em ambos os corpos, apesar de algumas vezes a personagem se sentir mais esperto e mais capaz no corpo heróico. A tecnologia utilizada nas cobaias humanas foi adquirida pelo governo inglês, após a captura de uma nave alienígena, onde o tripulante morto usava esta troca.
O projeto Zarathustra, desenvolvido pelo personagem Dr. Gargunza e o governo Inglês, consistia criar o arma biológica perfeita, mas com o desaparecimento de Gargunza, o governo acordou os três heróis e os mandou para uma missão no espaço, onde detonou uma ogiva nuclear nestes, matando Young Miracleman e deixando Moran com amnésia. Kid Miracleman sobreviveu e não mais voltou a sua forma humana, tornando o maior vilão da história.
O retorno de Miracleman ocorre 18 anos após a explosão que tirou os heróis de circulação. Neste período jornalista free lancer Mike Moran é mostrado com problemas financeiros e com dificuldade em conseguir trabalho no jornal. Os sonhos, que ele mal lembra, o fazem dores de cabeça. Durante um de seus bicos como fotógrafo jornalístico em uma usina nuclear, Moran e outros jornalistas são assediados por bandidos. Quando as dores de Moran atingem o ápice ele se lembra da palavra "Kimota" e consegue se transformar em Miracleman, deixando os bandidos bastante machucados.
Interessante notar que o corpo de Mike Moran é de um homem de meia idade, com barriga e expressão cansada, enquanto o de Mircleman é de um homem no pináculo de sua forma física. Com a personagem Kid Miracleman ocorre o inverso. O jovem Johnny Bates continuou na outra dimensão enquanto o corpo heróico ficou livre, mas esta foi uma opção da personagem, que será explicada no capítulo mais adiante, do vilão.
A história se divide em algumas partes. Inicialmente a busca de Mike Moran por sua identidade, após acidentalmente se lembrar de sua palavra de transformação e um rápido confronto com o vilão Kid Miracleman. Após este momento, a procura pelo criador Dr. Gargunza (onde é mostrada sua história) após o seqüestro de sua esposa. No terceiro momento, a tecnologia de mudança de corpo é mais bem explicada graças a intervenção de personagens alienígenas querendo reaver sua tecnologia. A quarta parte é o confronto final contra o vilão e o início da transformação da sociedade. O quinto momento é a formação do panteão, onde os heróis são deuses e a sociedade vive em uma utopia imposta por este olimpo.

2.3 ? O Herói

Michael Moran é deus. Pelo menos quando se transforma em Miracleman ele é. O herói não se torna um deus apenas pelos poderes especiais que tem, que se equivalem ao personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, o Superman, mas por outros tipos de poderes.
Michael Moran é jornalista e ? mesmo o autor não deixando isso claro com seus roteiros ? ele conhece bem o quarto poder. Talvez não o alter-ego humano, mas o herói conseguiu aproveitar todos os fatos e trabalhar a sua imagem até que se tornasse um deus. E a sociedade acreditou.
Após a batalha contra Kid Miracleman, que devastou metade de Londres, Miracleman vendeu a cultura de deuses habitando a terra e até construiu uma morada de divindades acima de qualquer construção humana para que pudesse viver e ser adorado. A edição número 17 fica claro a semelhança com um verdadeiro olimpo e seus deuses gregos, quando quatro cidadãos comuns sobem as centenas de milhões de degraus, além de escaladas com cordas. Tudo isso para solicitar milagres ao seu deus. Esta é praticamente a única interação com a humanidade que a personagem tem após a edição 16.
Mesmo sendo o herói da história, Miracleman se porta como um ditador do mundo. A minissérie em três edições Entre a Foice e o Martelo, escrita por , conta a história do que teria acontecido com superman, caso ele caísse na extinta União Soviética e impusesse o socialismo no mundo, é uma idéia de revista fortemente influenciada por Miracleman.
O herói se torna um ditador privando a sociedade da liberdade, mesmo lhes dando um mundo perfeito. Ele se julga superior a humanidade, sendo esta incapaz de saber o que é melhor para si.
Mas este não foi um processo premeditado do herói. Um série de circunstâncias o levaram a seu extremismo. A descoberta de sua real origem na edição número três, tendo sido criado como arma do governo inglês e o cientista Gargunza, mantido em sono profundo com histórias fantasiosas induzidas diretamente em sua mente (assim como Kid Miracleman e Young Miracleman) foi o primeiro passo.
O seqüestro de sua esposa por Gargunza na edição número quatro. O fato de sua esposa estar grávida de Miracleman e não dele, após 16 anos de casamento. A impotência humana de Michael Moran que o fez cometer uma espécie de suicídio na edição número 14 após ser deixado por sua esposa. Depois de escalar uma montanha sueca, ele deixa sobre uma pedra um bilhete com os dizeres "Michael Joseph Moran, 1942-1983, descanse em paz", e pronuncia sua palavra de transformação (Kimota), abrindo mão de sua humanidade para se tornar Miracleman em tempo integral.

Embora eu houvesse me ajustado, Mike Moran não havia conseguido. Com uma mochila ele viajou até a Escócia, chegando num final de tarde as montanhas de Glencoe. Não levantou acampamento, simplesmente começou a escalar... (MOORE, 1989, p. 10)

Na edição número 22, Miracleman vai a terra disfarçado no dia que se comemora a derrota do vilão e pergunta a um oráculo se havia feito a coisa certa, demonstrando um sentimento de dúvida nada divino, mas esta o responde de maneira confusa.
Um primeiro momento em que o herói parece retomar suas raízes humanas acontece na edição número 17, quando visita sua ex-esposa e a oferece a oportunidade de se tornar uma deles, pois sente a falta dela. Mas esta rejeita a oferta já que Miracleman havia feito sexo com outra heroína/deusa (Miraclewoman) de maneira um tanto alegórica e pública pelos céus de Londres, após concluírem a primeira etapa de transformação utópica da sociedade (nas primeiras páginas da edição 17). Miracleman tenta lhe dizer que isto é normal aos deuses e quando ela for uma, ela entenderá, o que apenas a irrita mais fazendo com que ela o peça para ir. Eles não se vêem mais.
O contrapeso de sua forma humana realmente o faz acreditar em sua superioridade, tornando-o mais arrogante, mesmo com sua mente humana e dúvidas equivalentes e isso faz com que veja a humanidade com súditos, mesmo que súditos que ele deva cuidar e fazer feliz, mas ainda assim, súditos, inferiores, que devem adorá-lo como o deus que ele é.

2.4 ? O Vilão

No final da primeira edição da série Miracleman, o jovem Johnny Bates, ex-parceiro mirim do protagonista o convida a ir em sua empresa. Logo Mike Moran percebe que o império construído por seu antigo colega Kid Miracleman poderia ter sido construído de maneira sórdida, usando seus poderes.
Após constatar isso o jogando através da janela, Bates se revela o que se tornaria o grande vilão da série. Após derrotar facilmente o herói e deixá-lo a beira da morte, Kid Miracleman pronuncia sua palavra de transformação voltando ao corpo físico da criança Johnny Bates.
Apesar do jovem Bates ter consciência do que fez com seu corpo super poderoso, sua versão humana está totalmente traumatizada pelos próprios atos. Apesar da mesma consciência nos dois corpos, ele age como se tivesse uma personalidade para cada.
Este trauma manteve a personagem em estado catatônico até edição número 10. Na verdade, ele opta por brigar no interior de sua mente com sua outra personalidade (Kid Miracleman), pois pensa ser a única maneira de mantê-lo fora de ação. Mas sua própria personalidade o engana, fazendo-o tentar voltar a ter uma rotina, uma vida normal.
Kid Miracleman é uma criança que cresceu sem seu mentor e sem a noção de certo e errado. Ele abandonou sua forma humana por 18 anos e desenvolveu poderes muito além do protagonista e outros personagens da série. Na edição número dois, a personalidade maligna diz a criança Bates que quando ele usa a palavra mágica, ele não se importa em matar todos, pois está acima de represálias. Nesta mesma edição, ele diz ter sido um alívio ter sido revelado por Miracleman, pois não precisaria mais fingir ser um ser humano comum.
A sociedade não representa nada para ele. O primeiro quadro da edição número 20 é um varal formado por pele humana. Já na segunda página um quadro em destaque mostra uma chuva de pés e mãos. Diversos tipos de atrocidades são mostradas antes que o herói chegue no cemitério ao ar livre que se tornou o centro de Londres. A personagem antagonista não tem o menor remorso em matar 40 mil pessoas em Londres, apenas para chamar a atenção do herói.

2.5 ? A Sociedade

O herói se impõe a sociedade como um verdadeiro deus. Ele impõe a sua nova ordem como verdadeiro, assim como a mídia contribui para a formação da opinião da grande massa.

Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda sua extensão. Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro de nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar a sós, estaremos na companhia do mundo todo. (CAMPBELL, 1990, p. 137).

O epílogo do arco de histórias criado por Alan Moore (edição número 16) termina com Miracleman criando uma utopia forçada. A sociedade não tem poder para resistir. Na verdade, na visão do autor que se segue (Neil Gaiman), a maioria acaba por aceitar a imposição de seus deuses heróis, que foram responsáveis pelo salvamento da humanidade.
Existe o foco de resistência que ousa se manifestar. Ao mesmo tempo que se forma uma sociedade utópica, dentro desta se forma também uma contra cultura. Pessoas que abominam a imposição fascista dos novos deuses e enxergam no vilão o salvador, que um dia retornará para restaurar a antiga ordem.
Na edição número 23, ao ser questionado por Young Miracleman (que havia sido trazido do hiperespaço) se finalmente a democracia havia se tornado unânime na sociedade, Miracleman afirma esta não ser um conceito utilizado naqueles dias. O estilo de vida da civilização não mais uma opção.
A sociedade após a batalha de Londres (entre Miracleman e Kid Miracleman) vive na mais absoluta prosperidade. Não fome, miséria, a criminalidade é quase zero, assim como as epidemias e doenças. Diante de um milagre de harmonia, a sociedade perde seu livre arbítrio. Não é mencionado em nenhuma edição que há censura de pensamento, mas pessoas acostumadas a meios de vida diferentes, vivem em sociedades diferentes, mesmo que não saibam. Isto ocorre na edição número 20. "Meus colegas construíram a cidade... e vocês amparados por um criterioso programa de para-realidade tornaram-se seus habitantes" (GAIMAN, 1988, 19/Ed. 20). Um exílio continua sendo um exílio, mesmo que o indivíduo desconheça. Desde que haja a privação da verdade.
Mais uma vez o autor não deixa claro os motivos que impedem uma grande revolta da sociedade, mas a impotência diante de seres de poder superior, o medo da blasfêmia (assim como a igreja católica inseriu durante a idade média), o comodismo proporcionado pelos novos estilos de vida, podem ser algumas hipóteses a serem levantadas.
O universo em que a revista é ambientado é semelhante ao nosso. Não há super heróis, não há nenhum ser com poderes sobre humanos. Apesar de muitos questionarem e muitos saberem (no caso de todos os envolvidos no projeto Zarathustra, que criou os super humanos), a presença de criaturas com poderes extraordinários, que se auto intitulam deuses acabam por convencer a grande massa ? mesmo que esta mantenha alguns de seus antigos dogmas. Isto, ainda, é reforçado com a construção de um olimpo no local da batalha de Londres até acima das nuvens.
Houve uma propaganda massiva por parte de Miracleman e associados. Ainda na edição 16 os heróis invadem a Onu e explicam seu plano de ação. Eles não sugerem as melhorias para debate. Eles divulgam para toda a sociedade e fazem. Os países sub desenvolvidos e em desenvolvimento foram os maiores beneficiados e logo aderiram. A propaganda surtiu efeito de baixo para cima, afetando a toda a população.
O herói ditador surge como um guia, uma referência para uma sociedade covarde, que não tem coragem de questionar.


3 ? Conclusão

Da mesma forma que a mídia insere sua cultura e a massa a consome, a personagem Miracleman insere sua imagem, convencendo uma grande parcela de sua divindade. Joseph Campbell em seu livro O Poder do Mito diz que o herói pode se tornar um deus local, mesmo que seus dominados o considerem seu inimigo (nesse aspecto o herói é só um ponto de vista).
A sociedade não recebe os sinais da mesma forma e não é a totalidade desta, que se satisfaz com a informação que é repassada. O ruído existe, mesmo que não à maioria, mas em algum momento pode se tornar fator transformador de uma situação atual, podendo transformar desta forma, o status quo.
Um homem comum, pode se transformar dependendo da quantidade poder que lhe é dado e com isto pode mudar o meio em que interage. O alcance de sua mensagem irá depender da extensão de seu poder.
Somos todos Michael Moran ou a criança Johnny Bates, sem poderes, sem a capacidade de impor o nosso meio de vida. Campbell cita o exemplo de Han Solo (do filme Guerra nas Estrelas) para exemplificar o herói ocasional. Ser herói ou vilão dependerá da necessidade ou da ocasião, ou ainda de quem contará a história.
As histórias de Miracleman explicitam a transformação de um homem comum que adquire poder para não apenas mostrar a sua opinião (e contar sua história), mas impô-la a todos como uma verdade que deve ser seguida. A extensão de seu poderio político (ele é a personificação de um deus, está acima de qualquer político ou clerigo), alegórico (seu avatar é um homem de saúde física e mental perfeita) e arsenal (seus poderes são semelhantes ao do super herói mais poderoso das histórias em quadrinho, o super homem) é quase infinito.
A mídia cria espetacularizações que a massa (de manobra) não tem poder para resistir. O abuso de informações ou sutilezas (mensagens subliminares) cativam a massa, que comentam, vivenciam, saboreiam, de comum acordo. Em Miracleman a mensagem é passada de maneira eficaz além da massa (mas não a todos) e a sociedade compra a idéia.
Se todos os meios de comunicação do mundo pudessem se tornar um único homem, este seria Miracleman, ou pelo menos algo próximo a este. Na eficácia de passar uma única mensagem alienante, talvez não com a mesma eficácia em domar a sociedade, pois nenhum império dura para sempre.
Mesmo as revistas Miracleman, não fossem pelo seu precoce encerramento, também pendiam para uma mudança brusca em seu sistema de governo. A edição 25, que nunca foi publicada, tem alguns trechos de fácil acesso a internet, onde o autor Neil Gaiman deixa claro que haverá mudança. Em seu contrato haveria três arcos de história, a era de ouro (17 a 22), a era de prata (23 a 28) e a era das trevas (29 pra frente) onde esta mudança provavelmente ocorreria.
A verdade é que o personagem principal é a imagem do objetivo de todos que almejam o poder, seja o estado ou a mídia.


4 ? Referências Bibliográficas

Salerno, Márcio. Miracleman, Um outro mito ariano. 1ª edição. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2004.
Moore, Alan. Miracleman. Edição 1 a 16. Califórnia: Eclipse, 1987 a 1988.
Gaiman, Neil. Miracleman. Edição 17 a 24. Califórnia: Eclipse, 1988 a 1989.
Campbell, Joseph. O poder do mito. 1ª edição. São Paulo: Editora Palas At

Autor: Francisco De Sousa Ferreira Costa


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